22.05.2015
Do portal do MINISTÉRIO FIEL, 20.05.2013
Você já imaginou como seria estar há horas de distância da morte -
não como um idoso, mas como alguém condenado a morrer, embora inocente
de qualquer crime? O que você iria querer dizer àqueles que você
conhecem e que mais amam você? Você, certamente, lhes diria o quanto
você os amava. Você poderia esperar ser capaz de dar-lhes algum
conforto e confiança - apesar do pesadelo que você mesmo estava
encarando. Você iria querer abrir seu coração e dizer as coisas que são
mais importantes para você.
Tal atitude seria certamente digna de louvor. É claro, seria pura
natureza humana - porque foi isso que Jesus fez, como o apóstolo João
relata no Discurso do Cenáculo (João 13-17).
Há vinte e quatro horas de sua crucificação, o Senhor Jesus expressou
seu amor de maneira rara e delicada. Ele levantou da mesa da ceia,
amarrou uma toalha de servo em sua cintura, e lavou os sujos pés de seus
discípulos (incluindo, aparentemente, os de Judas Iscariotes; João
13:3-5, 21-30). Foi uma parábola ativa, como João explica: "Tendo amado
os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim" (v. 1).
Ele também falou palavras de profundo conforto a eles: "Não se turbe o vosso coração" (14:1).
Ainda assim, Jesus fez muito mais. Ele começou a mostrar a seus
discípulos "as profundezas de Deus" (1 Coríntios 2:10). Quando lavou os
pés de Pedro, lhe disse que ele entenderia suas ações apenas "depois"
(João 13:7). Igualmente para o que ele disse, pois ele começara a
revelar a seus discípulos a natureza interior de Deus. Ele é Pai, Filho e
Espírito Santo - a Santa Trindade.
A Glória do Mistério Revelada
Muitos cristãos tendem a pensar na Trindade como uma doutrina
antiprática e especulativa.
Mas o Senhor Jesus não pensa assim. Para
ele, ela não é especulativa nem antiprática - mas exatamente o
contrário. Ela é o fundamento do evangelho. Sem o amor do Pai, a vinda
do Filho, e o poder regenerador do Espírito Santo, simplesmente não
poderia haver salvação. (Unitarianos, por exemplo, não podem ter
expiação feita por Deus para Deus).
Durante seu Discurso de Despedida, Jesus explicou a Filipe que vê-lo é
ver o Pai (João 13:8-11). Ainda assim, ele mesmo não é o Pai; do
contrário, ele não poderia ser o caminho para o Pai (João 14:6). Ele
também está "no" Pai, e o Pai está "nele." Esta mútua habitação é, como
os teólogos dizem, "inefável" - além de nossa habilidade de compreender.
E ainda assim, não está além da habilidade da fé de crer.
Além disso, o Espírito Santo reside no âmago deste vínculo entre o
Pai e seu Filho. Mas agora, o Pai enviou seu Filho (que está "no" Pai).
Tal é o amor do Pai e do Filho pelos crentes, que eles virão e farão dos
crentes sua morada.
Como assim? O Pai e o Filho vêm habitar no crente através da
habitação do Espírito Santo (14:23). Ele glorifica a Cristo (16:14). Ele
toma o que pertence a Cristo, dado a ele pelo Pai, e mostra a nós. Mais
tarde, quando temos o privilégio de ouvir de longe a oração de nosso
Senhor, Jesus semelhantemente fala sobre a íntima comunhão com Deus que o
sustentou tão maravilhosamente: "tu, ó Pai, [estás] em mim e eu em ti"
(João 17:21).
De fato, isso é teologia profunda. Ainda assim, virtualmente a mais
profunda afirmação que podemos fazer sobre Deus é que o Pai está "no"
Filho e o Filho "no" Pai. Parece tão simples que uma criança pode ver.
Pois, qual palavra pode ser mais simples que no?
Ainda assim, isso também é tão profundo que as melhores mentes não
podem sondar.
Pois, sempre que buscamos contemplar a pessoa do Pai,
descobrimos que não podemos fazê-lo sem pensar em seu Filho (pois ele
não pode ser um pai sem um filho). Nem podemos contemplar este filho à
parte do Pai (pois ele não pode ser um filho sem pai).
Tudo isso é
possível porque o Espírito ilumina quem o Filho de fato é, como Aquele
único através de quem podemos vir ao Pai.
Assim, nossas mentes simultaneamente dilatam de prazer nesta trindade
em unidade, e ainda assim são esticadas além de suas capacidades pela
noção da unidade na trindade. Quase tão atordoante é o fato de que Jesus
revela e ensina tudo isso para ser a verdade do evangelho que mais
firma a vida, conforta o coração, dá equilíbrio e alegria (15:11).
A Trindade é tão vasta em significância porque pode trazer conforto a
homens levados ao limite pela atmosfera de tristeza prestes a
submergi-los. O Um trino é maior em glória, mais profundo em mistério, e
mais belo em harmonia do que todas as outras realidades na criação.
Nenhuma tragédia é grande demais para oprimi-lo; nada que é
incompreensível para nós o é para ele, cujo próprio ser é
incompreensível para nós. Não há trevas mais profundas do que as
profundezas do interior de Deus.
Talvez seja compreensível, então, que Jonathan Edwards pudesse escrever em sua Narrativa Pessoal:
Deus apareceu glorioso para mim, por causa da Trindade. Ela me
fez ter pensamentos exaltantes sobre Deus, que ele subsiste em três
pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. As mais doces alegrias e deleites
que experimentei, não foram aquelas que surgiram de uma esperança em meu
próprio bom estado; mas em uma direta visão das coisas gloriosas do
evangelho. Quando desfruto dessa doçura, ela parece me carregar acima
dos pensamentos de meu próprio estado; parece em tais momentos uma perda
que não posso suportar, desviar meus olhos do glorioso e prazeroso
objeto que contemplo sem mim, e voltar os olhos para mim mesmo, e meu
próprio bom estado.
Mas a revelação da Trindade está de fato relacionada com nosso "próprio bom estado."
A Maravilha da União revelada
O objetivo do ensino de Jesus não é meramente chocar nossas mentes ou
agitar nossas imaginações. É nos dar um senso do vasto privilégio da
união com ele.
Desde o princípio destas poucas horas de ministério, Jesus falou
sobre seus discípulos terem uma "parte" com ele (João 13:8). Ele também
explicou que o Espírito revela aos cristãos que eles estão "em Cristo" e
que ele está neles (14:20). Esta é uma união tão real e maravilhosa que
sua única analogia real - assim como seu fundamento - é a união do Pai e
do Filho através do Espírito. Os discípulos desfrutariam a união com o
Filho e, portanto, teriam comunhão com o Pai através do Espírito. "Vós o
conheceis," disse Jesus, "porque ele habita convosco e estará em vós"
(v. 17). Estas enigmáticas palavras não se referem ao contraste do
relacionamento entre o Espírito e os crentes da antiga aliança
("convosco") e da nova aliança ("em vós"). Elas são frequentemente
entendidas dessa maneira, mas Jesus está na verdade dizendo: "Vocês
conhecem o Espírito, porque ele está com vocês em mim, mas ele virá (no
Pentecostes) para estar em vocês como justamente Aquele que tem sido meu
constante companheiro (e nesse sentido, 'em vocês'). Assim, ele não é
outro senão Aquele que é o vínculo de comunhão entre o Filho e o Pai
desde toda a eternidade."
Assim, ser unido com Cristo é ter parte em uma união criada pela
habitação do Espírito do Filho encarnado que está ele mesmo "no" Pai
como o Pai está "nele." União com Cristo significa nada menos que
comunhão com todas as três pessoas da Trindade. Não é que a natureza
divina esteja infundida nos crentes. Nossa união com Cristo é espiritual
e pessoal - efetuada pela habitação do Espírito do Filho do Pai.
Note, então, o raro e delicado quadro que Jesus pinta para expressar a
beleza e a intimidade dessa união: ela envolve nada menos que o Pai e o
Filho fazendo morada no coração do crente (v. 23).
Significativamente, Jesus não exige que os crentes façam uma dúzia de
coisas - exceto crer e amar. Pois esta é a percepção ("naquele dia vós
conhecereis"; v. 20) da realidade e da magnitude dessa união com Deus
Trino através da união com Cristo que transforma o pensamento, o
sentimento, a disposição, o amor e, consequentemente, as ações do
crente. Nessa união, o Pai apara os ramos da vinha para dar mais fruto
(15:2). Na mesma união, o Filho guarda todos aqueles que o Pai lhe deu
(17:12).
Não me surpreende que John Donne tenha orado:
Invade meu coração, Deus trino; pois fazes tudo, menos bater;
respire, brilhe, e busque consertar; Que eu levante e permaneça, me
derrube, e empenhe Tua força para quebrar, soprar, queimar, e fazer-me
novo. Eu, como uma cidadela usurpada por outros, Trabalho para deixa-lo
entrar, mas ah, sem resultado; Razão, vosso vice-rei em mim, eu deveria
defender, Mas está cativo e se prova fraco ou falso. Ainda assim em
estima te amo, e seria alegremente amado, Mas estou noivo de teu
inimigo; Divorcie-se de mim, desate ou quebre o nó novamente, Leve-me
contigo, me aprisione, pois eu, a menos que me encantes, nunca serei
livre, Nem nunca serei puro, a menos que me arrebates. (Holy
Sonnets XIV – Santos Sonetos XIV)
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Fonte:http://www.ministeriofiel.com.br/artigos/detalhes/526/Uniao_com_o_Deus_Trino