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terça-feira, 29 de setembro de 2020

Entendendo a frase “Farei desaparecer da face da terra o homem que criei, os homens e […] animais. Arrependo-me de havê-los feito”

29.09.2020

Do blog UNIVERSIDADE DA BÍBLIA, 28.09.2020


É verdade, sem sombra de dúvida, que Deus em sua onisciência sabe todas as coisas por antecipação, e nada que acontece o apanha de surpresa. No entanto, é erro inferir disso que o Senhor não pode ter emoções nem deve reagir de acordo com a depravação voluntária de suas criaturas. As Escrituras jamais o apresentam como um Ser impassível, incapaz de demonstrar tristeza ou ira, mas, bem ao contrário, o Senhor é um Deus que se preocupa, demonstra interesse e ama até os filhos de Adão mais ingratos, os que mais zombaram de suas promessas graciosas e tripudiaram sobre sua misericórdia.

As profundezas da corrupção em que a raça humana havia mergulhado nos dias de Noé eram revoltantes demais diante do Senhor, do Deus de justiça e santidade, pelo que o Todo-Poderoso reagiu com ira perante esses excessos segundo a exigência de sua pureza. Ele lamentou ter criado uma geração tão abominável de pervertidos morais, em que se haviam convertido os seres humanos antediluvianos. “Então se arrependeu o Senhor” (heb. wayyinnāḥem, niphal de nāḥam) certamente é antropomórfico (ou antropopático), visto que serve para comunicar a reação de Deus em face do pecado, mediante uma analogia com o ser humano (assim como quando a Bíblia se refere a Deus como tendo mãos, olhos, ou boca, como se ele dispusesse de um corpo físico dotado de órgãos).

É claro que, diante do inesperado, do que não se aguarda, é impossível verificar a surpresa num ser onisciente; todavia, sua resposta à humanidade envolveu um ajuste necessário à mudança que se verificou na atitude dos seres humanos para com Deus, a quem abandonaram. Visto que os seres humanos teimosamente rejeitaram ao Senhor e dele escarneceram à vontade, foi necessário que Deus os desprezasse. Qualquer alteração na atitude do povo para com o Todo-Poderoso requeria uma mudança correspondente na atitude de Deus para com a humanidade, mudança que se expressa pela palavra hebraica niḥam (“arrepender-se”, “sentir muita tristeza por causa de”, “mudar de ideia a respeito de”).

De modo semelhante, no tempo de Jonas, está registrado a respeito de Deus que ele se arrependeu (niḥam) do julgamento que ameaçara trazer sobre a cidade de Nínive, visto haver o Senhor observado o arrependimento sincero e ardoroso dos ninivitas depois de o profeta haver pregado a eles. A mudança de atitude deles para com eles Senhor fez com que o Todo-Poderoso mudasse sua atitude para com eles. Portanto, para enorme desgosto de Jonas, Deus permitiu que quarenta dias passassem e cancelou a destruição que ameaçara trazer-lhes. Isso demonstra que o Senhor pode mudar sua reação, deixando de lado a severidade para tratar do ser humano com graça e misericórdia, desde que as pessoas se acheguem em arrependimento e súplica.

No entanto, quando estão envolvidos propósitos de alguma aliança que Deus celebrou com seu povo, o Senhor verdadeiramente é incapaz de arrepender-se — como Balaão salientou em Números 23.19: “Deus não é homem para que minta, nem filho de homem para que se arrependa. Acaso ele fala, e deixa de agir? Acaso promete, e deixa de cumprir?” O contexto diz respeito ao propósito firme de Deus de abençoar a Israel, a despeito de todas as maquinações do rei Balaque, de Moabe, que tentou subornar Balaão para que este lançasse uma maldição sobre a nação hebraica. Nessa situação, o Senhor verdadeiramente é incapaz de arrepender-se.

No que diz respeito a pássaros e animais, o contexto de Gênesis 6.7 nada diz quanto a terem desagradado ou irado a Deus; por isso não se justifica que se interprete o propósito do julgamento como estando igualmente dirigido a eles, como se pertencessem à raça depravada dos homens. Era apenas uma consequência inevitável do dilúvio vindouro: ele deveria destruir não só a humanidade, mas também toda a criação animal que vivesse no ambiente do homem. O pronome “os” refere-se na verdade aos homens (heb. hā’ādām) — ou a raça humana — e não às várias espécies de aves e bestas que conviviam com a humanidade. Na verdade, a solicitude de Deus quanto à sobrevivência de todas as espécies de aves e animais expressou-se em sua ordem a Noé para que preservasse pelo menos um casal de todas as formas de vida, para que se propagassem.

Fonte: Enciclopédia de Temas Bíblicos
Respostas às principais dúvidas, dificuldades e “contradições” da bíblia
Gleason Archer
Editora : Vida – pgs: 71-72
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terça-feira, 8 de outubro de 2019

Reflexão Cristã: Coringa, um filme genial e perturbador

8.10.2019
Do blog VOLTEMOS AO EVANGELHO,7.10.19
Por  Joel Bueche Lopes


Tenho dificuldades em encontrar um título para este post. O novo filme do Coringa é daqueles que levamos para casa, dormimos com ele e acordamos com ele. Ou melhor, ele é que vai para casa connosco, dorme e acorda connosco. Vou tentar não dar spoilers.
A crítica divide-se entre extremos, mas é compreensível. É um filme pesado, denso, dark, perturbador, já explico em poucas palavras porquê. A interpretação de Joaquin Phoenix é genial, a banda sonora é de outro mundo e a fotografia em todos os aspetos é perfeita. O filme prende do início até ao fim, há críticos que apontam repetitividade e excesso em algumas cenas, mas acho que esse excesso funciona bem na medida em que nos quer fazer infrutiferamente avançar naquilo que é perturbador mas não pode ser evitado, faz parte porque é a realidade.
E esse é um dos pontos que podemos sentir até à nossa alma: a realidade crua e fria da natureza humana e da sociedade. O filme é niilista, existencialista, é uma espiral descendente e assustadora do caos, tanto do Coringa quanto de Gotham, tanto do indivíduo quanto do coletivo.
Coringa, Arthur Fleck, no início cuida exaustivamente da mãe, tem um trabalho como palhaço, mas aquilo que era uma estabilidade a caminhar sob a corda bamba, torna-se gradativamente numa queda vertiginosa de circunstâncias aliadas às perturbações mentais já presentes que terminam com ações hediondas destituídas de qualquer senso de certo e errado, de tristeza ou remorso. E isto reconhecemos no último Coringa que tivemos em “The Dark Knight”. (Não vou dar detalhes para não dar spoiler).
A própria Gotham já no início não está bem, mas deterioria-se a uma velocidade vertiginosa também e Coringa acaba por ser o símbolo que se torna inspiração para a maldade na cidade. Ao mesmo tempo podemos dizer que mesmo daqueles que esperávamos alguma bondade não encontramos. E este é o ponto perturbador do filme: não existe bondade no filme, não existe esperança, não há beleza, não há um herói, não há redenção. Não há um motivo pela qual ter uma cara feliz (“Put on a happy face”, frase que surge no filme), não há motivo pelo qual ser Happy (apelido que a mãe de Coringa lhe dá).
Temos um vilão que cria empatia nos habitantes revoltados com o sistema presente em Gotham e cria empatia com os espectadores da sala de cinema. O contexto, as circunstâncias, a educação levam Coringa a se tornar quem é, não sabemos o que sentir quanto a Coringa, a relativização do mal que ele apregoa é o que a personagem e a sua história e contexto nos fazem sentir em relação a ele. Somos sedutora e subtilmente levados a entrar na mente de Coringa.
A única ponta, quase invisível, de esperança e redenção que surge no filme é o pequeno Bruce Wayne (futuro Batman), a personagem em volta de quem, em escassos minutos, é apresentada inocência. A esperança só é associada a ele porque temos noção de em quem ele se tornará, caso contrário passar-nos-ia completamente ao lado.
Este filme não retrata a vitória do bem contra o mal, nem sequer a luta existente entre eles, mas o mal como um beco sem saída, onde todos são vítimas e perpetradores do mal. E de facto essa é a triste e crua realidade da humanidade sem um Redentor. É por isso que eu não tenho problema com este tipo de filmes, muito pelo contrário, é uma apologia da Depravação Radical, embora creia na Graça Comum, na imagem de Deus no homem e na transformação que o Herói dos heróis pode produzir no indivíduo e no coletivo, mas esse é exatamente o ponto: sem uma intervenção externa da Graça Comum e da Graça Salvífica, todos somos Coringa, todos estamos em Gotham e nem sequer há uma noção de certo e errado. Não há absolutos. O mal e o bem são relativizados. O mal é um total beco sem saída. Todos se tornam vítimas e perpetradores do mal.
Artisticamente e filosoficamente o filme é excelente, por retratar esta realidade tão bem. Podia ter diálogos melhores, mas posso dizer que é um filme genial. É um filme genialmente feio, retrata coisas feias e faz-nos sentir coisas feias, mas isso não é necessariamente mau, pelo contrário, é curativo, pois leva-nos ao anseio por beleza, por esperança, por salvação, por redenção, por paz, por harmonia, por bondade e esse é o caminho que nos leva à fonte da beleza, esperança, salvação, redenção, paz, harmonia e bondade – o Deus Triúno, Pai, Filho e Espírito Santo, que nos pode tirar do beco sem saída do mal, aquele que de facto coloca em nós um rosto genuinamente feliz.

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