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quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Sola Scriptura – Somente as Escrituras

 25.01.2023

Do portal ULTIMATO ON LINE

Sola Scriptura

A Escritura contra a ameaça da tradição e do autoritarismo

Texto Básico: 2 Timóteo 3.14-17

Leitura diária
D – Rm 15.1-4 – Escrito para o nosso ensino
S – Lc 16.19-31 – Ouçam Moisés e os profetas
T – Mt 5.17-20 – Até que tudo se cumpra
Q – At 17.10-11 – A nobreza dos bereanos
Q – Gl 1.10-17 – O evangelho de Paulo
S – Jo 5.39 – A Escritura testemunha de Jesus
S – 2Pe 1.20-21 – Da parte de Deus

Introdução

Nesta série, será apresentado um panorama geral da teologia reformada. Observaremos a situação teológica enfrentada pelos reformadores, no século 16: a teologia católica medieval, em oposição à qual foi desenvolvida a teologia reformada. Sempre que for relevante, serão citadas decisões do Concílio de Trento, para mostrar, com evidência documental, qual era a posição da teologia romana quando a teologia reformada começou a se desenvolver. Também será recorrente o uso da Confissão de Fé de Westminster (CFW), por ser esta uma obra-prima da teologia reformada. Deve-se observar, porém, que houve mudanças na teologia romana, especialmente depois do Concílio Vaticano II, quando a Igreja Católica passou a adotar uma postura menos tradicional e mais ecumênica. As lições trarão, também, uma abordagem atual, mostrando os desvios teológicos existentes hoje (especialmente entre os evangélicos) os quais seriam evitados, caso nos apegássemos com mais vigor à herança da Reforma.

O primeiro tema abordado é a Escritura. Os reformadores foram unânimes na apresentação do fundamento sobre o qual sua teologia seria elaborada: Sola Scriptura (Somente a Escritura).

I. O Papa não tem a palavra final

De acordo com a teologia católica ortodoxa, o papa é o grande líder da igreja e atua como vigário (isto é, substituto) de Cristo na terra. Para atuar como substituto de Cristo, o líder máximo da igreja precisa possuir infalibilidade, pois se Cristo não erra, seu substituto também não pode errar. A teologia romana definiu essa infalibilidade do papa, em linhas gerais, afirmando que, quando o papa fala ex cathedra, isto é, quando trata de assuntos doutrinários, em virtude do auxílio que recebe de Deus, é infalível.

Essa declaração, porém, não é suficiente para esclarecer a natureza e o caráter dessa infalibilidade. Os escritores bíblicos foram preservados do erro na composição de seus escritos porque foram inspirados pelo Espírito Santo. A infalibilidade papal não é assim. De acordo com a teologia católica, o papa é infalível não por inspiração, isto é, não pela mesma obra do Espírito, por meio da qual os escritores bíblicos foram preservados do erro. Sua infalibilidade não consiste no recebimento de novas revelações da parte de Deus e na elaboração do ensino divino, mas apenas no fato de que ele pode explicar fielmente a tradição da igreja e a doutrina dos apóstolos. Ainda de acordo com a teologia católica ortodoxa, a infalibilidade do papa também não significa que as palavras ditas pelo papa em assuntos religiosos sejam a Palavra de Deus, significa apenas que elas são infalíveis, isto é, isentas de erro.

O Concílio Vaticano I diz que o papa é infalível quando fala ex cathedra. Isso, na prática, é inútil como padrão, pois, pela própria natureza da questão, só quem pode dizer se o papa falou ex cathedra é o próprio papa. Assim, um papa é sempre livre para rejeitar seus próprios pronunciamentos ou os pronunciamentos de outros papas, dizendo que não foram feitos ex cathedra, ou declará-los válidos, dizendo que foram. Depois, ele pode até mesmo dizer que ele mesmo, ou um de seus predecessores, pensando que falava ex cathedra, realmente não falou.

Na Dogmática Reformada, o teólogo reformado Herman Bavinck afirma:

“Os teólogos católicos romanos se encarregaram de desenvolver em detalhes as áreas cobertas por essa infalibilidade. Segundo eles, o papa é infalível quando trata das verdades da revelação na Escritura, das verdades das instituições divinas, dos sacramentos, da igreja, de sua organização e governo e das verdades da revelação natural. No entanto, até mesmo com isso estamos longe de esgotar o alcance da infalibilidade papal. Para que o papa seja infalível em todas essas áreas, dizem os teólogos, ele também tem de ser infalível na avaliação das fontes das verdades da fé e na interpretação delas. Isso significa dizer que ele é infalível no estabelecimento da autoridade da Escritura, da tradição, dos concílios, dos papas, dos pais, dos teólogos; no uso e na aplicação de verdades naturais, imagens, conceitos e expressões; na avaliação e rejeição de erros e heresias, até mesmo no estabelecimento de fatos dogmáticos; na proibição de livros, em questões de disciplina, no endosso de ordens, na canonização de santos e assim por diante. Fé e moral abrangem quase tudo, e tudo o que o papa diz sobre isso seria, então, infalível. O termo ex cathedra, de fato, não traça nenhum limite em nenhum lugar”.

Mas afinal, se o verdadeiro fundamento inabalável da fé cristã não é o papa, qual é esse fundamento? Os reformadores foram unânimes em repudiar completamente essa doutrina por não encontrarem, na Escritura, nem uma só palavra que a sustente. Em oposição a ela, afirmaram vigorosamente: Sola Scriptura.

II. A tradição não tem a palavra final

Outra fonte de autoridade espiritual muito forte na teologia católica medieval (e ainda hoje) é a tradição. Deve ser dito que a tradição nunca foi rejeitada pelo simples fato de ser tradição. Na própria Escritura encontramos ênfase e crítica à tradição (Mt 15.2,3,6; Mc 7.3,5,8,9,13 2Ts 2.15). A questão básica é: a que tradição estamos nos referindo? A tradição é rejeitada todas as vezes que entra em choque com a Palavra de Deus. A Reforma revoltou-se quanto à suposta autoridade da tradição independente da Escritura e pretensamente nivelada com ela. Os reformadores sustentavam que a Escritura é a única autoridade infalível dentro da igreja. Deste modo, a autoridade dos Credos (Apostólico, Nicéia, Calcedônia) era indiscutivelmente considerada pelos reformadores, contudo, somente as Escrituras são incondicionalmente autoritativas.

III. A igreja não tem a palavra final

Outra expressão moderna desse ensino católico medieval é a crença de que a denominação religiosa a que pertencemos está sempre certa. Isso é um erro. Nenhuma denominação religiosa está isenta de erros neste mundo. Os concílios são compostos por pessoas e, por melhores que sejam as intenções dessas pessoas e por mais sólido que seja seu conhecimento teológico, elas continuam sendo sujeitas ao erro. Nossos concílios e denominações são falíveis.

É claro que quanto maior for o apego dos nossos líderes às doutrinas cristãs, quanto maior for o vigor de sua piedade cristã e quanto maior for sua capacidade de aplicar o ensinamento bíblico às circunstâncias da vida, mais nítida é a possibilidade de que tomem decisões sábias e governem bem a igreja de Cristo. Mas é importante termos sempre em mente que não há denominações cristãs perfeitas.

Isso é necessário não apenas para exercitar nossa humildade e despertar o interesse pelo estudo rigoroso da Escritura, mas também para nos permitir uma comunhão cristã mais saudável com nossos irmãos de outras denominações cristãs. Embora existam muitas denominações, a igreja de Cristo é composta por todos aqueles que professam sua fé em Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador pessoal.

IV. A Escritura como única regra de fé e conduta

Mas afinal, se o papa não tem a palavra final, a tradição não tem a palavra final e a denominação cristã a que pertencemos não tem a palavra final, qual é a autoridade normativa segundo a qual a igreja deve moldar sua fé?

Os reformadores e seus herdeiros teológicos deram resposta a essa pergunta. O Catecismo Maior de Westminster afirma, na resposta à pergunta 3: “As Escrituras Sagradas – O Antigo e o Novo Testamentos – são a Palavra de Deus, a única regra de fé e obediência.”

Confissão de Fé de Westminster, por sua vez, afirma: “O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas, e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar, não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura” (I. 10).

Para os reformados, a autoridade fundamental segundo a qual a igreja deve moldar sua fé não é a opinião de pessoas, por mais ilustres que sejam, nem a história de instituições religiosas, por mais respeitáveis que sejam, nem as preferências dos cristãos, por mais adequadas que possam parecer, mas o “Espírito Santo, falando na Escritura”. “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva” (Is 8.20).

Conclusão

De acordo com a teologia reformada, nenhuma voz, na igreja de Cristo, pode se elevar acima da Escritura Sagrada, inspirada pelo Espírito Santo para conduzi-la a toda verdade. Cristo é o cabeça da igreja, e ele a governa segundo os preceitos estabelecidos na Escritura. Nenhum líder, nenhuma denominação cristã, nenhum concílio, nenhum costume, nenhuma tradição tem valor normativo para a igreja cristã. Só a Escritura.

Aplicação

Você já reparou como as pessoas, em geral, têm tratado a Escritura nos tempos pós-modernos em que vivemos? Quando a Escritura diz alguma coisa com a qual não concordam, as pessoas simplesmente dizem que os tempos mudaram. Com isso, abandonam o ensino bíblico e seguem seu próprio caminho. À luz da lição de hoje, como você deve reagir a essa tendência?

Boa leitura

A Inspiração e Autoridade da Bíblia, de Benjamin Warfield e A Inspiração e Inerrância das Escrituras, de Hermisten M. P. Costa. Ambos da Editora Cultura Cristã.

>> Autor do estudo: Vagner Barbosa
>> Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, usado com permissão.

>> Conheça e baixe grátis o e-book Conversando sobre a Bíblia.

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Fonte:https://ultimato.com.br/sites/estudos-biblicos/assunto/apologetica/sola-scriptura/

segunda-feira, 19 de dezembro de 2022

Natal é poesia. Até o ponto final

 06.12.2022

Do portal ULTIMATO ON LINE, 13.12.22

Postado por

Natividade, 1987. Adriana Varejão.   

Natal é pura poesia. E isso não o torna menos verossímil. Dos fatos extraordinários, brotou uma narrativa que uniu relatos e métricas de tal forma que envolve seus leitores ainda hoje: surpreende, emociona, desafia. A palavra escrita a serviço da Palavra encarnada. Deus – o poeta – trazendo luz à Luz com uma singeleza bela e desconcertante.

O anúncio do anjo sobre a gravidez de Maria é impressionante em sua estética, dignidade e precisão:

“O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Assim, aquele que há de nascer será chamado Santo, Filho de Deus.” (Lucas 1.35 – NVI)

  • Deus em ação, com poder de decisão. Anúncio direto, firme, que transmite confiança. Ao mesmo tempo, o afeto em forma de “sombra”, que evoca cuidado e proteção.
  • Deus dando nome, apontando para a essência do seu filho. Nomear é uma das atribuições mais criativas, pois do nada concede essência e dá identidade. É tarefa divina, mas que no Éden Deus graciosamente comissionou o ser humano para tal.
  • Deus sendo o Espírito que se conecta com a humanidade, com o pneuma, o sopro, o espírito humano. Espírito no espírito, dando profundidade à maior experiência da existência. Desse encontro, Deus gerou vida santa e, ao mesmo tempo, convidou o ser humano a um padrão de santidade que supera infinitamente toda a história do povo de Israel.
  • Deus formando uma família – pequena e fora dos padrões convencionais, é verdade – mas com um potencial incrível de expansão, inclusão e perdão. A família de Deus começa no Natal; dos corações solitários em uma noite estrelada, gerando mil conexões com a natureza e os animais, com os ricos e os pobres, e com todas as famílias da terra.

Deus – o poeta – ainda hoje tangencia versos e frases em conexão profunda com o sopro a vida. Nada é artificial, nem por acaso, nem sem razão. Natal não é “apenas” tradição cultural; é nascedouro de palavras e histórias santas. E a pena do habilidoso artífice das palavras se move maravilhosamente bem, unindo olhares, abraços e mãos. E produzindo esperança.

Em Deus, a arte se torna instrumento de redenção – porque na contradição humana, a poesia captura palavras perdidas e as coloca em unidade, lado a lado, de mãos dadas, abraçadas, sorrindo uma para a outra. Testemunho que é da reconciliação de Deus no mundo por meio de Jesus Cristo.

Jesus é a poesia completa que Deus dá ao mundo – é sua obra-prima. Prelúdio que evoca quem somos – em versos e rimas – e quem seremos no ponto final.


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Fonte:https://ultimato.com.br/sites/fatosecorrelatos/2022/12/13/natal-e-poesia-ate-o-ponto-final/

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Igrejas saudáveis não escondem conflitos. Elas lidam com eles

24.10.2022

Do portal ULTIMATO ON LINE, 28.09.22

Por  Érica Neves


Conflitos são oportunidades de crescimento emocional e espiritual e igrejas saudáveis precisam aprender a lidar com eles. À luz do tema “
Como lidar com conflitos na igreja (e fora dela)?”, Claudia Moreira e Valdir Steuernagel conversaram com a pastora anglicana Siméa Meldrum e com o pastor metodista Ernst Janzen na última terça-feira, 20/09, na live Diálogos de Esperança. O bate-papo trouxe importantes reflexões sobre a importância da resolução dos conflitos de forma saudável para o amadurecimento das igrejas e, consequentemente, de seus membros.

Siméa Meldrum destacou que uma sociedade impulsionada pela produtividade está adoecida e os sinais desse adoecimento são evidenciados pelos conflitos. “O mundo está influenciando as pessoas, principalmente as igrejas, por esse ativismo em busca do sucesso e da excelência. E essa vida competitiva gera intolerância e falta de empatia emocional. Eu creio que nós estamos brigando porque alguma coisa está doendo e tem muita gente que nem sabe que está doente”.

Ernst Janzen, por sua vez, pontuou que a maior parte dos conflitos vivenciados nas igrejas se devem à questões marginais relacionadas aos costumes e não às doutrinas fundamentais da fé. “Eu separo os conflitos que acontecem na igreja em três níveis: eles podem estar relacionados com os mandamentos de Cristo, com as orientações dos apóstolos ou com costumes e tradições. Em qual desses três níveis estão a grande maioria dos conflitos? Não estão relacionados aos mandamentos de Cristo, nem às orientações dos apóstolos, mas com costumes e tradições. Às vezes até a própria igreja cria leis não escritas que se tornam leis e isso acaba trazendo conflitos à tona”.

Todos os participantes da conversa ressaltaram a importância de se lidar com os conflitos para evitar que eles tomem proporções incontornáveis. Siméa enfatizou ainda que “a obra de Deus não pode avançar quando há conflitos não resolvidos”.

O próprio Jesus nos alertou para a importância da resolução de conflitos quando exortou quem, ao apresentar uma oferta no altar do templo “se lembrar de que alguém tem algo contra você, deixe sua oferta ali no altar. Vá, reconcilie-se com a pessoa e então volte e apresente sua oferta” (Mt 5:23,24). “Essa palavra de Jesus é um claro indicativo de que as relações interpessoais têm mais importância do que os rituais religiosos”, lembrou Claudia Moreira.

Valdir Steuernagel pontuou a importância da capacitação para a resolução de conflitos de forma saudável e Claudia Moreira citou a ampla gama de recursos disponíveis na plataforma Tearfund Aprendizagem sobre o assunto. Dentre os recursos, vale a pena conferir ainda os dois livros de autoria de Ernst Janzem sobre o assunto: Conflitos: oportunidade ou perigo? A arte de transformar conflitos em relacionamentos saudáveis e Conflitos na igreja: como sobreviver aos conflitos e desenvolver uma cultura de paz, ambos publicados pela Editora Esperança.

Diálogos de Esperança é uma realização conjunta da Editora Ultimato, Aliança EvangélicaTearfund e Visão Mundial. A série reúne teólogos, pastores, líderes e artistas para conversar sobre temas da atualidade relacionados à Igreja. Assista a íntegra da live do dia 20/09 aqui. Para assistir a todas as lives já realizadas, clique aqui.

Recursos para lidar com conflitos

Jesus veio para nos reconciliar com Deus através da cruz, colocando-nos em relações restauradas uns com os outros (Ef 2.16; Cl 1.20). Ao sermos reunidos na nova comunidade de Deus, somos colocados em relações com pessoas diferentes de nós. Essas diferenças devem ser uma fonte de bênçãos, porém, elas podem frequentemente ser uma fonte de tensão. A Bíblia diz que devemos nos esforçar ao máximo para restaurar relações onde quer que haja conflito (Rm 15.5-6; 2Co 13.11; Ef 4.1-6). Isso significa que precisamos prosseguir em arrependimento e perdão e saber que não há obstáculo cultural, étnico ou social que o amor de Cristo não possa superar (Mt 18.21-35; Lc 10.25-37; Cl 3.12-15).

A Bíblia também diz que os cristãos devem desempenhar o papel de pacificadores na sociedade (Mt 5.9). Primeiramente, enquanto “embaixadores de Cristo”, somos chamados a reconciliar as pessoas com Deus através do “evangelho da paz”, e elas consequentemente serão reconciliadas com o povo da aliança de Deus (2Co 5.18-20; Ef 6.15). A igreja também é chamada a ser profética, mostrando à sociedade como as relações reconciliadas devem ser. A igreja deve mostrar o caminho de Cristo nas palavras, na presença e nas ações, refletindo o reino vindouro, onde todos os povos, nações, tribos e línguas glorificarão juntos a Deus (Jo 17.20-23; Ap 5.9).

Trecho retirado do estudo bíblico Cristo triunfa sobre o conflito, integrante da revista Passo a Passo 92

Tearfund conta com uma vasta gama de materiais sobre construção de paz. O texto acima é um deles. Abaixo há uma lista com alguns desses materiais. Esperamos que eles sejam edificantes para você e sua igreja.











  • Erica Neves é formada em jornalismo, com mestrado em mídia e cidadania. Trabalha como assessora de comunicação na Tearfund. Atualmente, é estudante e professora convidada no Invisible College nos cursos Sabedoria no Caos e Teologia pro Cotidiano. Erica é casada com Fred e eles são pais do Pedro e da Mariana. Instagram: @emrneves

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Fonte:https://www.ultimato.com.br/conteudo/igrejas-saudaveis-nao-escondem-conflitos-elas-lidam-com-eles

sexta-feira, 17 de junho de 2022

"O Coração Na Bíblia: “Uma Angiografia”

17.06.2022

Do portal ULTIMATO ON LINE, 29.05.22

PorFabio Silveira De Faria

.. E IAHWEH DISSE CONSIGO: "eu não amaldiçoarei nunca mais a terra por causa do homem, porque os desígnios do homem são MAUS desde a sua infância..." Gênesis 8.21.
Os hebreus, tendo como base o texto de Levíticos 17 entendiam que o "coração" era a própria vida das pessoas e assim os escritores bíblicos o empregaram pelo todo, pelo indivíduo, o considerando a sede da vida intelectual e emotiva, como o símbolo do amor e de todas as emoções. E, é dessa forma que até os dias atuais, poetas, compositores, amantes, e o povo em geral o consideram.

Na Bíblia, o "coração" é citado mais de mil vezes, porém raras vezes no sentido fisiológico como em 2ºSamuel 18:14. A maioria das citações afirma ser ele a sede das faculdades e da personalidade, é nele que nascem os pensamentos, sentimentos, palavras, decisões e ações, e só Deus o conhece profundamente, quaisquer que sejam as aparências.
O "coração" é o centro da consciência religiosa e da vida moral, é nele que o homem procura a Deus, o ouve, o serve, o louva e o ama. Em Gênesis 8:21, o próprio Deus diz que os desígnios do "coração" são maus desde a sua infância; o profeta Jeremias inspirado por Deus diz que o pecado dos judeus – consequentemente o nosso também – está escrito com estilete de ferro, gravado com ponta de diamante na tabuinha e nos altares do "coração". O Senhor Jesus Cristo afirmou que as impurezas não estão nas coisas ingeridas pela boca, mas pelas palavras que dela sai procedente do "coração", - a boca fala aquilo que do qual o "coração" está saturado – ou seja, é no "coração" que reside as más intenções, assassínios, adultérios, prostituições, roubos, falsidades e difamações (Mt 15:15 a 20). Deus ordenou ao profeta e sacerdote Ezequiel que dissesse aos judeus exilados na Babilônia: eu os purificarei de todas as imundícies, tirarei dos seus peitos o "coração" de pedra e no lugar colocarei um "coração" de carne; essa promessa também nos foi feita pelo Senhor Jesus Cristo mediante o seu sangue, o sangue da Nova Aliança, ou seja, pelo seu sangue purificou nosso "coração" e substituiu a pedra por carne. Em oposição à visão dos escritores bíblicos, dos poetas, dos compositores, sabe-se que o "coração" é apenas o órgão responsável por bombear o sangue levando-o a todas as partes do corpo, um órgão desprovido de qualquer tipo de sentimento ou de emoção.

O "coração bíblico" é em realidade um conjunto de estruturas localizado no cérebro, composto por:

1 - córtex cerebral, responsável pelas funções cognitivas e pelo processamento de informação de nível mais elevado cujas funções incluem pensamento e raciocínio, memória, consciência, atenção, consciência perceptiva e linguagem, se constituindo, portanto, na sede do intelecto e da razão. "O consciente."

2 - sistema límbico, o responsável pelo controle do comportamento emocional do sistema nervoso e está envolvido diretamente com a natureza afetiva das percepções sensoriais, também conhecido por cérebro emocional, ou seja, a sede das emoções. "O subconsciente".

A esse conjunto nós chamamos MENTE, porém é preciso entender que o cérebro e a mente não são entidades separadas. A mente é a atividade do cérebro, ou seja, o cérebro é a parte física e a mente, a abstrata.

A maioria das citações sobre o "coração" na Bíblia está basicamente relacionada à parte física, à parte que gera as emoções, que controla os desejos e os pensamentos. Hoje se sabe que esta parte é o "sistema límbico". É a parte do cérebro que regula as respostas fisiológicas e emocionais do corpo. Suas estruturas anatômicas são as responsáveis por processar as emoções, regular a conduta do ser humano, funcionando como "coração", ou seja, o centro das emoções e dos desejos. 

É ele que regula o Sistema Nervoso Autônomo, - o responsável pela coordenação do funcionamento de todos os órgãos internos, e apesar de todo o avanço da ciência pode-se afirmar que o SL ainda é um ilustre desconhecido. Não há como sondá-lo em sua profundidade. 

Por meio de medicamentos é possível acalmar suas atividades, mas não se consegue dominá-lo por completo. Ao ser afetado pelas experiências afetivas e emocionais do ser humano em seu meio social, dita e direciona as atitudes e a reação das pessoas em todos os níveis, pois é dele que surgem os pensamentos bons e ruins, nele reside o egoísmo, o medo, a ansiedade, etc. 

A Bíblia diz que ele é enganoso, enganador, falso, incorrigível, e ninguém pode conhecê-lo a não ser Iahweh, o nosso Deus. Só a graça de Deus na pessoa do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo é capaz de mudar o seu intento, só ela é capaz de transformá-lo e curá-lo, só ela pode dar ao homem uma nova natureza, um novo "coração", ou seja, uma nova forma de pensar. Só ela é capaz de nos libertar de toda escravidão, pois é a espada de dois gumes, a que penetra no mais profundo do nosso ser dividindo alma e espírito, juntas e medulas, julgando a disposição e o intento do coração.

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Fonte:https://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/o-coracao-na-biblia-uma-angiografia

HINOLOGIA CRISTÃ: Harpa Cristã completa 100 anos

17.06.2022

Do portal ULTIMATO ON LINE, 10.06.22

Por Felipe David Pereira

Primeira versão do hinário oficial da Assembleia de Deus surge em 1922 no Recife
 

2022 marca os 100 anos de existência da Harpa Cristã, um dos principais hinários da Igreja Evangélica Brasileira. Adotado oficialmente pelas Assembleias de Deus, o cancioneiro contém 640 músicas que contemplam as mais diversas temáticas e todas as exigências cerimoniais e litúrgicas da denominação.

De acordo com o pastor e jornalista Silas Daniel, o principal diferencial da Harpa Cristã para os demais hinários é que ela traz também hinos escritos por autores dos primórdios do Movimento Pentecostal, tanto personalidades brasileiras como missionários suecos que fundaram as Assembleias de Deus no Brasil. 
 
“Alguns desses hinos são versões para o português, mas outros são obras originais. Pode-se dizer que o hinário assembleiano é um excelente exemplar da teologia pentecostal”, afirma Silas, que é autor “A História dos Hinos que Amamos”, lançado em 2012 por ocasião das comemorações dos 90 anos da Harpa Cristã.
 
A história

Assim como outras igrejas, as Assembleias de Deus usavam anteriormente o hinário "Salmos e Hinos". Porém, a liderança da igreja percebeu a necessidade da criação de um hinário com ênfase nas doutrinas pentecostais. A primeira tentativa em resposta a essa demanda foi o Cantor Pentecostal, lançado em 1921 e distribuído na Assembleia de Deus do Pará. A publicação foi supervisionada por Almeida Sobrinho - que também editou jornais da denominação, e contava com 44 hinos e 10 corinhos.
 
No ano seguinte, a Harpa Cristã surge, no Recife, PE, com uma proposta mais robusta: a primeira edição foi lançada com 100 canções e tiragem de mil exemplares. O trabalho editorial da primeira versão foi conduzido pelo Pastor Adriano Nobre e a popularidade do hinário se deu pelo esforço do missionário sueco Samuel Nyström que compartilhou a obra em várias partes do Brasil. 
 
Já na segunda edição, a Harpa Cristã chegou a 300 hinos. Em 1932, uma nova versão da Harpa foi disponibilizada com 400 hinos. No mesmo ano, durante a Convenção Geral Das Assembleias de Deus no Brasil, foi formada uma comissão para editar e publicar a primeira versão do hinário com música. Além de Nyström, faziam parte do grupo o organista e acordeonista Emílio Conde, autor e adaptador de diversos hinos da Harpa Cristã, Paulo Leivas Macalão e o pastor sueco Nils Kastiberg.
 
Nos anos de 1950, a Harpa chegou a seu formato clássico, com 524 hinos. Em 1979, uma outra comissão foi formada para rever músicas e letras da Harpa Cristã. O resultado deste trabalho foi lançado em 1992, com a publicação de uma versão atualizada do hinário. A edição atual com 640 hinos, conhecida como Harpa Cristão Ampliada, foi disponibilizada em 1999.
 
Atravessando gerações

A Harpa Cristã é lançada uma década depois da fundação das Assembleias de Deus no Brasil. Não é a toa que, segundo o pastor Silas Daniel, ela desempenha um papel didático nas comunidades pentecostais. “O conteúdo de seus hinos expressa muito bem a teologia e o espírito do pentecostalismo, de maneira que eles não só inspiram, mas também enriquecem e instruem os crentes enquanto cantam”, destaca.
 
Para o pastor, um dos marcos no centenário da Harpa Cristã é o fato de ser um recurso ainda muito utilizado pelos assembleianos, apesar de ser um período em que muitas igrejas já não mais utilizam seus hinários. “A Harpa Cristã não é uma peça esquecida na tradição assembleiana, mas está bem viva no dia-a-dia da nossa denominação”, enfatiza.
 
Para quem quer conhecer mais ou acompanhar online, há um site da Harpa Cristã que reúne história, notícias, vídeos e wallpapers com trechos dos hinos. Além da versão impressa, os hinos estão reunidos em formato de áudio no site harpacrista.org e, no perfil da editora CPAD, responsável pela publicação da Harpa no Brasil, há um vídeo celebratório que apresenta a história do hinário e lembra a missão dos crentes a partir de trechos de vários hinos bastante conhecidos.
 

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Fonte:https://www.ultimato.com.br/conteudo/harpa-crista-completa-100-anos

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Altar ou palco?

22.02.2022

Do portal ULTIMATO ON LINE, 00.00.22

Por Rafaely Camilo Costa

Meu lugar na igreja, qual é? você já se questionou sobre isso? Você sabe o que está fazendo? Onde está?

Em meio à disseminação cada vez maior da riqueza que (deve ser) inerente a todo crente fiel e a consequente glamourização desta, passei a me questionar sobre minha utilidade, se é que a palavra correta seja essa.

Irmãs e irmãos, somos servos de Deus, filhos da Cruz, somos operários militantes pela causa do Reino e tendo isso em mente, não devemos – ou deveríamos – nos embaraçar com as coisas dessa vida, ou seja, despender energia com coisas que nada acrescentarão a nós e a nossa comunidade de fé, digo, Corpo de Cristo. Como diz o apóstolo Paulo em 2 Timóteo 2.3-5, "Tu pois, sofre as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo. Ninguém que milita se embaraça com negócios desta vida, a fim de agradar àquele que o alistou para a guerra.

Não sou adepta ao vocabulário bélico, pois levo em consideração o contexto social e político em que estamos vivendo e seus desdobramentos e não desejo abrir precedentes para conotações ambíguas, mas sabemos do que trata o apóstolo Paulo. Ele fala dentre outras coisas sobre submissão, diretrizes bem definidas que foram propostas a nós, servos de Deus para caminharmos na Terra.

Tendo isso em vista, percebo certo deslocamento de alguns por não se sentirem identificados com o que hoje tem se tornado uma elite cristã – se é que isso existe. Mais do que isso, tem se instalado um ethos próprio dessa elite, uma forma própria de comportamento e mentalidade na qual promove alguns em detrimento de muitos. Não faço parte da elite que parece crescer a cada dia mais, como se fosse natural enriquecer as custas da gordura das ovelhas, e que cuja proteção é feita do couro daqueles que tem o coração quebrantado.

Minhas palavras são explícitas e com tom de indignação e não escondo, mas qual operário não se revolta? Parece q temos confundido o Criador com a criatura, adorando homens e coisas ao invés do Salvador.

Pensemos amadas e amados, esquecemos nosso lugar, e não digo sobre uma ode à pobreza, ao comunismo ou a qualquer excesso que possa parecer. Não! Parece que temos trilhado um caminho no qual servir não tem mais graça, ou pior, onde há uma vontade estranha de querer achar mais do que as Escrituras tem a oferecer - que é tudo o que precisamos. Essa mesma Escritura e em especial, os evangelhos falam sobretudo a respeito do equilíbrio, do combate à injustiça, denuncia a opressão que explora e mata o povo, inclusive o povo de Deus. A Bíblia diz muito e diz tudo, para todos.

Sim, me parece que há algo deslocado para não dizer errado, com a noiva de Cristo. Ao contrário das alternativas propostas, a Palavra de Deus aponta para o saber viver a mordomia que cabe a nós. Foi Deus que colocou assim.

Abramos os nossos olhos para o que está diante de nós: "A natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam revelados. Pois ela foi submetida à futilidade, não pela sua própria escolha, mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus." Romanos 8:19-21.
Acordemos para a nossa vocação. Posicionemo-nos nos nossos devidos lugares, como filhos de Deus.

A igreja de Cristo aguarda de cada um que se autointitula um cristão, uma atitude coerente diante de Deus e diante dos homens.

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Fonte: https://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/altar-ou-palco

terça-feira, 29 de setembro de 2020

O colapso da interlocução entre os evangélicos

29.09.2020
Do portal ULTIMATO ON LINE, 23.09.2020
Por Antonio Carlos Costa*
 
Há cristãos que não sabem mais o que fazer com a sua identificação com o movimento evangélico. Sofrem por estar associados a algo que os envergonha, do qual querem se manter distantes, num contexto de colapso da interlocução com os próprios evangélicos. 

Do ponto de vista das figuras públicas que falam em nome do movimento protestante brasileiro, não se sentem representados por quase ninguém. 
 
Quem são?
 
1. Eles não se consideram nem de esquerda nem de direita. Querem produção sustentável de riqueza e justiça social. Julgam que pensar apenas com categorias do século 19 não funciona no século 21. Estão fartos da tentativa de se negar fatos a fim de sujeitar a realidade à ideologia política;
 
2. Eles não se consideram nem conservadores nem progressistas. Não querem o engessamento ético, nem o relativismo moral; 
 
3. Eles creem que a missão principal da igreja é a pregação do evangelho, cujo produto final é uma comunidade cristã comprometida com a justiça social;
 
4. Eles não dão apoio acrítico e efusivo a nenhum político profissional. São radicalmente contra a igreja oferecer base institucional de sustentação política a quem quer que seja;
 
5. Eles não esperam que não cristãos se comportem como cristãos. Portanto, pregam o evangelho em vez de pregar moralidade; 
 
6. Eles abominam a falta de cortesia no trato dos cristãos com os não cristãos que divergem dos valores do cristianismo. Julgam que estar do lado da verdade não justifica a estupidez;
 
7. Eles não veem incompatibilidade entre fé e ciência. Estão prontos para sujeitar o que creem à evidência empírica e racional; 
 
8. Eles amam os momentos de adoração na igreja, mas anelam pela transcendência litúrgica associada à pregação bíblica, clara, franca, educada, consistente, lógica, no poder do Espírito Santo; 
 
9. Eles interagem com a cultura. Veem a graça de Deus na produção cultural não cristã. Portanto, acolhem com prazer e gratidão a arte produzida do lado de fora da igreja; 
 
10. Eles não são necessariamente abstêmios; 
 
11. Eles não toleram coronelismo na igreja. Querem transparência, liberdade de expressão e prestação de contas; 
 
12. Eles são defensores ardorosos da democracia. Jamais votariam em quem demonstra estar aberto a negociar liberdades civis e políticas e garantias constitucionais; 
 
13. Eles veem o compromisso com a causa dos direitos humanos como traço da verdadeira espiritualidade; 
 
14. Eles não são liberais em teologia. Creem na inspiração das Escrituras; 
 
15. Eles acreditam em transformações históricas, mas não aguardam para essa vida o que sabem que somente terão na vida vindoura; 
 
16. Eles se angustiam com o estado da igreja. Sabem que há áreas cinzentas. Nem tudo é preto e branco. Entre aqueles dos quais discordam identificam irmãos na fé, cujas contradições morais e intelectuais os deixam perplexos; 
 
17. Eles sabem que também precisam de reforma. Sofrem com suas próprias incoerências e anelam por ser melhores representantes de Cristo; 
 
18. Eles buscam simetria no compromisso ético. Procuram harmonizar ética privada com espírito público; 
 
19. Eles acreditam no poder da oração, da manifestação pública e do exemplo de vida; 
 
20. Eles sujeitam Adam Smith, Karl Marx, Engels, Gramsci, Hayke, Mises, Keynes, Nietzsche, Freud, Foucault, à autoridade de Cristo, ao qual devotam sua lealdade maior. 

Julgo que esse setor da igreja é o menos compreendido pelos meios de comunicação e mundo acadêmico, e pelo próprio movimento evangélico, que o quer arrastar para um dos lados das disputas política, cultural e espiritual. 
 
A ele pertenço.

*Antonio Carlos Costa é teólogo, jornalista e ativista social. Plantador da Igreja Presbiteriana da Barra (Rio de Janeiro) e fundador da ONG Rio de Paz.

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Fonte:https://www.ultimato.com.br/conteudo/o-colapso-da-interlocucao-entre-os-evangelicos

domingo, 18 de dezembro de 2016

Faces da corrupção

18.12.2016
Do portal ULTIMATO ON LINE, 08.2013
Corrupção é um tema que possui muitas faces; algumas ocultas, escondidas nas máscaras culturais, outras bem abertas, porém que apenas geram discursos moralistas, e não soluções concretas. Este “painel” de opiniões mostra que o desafio de combater a corrupção é mais amplo e profundo do que podemos imaginar.
Com a expansão das novas tecnologias e das redes sociais, você é otimista ou pessimista quanto à diminuição da “cultura da corrupção” entre os jovens?
Taís Machado: Eu gostaria de ser apenas realista, mas meu pessimismo ou otimismo podem ser sempre minha realidade provisória. Por agora ainda há várias incógnitas quantos aos efeitos das novas tecnologias e das redes sociais entre os jovens em especial. Há estudos ditos mais otimistas e outros nem tanto. As influências em termos da “cultura da corrupção”, por um lado, facilitam algumas denúncias e mobilizações; por outro, favorecem superficialidade e posturas devassas e perversas cuidadosamente manipuladas. Há oportunidades para o bem e para o mal, cabe atentarmos para as decisões. O diálogo aberto sobre as potencialidades é fundamental para que ilusões e inocências não sejam armadilhas ainda mais eficazes.
A salvação de Cristo santifica sua Igreja, mas não a tira da sociedade. E isso nos coloca em uma tensão constante entre o que somos em Cristo e o que somos em sociedade. Que elementos são chave para a igreja de Cristo não se render — e enfrentar — à corrupção da sociedade?
Martin Weingaertner: Não somos chamados a ser moralistas, mas sal e luz. O discurso moral contra a corrupção é deveras enganoso, pois ele aponta o erro dos outros sem se dar conta de que alimenta o mesmo mal em si mesmo. O evangelho de Jesus, antes de tudo, nos leva a reconhecer que também estamos contaminados pelo verme da corrupção e que precisamos de ajuda para enfrentá-lo. O segundo secretário-geral da ONU, Dag Hammarskjöld (1905–1961), escreveu em seu diário: “Quem não quiser corromper-se na diplomacia e na política precisa estar disposto a morrer pela verdade!”. Só quem se expõe assim poderá dar exemplo no ambiente em que vive. Para pastores, seria um bom começo resistir à tentação de administrar a igreja em benefício próprio; para a igreja evangélica no geral, empenhar-se para que suas finanças sejam transparentes e públicas. O Brasil carece de exemplos reais.
Muitos dizem que a corrupção é cultural. Como mudar uma cultura? E quem deve mudá-la?
Guilherme de Carvalho: A cultura é mudada pela intervenção de pessoas e grupos dotados de poder histórico, ou poder formativo-cultural. Elas introduzem novos bens ou artefatos culturais, impulsionam eventos ou comunicam uma nova interpretação das coisas com alto poder de persuasão.
Considere por exemplo a nova lei sobre o casamento homossexual na Inglaterra. O ministro David Cameron declarou publicamente que sua coalizão de liberais e conservadores “estava comprometida tanto com a mudança da lei quanto […] também da cultura”, no que foi logo acusado por vários “Tories”1 de adotar táticas Orwelianas. Seja como for, é fascinante e assustador constatar que Cameron quer mais que assegurar direitos — ele quer reformar a cultura e a moral sexual.
O fato é que há pessoas atuando intencionalmente para mudar culturas. E a cultura muda onde há um protagonista cultural — seja na política, ou na academia, ou nas artes, ou na economia. Creio que os cristãos deveriam agir como formadores culturais, mas isso não pode ser feito meramente “tomando os montes da cultura”, como alguns andam dizendo. Não se trata de tentar “tomar o controle”, mas de servir à cultura de forma criativa e renovadora.
A mídia brasileira tem exercido um papel de denunciar a corrupção, principalmente nas relações entre governo e sociedade. Por outro lado, ela também é, repetidamente, acusada de tendenciosa, interesseira e suscetível à corrupção. A mídia é aliada ou inimiga da corrupção?
Rubem Amorese: Entendo que a mídia pode ser aliada ou inimiga da corrupção, dependendo de seus interesses. Ou seja, a mídia é tão interesseira e suscetível à corrupção quanto qualquer órgão governamental.
Dou um exemplo: no blog “Diário do Centro do Mundo”, o jornalista Paulo Nogueira explica por que a presidente Dilma escolheu o jurista Luís Roberto Barroso para a cadeira vaga do Supremo Tribunal Federal (STF)2. De acordo com Nogueira, “Barroso resolve o problema do mensalão. Sua chegada ao Supremo muda o cenário no momento fundamental dos recursos. Desfaz-se o estado de espírito anti-réus que dominou o STF, e que por um momento pareceu que levaria Zé Dirceu à cadeia”. Nogueira se explica: “Joaquim Barbosa, o grande derrotado na nomeação, agora é minoritário. A segunda etapa do julgamento — aquela, sabemos agora — quase que começa do zero. Dirceu pode desfazer a mala, se já não desfez. As sentenças extraordinariamente rigorosas comandadas por Barbosa, e alinhadas com a mídia, vão sofrer uma enorme redução”.
Mas o que tem a ver a nomeação de um juiz para o supremo com o tema da mídia? O próprio Paulo Nogueira explica em seu artigo. Ainda referindo-se à presidente:
“Ela poderia enfrentar muitas críticas da mídia com a indicação. Com Barroso, ela neutralizou o maior foco das críticas: as Organizações Globo. Monopolista como a Globo é, você ganha a aprovação dela e o resto está feito no capítulo das relações com a mídia”.
“Barroso é amigo da Globo. Foi advogado da Abert, a associação que defende os interesses da Globo” — diz Nogueira. E acrescenta: “Portanto, você não vai ver Jabor, Merval, Ali Kamel, Míriam Leitão ou quem quer que seja na Globo atacando Barroso agora ou, um pouco depois, em suas intervenções no julgamento do recurso”.
Bem, aí está uma ideia de como a mídia e a Justiça podem sofrer influência de interesses, do mesmo modo que o Executivo ou o Legislativo. Não sei se esse comportamento pode ser chamado de corrupção. Mas o exemplo mostra como a “isenção jornalística”, assim como decisões em prol do interesse público, praticamente não existem. Nem no âmbito governamental, nem no privado. E nem começamos a falar de propina ainda.
Qual o custo da corrupção?
Eduardo Nunes: Corrupção é todo desvio de finalidade de um recurso ou direito. Logo, há corrupções. E acontecem em distintas esferas (Estado, empresas, igrejas) e formas (diretas, quando os recursos são usados ilegalmente, ou indiretas, quando são aplicados contrariamente aos princípios de seu uso).
As corrupções diretas são mais evidentes e as únicas passíveis de punição. Nas indiretas, mais sutis e impuníveis, o recurso é usado de forma displicente ou para beneficiar poucos. Cabem aqui as organizações religiosas e civis, que alavancam agendas de poder ou negócio e as políticas/práticas públicas preferenciais para os que menos precisam. Há também as corrupções individuais, de muitos tipos.
As estimativas sobre os custos das corrupções são imprecisas porque cada uma delas desencadeia prejuízos sociais próprios. Porém é possível deduzir o custo mínimo, por meio de um caminho metodológico semelhante ao usado para encontrar estrelas — pelas distorções. Se assumirmos o pressuposto de que os recursos e a capacidade da sociedade são suficientes para garantir os direitos (alimentação, moradia, saúde, educação, paz social, participação), toda não realização destes (exceto as decorrentes de opção individual) pode ser considerada nos custos das corrupções.
Mais importante do que cifras e rankings é o fato de que as corrupções têm enormes custos humanos. Cito um: mais de 165 mil mortes anuais evitáveis de crianças e adolescentes no Brasil, só para contar as geradas por falta de saneamento, saúde, violências e poluição atmosférica (agravadas pelo transporte individual movido a incentivo fiscal).
Para reduzir os custos das corrupções é necessária uma intolerância moral que rejeite maniqueísmos, exerça crítica/autocrítica traduzida em participação para a transparência e reoriente as ações, segundo o ensino bíblico: “Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles” (Mt 7.12).
Notas
1. Como são conhecidos os membros e eleitores do Tory, antigo partido conservador que deu origem ao atual Partido Conservador e Unionista do Reino Unido.

Entrevistados
Taís Machado é psicóloga clínica, professora em seminários teológicos, ligada a movimentos estudantis e blogueira.
Martin Weingaertner é historiador luterano do Centro de Pastoral e Missão, em Curitiba, PR.
Guilherme de Carvalho é pastor da Igreja Esperança em Belo Horizonte, diretor do L’Abri Brasil e blogueiro.
Rubem Amorese é jornalista aposentado e colunista da revista Ultimato. Autor de, entre outros, IcabodeFábrica de Missionários e Ponto Final, e blogueiro.
Eduardo Nunes é PhD em ciência política e economia e diretor de estratégia da Visão Mundial Internacional.
Leia mais respostas aqui.
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