Pesquisar este blog

terça-feira, 26 de julho de 2022

Pastor acusa Igreja Universal de obrigá-lo a fazer vasectomia

26.07.2022

Do portal MICROSOFT START - MSN

O pastor Maurício dos Santos Bonfim abriu um processo contra a Igreja Universal em que a acusa de tê-lo obrigado a fazer uma vasectomia (procedimento cirúrgico que impede o homem ter filhos). Por causa disso, ele solicitou à Justiça que a instituição religiosa pague uma indenização de R$ 100 mil. As informações são do colunista Rogério Gentile, do UOL.

Na ação, Maurício afirmou que frequentou a igreja por cerca de 10 anos. Inclusive, foi o pastor responsável por três templos da cidade de São Vicente, no litoral sul de São Paulo.

O religioso afirmou que a Igreja Universal divulgava eventuais promoções para a realização da vasectomia. Caso alguém rejeitasse, era punido com, por exemplo, perda de benefícios, ajuda de custo e rebaixamento de cargo. “Passava a ser considerado como mau exemplo”, disse ele no processo.

Ainda segundo o pastor, a Igreja Universal exigia a realização do procedimento cirúrgico por uma questão econômica, já que ela “custeia a vida da família pastoral”. “O interessante para a Igreja é que a família pastoral se resuma ao homem, pastor, e a sua esposa, obreira”, completou.

Maurício relatou na ação que foi submetido a uma cirurgia “clandestina”, sem registro médico. Por isso, os advogados Icaro Couto e Luiza Fernandes, que o representam, disseram à Justiça que a instituição religiosa “retirou brutalmente a sua chance de ser pai e de construir uma família no sentido amplo”.

Explosão

O pastor ainda alegou no processo que foi expulso da Igreja Universal em novembro de 2020 por ter elogiado uma mulher. “Tal elogio foi caracterizado como um adultério.”

Por conta disso, ele e a sua esposa, Bianca Bonfim, tiveram de sair do apartamento onde moravam e também perderam o carro, pois ambos os bens eram custeados pela Igreja Universal. “Fomos obrigados a ligar para parentes distantes para não dormirmos na rua naquela noite”, relatou.

Foi nesse momento, de acordo com Maurício, que conseguiu “retirar a venda dos meus olhos” e percebeu que havia sido “induzido e coagido moralmente” a realizar a vasectomia. “A Universal me impediu de gerar vidas.”

Em sua defesa, a igreja relatou à Justiça que a acusação de Maurício é “mentirosa”. “Alegar que a entidade pratica, sob assédio moral, esterilização em massa, nada mais é que praticar a intolerância religiosa de forma velada, de alguém que não mais congrega dos mesmos preceitos religiosos e litúrgicos, e que não respeita a religião alheia”, acrescentou.

A Igreja Universal ainda afirmou que os pastores que têm filhos sabem das dificuldades de serem transferidos. “Quando os filhos estão em fase escolar, as mudanças devem ser programadas de modo a não prejudicar os estudos. Todos esses parâmetros são analisados individualmente por cada pastor/bispo com suas esposas. Mas, em nenhum momento, a entidade impõe qualquer tipo de condição para que seus ministros religiosos realizem a cirurgia de vasectomia.”

O caso ainda não foi julgado.

Procurada pela coluna de Rogério Gentile, a Igreja Universal afirmou por meio de nota que a acusação não é verdadeira pelo fato de que há mais de 3 mil filhos naturais de bispos e pastores.

“O que a Universal incentiva é o planejamento familiar, sempre debatido de forma responsável por cada casal — conforme está previsto em nossa Constituição Federal e na legislação brasileira.”

“Temos certeza de que este processo, movido por um ex-pastor que foi desligado do corpo eclesiástico da Igreja em razão de um grave descumprimento de regra de conduta, terá o mesmo destino de outros semelhantes, nos quais diferentes tribunais têm arquivado esse tipo de pedido absurdo. Neste caso, o processo sequer poderá ser julgado, pois já passou o prazo para que o ex-pastor entrasse com a ação”, afirmou o comunicado.

Leia mais:

 Igreja Universal é acusada de impor vasectomia aos pastores

 Bispo da Universal é condenado em Angola por forçar vasectomia em pastores

Universal é condenada por obrigar pastores a fazer vasectomia, diz jornal

*****

Fonte:Pastor acusa Igreja Universal de obrigá-lo a fazer vasectomia (msn.com)

quarta-feira, 13 de julho de 2022

O ensino teológico para nativos digitais

13.07.2022
Do portal da REVISTA ULTIMATO ON LINE, 17.06.22
Por Kaiky Fernandez e Pedro Dulci
 
Estudo de caso do Invisible College
 
As verdades do evangelho são imutáveis e eternas. Isso significa não apenas que são as mesmas de sempre, mas também que precisam ser aplicadas nos mais diversos períodos da história e contextos culturais. O nosso papel como cristãos é compreender como tais verdades se aplicam aqui e agora, nas questões do mundo contemporâneo. Além de ter um profundo conhecimento da Bíblia, também precisamos entender o ambiente e as pessoas com as quais estamos compartilhando o evangelho, por exemplo, recorrendo a pesquisas culturais e sociológicas.
 
Por meio de um estudo de caso do Invisible College — um instituto educacional do Brasil que oferece cursos de teologia e filosofia — analisamos as questões acima, com foco nos nativos digitais.
 
Quem são os nativos digitais?

Uma geração pode ser definida como um recorte da população que experimentou eventos sociais, culturais e tecnológicos semelhantes1. Mesmo que haja especificidades de contextos locais, isso é útil para compreendermos as características gerais de determinado grupo — suas preferências, gostos, estilos de vidas, preocupações, dilemas e anseios.
 
Quanto mais compreendermos a respeito de uma determinada geração, maior será a nossa possibilidade de comunicar efetivamente com as pessoas desta geração e contextualizar o evangelho, aplicando verdades bíblicas aos desafios contemporâneos.2
 
A geração dos nativos digitais, composta por pessoas nascidas entre 1996 e 2012 (também conhecida como ‘Geração Z’), e que recebe esse título devido a uma característica fundamental: é a primeira geração a nascer e crescer em um contexto no qual as tecnologias digitais já estavam massivamente disponíveis para a população em geral.
 
Tais tecnologias são indispensáveis para o cotidiano dessa geração3, sendo usadas para uma ampla gama de atividades diárias: comunicar-se com amigos, enviar curriculum vitae para vagas de empregos, pedir comida, realizar estudos, procurar lojas e restaurantes, e monitorar atividades físicas. Em suma, esta é uma geração moldada pela distância de um clique a qualquer necessidade básica. Tudo está acessível e disponível através de um smartphone.
 
Por que uma escola teológica para nativos digitais?

Em 2019, nos perguntamos: quais eram as alternativas para pessoas que desejam estudar teologia, mas que não têm a possibilidade de ir para um seminário tradicional, seja devido ao alto custo, falta de tempo ou restrições geográficas; que preferem conteúdos de estudos que reflitam a ortodoxia bíblica; e que são de uma geração mais nova? Conhecemos pouquíssimas opções disponíveis. Então pensamos em uma forma de contribuir com essas pessoas.
 
Nossa proposta inicial era apenas disponibilizar, gratuitamente, um guia de estudos teológicos, para que cada interessado pudesse usá-lo na condução dos seus estudos individuais. Posteriormente, quando percebemos que havia um potencial e sentimos a necessidade de ir além dessa ferramenta, criamos formalmente o Invisible College, uma escola de teologia e filosofia para nativos digitais — um segmento que, até 2025, será a maior parte da força de trabalho ativa4.
 
Nossos números desde a criação da escola mostram claramente que as pessoas estão interessadas em aprendizagem teológica de alta qualidade. Querem opções que não renunciam ao rigor, mas que também sejam contextualizadas e adaptáveis a diferentes rotinas e realidades. O que nós fazemos aqui no Invisible College é apenas uma pequena contribuição para isso. Há ainda muito trabalho a ser feito!
 
O quê e como fazemos?

Quando criamos a escola e ao longo do seu desenvolvimento até hoje, sempre tentamos responder a estas perguntas: como propor uma metodologia de ensino que seja flexível, mas sem perder a qualidade? Como comunicar a essa geração de nativos digitais a importância e a relevância do estudo teológico? Como oferecer um ambiente relacional mesmo em uma instituição que funciona de forma totalmente digital, sem ao menos ter um espaço físico?
 
As respostas que oferecemos formam a espinha dorsal do Invisible College. Cada uma busca a adequação à geração que temos como público de interesse: os nativos digitais.
 
1. Curadoria

A primeira característica marcante da nossa escola é oferecer curadoria. A benção de ter acesso a tudo, a qualquer momento e em qualquer lugar, pode se tornar uma maldição se não houver o direcionamento adequado. Vivemos em uma época na qual um estudante do Brasil pode ter acesso a livros, palestras ou aulas de qualquer pessoa ao redor do mundo de forma praticamente instantânea. No entanto, como escolher o que acessar? Quais livros ler ou por onde começar? Para suprir essa necessidade, um dos nossos principais trabalhos é fornecer orientação em relação ao conteúdo, organizando-o de forma didática e disponibilizando gratuitamente, para qualquer pessoa, em formato de guias de estudos.
 
2. Tutoria

A segunda característica é a nossa metodologia didática. A geração Z tem como marca ser multiconectada. Isso implica na participação quase simultânea em diferentes grupos sociais — trabalho, estudos, amigos, igreja, projetos sociais —, além de, em muitos casos, não haver uma rotina fixa e rígida, devido às novas configurações de empregos remotos ou no formato híbrido5. Também é uma geração que busca protagonismo nas suas atividades e iniciativas. Assim, resgatamos uma metodologia antiga — o sistema tutorial, usado pelas universidades de Oxford e Cambridge —, mas adaptada ao contexto digital.
 
Essa metodologia pressupõe uma baixa quantidade de aulas expositivas, ao contrário dos cursos tradicionais. Além das aulas, os estudantes têm contato com os colegas e os tutores em encontros regulares para discussão dos conteúdos, onde a aprendizagem acontece de forma relacional e coletiva.
 
3. Comunicação

A terceira característica é nossa forma de comunicação. Discernir as especificidades comunicacionais das pessoas que queremos alcançar é fundamental para que aquilo que estamos propondo seja assimilado e se torne pertinente para elas. Dessa forma, sem abrir mão do rigor no conteúdo, temos uma abordagem estética tanto na linguagem visual, quanto na verbal, para desvincular a ideia de que os estudos teológicos são arcaicos, chatos e sem relevância para as pessoas que não ocupam cargos na igreja. Os títulos dos cursos e seus módulos, as escolhas de imagens e cores usadas nas peças publicitárias são sempre pensados de uma forma contextualizada e adequada para nosso público de interesse, quebrando alguns estereótipos quanto à visão que muitas vezes há em relação à teologia.
 
Quais são os desafios que temos pela frente?
Embora alguns progressos significativos tenham sido feitos ao lidar com nativos digitais, é evidente que muitos desafios estão por vir e que precisaremos lidar com eles. Tais desafios são intrínsecos a essa geração e também estão presentes na igreja local, na evangelização e no discipulado.
 
No dia a dia da nossa escola, percebemos que os estudantes estão cada vez mais desatentos e ansiosos. Existem vários fatores quanto às causas. Aqui estão alguns de acordo com as pesquisas e estudos que realizamos:
 
Em relação à sua desatenção, provavelmente boa parte disso seja fruto da relação alternada, para não dizer simultânea, entre os diversos ambientes sociais digitais. De forma geral, uma pessoa está ao mesmo tempo conectada em um aplicativo de mensagens (com os seus vários grupos e conversas individuais), em uma plataforma para a equipe do trabalho, em um sistema de emails e pelo menos mais duas ou três redes sociais. As notificações chegam a todo momento.
 
Em relação à ansiedade, provavelmente a conectividade também foi algo que a impulsionou, tanto quantitativamente, quanto qualitativamente. Isso porque o contexto das redes é propício para o compartilhamento de informações, sentimentos e opiniões, e a Geração Z se sente confortável com isso.
 
As mídias sociais moldam expectativas e comportamentos, além de gerarem impactos negativos em relação ao amor-próprio, à autoestima e à confiança6. Por outro lado, em virtude da conexão e a necessidade de relevância, os nativos digitais mostram preocupação com transformações sociais e com a sustentabilidade ambiental, bem como se esforçam para fazer a diferença em algo por meio do voluntariado.
 
E agora?

Tudo que fizemos até agora foi só o começo. Há outras perguntas e questões práticas que ainda precisam ser respondidas para auxiliarmos essa importante geração a não apenas conhecer o evangelho, mas também viver o evangelho em suas vidas diárias.
 
Precisamos da sabedoria bíblica para fazer o uso correto das mídias sociais, entendendo sua relevância e importância, ao invés de apenas demonizá-las. Por outro lado, também rejeitamos o uso irrestrito que tem gerado problemas evidentes, sobretudo na saúde mental. A grande pergunta é: como propor um uso equilibrado e saudável, reconhecendo os benefícios dos avanços tecnológicos, mas sem idolatrá-los?
 
Também precisamos buscar biblicamente respostas para essa geração ansiosa e insegura, com desajustes afetivos e uma identidade fragmentada. A solução para isso não é uma espécie de fé superficial que faz as pessoas se sentirem bem, mas sim uma fé biblicamente genuína que compreende a realidade da condição humana e segue o caminho de Jesus.
 
Por fim, que toda a vitalidade e disposição de pessoas inconformadas com o status quo sejam canalizadas para o bem comum, para promover a dignidade humana e a justiça, e fazendo tudo para a glória de Deus em um caminho de discipulado junto com as suas comunidades locais7.
 
Kaiky Fernandez é brasileiro, membro da Igreja Cristã Farol Esperança, graduado em design gráfico pela Universidade Federal de Goiás, com especialização em gestão de marketing pela ESPM Rio. É coordenador estratégico do Invisible College e estudante de teologia.
Pedro Dulci é brasileiro, doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Goiás e cofundador e coordenador pedagógico do Invisible College, além de pastor em tempo integral da Igreja Presbiteriana Bereia, em Goiânia.
 
Notas
1 - Jason Dorsey, Denise Villa, Zconomy: como a geração z vai mudar o futuro dos negócios. Translated by Bruno Fiuzza and Roberta Clapp, 45. Rio de Janeiro: Agir, 2021.
2 - Kevin Jon Vanhoozer, O drama da doutrina: uma abordagem canônico-linguística da teologia cristã. Translated by Daniel de Oliveira, 276. São Paulo: Vida Nova, 2016.
3 - Philip Kotler, Hermawan Kartajaya and Iwan Setiawan, Marketing 5.0: tecnologia para a humanidade, trans. André Fontenelle (Rio de Janeiro: Sextante, 2021), 40.
4 - Philip Kotler, Hermawan Kartajaya and Iwan Setiawan, Marketing 5.0: tecnologia para a humanidade, trans. André Fontenelle (Rio de Janeiro: Sextante, 2021), 41.
5 - Empregos que alternam entre o trabalho presencial no escritório da empresa e o trabalho remoto.
6 - Jason Dorsey and Denise Villa, Zconomy: como a geração z vai mudar o futuro dos negócios, trans. Bruno Fiuzza and Roberta Clapp (Rio de Janeiro: Agir, 2021), 75-76.
7 - Nota da Editora: Leia o artigo de Steve Moon, intitulado “O evangelho e a Geração Z”, na edição de março/2021 da Análise Global de Lausanne https://lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/agl-pt-br/2021-03-pt-br/o-evangelho-e-a-geracao-z.

Artigo originalmente publicado por Movimento de Lausanne. Reproduzido com permissão.

*****
Fonte:https://www.ultimato.com.br/conteudo/o-ensino-teologico-para-nativos-digitais