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terça-feira, 29 de setembro de 2020

O colapso da interlocução entre os evangélicos

29.09.2020
Do portal ULTIMATO ON LINE, 23.09.2020
Por Antonio Carlos Costa*
 
Há cristãos que não sabem mais o que fazer com a sua identificação com o movimento evangélico. Sofrem por estar associados a algo que os envergonha, do qual querem se manter distantes, num contexto de colapso da interlocução com os próprios evangélicos. 

Do ponto de vista das figuras públicas que falam em nome do movimento protestante brasileiro, não se sentem representados por quase ninguém. 
 
Quem são?
 
1. Eles não se consideram nem de esquerda nem de direita. Querem produção sustentável de riqueza e justiça social. Julgam que pensar apenas com categorias do século 19 não funciona no século 21. Estão fartos da tentativa de se negar fatos a fim de sujeitar a realidade à ideologia política;
 
2. Eles não se consideram nem conservadores nem progressistas. Não querem o engessamento ético, nem o relativismo moral; 
 
3. Eles creem que a missão principal da igreja é a pregação do evangelho, cujo produto final é uma comunidade cristã comprometida com a justiça social;
 
4. Eles não dão apoio acrítico e efusivo a nenhum político profissional. São radicalmente contra a igreja oferecer base institucional de sustentação política a quem quer que seja;
 
5. Eles não esperam que não cristãos se comportem como cristãos. Portanto, pregam o evangelho em vez de pregar moralidade; 
 
6. Eles abominam a falta de cortesia no trato dos cristãos com os não cristãos que divergem dos valores do cristianismo. Julgam que estar do lado da verdade não justifica a estupidez;
 
7. Eles não veem incompatibilidade entre fé e ciência. Estão prontos para sujeitar o que creem à evidência empírica e racional; 
 
8. Eles amam os momentos de adoração na igreja, mas anelam pela transcendência litúrgica associada à pregação bíblica, clara, franca, educada, consistente, lógica, no poder do Espírito Santo; 
 
9. Eles interagem com a cultura. Veem a graça de Deus na produção cultural não cristã. Portanto, acolhem com prazer e gratidão a arte produzida do lado de fora da igreja; 
 
10. Eles não são necessariamente abstêmios; 
 
11. Eles não toleram coronelismo na igreja. Querem transparência, liberdade de expressão e prestação de contas; 
 
12. Eles são defensores ardorosos da democracia. Jamais votariam em quem demonstra estar aberto a negociar liberdades civis e políticas e garantias constitucionais; 
 
13. Eles veem o compromisso com a causa dos direitos humanos como traço da verdadeira espiritualidade; 
 
14. Eles não são liberais em teologia. Creem na inspiração das Escrituras; 
 
15. Eles acreditam em transformações históricas, mas não aguardam para essa vida o que sabem que somente terão na vida vindoura; 
 
16. Eles se angustiam com o estado da igreja. Sabem que há áreas cinzentas. Nem tudo é preto e branco. Entre aqueles dos quais discordam identificam irmãos na fé, cujas contradições morais e intelectuais os deixam perplexos; 
 
17. Eles sabem que também precisam de reforma. Sofrem com suas próprias incoerências e anelam por ser melhores representantes de Cristo; 
 
18. Eles buscam simetria no compromisso ético. Procuram harmonizar ética privada com espírito público; 
 
19. Eles acreditam no poder da oração, da manifestação pública e do exemplo de vida; 
 
20. Eles sujeitam Adam Smith, Karl Marx, Engels, Gramsci, Hayke, Mises, Keynes, Nietzsche, Freud, Foucault, à autoridade de Cristo, ao qual devotam sua lealdade maior. 

Julgo que esse setor da igreja é o menos compreendido pelos meios de comunicação e mundo acadêmico, e pelo próprio movimento evangélico, que o quer arrastar para um dos lados das disputas política, cultural e espiritual. 
 
A ele pertenço.

*Antonio Carlos Costa é teólogo, jornalista e ativista social. Plantador da Igreja Presbiteriana da Barra (Rio de Janeiro) e fundador da ONG Rio de Paz.

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Fonte:https://www.ultimato.com.br/conteudo/o-colapso-da-interlocucao-entre-os-evangelicos

Entendendo a frase “Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, os homens e […] animais. Arrependo-me de havê-los feito”

29.09.2020

Do blog UNIVERSIDADE DA BÍBLIA, 28.09.2020


É verdade, sem sombra de dúvida, que Deus em sua onisciência sabe todas as coisas por antecipação, e nada que acontece o apanha de surpresa. No entanto, é erro inferir disso que o Senhor não pode ter emoções nem deve reagir de acordo com a depravação voluntária de suas criaturas. As Escrituras jamais o apresentam como um Ser impassível, incapaz de demonstrar tristeza ou ira, mas, bem ao contrário, o Senhor é um Deus que se preocupa, demonstra interesse e ama até os filhos de Adão mais ingratos, os que mais zombaram de suas promessas graciosas e tripudiaram sobre sua misericórdia.

As profundezas da corrupção em que a raça humana havia mergulhado nos dias de Noé eram revoltantes demais diante do Senhor, do Deus de justiça e santidade, pelo que o Todo-Poderoso reagiu com ira perante esses excessos segundo a exigência de sua pureza. Ele lamentou ter criado uma geração tão abominável de pervertidos morais, em que se haviam convertido os seres humanos antediluvianos. “Então se arrependeu o Senhor” (heb. wayyinnāḥem, niphal de nāḥam) certamente é antropomórfico (ou antropopático), visto que serve para comunicar a reação de Deus em face do pecado, mediante uma analogia com o ser humano (assim como quando a Bíblia se refere a Deus como tendo mãos, olhos, ou boca, como se ele dispusesse de um corpo físico dotado de órgãos).

É claro que, diante do inesperado, do que não se aguarda, é impossível verificar a surpresa num ser onisciente; todavia, sua resposta à humanidade envolveu um ajuste necessário à mudança que se verificou na atitude dos seres humanos para com Deus, a quem abandonaram. Visto que os seres humanos teimosamente rejeitaram ao Senhor e dele escarneceram à vontade, foi necessário que Deus os desprezasse. Qualquer alteração na atitude do povo para com o Todo-Poderoso requeria uma mudança correspondente na atitude de Deus para com a humanidade, mudança que se expressa pela palavra hebraica niḥam (“arrepender-se”, “sentir muita tristeza por causa de”, “mudar de ideia a respeito de”).

De modo semelhante, no tempo de Jonas, está registrado a respeito de Deus que ele se arrependeu (niḥam) do julgamento que ameaçara trazer sobre a cidade de Nínive, visto haver o Senhor observado o arrependimento sincero e ardoroso dos ninivitas depois de o profeta haver pregado a eles. A mudança de atitude deles para com eles Senhor fez com que o Todo-Poderoso mudasse sua atitude para com eles. Portanto, para enorme desgosto de Jonas, Deus permitiu que quarenta dias passassem e cancelou a destruição que ameaçara trazer-lhes. Isso demonstra que o Senhor pode mudar sua reação, deixando de lado a severidade para tratar do ser humano com graça e misericórdia, desde que as pessoas se acheguem em arrependimento e súplica.

No entanto, quando estão envolvidos propósitos de alguma aliança que Deus celebrou com seu povo, o Senhor verdadeiramente é incapaz de arrepender-se — como Balaão salientou em Números 23.19: “Deus não é homem para que minta, nem filho de homem para que se arrependa. Acaso ele fala, e deixa de agir? Acaso promete, e deixa de cumprir?” O contexto diz respeito ao propósito firme de Deus de abençoar a Israel, a despeito de todas as maquinações do rei Balaque, de Moabe, que tentou subornar Balaão para que este lançasse uma maldição sobre a nação hebraica. Nessa situação, o Senhor verdadeiramente é incapaz de arrepender-se.

No que diz respeito a pássaros e animais, o contexto de Gênesis 6.7 nada diz quanto a terem desagradado ou irado a Deus; por isso não se justifica que se interprete o propósito do julgamento como estando igualmente dirigido a eles, como se pertencessem à raça depravada dos homens. Era apenas uma consequência inevitável do dilúvio vindouro: ele deveria destruir não só a humanidade, mas também toda a criação animal que vivesse no ambiente do homem. O pronome “os” refere-se na verdade aos homens (heb. hā’ādām) — ou a raça humana — e não às várias espécies de aves e bestas que conviviam com a humanidade. Na verdade, a solicitude de Deus quanto à sobrevivência de todas as espécies de aves e animais expressou-se em sua ordem a Noé para que preservasse pelo menos um casal de todas as formas de vida, para que se propagassem.

Fonte: Enciclopédia de Temas Bíblicos
Respostas às principais dúvidas, dificuldades e “contradições” da bíblia
Gleason Archer
Editora : Vida – pgs: 71-72
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domingo, 20 de setembro de 2020

Baixe My Bible e leve a palavra de Deus sempre em seu Android

 20.09.2020

Do blog TECHTUDO, 10.01.2001

A Bíblia Sagrada é um dos livros mais famosos do mundo, lido por milhões de pessoas em diferentes épocas. Já existem versões portáteis da bíblia, para que os fiéis possam carregá-la mais confortavelmente para qualquer lugar. Agora, graças à tecnologia, a Bíblia está disponível também no formato digital.

My Bible é um aplicativo grátis para Android que, ao ser instalado, acrescenta ao aparelho os textos contidos no livro sagrado. Com ele você poderá a Bíblia para qualquer lugar e visualizá-la na tela do seu aparelho sempre que precisar de um momento de conforto e paz.

My Bible é compatível com todas as versões de Android, permitindo que qualquer pessoa que possua o aparelho tenha acesso às palavras sagradas gratuitamente. O aplicativo possui ainda recursos que permitem que o usuário marque seus versos preferidos ou procure por trechos específicos.

Também é possível compartilhar e propagar as palavras da Bíblia com seus amigos, selecionando versos específicos com My Bible e enviando para outras pessoas. My Bible possui também um recurso de rolagem automática, que facilita a leitura e garante que a página esteja sempre totalmente visível na tela do Android.

Instalação

Para instalar My Bible em seu aparelho e carregar a Bíblia Sagrada sempre com você, basta clicar em "Baixar", no início desta página e, na página que se abrir, em "Instalar". Em seguida, escolha a melhor forma de instalação (Via sincronização com o site, Fast Web Installer ou QR Code) e dê sequência ao processo.

Clique aqui e baixe no seu celular, pelo Play Store

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Fonte:https://www.techtudo.com.br/tudo-sobre/my-bible.html

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

MOMENTO COM DEUS #4: CUIDADO!MEDITE E NÃO SE AFASTE DA PALAVRA DE DEUS!

07.09.2020
Do canal do Pr Irineu Messias, no You Tube,06.09.2020
Postado por Pr Irineu Messias

 

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Fonte:https://youtu.be/caYcBrFwSgM

Seis princípios cristãos para tempos de crise política(2016)

 07.09.2020

Do portal ULTIMATO, 15.06.2016

Por Paul Freston e Raphael Freston*

Escrevemos no dia pós-votação (da abertura do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff) na Câmara dos Deputados. Tudo indica que ela representará não o fim da crise política, mas uma etapa a mais numa crise que está longe do seu fim. Portanto, alguns princípios cristãos que temos mencionado em palestras nos últimos meses continuam pertinentes.

Primeiro princípio: Mais importante do que saber qual posição adotar, é saber como se comportar

Neste momento em que a política ameaça dilacerar o mundo cristão (talvez mais do que a sociedade como um todo), queremos sugerir alguns princípios para o debate político. Esses princípios levam em conta que “este momento passará” e que dentro de alguns anos os cristãos não terão mais de se posicionar sobre Dilma, Lula, Cunha, Aécio e Sérgio Moro, mas ainda terão de conviver entre si como irmãos na fé e dar à sociedade um exemplo de seriedade e sabedoria. Daí a importância de cultivar o “pluralismo político natural da comunidade cristã”, de saber debater e discordar sem se excomungar mutuamente ou distorcer as motivações alheias, lembrando que a política, embora muito séria, pertence ao reino do relativo, e não do absoluto; à esfera das convicções, mas não (com raras exceções) à esfera das doutrinas básicas da fé.

Segundo princípio: Cultivar o recato político cristão

Em matéria de política, o cristianismo se caracteriza por um certo recato, uma certa hesitação, um não-dogmatismo, um amplo espaço livre de discordância legítima entre os cristãos.

Esse recato vem em parte das origens históricas da fé. Alguns contrastes com o islã nos ajudam a entender o que isso significa. O fundador do islã governou um estado; o fundador do cristianismo foi morto pelo estado. Os seguidores do primeiro gozaram de poder político desde o começo: controlavam um território, implementavam leis e usavam a força. Os seguidores do segundo passaram trezentos anos sem poder político, como uma comunidade voluntária, transnacional e transétnica. Foi nesse período que as Escrituras normativas foram escritas. Por isso, o cristianismo, via de regra, tem menos “autoconfiança” política do que o islã, se sente menos à vontade para exercer o poder em nome de Deus ou dar “receitas” políticas em nome da fé.

Além disso, o conceito cristão de revelação é que Deus se revelou ao longo do tempo, de várias maneiras e em circunstâncias muito diversas, culminando na encarnação do Filho de Deus. Não só o mundo bíblico é muito distante do nosso mundo, como também houve vários mundos bíblicos. O Novo Testamento foi escrito para a comunidade cristã primitiva, que era um pequeno grupo transnacional, sem controle de um território, sem acesso ao poder político e sem possibilidade de criar legislação pública. Quem tenta criar uma “política cristã” só do Novo Testamento logo esbarra com esse problema de um certo vazio político, sobretudo num contexto democrático em que os cidadãos são convocados a participar da constituição das autoridades. Daí que a posição “default” do cristianismo primitivo é a distância da política.

Por outro lado, o Antigo Testamento, escrito para uma comunidade nacional que de fato lidava com as questões de território, lei, poder e força, tem de ser lido à luz da revelação cabal de Deus em Cristo. Nenhum país hoje, por mais cristãos que tenha, está na situação do Israel do Antigo Testamento. Por isso, a política cristã é sempre “menos segura de si” do que (por exemplo) a maioria das abordagens islâmicas.

Além disso, a política é, como se diz, a “arte do possível” e os fenômenos políticos de uma sociedade moderna são muito complexos. O resultado disso é que duas pessoas que tirem os mesmos princípios políticos da Bíblia podem, mesmo assim, discordar radicalmente sobre o que é possível e aconselhável fazer hoje no Brasil.

Jesus nos avisou a ter “cuidado com o fermento dos fariseus e dos saduceus” (Mt 16.6). Embora diferentes entre si, ambos os grupos absolutizavam o que deveria ser relativizado à luz de Cristo. Hoje, um exemplo do “fermento dos fariseus e saduceus” é colocar a fé cristã a serviço de uma determinada posição política. Essa politização da identidade é desastrosa para a igreja, e é idólatra, absolutizando as nossas opiniões relativas e colocando-as no mesmo patamar das doutrinas centrais da fé.

Terceiro princípio: Distinguir os debates

Hoje, pelo menos quatro questões se embaralham e a não separação delas dificulta os debates:

a) se a presidente Dilma merece sofrer impeachment; b) sobre a corrupção como problema generalizado na política brasileira; c) preferências partidárias e quem gostaríamos de ver no poder; d) questões ideológicas maiores (neoliberalismo, neoconservadorismo, social-democracia, socialismo etc.).

Quarto princípio: Evitar o maniqueísmo e reconhecer as muitas posições possíveis

Não existem apenas duas posições (a favor ou contra o impeachment). Estar preocupado com os procedimentos falhos (no Congresso e nas investigações) não é o mesmo que defender este ou aquele acusado. É perigoso aceitar um processo muito falho só porque os atingidos são os nossos desafetos políticos.

Em parte, os problemas decorrem de um desencontro entre presidencialismo e parlamentarismo. Num sistema parlamentarista, a primeira-ministra Dilma cairia por um simples “voto de não confiança”, sem necessidade de impeachment. Como o presidencialismo não contempla essa possibilidade, recorre-se ao mecanismo constitucional do impeachment. No entanto, abre-se um precedente perigoso, pois esse mecanismo se destina a situações excepcionais, e não a um simples expediente para remover mandatários impopulares.

Dadas as complexidades do atual processo, devemos reconhecer as múltiplas posturas possíveis no interior da comunidade cristã. E devemos procurar nos inteirar dos “melhores argumentos” do outro lado, em vez de acreditar nas caricaturas divulgadas por boa parte da mídia.

Quinto princípio: Passar do moralismo simplista na perspectiva cristã da corrupção

Para cristãos que entendem pouco de política, a corrupção se apresenta como uma questão política aparentemente fácil de entender, pela transferência de valores morais pessoais à esfera pública. Políticos espertos, inclusive cristãos, se aproveitam disso para tentar mobilizar suas bases e justificar sua própria presença nos parlamentos. Mas a visão cristã sobre a corrupção é muito mais sofisticada do que isso. Dois aspectos se destacam. Primeiro, a visão cristã da natureza radical do pecado, que afeta não só todos os indivíduos, mas também todos os grupos e instituições, inclusive igrejas e partidos políticos, “sem exceção”. Os cristãos é que deveriam ser menos suscetíveis a qualquer messianismo em torno de pessoas ou partidos; e os cristãos é que menos deveriam se surpreender com os inevitáveis desapontamentos. E, em segundo lugar, o cristianismo oferece uma visão equilibrada entre a renovação individual e a renovação institucional. A corrupção se relaciona tanto com instituições quanto com fatores culturais, e essas duas renovações se fortalecem mutuamente no combate à corrupção. A redução substancial da corrupção é obra de muito tempo, e em várias frentes.

Porém há mais. A “comunhão” universal humana no pecado é uma das grandes justificativas da democracia; ninguém merece ter poderes ilimitados e não supervisionados sobre seus semelhantes. E também é um dos principais argumentos pela preocupação política com as gritantes desigualdades sociais. A fé cristã é realista: onde houver desigualdade, haverá opressores e oprimidos. Por isso, amar o próximo inclui o esforço para enfraquecer as estruturas desiguais que engendram a opressão.

Isso nos ajuda a entender o fato de que o combate à corrupção é uma causa política que mobiliza muito mais a classe média do que os mais pobres. Não que estes não reprovem a corrupção nem entendam a sua importância (afinal, os mais pobres sofrem mais com quase todas as formas de injustiça). Mas, na escala de prioridades políticas das pessoas mais desvalidas da sociedade, o assunto não tem a mesma proeminência. Para elas, ainda que a corrupção seja abominada, há mazelas ainda maiores a serem enfrentadas.

A visão cristã do mundo também nos ajuda a lembrar que já estivemos aqui antes (em 1992). A campanha anticorrupção é extremamente necessária, mas não resolverá o problema de uma vez por todas, e certamente será aproveitada para outros fins políticos e econômicos.

Qualquer melhora resultante será apenas temporária se não houver reformas políticas, sobretudo dos sistemas eleitoral e partidário. O sistema eleitoral de representação proporcional com listas abertas é responsável por parte considerável da corrupção política brasileira. (É responsável também pelas grandes “bancadas evangélicas”, o que significa que os políticos evangélicos dificilmente terão um papel construtivo no combate à corrupção.) E a proliferação de partidos no Congresso piora o problema. Não é tirando fulano e botando sicrano que vai resolver.

Sexto princípio: Saber distinguir entre um ideal e seu portador

Todos os projetos humanos acabam desapontando, seja movimento ou partido ou igreja. Mas a desilusão com o portador de um ideal não precisa levar ao abandono do ideal em si (assim como a desilusão com determinada igreja não precisa levar ao abandono da fé cristã). É preciso saber criticar e, se necessário, abandonar o portador, sem necessariamente rejeitar o ideal que dizia representar. (Existem, é claro, ideais totalmente irrealistas, os quais desapontarão vez após vez; estes devem ser abandonados. Um ideal maduro, por outro lado, é potencialmente realizável e, ademais, consegue explicar o próprio desapontamento.)

No meio cristão, a tarefa de distinguir entre ideal e portador enfrenta outra dificuldade: o uso tendencioso da palavra “ideologia” como palavrão para criticar os nossos adversários políticos. “Eles” são “ideológicos”; “nós” não somos.

Curiosamente, esse uso tendencioso lembra o marxismo (ideologia como falsa consciência que os outros têm). Muito melhor adotar o uso de outras correntes das ciências sociais e dizer que todos nós temos as nossas ideologias, pelo mero fato de sermos seres humanos inseridos em determinado lugar social, com limitações e interesses. Nenhum de nós tem o “olhar de Deus”.

Hoje, enfrentamos duas tentações: a de rejeitar um ideal porque o portador decepcionou; e a de agarrarmo-nos ao portador porque achamos que a sobrevivência do ideal o exige. Ou, para mudar a analogia: a tentação de jogar fora o bebê com a água suja do banho; e a tentação de querer preservar a água suja junto com o bebê.

É importante neste momento não abrir mão de ideais políticos perfeitamente compatíveis com a Bíblia e, aliás, recomendados pela Bíblia, como a justiça e a solidariedade; a priorização dos mais fracos e necessitados para diminuir a extrema desigualdade; o valor fundamental da democracia como reflexo tanto da antropologia cristã como do caráter de Deus expresso na maneira como trata a humanidade desde o começo, e a maneira como trata a humanidade reconstituída em Cristo (sintetizado na frase de Gálatas 3.28: “Em Cristo não há homem nem mulher, judeu nem grego, escravo nem livre”); e a rejeição da idolatria tanto do Estado quanto do mercado (parafraseando Marcos 2.27: “O ser humano não foi feito para o sábado/Estado/mercado, mas sim o sábado/Estado/mercado para o ser humano”).

Ser cristão significa não se curvar diante de modismos. A história dá muitas voltas e quem subordina sua leitura da fé a consensos sociais passageiros, a supostas “lições claras da história”, descobrirá um dia que essa leitura ficou estranhamente datada. Por isso, devemos afirmar a importância do pluralismo político cristão, em que alguns serão mais de direita, outros mais de esquerda, mas nunca desprezando ou excomungando aqueles de quem discordamos politicamente.

NotaArtigo publicado originalmente na revista Ultimato, edição 360, maio/junho.2016

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A parábola da figueira e a nossa crise atual (Maurício Jaccoud da Costa)

Paul Freston, inglês naturalizado brasileiro, é professor colaborador do programa de pós-graduação em sociologia na Universidade Federal de São Carlos e professor catedrático de religião e política em contexto global na Balsillie School of International Affairs e na Wilfrid Laurier University, em Waterloo, Ontário, Canadá.

Raphael Freston é mestrando em sociologia na Universidade de São Paulo.

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Fonte:https://www.ultimato.com.br/conteudo/sete-principios-cristaos-para-tempos-de-crise-politica

A igreja e as estruturas de poder

 07.09.2020

Do portal ULTIMATO ONLINE, 02.09.2020

Por  Pedro Dulci*

Até o terceiro século, a Igreja de Jesus enxergava-se como peregrina e forasteira nessa terra. A perseguição que sofria não a permitia desenvolver outra imagem de si. Eles sabiam que não tinham poder e que nunca deveriam vincular as esperanças do Reino de Jesus com as estruturas imperiais.

Entretanto, com o imperador Constantino a relação entre Igreja e Estado mudou e, com isso, toda a sua teologia pública. Quem nos lembra disso é o historiador evangélico Mark Noll deixando claro como que essa mudança alterou a história do cristianismo.

É claro que o auxilio do Império fortaleceu a igreja e lhe deu paz para crescer. Contudo, as relações não eram unilaterais e o Império também colocaria cada vez mais suas mãos em assuntos da esfera eclesiástica. Os concílios ecumênicos, tão importantes para a doutrina saudável que temos, foram convocados pelos imperadores e não pelos bispos — visando a unidade política do império através da unidade doutrinária.

Nessa história, a Igreja precisou avaliar constantemente os limites dessas relações. Um dos episódios que eu mais gosto nessa história é o do bispo Ambrósio expulsando do interior da igreja o imperador Teodósio — representado acima na pintura de Anthony van Dyck. Claramente era o pastor da igreja protegendo o rebanho da hipertrofia totalitária que o império sentia-se confortável em dar lugar.

Em tudo isso, aprendo que a Igreja de Jesus precisa de muita sabedoria para expurgar de seu meio antigos desvios teológicos. Nossa teologia política precisa continuar sendo da igreja peregrina e forasteira que, assim como Abraão, espera a cidade de Deus descer do céu até aqui — cidade que foi arquiteta e será construída por Deus, e não por nenhuma força humana.

Isso não nos livrará das relações com as estruturas de poder, mas nos permitirá nunca colocar nossas confianças nelas. A quebra de expectativas de muitos membros da igreja com seus candidatos e partidos políticos têm suas raízes em trocar a confiança do Criador pela criatura, não lhe rendendo glória, mas vangloriando-se dos impérios humanos, demasiado humanos.

*Pedro Dulci é autor do livro  Fé Cristã e Ação Política,

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Fonte:https://www.ultimato.com.br/conteudo/a-igreja-e-as-estruturas-de-poder

O que significa ter uma consciência cauterizada?

07.02.2020

Do blog GOT QUESTIONS

Resposta: A consciência cauterizada é mencionada em 1 Timóteo 4:2, onde Paulo fala sobre aqueles cujas consciências foram "cauterizadas" ou tornadas insensíveis, da mesma forma em que a pele de um animal marcado com um ferro em brasa se torna insensível a mais dor. Para os seres humanos, ter a consciência cauterizada é resultado do pecado contínuo e impenitente. Eventualmente, o pecado adormece o senso moral de certo ou errado e o pecador impenitente torna-se insensível aos avisos da consciência que Deus colocou dentro de cada um de nós para nos guiar (Romanos 2:15).


No momento da salvação, somos purificados do pecado herdado de Adão e de todos os pecados pessoais. Mas à medida que continuamos em nossa caminhada cristã, ainda estamos propensos a pecar. Quando pecamos, Deus tem nos proporcionado um método de purificação para nos restaurar ao ponto da salvação. "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça" (1 João 1:9). Quando nos permitimos praticar pecados com a nossa mente, estamos extinguindo o Espírito Santo que habita em nós, mas somos ordenados a não fazer isso (1 Tessalonicenses 5:19). Quando continuamos em nossos pecados mentais sem confessá-los e começamos a praticá-los em nossos corpos (Tiago 1:15), entristecemos o Espírito Santo, o que também não devemos fazer (Efésios 4:30). Mais uma vez, temos a opção de confessar e arrepender-nos ou continuar no pecado e distanciamento. Quando permanecemos no pecado, as nossas almas começam a se tornarem moralmente insensíveis. Finalmente chegamos a um ponto em que a nossa consciência está cauterizada e é incapaz de nos ajudar a determinar o certo do errado. É como se um ferro em brasa tivesse sido aplicado à nossa consciência, destruindo-a totalmente. Pior ainda, podemos chegar ao lugar onde não mais nos importamos com o quanto pecamos. Isto é o que se entende em 1 Timóteo 4:2, onde Paulo se refere a falsos mestres: "pela hipocrisia dos que falam mentiras e que têm cauterizada a própria consciência." Podemos facilmente ver isso como pura maldade. Um serial killer , por exemplo, teve sua consciência cauterizada e já não mais funciona para orientá-lo no que é certo e errado.

Os cristãos que continuam pecando apesar da disciplina divina podem morrer devido ao seu pecado. Deus faz isso para não permitir que tal pessoa faça mais danos a si mesmo ou ao testemunho do Seu Santo Nome. "Se alguém vir a seu irmão cometer pecado não para morte, pedirá, e Deus lhe dará vida, aos que não pecam para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que rogue. Toda injustiça é pecado, e há pecado não para morte" (1 João 5:16-17). Esses pecados não nos fazem perder a nossa salvação, mas definitivamente afetam o nosso relacionamento com Deus e com os outros. Somos sábios se nunca nos deteriorarmos ao ponto de termos a nossa consciência cauterizada.

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Fonte:https://www.gotquestions.org/portugues/consciencia-cauterizada.html