Recentemente o Instituto LifeWay Research [1] divulgou o 
resultado de uma pesquisa que apontou que boa parte dos evangélicos não 
conhecem as doutrinas básicas da Igreja. O levantamento concluiu que 
temas como a salvação, a Bíblia e a natureza de Deus podem confundir os 
fiéis. De acordo com a publicação, quando perguntados ”Quando você 
morrer irá para o céu, pois confessou seus pecados e aceitou Jesus 
Cristo como seu Salvador?”, 19% disseram que não tem certeza. Cerca de 
26% dos entrevistados (todos membros batizados de suas igrejas) 
acreditam que “se uma pessoa está sinceramente buscando a Deus, poderá 
obter a vida eterna através de outras religiões além do cristianismo”.
O resultado dessa triste pesquisa poderia ser uma exceção; mas não é. 
Outros estudos comprovam a falta de conhecimento bíblico de uma parcela 
considerável de cristãos, prova disso é que no final de 2011 o Instituto
 de Pesquisas Barna apontou, como uma das seis principais tendências do 
Cristianismo na América, que a igreja está se tornando menos alfabetizada teologicamente. O que
 costumavam ser verdades básicas e universalmente conhecidas sobre o 
Cristianismo, são agora mistérios desconhecidos para uma grande e 
crescente parte de crentes.
Outro levantamento do mesmo instituto também indicou que 70% dos 
norte-americanos não são capazes de citar cinco dos dez Mandamentos e 
50% dos jovens do último ano do ensino médio pensam que Sodoma e Gomorra
 eram casados. Mas não para por aí. Pesquisa realizada com os 
“americanos nascidos de novo” conclui o seguinte: 31% acreditam que se 
uma pessoa é suficientemente boa pode ganhar um lugar no céu; 
aproximadamente a metade (47%) pensa que Satanás “não é um ser real 
senão um símbolo do mal”; 24% pensam que quando Jesus viveu na Terra ele
 pecou, tal como as demais pessoas; aproximadamente um em cada quatro 
pessoas (26%) dos cristãos creem que não importa a fé que pessoa siga, 
porque todas ensinam o mesmo.
Embora boa parte dessas investigações tenha sido realizada nos Estados 
Unidos, elas servem de alerta para a igreja evangélica brasileira. Não 
estamos falando de conhecimento teológico avançado, mas de doutrinas 
elementares e de um discernimento bíblico basilar da vida cristã.
A falta de conhecimento das Escrituras Sagradas é um problema grave e 
pode resultar em consequências trágicas para o cristão e para a igreja. O
 Senhor Jesus foi enfático ao dizer “Errais, não conhecendo as 
Escrituras, nem o poder de Deus (Mt 22:29), e em outra oportunidade ele 
advertiu: “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida 
eterna, e são elas que de mim testificam” (Jo 5.39).
Talvez, um dos principais motivos do analfabetismo bíblico entre os 
cristãos seja a falta de conhecimento doutrinário do próprio pastor. 
Lembro-me que uma pesquisa [2] realizada pelo editor e jornalista da 
Abba Press & Sociedade Bíblica Ibero-Americana, Oswaldo Paião, 
revelou que mais de 50% dos pastores e líderes nunca leram a Bíblia 
Sagrada por inteira pelo menos uma vez na vida. A principal 
justificativa apresentada para tamanha omissão era a falta de tempo.
Ao comentar o resultado do estudo, Paião afirma que “a falta de uma 
disciplina pessoal para determinar uma leitura sistemática, reflexiva e 
contínua das escrituras sagradas e pressão por parte do povo, que hoje 
em dia cobra por respostas rápidas, positivas e soluções instantâneas 
para problemas urgentes, sobretudo os ligados a finanças, saúde e vida 
sentimental”, seriam alguns fatores ensejadores deste cenário.
Ele ainda destaca que hoje em dia a maioria dos pastores corre o dia 
todo para resolver os problemas práticos e urgentes dos membros de suas 
igrejas e os pessoais. Outros precisam complementar a renda familiar e 
acabam tendo outra atividade, fora a agenda lotada de compromisso, por 
isso os ministros da atualidade, em geral, segundo Paião, são mais 
temáticos, superficiais, carregam na retórica, usam (conscientemente ou 
não) elementos da neurolinguística, motivação coletiva, força do 
pensamento positivo e outras muletas didáticas e psicológicas.
Evidentemente que a situação não pode ser generalizada. Deus sempre 
mantém o seu remanescente fiel. Entretanto, as palavras de Paião colocam
 em evidência uma realidade assombrosa e ao mesmo tempo ignorada por 
muitos obreiros. Como teremos cristãos conhecedores das doutrinas 
fundamentais da fé cristã se boa parte dos líderes não possui o 
conhecimento suficiente para instruir, edificar e fornecer alimento 
sólido para suas ovelhas?
Ovelhas que são criadas sem os nutrientes necessários para a jornada 
cristã são inconstantes e presas fáceis para caírem no engodo de 
qualquer vento de doutrina (Ef 4.14). Essa situação é agravada ainda 
mais quando dos púlpitos provém somente mensagens de autoajuda com forte
 apelo emocional, sem qualquer palavra de ensinamento para que o homem 
de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda a boa obra (2 
Tm 3.17).
Entretanto, apesar do encargo do obreiro (Hb 13.17), o cristão também é o
 responsável pelo seu próprio alicerce espiritual. Estar preparados para
 responder sobre a razão da nossa esperança (1Pe 3.15) e ser mestres 
pelo tempo (Hb 5.12) é uma obrigação de todo o crente. Isso porque, as 
verdades bíblicas não estão disponíveis somente aos obreiros, mas a toda
 e qualquer pessoa, principalmente porque o acesso direto ao 
conhecimento das Escrituras sem qualquer intermediário é um dos pontos 
fundamentais da igreja cristã a partir da reforma protestante.
Isso no leva a concluir que cada pessoa deve ser consciente e 
responsável pelo cumprimento do seu papel. O obreiro deve valorizar e 
efetivamente cumprir o seu chamado, oferendo alimento saudável e 
fortalecido para as suas ovelhas, sem a desculpa de não possuir o 
ministério do ensino, afinal, todo obreiro tem o dever de apresentar-se a
 Deus aprovado, que não tem do que se envergonhar, que maneja bem a 
palavra da verdade (2 Tm 2.15).
Notas:
Disponível em: http://www.cpadnews.com.br/integra.php?s=12&i=15503
Disponível em: http://noticias.gospelmais.com.br/ler-a-biblia-toda.html