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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O perigo do evolucionismo teísta e “O Teste da Fé”

27.12.2013
Do portal NAPEC - APOLOGÉTICA CRISTÃ
testedafe
NOTA DO EDITOR
Caro leitor,
Postamos nesta oportunidade o estudo do articulista do NAPEC, pr. Robson Fernandes. O texto aborda uma análise crítica da obra “O Teste da Fé”, de Ruth Bancewicz.
Como o NAPEC preza pelo debate teológico sadio, bem como recentemente promoveu um sorteio/campanha sobre o referido livro, divulgamos também através desta nota o texto “Dez questões sobre o “Teste da Fé”: uma resposta inicial aos críticos” do pr. Guilherme de Carvalho [Leia aqui]. 
Como instituição, incentivamos a discussão teológica, promovendo um “debate” sadio entre as ideias destes autores cristãos e comprometidos com as Escrituras. Incentivamos o leitor a manter a postura bereana, sempre examinando nas Escrituras como as coisas realmente são (Atos 17.11).
Boa leitura!
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INTRODUÇÃO
O debate entre fé e ciência sempre foi acirrado e cheio de momentos acalorados, e nem sempre positivos ou construtivos. Na verdade, o início do debate envolvia a questão entre criacionismo e evolucionismo. Com o passar do tempo a questão foi ampliada e surgiu o evolucionismo teísta, ou teísmo evolucionista.
Na história recente da Igreja esse tem sido um tema recorrente e cada vez mais corriqueiro e popular, especialmente com a frequência cada vez maior de cristãos na Academia. Na verdade, Cristianismo e Academia sempre foram aliados e suas histórias sempre estiveram interligadas, especialmente quando nos damos conta que o surgimento das universidades no Ocidente ocorreu no seio da igreja, a exemplo de Oxford, Cambridge, Yale, Harvard, Princeton, Salerno, Bolonha, Universidade de Paris, Salamanca, Universidade de Genebra etc. Na época da Reforma Protestante haviam trinta e três universidades no seio da igreja.
No Brasil, este debate nunca foi muito popular, especialmente porque criou-se uma dicotomia entre ambos. Se na Universidade o assunto Deus é algo referente ao metafísico e se encontra no âmbito da religião tão somente, sendo uma questão de especulação e fé, na igreja o assunto ciência foi tratado durante muito tempo como sinônimo de apostasia e secularização. Mas, ambos os pensamentos estão equivocados, e se por um lado esse pensamento distorcido que busca retirar Deus do debate científico tem suas raízes no Iluminismo do século XVIII, a retirada da ciência do seio do cristianismo é resultado da apatia da igreja e da falta de manutenção de seu mandato cultural e social.
Temos visto, portanto, um desequilíbrio no desenrolar dessa história.
Por outro lado, com o crescimento cada vez mais constante de cristãos no meio científico o debate tem se tornado cada vez mais comum, e com a facilidade de expansão da informação pela informática esse tema, Fé e Ciência, se torna quase que global ao mesmo tempo. Porém, o debate atual não envolve apenas Criacionismo e Evolucionismo, mas foi acrescido do Intelligent Design (Design Inteligente). Também, o meio termo entre Criacionismo e Evolucionismo tem ressurgido com maior frequência, e este é denominado de Evolucionismo Teísta.
O QUE É O EVOLUCIONISMO TEÍSTA?
O apologista católico Roberto Cavalcanti dá a seguinte definição:
Os alunos são ensinados que “o ser vivo é o resultado de evolução, em certas condições, do ser inanimado” e que “vida é um passo superior respeito da qualidade na evolução das formas de movimento”. Ensinam que a vida apareceu espontaneamente, no meio aquático, por combinações químicas acidentais, na presença da luz do sol, muito embora a abiogênese tenha malogrado com os experimentos de Pasteur.
É notório que a tese do evolucionismo teísta provém de uma mistura de antigas teses filosóficas e teológicas pagãs, e que voltou a ser acreditada na Era Contemporânea em razão do triunfo do racionalismo ateu, que contesta milagres e acha possível fazer ciência sem Deus. (CAVALCANTI, 2011, online)
Ainda, Wellington Rodrigues e Rosilene Motta afirmam o seguinte:
Um quarto dos professores 24% adotaram a idéia predominante hoje nos meios religiosos e científicos, isto é, o teísmo evolucionista, pois entendem que “a Bíblia pode ser interpretada de forma compatível com a idéia de que, biologicamente, o homem é o resultado de um processo evolutivo, desde que se creia que em algum momento Deus lhe conferiu atributos espirituais especiais.” Esse posicionamento exige uma leitura simbólica para os relatos da criação em Gênesis, aceita a evolução insistindo na necessidade de uma criação especial para a alma humana. Foi fazendo coro à essa opinião que o papa João Paulo II afirmou em 1996 que “a teoria da evolução é mais que apenas uma hipótese. [...] a evolução é compatível com a fé cristã”. (RODRIGUES; MOTTA, 2011, p. 11)
Contudo, o Dr. Marcos Eberlin (apud BORGES, 2013) afirma que “a evolução é péssima ciência. O evolucionismo teísta é péssima ciência somada com péssima teologia e filosofia. O criacionismo é ótima teologia com ótima filosofia, que se apoia hoje em ótima Ciência, Ciência com C maiúsculo; a que é livre das amarras do materialismo”.
Também, o Dr. Wayne Grudem, no prefácio do livro Should Christians Embrace Evolution aponta oito razões pelas quais o cristianismo bíblico é contrário a evolução teísta.
O ULTIMATO DO EVOLUCIONISMO TEÍSTA NO TESTE DA FÉ
Dentro desse contexto de debates e diálogos entre Fé e Ciência, a Editora Ultimato tem patrocinado o lançamento do Projeto Teste da Fé no Brasil, com a presença da Dra. Ruth Bancewicz, PhD em genética pela Universidade de Edimburgo, pesquisadora associada ao Instituto Faraday para Ciência e Religião e que trabalha na interação entre ciência e fé. A propaganda feita na divulgação desse projeto gira em torno da comprovação da existência de Deus no meio acadêmico e como a fé pode ser mantida por cientistas. Contudo, o que pouco tem sido dito é que tal projeto visa implantar tanto na igreja quanto na universidade o conceito de Evolucionismo Teísta.
O que muitos não sabem, ou fazem questão de ocultar, é a íntima relação entre o evolucionismo e o liberalismo teológico. Sobre essa relação o Dr. Augustus Nicodemus faz a seguinte afirmação:
Os liberais acreditam que a Igreja Cristã se perdeu completamente na interpretação da Bíblia através dos séculos e que somente com o advento do Iluminismo, do racionalismo e das filosofias resultantes é que se começou a analisar criticamente a Bíblia e a teologia cristã, expurgando-as dos alegados mitos, fábulas, lendas, acréscimos, como, por exemplo, os mitos da criação e do dilúvio e de personagens inventados como Adão e Moisés, etc. Por considerar os relatos da criação, da formação de Adão e sua queda como mitos, os liberais tratam o livro de Gênesis como uma produção da fé de Israel escrita com o propósito de legitimar a posse e a permanência de Israel na terra. Acreditam que Gênesis foi redigido em sua forma final no período do exílio babilônico, por um editor que colecionou e colou juntos relatos díspares sobre a criação, a história do dilúvio, etc. Por não considerarem histórico o relato da criação, os liberais são, por via de regra, evolucionistas. Alguns acreditam que Deus criou o mundo mediante o processo da evolução. Mas, no geral, descartam completamente a idéia de uma criação do mundo e do homem ex nihilo, do nada, pela palavra do seu poder. (apud PORTELA, 2007, Online)
Essa foi, em outras palavras, exatamente a defesa feita pela Dra. Ruth Bancewicz no lançamento do livro Teste da Fé no Recife, no dia 12 de setembro de 2013, no auditório da Livraria Cultura no Shopping Riomar. Então, algumas de suas afirmações, na palestra de lançamento, merecem ser comentadas para “clarear” mais o nosso diálogo sobre o tema.
Ao falar sobre os cientistas e a comunidade acadêmica, Ruth Bancewicz afirmou que:
Talvez eles tenham sido ensinados que o Gênesis e a Evolução não são compatíveis. Então, eles rejeitam o cristianismo. Ou talvez hajam várias outras razões, e a mídia adora essa imagem de conflito, e eles não dão nenhum tempo, nenhum espaço, para outras vozes. Então, o Teste da Fé é sobre cientistas que preparam muito cuidadosamente sobre a fé e que consideraram coisas de diferentes aspectos.
Ou seja, o Projeto Teste da Fé diz respeito a tentativa de conciliação entre o Evolucionismo e o Cristianismo. Mas como disse o Dr. Augustus, isso conduz ao liberalismo teológico, que é caracterizado pela negação do caráter histórico da criação apresentado na narrativa de Gênesis.
Ainda, o Dr. Augustus Nicodemus explica a relação existente entre o Teísmo Aberto (Teologia Relacional) e o Evolucionismo Teísta:
Eu nunca havia atentado para o fato de que o teísmo aberto oferece o tipo de deus que alguns evolucionistas teístas tanto precisavam para ser coerentes em sua teoria. A idéia me estalou nesta segunda, conversando com os cientistas cristãos do Discovery Institute em Seattle, que acabam de lançar um livro “God and Evolution” que promete ser uma das críticas mais pertinentes e sérias ao evolucionismo teísta.
Explico.
O evolucionismo teísta acredita que Deus existe e que “criou” a vida na terra através daquilo que a teoria evolucionista chama de processo não dirigido ou intencional, em que mutações acidentais e aleatórias levaram gradativamente à seleção natural e à sobrevivência das espécies mais aptas.
O grande problema aqui com esta teoria são as palavras “não dirigido”, “aleatório” e “acidental”. Este conceito é fundamental na teoria darwinista. Na verdade, é um de seus pilares. O conceito da evolução repousa neste princípio de que as mutações ocorreram de forma randômica, ao acaso. Como, então, integrar o conceito de mudanças aleatórias com a supervisão do Deus cristão, que é onisciente, onipresente e onipotente? Se Deus é onisciente, como poderia ter inventado um processo natural que se desenrolaria de maneira totalmente imprevisível, acidental e randômica, totalmente fora de seu controle ou conhecimento?
A solução é o deus do teísmo aberto. Esta “divindade”, de acordo com os teólogos relacionais, desconhece o futuro e não sabe o que vai acontecer no universo nos próximos minutos. Ou seja, ela serve perfeitamente como o deus do evolucionismo teísta. (apud PORTELA, 2007, Idem)
A percepção que o Dr. Augustus teve sobre a relação existente entre o Evolucionismo Teísta e o Teísmo Aberto explica claramente a direção da linha teológica seguida pela Editora Ultimato, que continua publicando os livros de Ricardo Gondim, que ensina o Teísmo Aberto; de Ed Rene Kivitz que afirmou que Adão e Eva eram um mito, que a alma morre quando o ser humano morre e que defende abertamente o universalismo[1]; Luiz Longuini, autor do livro Novo Rosto da Missão, em que propõe uma aproximação do Conselho Latinoamericano de Igrejas e da Fraternidade Teológica Latino Americana, que promovem a Teologia da Libertação e o ecumenismo, entre outros.
Portanto, não é de admirar que ao seguir essa linha de distorções teológicas, o resultado da Ultimato fosse o apoio e patrocínio do Evolucionismo Teísta dentro e fora da igreja.
Por tudo isso, o Dr. Augustus afirma que “os evolucionistas teístas deveriam mudar o nome para evolucionistas “deístas”, uma vez que estes tais acreditam numa divindade remota que criou o mundo como um relógio, deu corda e simplesmente afastou-se”, e continua ao afirmar que “O deus do evolucionismo-deísta-aberto não tem a menor idéia onde tudo isto vai parar” (apud PORTELA, 2007, idem).
Então, exatamente como já havia sido dito, essa é a conclusão natural do pensamento daqueles que fazem parte do Teste da Fé. Devemos observar o que a Dra. Ruth falou no lançamento do livro em Recife (12 set 2013):
Gênesis é um livro antigo, mas os cristãos acreditam que ele é verdade. Que é sobre eventos que realmente aconteceram. Mas, como uma estória sobre seis dias de criação pode ser verdade quando a ciência moderna mostra para nós que o universo na verdade tem bilhões de anos? Certamente essas duas estórias são incompatíveis. Então, a questão resumida da resposta de Francis Collins à essa pergunta é que a Bíblia não é um livro de ciências. É possível que uma obra seja verdadeira e figurativa ao mesmo tempo. Os poemas de amor expressam coisas que são profundamente importantes, mas usam uma linguagem simbólica. Por exemplo, meu amor é como uma rosa vermelha, ou como o poema que diz que eu vaguei como uma nuvem. É importante saber qual o estilo da literatura está sendo usado e como lê-lo. Se você nunca leu nada além de prosa e viesse aqui na livraria e comprasse um livro de poesia acharia bastante confuso. Mas se aprendesse um pouco mais sobre o autor, escritor, sobre o estilo usado na escrita e quais as simbologias e símbolos que o autor usou na época em que escreveu esses poemas você poderia começar a entender o significado. Você estaria respeitando a intenção do autor para aquele texto. Naturalmente o Gênesis é mais importante que um poema de amor, mas o princípio em questão é similar.
E mais, ao final de sua palestra a Dra. Ruth ainda afirmou:
Há algumas maneiras significativas de escrever na linguagem hebraica. Elas mostram que Deus é um Deus e estas construções marcam o Gênesis como sendo algo bastante único, diferente de vários outros relatos sobre mitos da criação. Também é importante manter o Gênesis no contexto da Bíblia como um todo. Existem outras histórias sobre criação na Bíblia. Você tem que olhar para os Salmos, para o livro de Jó também.
Em primeiro lugar, já fica claro que a interpretação bíblica da Dra. Ruth é guiada não por princípios hermenêuticos ou exegéticos, mas por elementos externos, e esses são os elementos evolucionistas. Ela mesma disse: “como uma estória sobre seis dias de criação pode ser verdade quando a ciência moderna mostra para nós que o universo na verdade tem bilhões de anos?”. Isto é, se a Bíblia diz algo e a ciência mostra outra conclusão, a opinião cientifica deve prevalecer e guiar a interpretação bíblica. Portanto, vemos claramente que não há uma seriedade teológica na interpretação da Escritura.
Em segundo lugar, o Teste da Fé já parte do pressuposto da confiabilidade da datação evolucionista, que atribui bilhões de anos ao universo. Mas como dar credibilidade a uma opinião científica que apesar de ser apresentada como confiável muda constantemente? Dizemos isto porque na época em que Darwin escreveu Sobre a Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural (Origem das Espécies), em 24 nov 1859, a idade da Terra era “cientificamente” determinada em 100 milhões de anos; Setenta e seis anos depois, em 1932, passou a ser estimada “cientificamente” em 1.6 bilhões de anos; Quinze anos depois, em 1947, passou a ser estimada “cientificamente” em 3.4 bilhões de anos; E vinte e nove anos depois, em 1976, passou a ser estimada “cientificamente” em 4.6 bilhões de anos até hoje. Para piorar, já sabemos que alguns cientistas estão, atualmente, estipulando outra idade para a Terra e o Universo.
Em terceiro lugar, o estilo literário do Gênesis é negado, esquecido e ignorado, para que o texto seja identificado como um escrito “figurativo”, a exemplo de um poema. Então, a classificação do gênero literário de Gênesis 1 é mudado de narrativa para poético.
Para tratar da interpretação, segundo o gênero literário, Gordon Fee, em seu livro “Entendes o que lês”, faz a seguinte afirmação:
A Bíblia contém mais do tipo de literatura chamado “narrativa” do que qualquer outro tipo literário. Por exemplo, mais de 40 por cento do Antigo Testamento é narrativa [...] Os seguintes livros do Antigo Testamento são compostos, em grande medida ou inteiramente, de matéria narrativa: Gênesis, Josué, Juízes, Rute [...] (FEE, 2008, p.63)
Portanto, o livro de Gênesis não faz parte do gênero poesia, e sim narrativa, e “as narrativas são histórias” (FEE, 2008, p.63). Por isso, a argumentação da Dra. Ruth é falha, especialmente ao tratar o Gênesis como poesia para lhe dar outra interpretação que não aquela que está clara e implícita no próprio texto. Porém, a defesa dos Evolucionistas Teístas está em afirmar que apesar de Gênesis ser uma “narrativa”, o capítulo 1 apresenta elementos distintos que o assemelham à poesia. Contudo, isto não é verdade, especialmente diante daquilo que Betty Bacon propõe em seu livro Estudos na Bíblia Hebraica, sobre Gênesis 1:
Os motivos de lermos este relato magnífico em hebraico são vários e de peso.
Primeiro, é modelo de narrativa clássica, cheio de dignidade e beleza, sem enfeites desnecessários ou repetições sem propósito. Aqui a grandiosidade dos fatos – aparece num estilo e numa linguagem adequada, que se encontram à altura do tema majestoso.
Além disso, é registro que veio a ser a base de muita meditação posterior de profetas e apóstolos, que nele iriam basear doutrinas importantes. Haja vista como Isaías, Amós e Jonas se referem ao fato chave da criação, para demonstrar a superioridade de Deus aos ídolos e Sua soberania total no mundo que Ele criou. Veja Is 40.18-28; Am 4.13 e 5.8; Jn 1.9. Observe também os reflexos dos primeiros capítulos de Gênesis nos escritos de Paulo, onde os fatos da criação são o alicerce essencial de teologia chave. (BACON, 1997, p.59)
Bacon afirma, portanto, após estudo do texto em seu idioma original, que o capítulo 1 de Gênesis não é do gênero poesia, e sim narrativa do tipo clássica. Também, é observado que a literalidade de Gênesis serviu de base para a formulação de “doutrinas importantes”, tanto por parte dos profetas como dos apóstolos. Isso quer dizer que a distorção do texto de Gênesis ou a sua interpretação de outra forma que não seja a literal (histórico-gramatical) levará à modificação de diversas outras passagens e doutrinas da Escritura. Ou seja, a aceitação do evolucionismo teísta, que rouba a literalidade do texto bíblico, não é algo simples e sem consequências, mas uma ação que desencadeará em uma série de desdobramentos na forma como a Escritura será vista e aceita.
Ainda, ao comentar Gênesis 1:2, Betty Bacon afirma que “alguns têm sugerido aqui a influência de mitos de criação de fontes pagãs, mas o ato divino da criação aconteceu antes de existirem os mitos” (idem, p.62).
Nesse mesmo sentido Walker Kaiser afirma que o gênero literário de Gênesis, do capítulo 1 até o capítulo 11, indica a natureza intencional literal da narrativa (KAISER, 1970, p.48-65); Franklin Ferreira e Alan Myatt afirmam claramente que “A doutrina da criação ajuda a distinguir o cristianismo de outras religiões e cosmovisões não-cristãs. Concordamos com Horrell, que diz que: Genesis 1 é plenamente histórico, mas também é forte na sua polêmica contra as religiões daquela época” (FERREIRA; MYATT, 2007, p.276). P. J. Wiseman afirmou que muitos erros são cometidos por se ignorar o fato óbvio de que Gênesis 1 é uma narrativa (WISEMAN, 1977, p.144). Os escritores do Novo Testamento entendiam Gênesis 1-11 como um texto narrativo e literal: Mt 19:4-5; 24:37-39; Mc 10:6; Lc 3:38; 17:26-27; Rm 5:12; 1Co 6:16; 11:8-9,12; 15:21-22,45; 2Co 11:3; Ef 5:31; 1Tm 2:13,14; Hb 11:7; Tg 3:9; 1Pe 3:20; 2Pe 2:5; 3:4-6; 1Jo 3:12; Jd 11,14; Ap 14:7.
Mesmo assim alguns veem o Gênesis como uma poesia – simplesmente. Mesmo que esse seja o caso, e mesmo que a estrutura de Gênesis 1:1 à 2:4 estejam estruturados em uma forma semelhante à poesia hebraica, denominada de paralelismo sintético, isso em hipótese alguma nega a historicidade do texto, como também pode ser observado em Êxodo 15 e Daniel 7, bem como em cerca de 40% do Antigo Testamento. Um fato histórico, preciso e literal pode ser escrito em forma de poesia e ainda assim ser histórico e preciso, a exemplo do Salmo 22 que é uma poesia, e ao mesmo tempo preciso em sua descrição messiânica.
Mas, ainda assim os Evolucionistas Teístas insistem na leitura alegórica do Gênesis porque só assim poderão dar-lhe o sentido que desejam, e este sentido é guiado pelo evolucionismo. Grant Osborne, em seu livro A Espiral Hermenêutica, comenta o seguinte:
A questão do gênero é um importante elemento no debate sobre a possibilidade de recuperar o significado pretendido pelo autor (Hirsch chama isso de “gênero intrínseco”). Todos os escritores expressam sua mensagem dentro de um determinado gênero, para que os leitores tenham regras suficientes pelas quais possam decodificá-la. (OSBORNE, 2009, p.32).
O método alegórico de interpretação da Escritura, segundo Pentecost (1998, p.33), é repleto de perigos que o tornam inaceitável. O seu primeiro grande perigo é que ele não interpreta a Escritura, pois despreza o significado comum das palavras para dar asas a todo tipo de especulação fantasiosa. Por isso Pentecost afirma:
[...] os grandes perigos inerentes a esse sistema são a eliminação da autoridade das Escrituras, a falta de bases pelas quais averiguar as interpretações, a redução das Escrituras ao que parece razoável ao intérprete e, por conseguinte, a impossibilidade de uma interpretação verdadeira das Escrituras.
Ainda, Fritsch ao falar sobre a interpretação alegórica da Escritura afirma que “de acordo com esse método, o sentido literal e histórico das Escrituras é completamente desprezado, e cada palavra e acontecimento é transformado em alegoria de algum tipo, já para escapar de dificuldades teológicas, já para sustentar certas crenças religiosas estranhas” (apud PENTECOST, 1998, p.32).
Por isso, ao pretender mudar o gênero literário do livro, ou pelo menos do capítulo 1 de Gênesis, o que os evolucionistas teístas querem na verdade é mudar as regras de interpretação daquela passagem para que ela diga aquilo que eles desejam, aquilo que lhes é conveniente. Querem alegorizar o que não é alegórico.
Em quarto lugar, o argumento para a interpretação alegórica do Gênesis repousa na ideia do Sensus Plenior[2]. Com isso, o que importa para tais pessoas não é o que o autor escreveu em si, mas qual a sua intenção ao escrever aquilo. Então, a interpretação sai da análise histórico-gramatical do próprio texto e vai para o campo da especulação, ao tentar descobrir o que o autor queria realmente dizer e não disse. Para os evolucionistas teístas o Gênesis seria uma espécie de mensagem codificada, e que não está clara. Um dos problemas com esta defesa da busca por um sentido mais profundo, pela intenção do autor ao escrever determinada passagem, na verdade, é que foi um ensino criado no catolicismo do século XX, e que não existia do século I ao século XIX. A ideia de Sensus Plenior não afirma tão somente que o autor tinha o entendimento do significado completo de sua escrita, mas que há a possibilidade de uma passagem do Antigo Testamento ter mais de um significado que era conscientemente entendido pelo autor. Por isso, a ideia de Sensus Plenior, apesar de defendida por autores evangélicos conceituados, não possui base bíblica e sua origem é questionável por ter sido desenvolvida com o intuito de conduzir o público ao pensamento de que o magistério católico pode atribuir outro significado a passagem por serem, hipoteticamente, inspirados por Deus, a exemplo da autoalegação do papa que se denomina o sucessor de Pedro, o líder da igreja e infalível. Portanto, esses mesmos requisitos são pretendidos por aqueles que buscam não o sentido do texto, mas o sentido oculto e mais profundo que não se encontra na escrita do texto mas na intenção do autor.
Sobre o Sensus Plenior, Grant Osborne afirma que “o sentido mais profundo está relacionado ao sentido literal, que proporciona uma extensão ou desenvolvimento desse sentido, em vez de um significado completamente novo” (OSBORNE, 2009, p.420). Ou seja, aquele sentido mais profundo, ou intenção do autor ao escrever o texto, só será encontrado a partir do próprio texto em seu sentido literal, que é visto por meio da análise histórico-gramatical do próprio texto. Não existe um sentido oculto no texto que não seja o seu sentido literal.
Vanhoozer (2005, p.322) também afirma que “os estudiosos modernos da Bíblia continuam a se digladiar com a tensão entre “o que queria dizer” para o autor original e “o que quer dizer” para a igreja de hoje”, e continua:
Minha tese é a de que o “significado mais completo” das Escrituras – o significado associado à autoria divina – emerge apenas no nível do cânone inteiro. Como argumentou Wolfhart Pannenberg, o significado em geral – seja de palavras ou de eventos – depende em grande medida da relação entre a parte e o todo. (VANHOOZER, 2005, p.323)
Portanto, para Vanhoozer, o texto deve ser analisado em seu contexto geral. Por isso, então, Gênesis 1 não deve ser visto à parte de Gênesis 2, ou desconectado deste. Não estamos vendo nesses dois capítulos visões diferentes ou divergentes, mas complementares, e ambas devem ser lidas e entendidas em seu sentido literal.
Nesse sentido, a grande advertência que Kaiser e Silva (2009, p.198) fazem é a de que “nenhuma doutrina deve ser fundamentada em uma única passagem das Escrituras, parábola, alegoria, tipo, sensus plenior ou numa leitura incerta do texto”. Mas é exatamente esse o segundo erro dos evolucionistas teístas. Se seu primeiro erro é partir de uma fonte externa para o entendimento da Escritura (evolucionismo), o seu segundo erro é buscar fundamentar o ensino de dias-eras, bilhões de anos, evolucionismo etc a partir do uso da alegoria, sensus plenior e passagens isoladas da Escritura que têm sido vistas fora de seu contexto e com a descaracterização de seu gênero literário. Por tudo isso a ideia de evolucionismo teísta é uma agressão ao texto bíblico.
Christopher Hall, em seu livro Lendo as Escrituras com os Pais da Igreja, ao citar Deodoro, mesmo se referindo ao livro poético de Salmos, afirma:
Quando encerra seu prólogo aos salmos, Deodoro estabelece distinção entre história (a substância histórica de um texto), lexis (o sentido literal puro), theoria (o sentido elevado de um texto obtido mediante cuidadosa exegese do sentido literal) e alegoria. Ele desejava evitar a alegoria, porque ela está divorciada do sentido literal, histórico da Bíblia. Ela viola substância histórica do texto, à medida que o exegeta inventa significado do nada. Aqueles que introduzem a alegoria como instrumento hermenêutico, pois, “são descuidados acerca da substância histórica ou simplesmente abusam dela”. Eles possuem uma “imaginação vã, forçando o leitor a tomar uma coisa por outra”. (HALL, 2007, p. 181)
Ao citar Teodoro de Mopsuéstia, Christopher Hall relembra que o fundamento da narrativa bíblica é muito importante, especialmente para Teodoro, pois os alegoristas[3] agem “como se toda a narração histórica da Escritura divina de nenhum modo diferisse de sonhos à noite”. Hall ainda afirma:
Por exemplo, quando eles começam a interpretar a Escritura “espiritualmente”, como tratarão uma figura como Adão? A realidade histórica, declara Teodoro, desaparece totalmente quando Adão repentinamente “não é Adão, o paraíso não é paraíso e a serpente não é serpente”.
Gostaria de dizer-lhes isto: se eles fazem a história servir a seus próprios fins, eles não terão deixado nenhuma história. Mas, se é isto o que fazem, deixemo-los responder estas perguntas: Quem foi o primeiro ser humano a ser criado? Como aconteceu sua desobediência? Como nossa sentença de morte foi introduzida? Se a afirmativa deles é verdadeira, se os escritos bíblicos não preservam a narrativa de eventos atuais, mas apontam para alguma outra coisa, algo profundo que requeira compreensão especial – alguma coisa “espiritual”, como eles gostariam de dizer, que eles descobriram por que eles próprios são tão espirituais, então qual é a fonte do seu conhecimento?  (HALL, idem, p.186,187)
Teodoro acertou no ponto. Parece que, mesmo vivendo em 428 aD, estava prevendo o futuro debate que haveria 16 séculos depois. Isso porque é exatamente essa a questão aqui tratada. Se artifícios são utilizados para fazer parecer que o texto bíblico de Gênesis não é literal, o que acontecerá com o restante da Escritura já que esta está interligada e já que doutrinas fundamentais estão estabelecidas nessa narrativa? E mais, se o texto não diz o que aparenta dizer, mas alegoricamente quer dizer outra coisa, de onde vem, então, a fonte de informação para decodificar esse texto alegórico do Gênesis? É exatamente esse o ponto tratado aqui: A hipótese evolucionista tem sido utilizada como a chave decodificadora da Bíblia. Ou seja, a Bíblia só irá significar aquilo que o evolucionismo determinar. Por isso, os evolucionistas teístas não são intérpretes da Escritura, muito menos exegetas, mas sim aqueles que distorcem o seu real sentido. Não são intérpretes, mas falsificadores. Não fazem exegese[4], mas eisegese [5]. Não estão comprometidos com o real sentido do texto, mas com os seus interesses evolucionistas.
Curiosamente a própria Ultimato foi quem publicou o excelente livro de Christopher Hall (Lendo as Escrituras com os Pais da Igreja). Então, nos colocamos a perguntar: O que está havendo com os responsáveis pela revisão dos textos dessa editora, que ora publica um material de tão boa qualidade e ora publicam material que refuta as suas próprias publicações?
Seria a ausência de uma linha editorial confessional, ortodoxa e doutrinária clara a responsável por essa mudança brusca e contraditória na Ultimato, ou haveria alguma outra razão para isso?
Ao tratar sobre a história do embate entre Fé e Ciência, a Dra. Ruth utiliza um argumento teológico para a defesa do evolucionismo teísta, afirmando:
Havia essa ideia de que Deus havia estabelecido leis para os Israelitas. Então, nós esperávamos que o universo, assim como Deus o criou, também operasse por meio de leis que podiam ser descobertas por meios de experimentos e observação. Porque Deus é um Deus de ordem. Também havia essa outra ideia de que Deus era um criador independente, que criou o universo da maneira como Ele quis. Então você não poderia predizer como as coisas aconteceriam.
A questão da Dra. Ruth, e de todos aqueles que se fundamentam na visão evolucionista teísta, mais uma vez, está centralizada no agente externo: a ciência. A ciência para tais pessoas tem sido tratada como o “espírito santo” que guia à toda a verdade. Por isso afirmamos que para eles a ciência tem sido divinizada, pois é o meio capaz de conduzir à uma suposta correta compreensão do texto bíblico. O elemento de interpretação é externo, e por isso – mais uma vez – fazem eisegese e não exegese.
Por isso as conclusões teológicas dos evolucionistas teístas são baseadas nos pressupostos evolucionistas e não no entendimento Bíblico-textual da própria Escritura. Para eles, as alianças e as leis estabelecidas por Deus são entendidas à luz do evolucionismo. Aquilo que a teologia chama de Revelação Geral é alcançada e compreendida por meio da deusa ciência, que é tida como o instrumento para a correta compreensão bíblica.
Na verdade, na verdade, como diz Jesus, a ciência não é a senhora da razão, e muito menos uma deusa. Também não é a lente hermenêutica. Nesse momento lembro-me do Dr. Robert Jastrow, diretor do Observatório Mount Wilson e membro fundador do Instituto para Estudos Espaciais Goddard da NASA, que em seu livro God and the Astronomers afirmou:
Neste momento parece que a ciência nunca poderá levantar a cortina que cobre o mistério da criação. Para o cientista que teria vivido por sua fé no poder da razão, a história termina como um pesadelo. Ele escalou as montanhas da ignorância; está a ponto de conquistar o pico mais alto; ao alcançar finalmente a última rocha, é saudado por um grupo de teólogos que aí se assentavam havia séculos. (JASTROW, 1992)
Ruth Bancewicz afirmou que “os cientistas relatados no livro Teste da Fé são extremamente bem sucedidos. Então eles são ótimos modelos e exemplos para mim”. Na verdade a própria Dra. Ruth afirmou que Francis Collins é um dos principais responsáveis pela forma como o seu pensamento é direcionado. Sobre o Dr. Francis Collins e o Evolucionismo Teísta, o pastor Hernandes Dias Lopes disse o seguinte:
Francis Collins, o pai do projeto Genoma, um dos mais ilustres geneticistas da atualidade, no seu livro LINGUAGEM DE DEUS, professa ser um cristão. Porém, tenta conjugar o Cristianismo com o Darwinismo. O caminho que encontrou para essa aliança espúria foi afirmar que Deus criou o universo através da evolução.
Consequentemente, o relato bíblico de Gênesis 1 e 2 não pode ser aceito como um registro histórico literal. Sendo assim, Adão e Eva não existiram como relata a Bíblia. O relato da criação deve ser entendido como uma passagem pictórica e metafórica. O problema é que não podemos negar a literalidade de Gênesis 1 e 2 sem negar o restante das Escrituras.
Não podemos aceitar a tese do “evolucionismo teísta” sem desconstruirmos toda a Bíblia. O relato da criação está presente em todos os livros da Bíblia: lei, históricos, poéticos, proféticos, evangelhos, epístolas e Apocalipse.
Para subscrevermos a tese de Francis Collins precisaríamos negar a inerrância das Escrituras. Com quem vamos ficar? Seja Deus verdadeiro e mentiroso todo homem! Ficamos com Jesus, que disse: “E a Escritura não pode falhar”. Ficamos com o apóstolo Paulo que disse: “Toda Escritura é inspirada por Deus”. (LOPES, 2013)
Ainda, em entrevista à revista Veja (24 jan 2008), Francis Collins fez as seguintes afirmações:
Agostinho já dizia que não há como saber exatamente o que significam os seis dias da criação. Um exemplo de que uma interpretação unilateral da Bíblia é equivocada é que há duas histórias sobre a criação no livro do Gênesis 1 e 2 – e elas são discordantes. Isso deixa claro que esses textos não foram concebidos como um livro científico, mas para nos ensinar sobre a natureza divina e nossa relação com Ele. Muitas pessoas que crêem em Deus foram levadas a acreditar que, se não levarmos ao pé da letra todas as passagens da Bíblia, perderemos nossa fé e deixaremos de acreditar que Cristo morreu e ressuscitou. Mas ninguém pode afirmar que a Terra tem menos de 10000 anos a não ser que se rejeitem todas as descobertas fundamentais da geologia, da cosmologia, da física, da química e da biologia.
Essas declarações do Dr. Collins demonstram o seu desconhecimento exegético e hermenêutico do texto bíblico, demonstram que o mesmo desconhece que Gênesis 1 e 2 são complementares e não contraditórios, demonstram que a sua interpretação bíblica é realizada por influência dos fatores externos – como ciência – ao invés de serem guiados pelas informações contidas no próprio texto. Por isso, o Dr. Francis Collins sacrifica a exegese do texto de Gênesis para abrir espaço para o evolucionismo, como já pudemos ver anteriormente. Além do mais, apesar de ser cientista, o Dr. Collins ignora, consciente ou inconscientemente – não sabemos – as pesquisas sobre as datações que apontam para uma idade mais jovem da Terra, a exemplo dos experimentos do Dr. Russell Humpreys (pesquisa oceanográfica), Dr. Robert V. Gentry (pesquisa em radiohalos), Dr. Thomas G. Barnes (pesquisa do campo magnético da Terra), Dr. John Whitcomb e Dr. Donald B. DeYoung (pesquisa sobre a lua), Dr. Louis B. Slichter (pesquisa em geofísica), Dr. Keith L. McDonald e Dr. Robert H. Gunst (pesquisa do campo magnético da Terra). Isso tudo sem falar que mais recentemente já têm afirmado que uma nova “pesquisa indica que Terra é 70 milhões de anos mais jovem” (VEJA, Online, 17.07.2010).
É importante observar o que outros cientistas conceituados também têm afirmado. O Dr. Hannes Alfven[6] afirmou: “o que é “geralmente aceito” na teoria de formação estelar pode ser uma centena de dogmas insustentáveis que constituem uma grande parte da astrofísica atual” (2004. p.480). O Dr. Joseph Silk, professor de astronomia em Oxford, afirmou: “Ainda não podem ser determinados muitos aspectos da evolução de galáxias com qualquer certeza” (2001, p. 195). O Dr. Donald DeYoung, Ph.D em Física, afirmou: “A presença de cometas pode ser evidência que o sistema solar não é tão velho quanto é assumido frequentemente” (2000, p.49,50).
Acreditamos que toda a criação foi prejudicada pelo pecado e que por isso, uma busca pela observação de Deus através de meios simplesmente naturalistas conduzirá à erros de conclusões. Por isso o evolucionismo teísta tem falhado, porque os seus pressupostos são naturalistas por essência e por natureza. Por outro lado, a observação da natureza através da “lente” bíblica fará com que enxerguemos com mais clareza e nitidez e cheguemos à uma compreensão e entendimento de Deus mais corretos por meio da Revelação Geral, expressa mediante as coisas que foram criadas.
Portanto, não é a ciência que conduzirá à uma melhor compreensão da Escritura, mas é a Escritura quem conduz à uma melhor compreensão da ciência.
No lançamento do Projeto Teste da Fé em Recife, a Dra. Ruth teceu críticas ao Movimento do Design Intelligent (DI):
No centro do Movimento do Design Intelligent eu me preocupo que haja a questão do Deus das lacunas. Claro que não é o que eles estão visando fazer, mas isto é o que eu tenho visto acontecer. Eu já tive várias discussões com pessoas envolvidas nesse movimento, e agente não concorda simplesmente sobre ser algo que diz respeito a essas lacunas.
Para Ruth Bancewicz, e os demais seguidores do evolucionismo teísta, aquilo que eles chamam de “deus das lacunas” é visto como uma desculpa dos seguidores do DI para aquilo que não pode ser explicado. Então, essa evidência de design na natureza exposta através da complexidade irredutível[7], por exemplo, seria apenas um pretexto para dizerem que houve um projetista que criou aquele ser ou mecanismo.
Esse argumento da Dra. Ruth só reforça aquilo que o Dr. Augustus Nicodemus já havia falado: “os evolucionistas teístas deveriam mudar o nome para evolucionistas “deístas”, uma vez que estes tais acreditam numa divindade remota que criou o mundo como um relógio, deu corda e simplesmente afastou-se” (apud PORTELA, 2007, idem).
O DI afirma que os mecanismos, ou sistemas, existentes possuem uma complexidade tal que é impossível (improvável) que tenha surgido através de um processo evolutivo. Já para os evolucionistas teístas, isso seria apenas uma desculpa utilizada para não explicar o processo evolutivo. Dessa forma, esse processo evolutivo seria aquilo que o Dr. Augustus afirmou, quando Deus teria dado início ao processo e depois se afastado dele. Essa é uma consequência natural do pensamento evolucionista teísta: o Deísmo.
O Deísmo é uma postura filosófica e religiosa que admite a existência do Deus criador, mas que rejeita a Sua revelação. Exatamente como os proponentes do evolucionismo teísta têm feito ao descaracterizar a Revelação Geral, afirmando que esta Revelação Geral não é de todo clara e que só pode ser alcançada por meio do conhecimento científico. O Deísmo, ainda, considera a razão como a única via capaz de nos assegurar a existência de Deus, e por isso, rejeita a formulação de um pensamento teológico preconcebido que contradiga seus dogmas naturalistas. Isso é exatamente o que o evolucionismo teísta faz, pois manipula a teologia através de suas ideias naturalistas.
Por essa razão, identificamos o evolucionismo teísta como uma espécie de “Neoiluminismo”[8].
Ruth Bancewicz ainda afirmou:
Se você ainda não sabe ou não escutou falar sobre o que significa esse movimento do Design Intelligent, eu acho que a maior ideia central por trás desse movimento é de que há evidências de que o mundo foi projetado. Não da maneira mais geral em que agente chega e vê uma montanha e seus arredores e pensa: Caramba! Alguém criou isso aqui tudo! Mas no sentido em que há coisas específicas, como por exemplo: componentes de células que não poderiam existir decorrentes de uma evolução. Teriam que ser criados ou projetados. E aí, eles usam isso como evidência para esse Design Intelligent. E pela razão que EU ACREDITO QUE ESSAS COISAS NÃO PODERIAM EXISTIR FORA DO PROCESSO DE EVOLUÇÃO eu discordo deles e eu fico achando que é algo realmente pra preencher essas lacunas. O que eu quero dizer com esse “Deus das lacunas” é que se em algum momento você encontra evidências de que esses componentes poderiam ter surgido decorrentes da evolução você perde toda a base para acreditar em Deus. E se você usa essa falta de conhecimento, de evidência, sobre o por que que algo existe como razão e evidência para acreditar em Deus você coloca Deus somente preenchendo essas lacunas que você não consegue entender. E se você está usando Deus apenas para preencher essas lacunas você O vai tornando menor.
Portanto, sob o pretexto de piedade e devoção à Deus, os evolucionistas teístas, digo “deístas”, na verdade subtraem Deus do processo, ou pelo menos o entendimento de Deus por meio de uma teologia ortodoxa. Com o pretexto de não diminuir Deus, os evolucionistas teístas O retiram do processo, substituindo o ensino ortodoxo de Deus na Escritura pelos pressupostos naturalistas.
No final de sua preleção, ao ser perguntada sobre a sua posição, se era criacionista ou evolucionista, a Dr. Ruth Bancewicz respondeu:
Eu acredito que Deus pode ter criado o mundo da maneira como ele quis. E seja qual for o seu ponto de vista, nós temos que nos certificar de que nós não moldamos Deus à nossa própria imagem. Nós precisamos nos aproximar do livro de Gênesis de maneira humilde e reverente. E eu não posso chegar aqui e fingir que eu entendo todas as nuances e os ricos ensinamentos que estão ali naquele livro. Mas o meu pensamento tem sido guiado por um número de teólogos e acadêmicos da Bíblia como John Stott e Alister McGrath, e um professor de um seminário batista que também é um bioquímico e que escreveu um livro que está publicado em português, Ernest Lucas, Gênesis Hoje. Eu acredito que todos os cristãos concordam sobre a principal mensagem que o livro de Genesis traz: que há um Deus que criou tudo por contra própria, que não haveria limitação e o que Ele criou era bom. Ele criou os seres humanos à sua imagem, e lhes deu responsabilidade e nós nem sempre correspondemos a essas responsabilidades e que o nosso egoísmo nos separa de Deus e afeta o nosso relacionamento, uns com os outros e com o restante da criação. E eu acredito que essas são as questões centrais do livro de Gênesis, e eu acho que essa é a coisa mais importante pra gente pensar. O resto começa a ficar um pouco mais complicado.
Então, após não responder a pergunta que lhe foi feita, por uma razão óbvia!, a Dra. Ruth busca respaldar o seu pensamento em nomes conhecidos na Igreja, como John Stott e Alister McGrath.
Bem, o amado e saudoso irmão John Stott deixou um legado precioso para a igreja, especialmente no que diz respeito ao Discipulado, porém, não era perfeito em sua teologia, como certamente ninguém é. Diante do legado do “bom velhinho” acreditamos que muitos ficaram surpresos ao saber que o mesmo defendeu o aniquilacionismo e o evolucionismo teísta.
Da mesma forma o Alister McGrath, que surpreendeu alguns ao declarar que “Na minha opinião, as duas coisas são compatíveis” (ÉPOCA, Online, 09.05.2008), ao se referir à existência de Deus e o evolucionismo. Também, surpreendeu ao declarar não crer na inerrância bíblica (MCGRATH, 2007, p.21), afirmando que a defesa da inerrância bíblica e da autoridade da Escritura, de acordo com a Velha Princeton, do período dos Hodges e de Benjamin Warfield, têm origem no Iluminismo. Por isso, o verdadeiro conceito de inerrância bíblica é diferente. Portanto, afirma McGrath, esse conceito de inerrância bíblica “deveria ser colocado de lado” desde que se mantivesse a ideia de autoridade da Escritura Sagrada.
Tudo isso deveria nos servir de lição, ao atentarmos para o fato que não devemos alinhar nossos pensamentos completamente por aquilo que os teólogos dizem, já que não cremos no dogma da infalibilidade humana, como os católicos acerca do papa. Por outro lado, não deveríamos rejeitá-los tão rapidamente. Deveríamos alinhar nosso pensamento por aquilo que a Escritura determina, e se algum teólogo está de acordo com a Escritura, que seja bem vindo. Por isso, o Dr. Augustus Nicodemus afirma enfaticamente:
O fundamentalismo histórico nasceu em defesa da fé cristã, ameaçada, na época, pelo liberalismo teológico. Portanto, o fudamentalismo foi um movimento apologético de defesa da fé, porque entendia que a tarefa da Igreja cristã era defender a fé que uma vez por todas foi entregue aos santos. Nesse aspecto, é positiva a disposição de se lutar em favor da fé bíblica, identificando inimigos potenciais do cristianismo, como o liberalismo teológico, o humanismo, o evolucionismo e o “evangelicalismo”, que tem, gradualmente, abandonado a doutrina da infalibilidade da Escritura e adotado o ecumenismo e o evolucionismo teísta. (apud PORTELA, 2007, Online)
Dessa forma, podemos ver claramente que o evolucionismo teísta nada mais é que – nas palavras do Dr. Augustus – um “inimigo potencial do cristianismo”. Pudemos perceber que a sua consequência natural, com o tempo, é simplesmente a adoção da negação da inerrância bíblica, adoção do deísmo, influência iluminista, aceitação do método alegórico de interpretação e por tudo isso é um dos meios que pode facilmente conduzir a Igreja ao Liberalismo Teológico.
Portanto, por todas essas razões o Dr. Marcos Eberlin afirmou que “Há duas coisas que detesto e combato, mas com respeito: o naturalismo e a evolução: uma que eu abomino, o evolucionismo teísta! E os lobos disfarçados de cordeiros” (apud FERNANDES, Online, 19 set 2013). Ainda, Enézio Almeida, coordenador do Núcleo Brasileiro de Design Inteligente, afirmou:
Darwin disse que se precisasse de ajuda externa (leia-se Deus) sua teoria da evolução seria bullshit. Estou denunciando aqui como heresia o evento Teste da Fé por promover justamente o que Darwin abominou – teísmo evolucionista. Péssima teologia porque Deus não é Todo-poderoso neste processo estocástico. Péssima ciência porque injeta o Deus das lacunas numa teoria científica. Cristãos liberais estão chocados com a minha denúncia deste Cavalo de Tróia. (FILHO, Facebook, 9 set 2013)
CONCLUSÃO
Diante de tudo o que foi exposto, precisamos entender que a solução não está no abandono do estudo da ciência. Muito pelo contrário. Muitos cientistas têm prestado um grande serviço à humanidade com suas descobertas. Ainda, o estudo da Teologia não pode ser visto como algo irrelevante ou secundário, já que a Teologia é o estudo de Deus e de Sua Revelação e como aplicar tal conhecimento à vida humana.
Já que nós, ortodoxos, cremos que a Escritura Sagrada é Inspirada, Inerrante, Infalível e Suficiente, devemos mantê-La como guia de nossas vidas. Dessa forma, não é a ciência quem deve guiar a interpretação bíblica, pois isso seria eisegese, mas a Bíblia quem deve apontar a direção na qual devemos seguir e a forma como devemos interpretar o mundo e a ciência. E se em algum momento a ciência diz algo e a Escritura Sagrada diz outra coisa diferente, que fiquemos com a Escritura, pois é Ela quem jamais passará (Mc 13:31).
Por último, precisamos entender que muitos teólogos foram, e ainda são, grandemente usados por Deus para nos orientar, mas isso não lhes condiciona à posição de infalíveis nem inerrantes. A história mostra que muitos grandes homens de Deus falharam e se equivocaram em certos momentos. Portanto, sabemos dos benefícios legados à Igreja por B. B. Warfield, Augustus Hopkins Strong, C. S. Lewis, Alister McGrath, John Stott e tantos outros, mas isso não quer dizer que seus ensinos devam ser recebidos como inquestionáveis ou infalíveis, assim como os de Agostinho de Hipona e outros Pais da Igreja também não.
A grande chave de toda essa questão é que devemos ser como os bereanos, que mesmo diante da pregação do apóstolo Paulo verificavam se o seu ensino estava em conformidade com a Escritura, pois como disseram Franklin Ferreira e Alan Myatt: “qualquer tentativa de decidir entre as várias opções deve dar prioridade ao texto bíblico e não se deixar guiar pelo que está na moda entre os cientistas” (FERREIRA;MYATT, 2007, p.283).
A nossa oração é para que o Senhor Deus abra os olhos daqueles que têm abraçado o teísmo evolucionista para que enxerguem o mundo e a ciência através da lente da Escritura, e não o contrário, e para que a Editora Ultimato se lembre de onde e de como caiu, se arrependa, e volte a praticar as primeiras obras, antes que o seu castiçal seja tirado do lugar.
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
Que o Senhor Deus, Criador Soberano de todas as coisas, nos ajude e guie nossos passos!
NOTAS
[1]. Universalismo é uma heresia que afirma que ao final de tudo todos serão salvos.
[2]. Em exegese bíblica, a expressão SENSUS PLENIOR (do latim “sentido mais pleno”) é usada para descrever “um sentido mais profundo do texto”.
[3]. Alegoristas são aqueles que utilizam o método alegórico de interpretação da Escritura, para que Ela não seja vista de forma literal.
[4]. Exegese é um termo grego (exegeomai, exegesis) e significa: retirar, derivar, extrair, expor. É o ato de extrair o real significado do texto através da análise do próprio texto, por meio de uma interpretação que leve em conta a história da passagem e seus aspectos gramaticais. Daí o termo histórico-gramatical.
[5]. Eisegese é o ato de introduzir, injetar, no texto alguma coisa que o interprete deseja que esteja ali, mas que na verdade não faz parte do mesmo. Por isso, quem faz eisegese força o texto, através de manipulações, para que ele diga o que na verdade não está lá.
[6]. O Dr. Hannes Alfven foi laureado com o prêmio Nobel de Física em 1970, por trabalhos fundamentais e descobertas na magnetohidrodinâmica e suas várias aplicações na física de plasma.
[7]. Complexidade irredutível é um conceito usado pelos proponentes do Design Inteligente segundo o qual certos sistemas biológicos possuem uma complexidade segundo a qual é altamente improvável que tenha surgido de forma evolutiva a partir de predecessores mais simples, ou “menos completos”, através de mutações aleatórias vantajosas e seleção natural ocorridas naturalmente, i.e. sem a interferência de inteligência, pois tais sistemas biológicos só poderiam ser funcionais se todas as suas partes estivessem presentes e montadas na ordem certa.
[8]. Neoiluminismo é um termo cunhado por este autor para se referir a pensadores modernos que mantém as bases do Iluminismo em seu pensamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BORGES, Michelson. Declaração de um cientista criacionista. Disponível em: <http://www.criacionismo.com.br/2013/03/declaracao-de-um-cientista-criacionista.html>. Acesso em: 15 mar 2013.
CAVALCANTI, Roberto. Inconsistências teológicas do evolucionismo teísta. Disponível em: <http://roberto-cavalcanti.blogspot.com.br/2011/07/inconsistencias-teologicas-do.html>. Acesso em: 05 jan 2012.
FERNANDES, Robson T. NOTA DE REPROVAÇÃO À EDITORA ULTIMATO. Facebook. Disponível em: <http://caleberobson.blogspot.com.br/2013/09/nota-de-reprovacao-editora-ultimato.html>. Acesso em: 19 set 2013.
FILHO, Enézio Eugênio De Almeida. Facebook. Disponível em: <https://www.facebook.com/neddybr/posts/555208097866345>. Acesso em: 09 set 2013.
LOPES, Hernandes Dias. Será que Adão e Eva existiram mesmo?. Disponível em: <http://provaievedeapalavra.blogspot.com.br/2013/03/sera-que-adao-e-eva-existiram-mesmo.html>. Acesso em: 05 mar 2013.
PORTELA, Solano. A Sociedade Refém da Visão Homossexual de Vida. Disponível em: <http://tempora-mores.blogspot.com.br/2007_03_01_archive.html>. Acesso em: 06 jan 2012.
Revista Veja Online: Pesquisa indica que Terra é 70 milhões de anos mais jovem. Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/pesquisa-indica-que-terra-e-70-milhoes-de-anos-mais-jovem>. Acesso em: 13 jul 2010.
RODRIGUES, Wellington G.; MOTTA, Rosilene da Silveira Santos. Relações entre Ciência e Religião na perspectiva dos professores da Faculdade Adventista de Fisioterapia (FAFIS). Revista Práxis Teológica, Cachoeira – BA, Vol. 1, Nº 1, p.105-129, 2011.
ALFVEN, Hannes. Evolution of the Solar System. Honolulu: University Press of the Pacific NASA, 2004.
BACON, Betty. Estudos na Bíblia Hebraica. São Paulo: Vida Nova, 1997.
DEYOUNG, Donald D. Astronomy and the Bible. Grand Rapids: Baker Books, 2000.
FEE, Gordon. Entendes o que lês?. São Paulo: Vida Nova, 2008.
FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007.
HALL, Christopher A. Lendo as Escrituras com os Pais da Igreja. Viçosa: Ultimato, 2007.
JASTROW, Robert. God and the Astronomers. New York: W. W. Norton, 1992.
KAISER, Walker. The Literary Form of Genesis 1-11. Waco: World, 1970.
MCGRATH, Alister. Paixão pela verdade. São Paulo: Shedd Publicações, 2007.
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SILK, Joseph. The Big Bang. New York: Times Books, 2001.
WISEMAN, P. J. Clues to Creation in Genesis. Londres: Marshall, Morgan & Scott Ltd, 1977.
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O Deus em quem não creio

27.12.2013
Do portal NAPEC - APOLOGÉTICA CRISTÃ, 
Por Davi Lago
Muitas vezes quando me perguntam se eu acredito em Deus, eu respondo: “Depende de que Deus você está falando”. Eu não creio, por exemplo, num “Deus banqueiro” que serve apenas para resolver nossos problemas financeiros. Não creio também num “Deus” que criou o mundo e o abandonou, como crêem os deístas; nem num “Deus tapa-buraco” de nossas ignorâncias; nem num “Deus de indulgências” que barganha favores para os homens. Se for um desses deuses que você tem em mente, então eu sou o maior ateu do universo.
Há vários deuses no supermercado religioso contemporâneo. Mas são todos tão mesquinhos, que não vale a pena desperdiçar tempo falando sobre eles. Dá agonia ter que aturar tanta frivolidade. Como é possível crer num “Deus” que não zela por sua própria glória? Como crer num “Deus” que não seja onipotente, perfeito e digno de louvor?
Não creio num “Deus” que possa ser colocado numa caixa e estudado num laboratório. Não creio num “Deus” que seja só amor sem justiça, ou que seja somente justiça sem amor. Não creio num “Deus” inseguro, instável e mutável como o temperamento humano ou a bolsa de valores. Não tenho fé para crer num “Deus” ilógico, irracional e absurdo. Não creio num “Deus” que seja um mero passatempo e entretenimento para uma vida alienada.
Não creio num “Deus” que não tenha o controle do cosmo e fique amedrontado diante de demônios e outros deuses. Não creio num “Deus” antiquado que precisa ser readaptado de tempos em tempos. Não creio num “Deus” insensível ao sofrimento, ao racismo e à escravidão. Não creio num “Deus” que serve apenas como um conforto ilusório para minhas tristezas.
Não creio num “Deus” limitado, impotente diante da natureza, que nada sabe sobre o futuro, como afirmam os teístas abertos. Um “Deus” assim é digno de dó e piedade. Também não posso crer num “Deus” antropocêntrico, que adora o homem e coloca a vontade humana acima da sua. Não creio ainda num Deus impessoal como acreditam os hindus. Esse “Deus” não passa de uma “energia superior”, que não se relaciona com a humanidade e nem é consciente de si.
Perceba: não posso crer num “Deus” que não passa de uma projeção humana, um “Deus” à imagem e semelhança do homem, assim como afirmou Feuerbach. Nesse “Deus” eu não creio. Nem no “Deus pai super-protetor” que Freud negou. Um “Deus” assim teria apenas um monte de filhos mimados e insuportáveis.
Se foi um desses deuses que Nietzsche afirmou que está morto, graças a Deus que ele está morto e não existe mais. Aliás, ele nunca existiu. E que ninguém tenha a ideia insana de reinventá-lo. No funeral desse “Deus”, não choraremos.
Creio que rejeitar esses falsos deuses é o primeiro passo da verdadeira fé.
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Fé que conduz à ação – Implicações da Doutrina da Justificação para nossa ação

27.12.2013
Do portal NAPEC- APOLOGIA CRISTÃ
Carlos A. Sintado inicia seu artigo sobre Ecologia Social com uma citação de Quintus Septimius Florens Tertullian “O que Atenas tem haver com Jerusalém (…) o que a academia tem haver com a Igreja?”.[2] Nossa pesquisa tem por objetivo buscar na Bíblia e na teologia evangélica luterana impulsos para uma prática eclesial e social que contribua para a manutenção da vida no planeta com a dignidade e o respeito que lhe são devidos.
As duas grandes tentações para as Igrejas cristãs em assuntos como política, economia e direito são o quietismo e o ativismo. O quietismo nega que a pessoa cristã tenha alguma responsabilidade em se envolver no debate que é chamado por alguns de “secular”. Esta tendência a separar a moral religiosa da moral pública, como se uma não tivesse algo a contribuir para a outra é uma herança do Iluminismo.[3] Já o ativismo representa uma solução de compromisso extremo que tem a tendência de equiparar as conquistas sociais à salvação eterna. O quietismo percebe a fé como algo que só tem a contribuir no âmbito da vida interna (espiritual). O ativismo percebe o comprometimento social como a razão última da sua fé.
Em Jesus Cristo, Deus nos justifica sem mérito ou obras nossas somente pela sua graça mediante a fé. A pessoa, tendo sido resgatada da sua justiça própria pela graça mediante a fé, é transportada para uma relação completamente nova com Deus, consigo mesma, e com o seu próximo. Por isto a justificação leva a pessoa cristã à obediência e consequentemente à ação concreta no mundo, pois a pessoa cristã não vive para mais si mesma (2Co 5.17, cf. tb. Confissão de Augsburgo, art. 4).
A fé em Jesus Cristo se expressa como discipulado, o seguimento ao Senhor que chama para um compromisso com seu amor. O discipulado exige a fé e a obediência, ao mesmo tempo em que a fé e a obediência são graça que levam ao discipulado.[4]
Nossas obras, como pessoas cristãs, não são tentativas de agradar a Deus para que com isto Ele se agrade de nós e por consequência nos conceda salvação (Confissão de Augsburgo, art. 6). Nossas obras são resultado da nova vida concedida por Cristo a nós gratuitamente (Ef 2.10). Temos plena liberdade para agir em favor do próximo, pois somos servos obedientes e em tudo sujeitos a Cristo.[5]
Assim como a fé é despertada pela promissio do Evangelho, da mesma forma a Igreja é criatura do evangelho.[6] Fé em Cristo cria comunidade, cria a comunhão daqueles que professam a fé no mesmo Deus Triuno, pois a essência do Deus Trindade é a comunhão das três pessoas. Na comunhão, o discipulado (seguimento) é alimentado, e evoca o testemunho concreto do amor ao próximo, não como lei (obrigação), mas como nova obediência motivada somente por gratidão a Deus pela graça nos concedida em Cristo (Confissão de Augsburgo, art. 5).
Um exemplo concreto encontra-se em Atos dos Apóstolos. A comunidade de Jerusalém reunia-se para celebrar sua fé em Cristo, para alimentar os laços de irmandade, com o objetivo de ser uma comunhão que vive na perspectiva da iminente volta de Cristo. Nesta esperança esta comunhão (comunidade) modifica as realidades onde se encontra e por este motivo também acaba por contar com apoio popular (At 2). A comunhão local em torno das dádivas de Deus (Pão e Vinho, Palavra, Oração) é fermento para ação coletiva e individual, porém também é chamada a lembrar-se que é juntamente com outras comunhões locais ao redor do globo o corpo universal de Cristo, e com isto chamada a um comprometimento maior com uma causa que é global, pois Jesus Cristo é Senhor sobre todo o cosmos. As Igrejas não devem estar sozinhas, mas lançar mão do diálogo para buscar consensos éticos amparados nas Escrituras que motivem a uma ação coletiva cristã no mundo.
Da mesma forma como a teologia latino-americana sempre buscou o diálogo com as ciências sociais, neste artigo continuamos nesta tradição dialogal, pois não há uma contradição inerente entre fé e a ciência. Lutero compreendia a razão como tendo “algo de divino em si”. É uma capacidade para gerenciar conhecimento humano. A razão produz ciência, e isto é fruto da graça criadora de Deus, que fez também a razão como imagem e semelhança do Criador.[7] Desta forma, o diálogo com as ciências sociais, em especial com a economia, poderá trazer bons frutos para nossa reflexão como Igreja. Não cabe a teologia se colocar arrogantemente acima das ciências como a verdade última. As propostas das ciências econômicas, do direito (especialmente na área de direitos humanos) e da filosofia serão refletidas em debate com os pressupostos teológicos aqui expostos. Nossa teologia quer em humildade, conhecendo suas limitações impostas pela razão, dialogar criticamente com as ciências, questionando seus compromissos com a vida e com o direito. Por sua vez as ciências nos questionarão até que ponto nosso compromisso com o discipulado de Cristo está sendo levado a sério na prática.[8] Nenhum saber, nem mesmo o teológico, poderá arrogantemente colocar-se como juíza absoluta de normas e valores, uma vez que sistemas políticos e econômicos são frutos de uma construção social permeada pelo pecado, ainda que na tentativa de sermos justos com todas as pessoas.
[1] Parte de um artigo publicado sob o título Igreja e Globalização: Perspectivas teológicas para a ação da Igreja no mundo globalizado in Azusa – Revista de Estudos Pentecostais, vol. 3, n.1, 2012. Disponível online:http://www.ceeduc.edu.br/pdf/6_revista_fevereiro_2012_alexander_de_bona.pdf
[2] SINTADO, C. A. (2011). “Social Ecology: A Hermeutical Framework for Reading Biblical Texts? A Latin American Perspective” In The Ecumenical Review  63.1. Genebra, WCC Publication.
[3] Schneewind, J.B. (2001). A invenção da Autonomia. São Leopoldo, Unisinos.
[4] Bonhoeffer, D. (1984). Discipulado. 2ª Ed. São Leopoldo, Sinodal.
[5] Lutero, M. (1998). Da Liberdade Cristã. 5ª Ed. São Leopoldo, Sinodal.
[6] Cf. Bayer, O. (2007). A Teologia de Martim Lutero. São Leopoldo: Sinodal, p. 31-32; 187.
[7] Lutero, apud Bayer, op cit., p.115.
[8] Westphal, E. R. (2010). “Teologia como fé inteligente: Aspectos Teológico-filosóficos” in Vox Scripturae 18:1. São Bento do Sul, FLT, p. 101-108; cf. também Tödt, H. E. (1988).“Versuch einer ‚Theorie der Urteilsfindung‘“, In: _____.Perspektiventheologischer Ethik. München, Chr. Kaiser,  p. 21-48.
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Quem Escolheria Ser Servo Para Sempre?

27.12.2013
Do portal ENCONTRANDO A PAZ, 08.12.13

Ele o servirá para sempre
(Êxodo 21:6).

Essas palavras se aplicavam ao escravo hebreu que deveria ser libertado após seis anos de serviço, mas que preferia permanecer como escravo por amor ao seu dono e à sua própria família, servindo para sempre na casa onde estava. Nesse caso, seu senhor tinha de levá-lo ao umbral da porta e furar sua orelha com uma sovela (ou furador). Isso significava que ele teria de ficar na casa do seu senhor até a morte.

Que notável tipo de nosso amado Senhor! No final do capítulo 20 de Êxodo encontramos uma indicação da perfeição de Seu sacrifício. No entanto, na passagem acima o que é enfatizado é a perfeição de Seu serviço. Ele veio do céu voluntariamente, assumindo a forma de servo. Então Se humilhou, sendo obediente até a morte, e morte de cruz. Após Sua vida perfeita, Ele poderia retornar para Deus sem morrer. Mas não fez isso. O Senhor Jesus amou Seu Pai, e todos os que o Pai Lhe propusera dar. Esse amor o levou ao Calvário, onde foi “furado”, em terríveis sofrimentos. Ele Se devotou na vida e na morte a honrar Seu Pai e ao conquistar nossa salvação.

Agora o Senhor Jesus serve para sempre. Ele o fez ao dar Sua vida como resgate. Hoje serve como nosso sumo sacerdote diante de Deus, intercedendo a nosso favor. Como nosso “Advogado junto ao Pai”, Ele lava nossos pés, quando o caminhar neste mundo nos contamina. E como é espantoso pensar que um dia Ele mesmo, o Criador de tudo, irá nos convidar a sentar em Sua mesa e nos servirá!

“Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando! Em verdade vos digo que se cingirá, e os fará assentar à mesa e, chegando-se, os servirá” (Lucas 12:37).
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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O perigo da frieza espiritual

26.12.2013
Do portal NAPEC - APOLOGIA CRISTÃ
INTRODUÇÃO
Sempre ocorre em nossas vidas períodos muito difíceis, afinal somos humanos. Todos os cristãos passam por “dias maus”. Ninguém desperta numa manhã em sua vida e se vê frio espiritualmente. Há sempre uma progressão – ou melhor, acontece na realidade uma regressão, visto que esfriamento, no caso, é algo negativo. A alma fica abatida por diversos motivos. Faz parte da vida. Há períodos que estamos prontos a derrotar “450 profetas de Baal” e no outro dia estamos escondidos na “caverna existencial” com medo de viver. A vida cristã tem seus altos e baixos. Um dia pode ser de flores e outro de espinhos. Afinal, já disse o Mestre: “No mundo tereis aflições”. Percebe? É uma promessa de Deus para seus santos. NÃO É OPCIONAL. Um dia, cedo ou tarde, passamos por aflições e elas são, muitas vezes, a razão de abatimento espiritual. Não estou falando aqui de apostasia, e sim, de “esfriamento espiritual”, a perda do“primeiro amor” que acomete com qualquer servo de Deus. Evidentemente que falo de verdadeiros cristãos que não estão isentos de passar por vários problemas –diferentemente do prega a Teologia da Prosperidade.
No Salmo 42, que serve de base para este estudo, pode-se perceber um homem sedento e enfraquecido por algum motivo, possivelmente por está longe de Jerusalém, e naquela perspectiva, o salmista se vê longe de Deus. Graças a Deus que muitos servos do Senhor passaram por períodos de certo esfriamento e desânimo. Muitos passam por desertos terríveis. Basta mencionar alguns, como: Jó; Davi; Elías; Jonas; Paulo, dentre tantos. Este e o Salmo 43 são, na realidade, um único Salmo. Por três vezes o salmista lamenta: “Por que estás abatida, ó minha alma? Por que se perturbas dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele, meu auxílio e Deus meu”. (42.5, 11; 43.5)
I. POR QUE FICAMOS ABATIDOS?
Existem vários sintomas de uma pessoa que pode estar passando por um esfriamento espiritual. Podemos identificar alguns:
  •   Perda do interesse pelos exercícios espirituais como a oração; leitura da Palavra etc;
  •    Falta de vontade de participar das atividades eclesiásticas;
  •    Abandono da comunhão fraternal;
  •    Interesse pelas coisas “mundanas” e por satisfação pessoal acima de tudo;
  •    Interesse maior pelo pecado e certa convivência pacífica com ele.
O salmista abre a sua alma nos Salmos 42 e 43. A alma angustiada suspira por Deus. A palavra hebraica traduzida por “suspira” não se refere tanto à abertura de boca, é um grito de suspiro de um animal numa necessidade desesperada de água. Estava sedenta num deserto de incertezas. Não é assim que ficamos muitas vezes? “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo” (v. 2a). Você tem esse tipo de sede de Deus? O salmista confessa: “As minhas lágrimas têm sido o meu alimento dia e noite” (v. 3a). Muitas dúvidas surgem no coração do salmista. Quando Deus vai me ouvir? Quando essa situação vai acabar? Por que Deus não ouve minha oração? “Por quê?”; “Por que Deus deixava aquela situação insuportável continuar? Por quê? Por quê?”
O resultado é só angustia e sofrimento. “Por que estás abatida, ó minha alma?” significa literalmente: “Por que estás prostrado ao chão?” O quadro aqui é de um homem esmagado por um fardo pesado, quase insuportável.
Em tempos de crise e frieza é sempre bom lembrar-se de coisas positivas do passado. “Lembro-me destas coisas – e dentro de mim se me derrama a alma – de como passava eu com a multidão de povo e os guiava em procissão à Casa de Deus, entre gritos de alegria e louvor, multidão em festa” (v. 4). Lembrar dos momentos de superação que você viveu. Tantas vitórias que você alcançou.
Em tempos de crise e frieza é sempre bom lembrar-se da fidelidade de Deus e ver o futuro na perspectiva de Deus. O salmista diz pra si mesmo: “Pare de ser depressivo e comece a esperar em Deus!” Só Deus pode nos ajudar a vivermos na perspectiva dEle. Lembrando e crendo que em qualquer momento Deus é fiel, ai a esperança se renova em nossa alma. O que Deus fará pelo salmista?
1) Deus vai satisfazer os desejos de sua alma – e da sua também (42:1, 2);
2) Deus estará com ele – e está com você (42:5);
3) Deus fará tudo acabar bem no final – e na tua vida também (42:5, 11; 43:5);
4) Deus continuará amando o salmista – e te ama de forma incondicional (42:8) e
5) Deus fará justiça e castigará seus inimigos – e os teus também (43:1).
“E esta é razão porque nunca desfalecemos ainda que por todos os lados rodeados de obstáculos, mas nunca embaraçados; confundidos, mas nunca desanimados; perseguidos, mas nunca desamparados; derrubados, mas nunca vencidos…, pois se na realidade exteriormente nosso corpo físico vai se desgastando, interiormente nota-se dia a dia uma renovação de vigor e de vida” (2 Co 4.7-9,16).
II. QUAL O PERIGO DA FRIEZA ESPIRITUAL?
Muitas vezes pensamos que se alguém trabalha na obra de Deus, isso por si só é sinal que alguém é fervoroso. Não ter vontade de fazer a obra de Deus pode ser um sinal de esfriamento, no entanto o contrário pode não ser verdadeiro. Podemos estar muito ocupados na obra de Deus e, todavia, não ter o gozo de nosso primeiro amor. A igreja de Éfeso havia perdido seu primeiro amor e, no entanto, havia “trabalhado arduamente” por amor do nome do Senhor. Muitas vezes o ativismo é apenas um disfarce do que está acontecendo no interior.
Ou achamos também que se alguém conhece e ler muito a Bíblia este também está isento de passar algum esfriamento. No entanto, podemos conhecer a Bíblia e, todavia, perder nosso primeiro amor. Os fariseus conheciam bem às Escrituras. Também a igreja de Éfeso. Usaram a Palavra para provar os Apóstolos. É por causa de não orar? Não. Podemos orar e, todavia, estar frios espiritualmente.
Como também, podemos pensar que se um cristão é perseguido ou sofre, isto é um sinal de que está fervoroso diante de Deus. A igreja de Éfeso sofreu muito. É possível sofrer e testificar para os outros e, todavia, perder nosso primeiro amor.
Ou então, dizemos que alguém está frio na fé por causa de heresias ou falta de consistência teológica. Contudo, a igreja de Éfeso era doutrinariamente sadia. Odiavam os nicolaítas (Seguidores de uma seita que perturbavam as igrejas de Éfeso e de Pérgamo – esta abraçava a doutrina – diziam que os prazeres carnais não afetavam a alma, alimentavam-se de coisas sacrificadas aos ídolos e praticavam orgias. Irineu identifica os nicolaítas como uma seita gnóstica).
Diante do exposto podemos citar resumidamente três perigos: 
(1) Torna-se cínico – a pessoa se acomoda com a situação e procura disfarces, máscaras evangélicas, vivendo uma mentira; torna-se um fariseu gospel; 
(2) Torna-se libertino – acontece assim uma queda espiritual. A pessoa não aguenta viver uma vida dupla e entrega-se ao pecado. 
(3) Torna-se deprimido espiritualmente – Destruindo sua vida e daqueles que estão próximos dele. Muitas vezes, se for um líder, por exemplo, se não tiver coragem de buscar ajuda, vai definhar a sua alma até viver num abismo sem fim.
III. COMO IDENTIFICAR E TRATAR A FRIEZA ESPIRITUAL?
Examine seu coração. Quando o meu deleite no Senhor já não é tão grande como meu deleite por outras pessoas ou por coisas do mundo, isso é sinal de frieza espiritual. O que fazer? Marcos 12.30 – “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força”.
Examine a sua alma. Quando minha alma não anela a comunhão intima com o Senhor através da oração ou leitura da Palavra, isso é sinal de frieza espiritual. O que fazer? Salmo 84.2 – “A minha alma suspira e desfalece pelos átrios do SENHOR; o meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo”. Peça ao Espírito Santo pra colocar mais sede de Deus em você. 
Examine o seu tempo livre. Quando meus pensamentos e meus momentos de ócio não se dirigem ao Senhor, isso é sinal de frieza espiritual. O que fazer? Fp 4.8 – “Tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável, de boa fama… seja o que ocupe o vosso pensamento”.
Examine os seus desejos íntimos. Quando me escuso facilmente dizendo: “é que sou humano, a carne é fraca”. E quando caio facilmente em coisas que eu sei que não agrada ao Senhor, isso é sinal de frieza espiritual. O que fazer?João 14.15 –  “Se me amais, guardareis os meus mandamentos”.
Examine o seu amor, bondade e generosidade. Quando me custa dar com alegria para a obra do Senhor ou para as necessidades dos outros, isso é sinal de frieza espiritual. O que fazer? 1João 3:17 – “Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus”?
Examine sua comunhão com os irmãos. Quando deixo de tratar a meus irmãos cristãos como trataria ao Senhor, isso é sinal de frieza espiritual. O que fazer? Mateus 25.40 – “O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. 1João 4.20-21 “Se alguém afirmar: ‘Eu amo a Deus’, mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. Ele nos deu este mandamento: Quem ama a Deus, ame também seu irmão”. Poderíamos até perguntar: “em seus passos que faria Jesus?”. Ou em outras palavras: “Jesus aprovaria a minha conduta com meus irmãos?”
Examine sua natureza humana. Quando me preocupo em “ficar bem” com as pessoas do mundo em vez de buscar a aprovação do Senhor, isso é sinal de frieza espiritual. O que fazer? 1João 2.15 – “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele“. Você tem certeza absoluta que já nasceu de novo? 
Examine sua conduta. Quando acho a vida cristã um fardo maior que o fardo do pecado, isso é sinal de frieza espiritual. O que fazer? João 15.20 –“Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa”. 
Examine a sua liberdade em Cristo. Quando me nego a deixar de fazer algo que está ofendendo a um irmão mais fraco, isso é sinal de frieza espiritual. O que fazer? Romanos 14.15 – “Se, por causa de comida, o teu irmão se entristece, já não andas segundo o amor fraternal. Por causa da tua comida, não faças perecer aquele a favor de quem Cristo morreu”. Lembre-se: liberdade não é a mesma coisa que libertinagem. 
Examine o seu perdão. Quando não posso perdoar a alguém que me tem ofendido, isso é sinal de frieza espiritual. O que fazer? Lucas 17.4 – “Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe”. Lc 6.37 – “Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados; perdoai e sereis perdoados”.
CONCLUSÃO
O que devemos fazer? Leia finalmente Apocalipse 2.5  “Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres”. Arrepender, nesse texto, sugere uma atitude contínua. 
Confie em Deus sempre e em qualquer circunstancia na sua vida: “Deus é nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações. Portanto, não temeremos ainda que a terra se transtorne e os montes se abalem no seio dos mares” (Sl 46.1).
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O Nascimento de Cristo

26.12.2013
Do portal ENCONTRANDO A PAZ, 25.12.13


E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão dos exércitos celestiais, louvando a Deus e dizendo: Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens!
(Lucas 21:13-14).

Entre os cristãos, a história do nascimento de Cristo relatado no Evangelho de Lucas certamente é a mais conhecida da Bíblia. É o tema de inúmeros cânticos religiosos, imagens e representações. Portanto, corremos o risco de perder de vista o profundo significado dessa narração e o extraordinário desse acontecimento.

Na pequena cidade de Belém aconteceu o inconcebível para nós: o Filho de Deus Se tornou homem. Deus Se revelou na pessoa de Seu Filho Jesus Cristo! A “plenitude dos tempos” havia chegado e “Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei” (Gálatas 4:4). Foi o sinal para que uma grande quantidade de anjos rompesse em louvor, do qual ressaltamos a expressão: “Boa vontade para com os homens!”

A multidão de hostes celestiais reconhece que Deus “não socorre anjos, mas socorre a descendência de Abraão” (Hebreus 2:16). Os homens, que desonraram a Deus desde o pecado original, menosprezaram Seus mandamentos e se obstinaram em fazer a própria vontade, no entanto, o homem perdido era o objeto dos pensamentos divinos.

O Filho de Deus não tomou a forma de um anjo, mas de um verdadeiro ser humano, para salvar por meio de Seu sacrifício na cruz toda a humanidade caída e separada de Deus. Deus poderia dar maior prova de “boa vontade para com os homens”?
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