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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Pare de sofrer: os segredos da Igreja Universal no Chile.

20.01.2016
Do portal da Agência Carta Maior, 19.01.16
Por Rodrigo Soberanes - Ciper (via Agência Pública)

A igreja brasileira oferece milagres em troca de dinheiro em seus templos chilenos, negócio que ninguém fiscaliza no país

Demétrio Koch

Em 13 de dezembro terminou a campanha de arrecadação de recursos que a Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) faz entre seus fiéis com a promessa de que, se fizerem sacrifícios, superarão a miséria e multiplicarão seus bens. Nesse dia, o bispo Couto viajou para a Fogueira Santa, em Israel, com os pedidos dos doadores. O fundador da Iurd, Edir Macedo, um dos homens mais ricos do mundo, segundo a revista Forbes, construiu um império milionário no Brasil

Na tela gigante, uma mulher brasileira conta que vendeu todos os móveis de sua casa. Como a quantia que obteve não era suficiente, recolheu latas de alumínio nas ruas para juntar US$ 3 mil e entregá-los em “sacrifício” a Deus. Quando chega ao fim o testemunho em forma de vídeo, as luzes do templo acendem e iluminam os rostos de cerca de 400 pessoas dispostas a buscar o próprio milagre.

A Iurd – cujo fundador, Edir Macedo Bezerra, 70 anos, multimilionário, foi acusado e absolvido por lavagem de dinheiro no Brasil – está em plena expansão no Chile, com o investimento de mais de US$ 6 milhões na construção de sua nova catedral e a compra de mais espaços na televisão e no rádio.É 22 de novembro em Santiago, domingo, o dia mais importante das celebrações da Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd), mais conhecida como Pare de Sufrir, o nome de seu famoso programa de televisão. Do lado de fora do templo, na rua Nataniel Cox nº 59, ao lado da grande bandeira chilena da Plaza de la Ciudadania, no centro da capital chilena, o domingo transcorre calmamente. Do lado de dentro, explode a euforia coletiva de quem esperou uma semana inteira para escutar o bispo brasileiro Francisco Couto explicar seus métodos para alcançar Deus – e os muitos milagres que Ele pode realizar por pessoas que enfrentam problemas financeiros ou de outra sorte.

Em questão de dias, este teatro de fachada descolorida, localizado no primeiro andar de um edifício na rua Nataniel Cox, será coisa do passado para a Iurd. O piso pegajoso e as poltronas de madeira serão substituídos, em cerca de dois meses, por um templo moderno, com capacidade para mais de 2 mil pessoas. A Iurd está também em busca de aumentar o alcance de seu programa Pare de Sufrir, transmitido atualmente pelo Telecanal. Recentemente, tentaram, sem sucesso, comprar um espaço no canal Televisión Nacional. Segundo fontes da rede estatal consultadas pelo Ciper, a venda de programas publicitários não se ajusta às políticas do canal.

Máquina de dinheiro

O maquinário para obter recursos trabalha rapidamente. Veja-se a chamada “Campanha de Israel”, de dezembro, na qual pedem aos fiéis que “voluntariamente” façam o “sacrifício de suas vidas” em troca do milagre que se traduzirá em dinheiro. Um sacrifício em que se incita os fiéis a vender tudo o que têm para entregar o dinheiro à igreja. Sem contar a ninguém, porque é um trato entre “você e Deus”.

A fórmula faz parte da chamada teologia da prosperidade e consiste, conforme observou o Ciper, em oferecer bem-estar econômico a troco de sacrifícios a Deus, também mensurados em dinheiro. A estratégia funciona tão bem que a Iurd está presente em 200 países. Edir Macedo aparece desde 2013 na lista da revista Forbes como dono de uma fortuna de US$ 1,1 bilhão e é considerado pela publicação como um dos líderes religiosos mais ricos do mundo.

Desde sua fundação no Brasil, em 1997, a Iurd construiu seu sucesso em meio a polêmicas alimentadas por episódios como o que presenciamos no domingo 22 de novembro, em que pessoas em situações de extrema precariedade econômica ou afetadas por problemas pessoais graves foram persuadidas a se desfazer de todos os seus bens para pagar por um milagre.

Domingo, 29 de novembro, catedral da Iurd na Nataniel Cox. O bispo Francisco Couto está de pé sobre o palco, de onde todos podem enxergá-lo. É alto e se veste de maneira impecável: calças azuis, colete e gravata. Sua articulação e presença de palco são notáveis.

Não demora dez minutos para que os fiéis comecem a murmurar orações com os braços para o alto e as mãos estendidas, como se tocassem algo invisível. Às 10h15, cerca de 400 pessoas estão prontas para se tornar dizimistas.

Quinze assistentes – mulheres de vestido cinza e homens com calças azuis e camisas brancas – estão dispostos em filas nos corredores laterais do templo, vigiando os fiéis e cuidando da logística da cerimônia: pedindo que levantem as mãos, caminhando pausadamente quando o momento é solene e apressadamente quando têm de distribuir folhetos de propaganda sobre as doações. Apelidados de “obreiros”, são jovens que se preocupam muito com a aparência e se postam ao pé do palco com bolsas azuis para receber o dinheiro. O público faz filas para lhes entregar o dízimo.

Francisco Couto relembra que aqueles que não possuem dinheiro vivo podem dar seu dízimo através de seus cartões de crédito ou débito na máquina que leva um de seus “obreiros”. Feita a doação, o aparelho imprime um comprovante de venda em nome da Iurd (ver comprovante).

Agora, o bispo coloca uma das bolsas azuis no pé de um baú dourado, localizado também sobre o palco, e inicia uma oração de cinco minutos para que Deus recompense com mais dinheiro no futuro aqueles que “fizeram um sacrifício”. O tecladista coloca uma música de fundo e ajuda o bispo a criar a atmosfera celestial que regozija os dizimistas.

A música para e o bispo Couto vocifera um sonoro “Graças a Deus!”. Escutam-se aplausos ensurdecedores, seguidos sem interrupção por um lembrete do mesmo bispo: o dinheiro que quase todos os presentes haviam acabado de entregar é endereçado a Deus, e não à Iurd.

“Um salto no Chile em 2016”

Segundo Francisco Couto, que chegou ao país há dois anos, vindo do Brasil, a Iurd “dará um salto no Chile em 2016” com a construção do novo templo. É um projeto planejado por mais de dez anos e está a dias de se concretizar.

Em 30 de setembro de 2004, a igreja iniciou sua expansão quando comprou uma propriedade próxima à estação de metrô Unión Latinoamericana. De acordo com as escrituras, o vendedor era a Sociedade Imobiliária Quimera Limitada, que cobrou pela transação UF 62.600, cerca de US$ 1,7 milhões à época. Pouco mais de um ano depois, em 24 de outubro de 2005, a igreja adquiriu um prédio perto dali, na rua Abate Molina nº 60. A empresa Rentaequipos Comercial, dona do imóvel, recebeu, naquela data, UF 34.313 pela venda, que equivaliam então a mais de US$ 1,1 milhões.

Com dois prédios sob sua propriedade, em 23 de outubro de 2007, o representante legal da Iurd, pastor José Roberto Aguilera Inostroza, apresentou à Prefeitura de Santiago pedido de autorização de construção. O projeto incluía a permissão para demolir um edifício levantado na década de 1960.

Nos documentos apresentados à Direção de Obras da Prefeitura, calcula-se que a construção custaria o equivalente a UF 76.390 à época, quantia igual a quase US$ 3 milhões. Entre os terrenos e as obras, o orçamento chegaria ao valor de UF 172.703, que atualmente corresponderiam a mais de US$ 6,2 milhões.

A arquiteta Paulina Rica Mery, encarregada da construção do templo, conta que as novas instalações servirão também para formar “jovens teólogos” que difundirão pelo Chile a doutrina da Pare de Sufrir.

No planejamento da obra, ao que o Ciper teve acesso, percebe-se a magnitude do “salto” que a Iurd pretende dar no país: a superfície total da construção é de 10.826 metros quadrados (mais de dois campos de futebol); a capacidade do templo principal é de 2.132 pessoas, incluindo deficientes físicos; há 29 apartamentos para hospedagem e 54 vagas de estacionamento. Somando os espaços de escritórios, refeitórios, alojamento e do templo, em um mesmo dia o local pode sediar um evento com 2.668 pessoas. O plano é que as instalações tenham oito andares. “É uma construção moderna que se adapta aos novos tempos. Não contém imagens nem símbolos religiosos a não ser a cruz. É um lugar de ativa operação social. A cor da fachada é terra-cobre e significa a integração à idiossincrasia chilena”, explica a arquiteta Paulina Rica.

A empresa construtora do novo templo é a IDC, da Argentina. Em fevereiro de 2014, o representante legal da Iurd, Aguilera Inostroza, fundou uma sociedade no Chile, também chamada Construcciones IDC Limitada, com o engenheiro argentino Daniel Adolfo Carrera, que aportou 99% do capital.

Agora, Aguilera Inostroza é parte de uma construtora na qual investiu simbólico 1% (segundo o Diário Oficial) e, por isso, está em condições de desenvolver no Chile projetos de construção, aluguel de equipamentos ou ferramentas, prestar serviços profissionais de arquitetura e “a realização de todas aquelas atividades comerciais ou industriais complementares ou anexas ao eixo principal”.

A nova sede da Iurd está quase pronta, e o velho Teatro Continental na rua Nataniel Cox está disponível para um novo locatário a partir deste mês, segundo confirmou ao Ciper a imobiliária GYG Propriedades.Apesar da enorme catedral que estão construindo, “Reinaldo”, o pastor do templo desta igreja em Ñuñoa – um dos 14 que a Iurd possui em Santiago, além dos 19 em outras regiões chilenas –, não está satisfeito com a recepção que a igreja teve no país. Tem encontrado – diz – “corações fechados”, o que os impede por enquanto de se estabelecer como esperavam. Mas assegura que os esforços não cessarão.

A nova catedral é um objetivo que a Iurd alcançou por meio da fé, afirma diante dos fiéis o bispo Francisco Couto: “Porque ter fé é estar seguro do que não se pode ver. E nós não temos dinheiro, mas temos fé”. Couto fala aos fiéis enquanto os prepara para o momento das doações, a atividade mais importante do ano: a “Campanha Fogueira Santa de Israel na Fé de Gideão”.

A mulher das latas

Uma semana antes, no sábado 14 de novembro, Ciper presenciou no mesmo templo da Nataniel Cox uma sessão mais íntima. Nesse dia, quem presidiu a cerimônia foi outro pastor, de menor hierarquia que Couto, que pediu que um grupo de nove mulheres de idade avançada e sapatos gastos se aproximasse ao palco. São mulheres que andam a pé pela vida e, nesse dia, compareceram ao “Culto das causas impossíveis”.

Entre elas, há uma senhora que chega apressada. Em seus braços, leva várias latas de alumínio recolhidas pelas ruas e que ela tenta, também com pressa, guardar em uma sacola plástica, porque a fala do pastor já havia começado. Desta vez, ele – um jovem de calças pretas e camisa branca de mangas dobradas – não está sobre o palco, e sim no mesmo nível dos fiéis. Olhando-as fixamente, pergunta ao grupo de mulheres evidentemente cansadas: “Vivem mal, têm problemas, como estão?”. Em coro, todas respondem que sim, passam por situações ruins.

O pastor está à frente da mulher que chegou com as latas de alumínio e lhe fala sobre a vida dos fiéis: “É como a água, não como o vinho”, afirma, com uma voz que denota o esforço para parecer empático.

– O que sabe a água? – pergunta.

– Nada, nada, nada – respondem as mulheres em coro.

– Veem? Assim estão suas vidas.

O pastor segue tentando convencê-las de que a única coisa que precisam fazer para converter água em vinho, de que a única condição para que suas vidas deixem de ser insípidas, é “obedecer a Deus” e, sobretudo, “sacrificar-se por Ele”. Chama atenção que, a partir daí, o jovem pastor continua sua fala imitando a forma de falar dos pastores brasileiros: muda o “s” por “sh” e o castelhano pelo portunhol.

A essa altura, o grupo de mulheres já está entregue: todas obedecem a cada um dos passos que indica o pastor. Fecham os olhos e levantam os punhos, desferem pequenos golpes no ar e sacodem timidamente seus corpos enquanto o pastor desenha moinhos de vento com seus braços, invocando a presença de Jesus Cristo, Deus e do Senhor. “Não aceito a miséria, a dor, a doença…!”, grita o pastor.

As mulheres, também em voz alta, repetem suas palavras.

“Não aceito”

Uma pesquisadora que incluiu a Iurd em seus estudos de doutorado – e que pediu ao Ciper que não revelasse seu nome – descreve os métodos utilizados pelo bispo Edir Macedo como “pragmáticos e modernos”, porque evitam, por exemplo, que os fiéis se cansem com as leituras da Bíblia, as quais precisam, por sua vez, ser interpretadas e analisadas.

Já em 1991, o jornal Folha de S. Paulo publicava um testemunho de Macedo que ilustrava o “não aceito” repetido nos templos da Iurd ao redor do mundo como um não aceitar as condições adversas da vida e se dedicar à fé: “Minha segunda filha nasceu com lábio leporino, uma grande deformação que praticamente eliminava o céu da boca. Eu sofri, eu gemi, ela não foi uma alegria – foi uma tristeza, uma agonia. No dia em que ela nasceu, eu decidi que não ficaria mais na igreja em que estava e que iria partir para anunciar o Deus que me fora revelado”.

Neste sábado, 14 de novembro, no Chile, pode-se observar um pastor praticando, no templo da Nataniel Cox, os ensinamentos de Macedo com o grupo de mulheres de sapatos gastos. O pastor pega uma Bíblia e diz aos fiéis: “Aqui” – e dá tapinhas sobre a capa do livro – “há mais de 8 mil promessas, mas vocês se perguntam por que suas vidas não se encaixam nelas”.

O pastor continua sua fala destacando a passagem bíblica de Gideão, que obedeceu a Deus e se livrou do medo de defender Israel dos ataques dos midianitas, vencendo exércitos de “centenas, milhares e milhões” com um grupo de apenas 300 soldados. E termina direto no ponto: obedecer a Deus, dentro deste templo que antes foi um cinema com poltronas de madeira, significa entregar o dízimo.

“Se ganha 1 milhão, doa mil; se ganha mil, doa cem; se ganha cem, doa dez”, sentencia o pastor. Em seguida, o homem pega uma bolsa azul e pede às mulheres que se aproximem para depositar suas moedas. Todas o fazem, incluindo a mulher que se sustenta coletando e vendendo lixo.

Fé em Gideão e a Lei de Culto

A Iurd diz a seus fiéis que Gideão foi capaz de escutar Deus e tomar a iniciativa de formar um exército, ignorando os “incrédulos” inaptos para a “batalha” de enfrentamento aos opressores. Gideão representa o “não aceitar” a miséria, a desgraça e demais calamidades que os pastores e bispos costumam citar em seus discursos.

No templo da Nataniel Cox, é recorrente escutar como bispos e pastores incentivam centenas de pessoas a serem como Gideão, liderando as próprias batalhas para se libertar de seus problemas. E esse sacrifício consiste em vender todas as suas propriedades, reunir o dinheiro, colocá-lo em um envelope e ofertá-lo a Deus através das mãos terrenas do pessoal da Iurd.

Segundo o Manual Criminológico para Investigar Seitas, da Polícia de Investigações chilena (PDI), a entrega dos bens dos fiéis a um grupo é uma das características das seitas. Outro traço são os líderes carismáticos. Também difundem “ideias de astúcia, audácia e heroísmo”. Relação de ruptura e desconfiança em relação à sociedade e compensações claras e próximas são outras características sectárias que o manual da PDI identifica. O texto foi elaborado pelo capelão evangélico da PDI, David Muñoz Condell, e editado pela instituição para a leitura de seus detetives.

As descrições do manual da PDI se assemelham muito às práticas que o Ciper observou durante mais de um mês nos templos da Iurd. Embora o grupo venha sendo observado com apreensão por algumas igrejas evangélicas tradicionais e autoridades, até agora não enfrentou problemas, pois formalmente cumpre as exigências mínimas que impõe a lei chilena.

A Iurd chegou ao Chile no início dos anos 1990. Em setembro de 1995, o Ministério da Justiça recusou sua solicitação para se tornar pessoa jurídica, mas, surpreendentemente, dois meses depois, quando a Controladoria já havia tomado a decisão, mas ainda não havia publicado o decreto do Diário Oficial, resolveu deixar o documento oficial sem efeito e conceder a autorização.

A razão alegada para a mudança de opinião foi o respaldo das principais organizações evangélicas, que asseguraram não se tratar de uma seita. É o que consta no decreto que autorizou a Iurd a se tornar pessoa jurídica: “Numerosas organizações religiosas evangélicas do nosso país, tais como o Conselho de Pastores Evangélicos do Chile e o Comitê de Organizações Evangélicas, respaldam a solicitação de personalidade jurídica para a Igreja Universal do Reino de Deus, expressando seu apoio e confiança na mencionada entidade, assinalando que esta não é uma seita, mas uma Igreja Evangélica cujos objetivos não são contrários à moral, à ordem pública e aos bons costumes”.

O Ministério da Justiça voltou a conceder a autorização à Iurd em 2002, quando a Lei de Culto passou a permitir que as igrejas evangélicas, que até então tinham personalidade jurídica de direito privado, pudessem ser entidades de direito público, um privilégio antes reservado apenas à Igreja Católica. O Estado chileno não exige prestação de contas à Iurd, como tampouco o faz com outras 2.680 instituições religiosas de direito público existentes, de acordo com informações da Oficina Nacional de Assuntos Religiosos (Onar), vinculada ao Ministério da Secretaria-Geral da Presidência.

Como a Lei de Culto não estabelece nenhum tipo de controle financeiro sobre as igrejas e não as obriga a entregar informações sobre seus dirigentes, o Ministério da Justiça não exerce fiscalização sobre a Iurd. Um controle que, por lei, deve realizar sobre outras organizações sem fins lucrativos: “Não conta este Ministério com faculdades legais para exercer a vigilância e fiscalização a respeito das igrejas de direito público”, lê-se no site do órgão. O nome do representante legal da Iurd no Chile só é conhecido porque foi necessário informá-lo por causa de alguns trâmites municipais, e não porque algum ente público o tenha em um registro oficial.

A lei está em vias de ser modificada e a Onar trabalha no assunto com outros atores. O Ciper teve acesso à prévia do anteprojeto de lei que a presidente Michelle Bachelet apresentará ao Congresso.

No artigo 15, o rascunho diz que as entidades religiosas “deverão informar ao Ministério da Justiça a nomeação de seus ministros de culto com o objetivo de manter atualizado o registro”. No artigo 16, se estabelece que devem ser informadas também as mudanças nos estatutos, enquanto o artigo 17 indica que “as omissões, inconsistências ou imprecisões, fruto do não cumprimento da obrigação de informar, serão tributadas pelo Ministério da Justiça”.

No entanto, as formas de obter dinheiro, como as que utiliza a Iurd, não foram questionadas até o momento. O anteprojeto tampouco define, por enquanto, os mecanismos de controle de suas finanças. O rascunho não contesta também atividades como a campanha de Gideão, que aconteceu no Chile em dezembro e promete milagres expressivos no caso de sacrifícios econômicos em benefício da igreja: pessoas inválidas que voltam a caminhar, portadores de câncer ou HIV/aids se curando por completo ou crianças mortas voltando à vida, segundo o discurso da Pare de Sufrir.

Um pacto secreto com Deus

A mecânica do templo da Nataniel Cox consiste em que somente os que de fato estejam convencidos peguem um envelope estampado com uma passagem bíblica. Em seu interior, encontrarão um papel com um espaço onde escreverão “meu pedido” a Deus, e que deve corresponder ao “tamanho de sua capacidade de sacrifício” – a quantidade de dinheiro que estão dispostos a colocar no envelope – da qual ninguém deve saber, pois é um “trato entre Deus e você”.

Os obreiros colocam os envelopes em uma pequena pilha de pedras em cima do palco – que representa o monte Carmelo – para que os fiéis subam e peguem com as próprias mãos. Forma-se uma fila que só para de andar quando alguém fica em dúvida diante dos envelopes, como se estivesse pensando em fazer ou não o sacrifício.

As “batalhas” dos adeptos da Pare de Sufrir duraram até 13 de dezembro. Tiveram dias para preparar seu sacrifício e evitar “o diabo e os incrédulos” que tentaram impedir seus atos de fé, como diz Francisco Couto, que busca a aprovação do público perguntado “amém?” – e “amém!” lhe respondem.

A Iurd foi questionada e se viu envolvida em processos judiciais contra seu fundador, Edir Macedo, no Brasil. Ainda assim, o controverso líder não esconde que sua empresa oferece salvação e milagres em troca de dinheiro. Em novembro de 2012 escreveu em seu blog: “Deus é justo e não deixará os que se sacrificam sem uma justa recompensa. Se você espera algo de Deus que ainda não chegou, há apenas dois motivos: seu sacrifício não foi verdadeiro ou seu sacrifício foi verdadeiro e Deus está preparando para que saiba lidar com as coisas grandes que chegarão”.“Têm até o 13 de dezembro para economizar. Ninguém mais deve ter esse envelope. Não devem contar a ninguém sobre seu sacrifício. É um diálogo entre vocês e Deus. Ignorem as piadas dos incrédulos. Vocês terão uma batalha como a de Gideão até 13 de dezembro, Satã tentará fazer com que duvidem de seu sacrifício, tentará fazê-los retroceder”, adverte o bispo brasileiro no palco. 

Ao menos para Edir Macedo a fórmula tem rendido grandes recompensas. Em 2013, comprou 49% das ações do Banco Renner do Brasil. Macedo não possui licença técnica para operar no mercado financeiro do Brasil, mas ainda assim levou a cabo essa operação que, de acordo com a Forbes, começou em 2009. Além disso, a revista o classifica como um produtor de meios de comunicação, já que é dono da Rádio e Televisão Record. O bispo vive em Atlanta, nos EUA, e é proprietário de uma filial da emissora de TV Telemundo, a W67CI.

Em 2014 inaugurou em São Paulo uma réplica da igreja do rei Salomão, que custou aproximadamente US$ 200 milhões. A Iurd se associa também a um partido político, o PRB, que nas últimas eleições legislativas do Brasil elegeu 21 deputados federais e 32 estaduais nas Assembleias Legislativas pelo país.

É esse o caminho, seguido no Brasil e em outros países onde a igreja já deu “o salto”, que agora buscam no Chile, segundo a pesquisadora que estuda a Iurd.

Críticos anônimos e as pistas invisíveis da Pare de Sufrir

Em 2005, o advogado chileno Eduardo Villarroel recebeu testemunhos de pessoas que haviam participado da campanha de Gideão entregando todo o seu patrimônio à Iurd e se sentiam enganadas. Villarroel, que representava o então deputado Iván Moreira, do partido União Democrática Independente, apresentou uma denúncia que terminou arquivada. Os acusadores não quiseram assinar como autores da ação, que acabou não avançando. “A denúncia saiu, foi divulgada àquela época, mas a discussão não foi adiante, os juízes… aí ficaram. A Igreja Universal não respondeu nada. Me deu a impressão de que houve algo oculto que começou a enterrar isso. Nós tínhamos todos os antecedentes, porque os querelantes tinham muito medo. Se tivessem assinado, a história teria sido diferente”, afirmou o advogado Villarroel ao Ciper.

Chegar ao cerne da Pare de Sufrir e seguir seus passos é difícil. É uma organização sem fins lucrativos capaz de gastar mais de US$ 6,2 milhões em um enorme templo sem levantar suspeitas ou objeções. De fato, na PDI informaram ao Ciper que não há neste momento nenhuma investigação contra a igreja. E o mais grave que constatou a reportagem é que aqueles que poderiam conceder alguma informação sobre quem controla a Iurd não o fazem por medo.

Se buscamos seus fundadores nos registros oficiais chilenos, nenhum deles aparece com um patrimônio compatível aos milhões que a igreja recebe e opera. A prosperidade que professam não está registrada em seu nome. A Iurd tem somente um domicílio legal no Chile, o da Nataniel Cox, nº 59, o velho imóvel que estão a ponto de abandonar. Ali, há registros de atividades organizacionais religiosas e vendas a varejo em armazéns especializados.

Jaime Mallea Illezca, o primeiro arquiteto da nova catedral, disse ao Ciper que deixou de ser o responsável pela obra, mas se recusou a explicar por quê. No local, há um cartaz no qual aparece o nome do arquiteto Ricardo Alegría Barba, porém esse profissional também respondeu que não supervisionou a construção do edifício e declinou a esclarecer a situação.Seu representante legal, o “pastor Roberto”, tem duas residências registradas no Diretório de Informação Comercial (Dicom), uma em San Miguel e outra em Peñalolén – ambas na região metropolitana de Santiago –, mas não há propriedades em seu nome na capital chilena. O representante anterior, José Luis Godoy Flores, tem um perfil similar.

Uma fonte do governo que esteve entre os detratores da Iurd quando esta chegou ao Chile recorda que, à época, houve um debate sobre a origem dos recursos da Pare de Sufrir: uns diziam que não era importante, outros falavam em “lavagem física e espiritual do dinheiro”. Esse ponto foi mencionado por duas fontes que pediram para permanecer anônimas e destacaram que, diante da falta de fiscalização, existe o risco de que certas organizações religiosas que movimentam grandes quantidades de dinheiro recorram a más práticas, já que ninguém pesquisa a origem de seus fundos nem seu destino. Lembraram também o que ocorreu por décadas no Chile com a Colonia Dignidad, a seita fundada pelo alemão Paul Schäfer que utilizou o benefício da isenção tributária para fazer todos os tipos de negócios ilícitos, incluindo tráfico de armas.

Os questionamentos dos métodos da Iurd existem há 25 anos, quando ela desembarcou no Chile: “Havia críticas teológicas que seguem vigentes, como o uso de dinheiro de pessoas deslumbradas, o jogo com os sentimentos e histerias coletivas que criam para em seguida pedir doações. Quem assiste às cerimônias se torna cumpridor de qualquer exigência que façam os pastores, ainda que tal exigência fira sua dignidade. Há antecedentes suficientes para que se inicie uma investigação judicial, mas as supostas penas do inferno freiam as denúncias dos fiéis enganados”, adverte um especialista em organizações religiosas que conhece bem o funcionamento da Iurd.

Assim se faz um “milagre”

Manhã de domingo, 22 de novembro. No interior do templo na rua Nataniel Cox, o bispo Francisco Couto relata aos fiéis que no dia anterior o fundador da Iurd, bispo Edir Macedo, falou, direto do Brasil, de uma mulher que apanhava “até sangrar” e era ameaçada de morte pelo marido. Por isso – disse –, ela vendeu todos os seus móveis e fez uma oferenda à Iurd. Em troca, Deus fez com que seu marido se arrependesse de espancá-la. E o bispo celebrou que essa senhora tenha recuperado o amor do homem que a agredia e a ameaçava. Couto contou a história até esse ponto naquele dia, pois o testemunho completo do que havia ocorrido com a mulher brasileira estava reservado para o domingo seguinte, 29.

Ela começou a contar sua história. Relatou que havia tentado se matar, que sua vida estava muito vazia e que já não restava outro caminho. Até que fez uma oferenda a Deus: colocou uma grande quantidade de dinheiro em um envelope que entregou à Iurd para que levasse suas orações à Fogueira Sagrada de Israel. O “pedido” que havia feito era que Deus afastasse seus pensamentos ruins e também lhe arranjasse um marido. “Então, você é um produto dessa oferenda!”, exclamou, quase gritando no palco, o bispo Couto, enquanto apontava para o marido da jovem.No domingo, 22 de novembro, não houve vídeos, a não ser um episódio que parecia fazer parte de um reality show caribenho.Quando Couto terminou de relatar o que havia dito Edir Macedo no dia anterior, pediu que subisse ao palco uma mulher de menos de 30 anos, que carregava um bebê nos braços, acompanhada por um homem de idade parecida, seu marido. Em seguida, solicitou que contassem aos presentes sobre seu “sacrifício”.

Nesse momento, o marido tomou a palavra e relatou que, depois que se casaram, decidiram fazer a mesma oferenda da mulher brasileira agredida pelo esposo: venderam sua mobília e entregaram o dinheiro à Iurd.

O homem contou que dormiam no chão e desenhavam ali a casa de seus sonhos e os carros que queriam comprar. De alguma maneira que não especificaram, Deus lhes deu esse e outros milagres, incluindo oito propriedades, um veículo modelo 2016 e uma filha (haviam se submetido a vários tratamentos de fertilidade sem resultado).

Dois sacrifícios para a Fogueira Santa em troca de muitos milagres. A lição foi reforçada uma e outra vez: para ele, era necessário dar tudo o que tinham, porque a Iurd disse que, quando se faz um trato com Deus, se trata de um “tudo ou nada”.

Domingo, 29 de novembro. No templo da Nataniel Cox estão cerca de 400 pessoas. Na última fileira está sentada a senhora que vimos chegar com as latas recolhidas da rua. Neste domingo, entretanto, ela não vem do trabalho. Seu visual está impecável: a cor rosa de seu gorro combina com o batom que aplicou aos lábios para a ocasião.

Entra o bispo Francisco Couto. Todos se levantam. Desta vez, não há falas iniciais. Apagam-se as luzes e, na tela gigante sobre o palco, é possível assistir ao testemunho da mulher brasileira que era agredida pelo marido. Suas palavras são traduzidas para o castelhano. Nas imagens, estão ela, seu esposo e um bispo da Iurd que os entrevistava.

Ela detalha as surras que levou, e o marido acena positivamente com a cabeça quando o bispo pergunta se estava endemoniado. Também diz “sim” quando lhe pergunta se sua vida mudou depois que a esposa vendeu os móveis para juntar o dinheiro necessário ao “sacrifício”. A mulher brasileira, então, retoma seu relato e diz que em determinado momento decidiu que seu “sacrifício” deveria ser ainda maior. Para isso, recolheu, em um só dia, centenas de latas nas ruas na tentativa de conseguir mais R$ 300.

O vídeo chega ao fim. As luzes do templo se acendem ao mesmo tempo em que o bispo Couto grita “Graça a Deus!” e os fiéis fazem tremer o local com seus aplausos. A senhora das latas também bate palmas.

Nesse momento, Couto faz um anúncio. Mudando seu tom habitual por outro que remete à intimidade, diz aos fiéis que “o Espírito Santo” elegeu a Igreja Iurd do Chile – entre todas as outras da América Latina – para representar o continente na Fogueira Santa, em Israel. E que será ele mesmo a fazer essa importante viagem para levar os “pedidos” daqueles que fizeram seu “sacrifício” ao mesmo lugar onde Gideão realizou suas façanhas. Será cansativo, explica, demorará 24 horas “entre viagens e períodos de espera em aeroportos, mas não importa”.

Se os planos da Iurd do Chile se concretizaram, Francisco Couto viajou no domingo, 13 de dezembro, em um avião até Israel. De acordo com ele, levaria os “pedidos” de todos os fiéis, entre os quais estava o da senhora das latas. Ela saiu do templo e regressou caminhando à sua casa. Quanto ao dinheiro dos “sacrifícios”, ninguém sabe onde foi depositado.

Reportagem originalmente publicada no site Ciper-Chile. Leia aqui o texto original em castelhano. Traduzido por Anna Beatriz Anjos.
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Fonte:http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Pare-de-sofrer-os-segredos-da-Igreja-Universal-no-Chile/6/35349

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Victor Frankenstein

20.01.2016

Do portal ULTIMATO ON LINE, 18.01.16
Por Carlos R. Caldas Filho*

“Frankenstein, ou o Prometeu moderno”, publicado em 1818, da autora britânica Mary Shelley, é considerado o primeiro livro de ficção científica da história. Alguém já disse, parafraseando Alfred Whitehead, que todas as demais obras de ficção científica não passam de notas de rodapé ao livro de Mary Shelley. Pode ser que haja um exagero – perdoável – nesta afirmação. 

A história tornou-se conhecida por demais: um cientista, por nome Victor Frankenstein, faz com que uma criatura construída a partir de pedaços de cadáveres ganhe vida. Só que a invenção perde o controle, e a criatura se volta contra o criador. A obra já foi adaptada várias vezes para a tela grande. O Frankenstein clássico do cinema é interpretado por Boris Karloff, em 1931. A imagem de Frankenstein que muita gente tem até hoje é de Karloff, a de um “homem” muito alto com a cabeça quadrada, presa ao pescoço por um parafuso. O muito bom Mel Brooks dirigiu em 1974 “O Jovem Frankenstein”, uma comédia deliciosa que esculhambou com a seriedade e a dramaticidade da obra original. O ótimo Gene Wilder é o Dr. Frederick Frankenstein, neto do Dr. Victor, que, a seu modo, tenta refazer a experiência do avô. Mas os críticos dizem que a adaptação mais fiel ao livro de Shelley é a de Kenneth Branagh, de 1993, com o próprio Branagh no papel do Dr. Frankenstein, e Robert De Niro como a criatura. O filme é denso e tenso, sinistro de tudo. A criatura vivida por De Niro é trágica, pensante, tem plena consciência de seus atos. Detalhe: popularmente, a criatura é conhecida como “Frankenstein”, mas no livro de Mary Shelley ela não tem nome, sendo chamada simplesmente de “demônio”, “criatura” ou “monstro”.

E eis que no final de 2015 surge mais uma adaptação da fantástica obra de Shelley: “Victor Frankenstein”, do diretor escocês Paul McGuigan, tendo o também escocês James McAvoy como o personagem título, e Daniel Redcliff (o Harry Potter) como Igor, seu assistente. McAvoy é tão belo quanto talentoso: fez um adorável Sr. Tumnus em “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-roupa”, saiu-se muito bem como o Dr. Nicholas Garrigan em “O Último Rei da Escócia” e está brilhando como o jovem Professor Charles Xavier na franquia “X Men”. Ele trabalha maravilhosamente bem no filme de McGuigan. Talvez esta tenha sido a melhor intepretação de McAvoy até agora. O Dr. Frankenstein de McAvoy é o estereótipo perfeito do cientista louco, brilhante, genial, completamente pirado, todavia, sem ser ridículo.

O filme é contado na perspectiva de Igor, bem interpretado por Radcliff. A trama mostra o que aconteceu até a criação da criatura, que, em duas horas de filme, aparece por cinco, no máximo dez minutos. Todo mundo no filme é obcecado: Frankenstein, obcecado em criar vida a partir da morte; Igor, em ajudar seu benfeitor; o policial Turpin, agente da Scotland Yard, obcecado em deter o que entende ser um grande sacrilégio; o milionário Finnegan, obcecado em obter poder a partir da utilização da criação de Frankenstein. A única personagem com a cabeça no lugar, por assim dizer, é Lorelei, a bela trapezista do circo onde também trabalhava o infeliz corcunda sem nome, que será chamado de Igor pelo Dr. Frankenstein, que o sequestra, resgatando-o das condições humilhantes e subumanas às quais esteve sujeito durante toda sua vida.

A obra de Shelley tem sido extremamente influente na cultura pop. Não apenas pela quantidade de adaptações para o cinema que já teve. A mencionada adaptação para o cinema de 1931 transforma o livro de Shelley em uma história de terror, e é assim que desde então Frankenstein tem sido entendido. Todavia, creio que não é por aí que se deva fazer a leitura desta obra1, pois Frankenstein fala do sonho do homem de criar a humanidade à sua imagem e semelhança. 

É ficção científica, com perdão do trocadilho, em estado quimicamente puro, mas que provoca questionamentos éticos e teológicos sérios. Robôs e androides, de certa forma, são extensões ou aplicações do sonho de Frankenstein. No caso, não evidentemente com matéria orgânica, mas sintética. Mas em ambos os casos, é o sonho do homem criar um ser semelhante a si. No caso do androide, um velho sonho humano, o exemplar mais perfeito na ficção científica é o Tenente Data, o “androide sensciente” da Federação de Planetas Unidos, da tripulação da Enterprise em “Jornada nas Estrelas: A nova geração”. Outra variação do tema de Frankenstein está nos seres humanos geneticamente modificados. Neste caso, não seria criação de vida a partir da morte, como na história de Shelley, mas a tentativa de melhorar a vida já existente. O mais famoso exemplo da ficção de seres humanos geneticamente modificados, conhecido por todos os nerds e geeks do planeta, é Steve Rogers, o Capitão América da Marvel. Ele é mais rápido, mais ágil, mais forte que os seres humanos comuns. 

Um filme como “Victor Frankenstein” permite discussões bioéticas, filosóficas e teológicas complexas e cada vez mais pertinentes, haja vista o avanço da engenharia genética. Até que ponto é lícito avançar em pesquisas científicas que envolvem a vida? Esta pergunta, e outras dela derivadas, precisam ser encaradas, à medida que o tempo passa e o que parece ser “coisa de filme” se torna parte do dia a dia. Recentes reportagens já divulgaram que há pesquisas em andamento para modificar embriões humanos, o que poderá, em um futuro não muito distante, possibilitar o nascimento de bebês com características físicas escolhidas por seus pais. Ou, tal como o Capitão América, bebês que, crescidos, serão mais rápidos, mais fortes e mais ágeis que os demais. Não estamos falando de enredo de filme, inspirado em menor ou maior grau, pela ficção de Mary Shelley, mas sim de algo que tem tudo para acontecer, e em pouco tempo. Neste caso, estes “super humanos” poderiam participar de competições esportivas, disputando contra os humanos “normais”? 

Há quem defenda manipulação genética com fins nobres, como por exemplo, evitar manifestação de alguns tipos de câncer ou de doenças degenerativas. Se (ou quando) isto acontecer, quem teria acesso a este tipo de medicina? Só quem puder pagar? Ainda mais importante: quem controlaria este tipo de pesquisa? E se algo desta natureza for usado com fins militares? Que resposta a ética teológica cristã poderia dar a perguntas como estas? Sei que para muitos estas questões poderão soar como distantes da realidade. Mas quanta coisa que parecia tão distante da realidade hoje faz parte do nosso dia a dia. Por isso os cristãos conscientes devem se preparar para responder perguntas complexas do campo da bioética, tais como as suscitadas por Victor Frankenstein. 

Prometeu, o do mito grego, roubou o segredo do fogo dos deuses e o deu aos humanos, possibilitando assim o avanço da tecnologia e da própria civilização humana. O Prometeu moderno, Frankenstein, fala de roubar de Deus o segredo da própria vida, e dá-lo ao homem. A que preço? Com que consequências? E o que os cristãos dirão quando estas coisas começarem a acontecer (se é que já não começaram)?

Nota:

1. Para um estudo de manifestações da cultura pop estilo “terror” em perspectiva da teologia cristã, a obra definitiva é “Sacred Terror: Religion and Horror on the Silver Screen”, de Douglas Cowan(Waco: Baylor University Press, 2008).

Carlos R. Caldas Filho É doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo e bolsista do PNPD-CAPES na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, em Belo Horizonte (MG).

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Fonte:http://www.ultimato.com.br/conteudo/victor-frankenstein

Infinitamente mais do que pedimos

19.01.2016
Do portal ULTIMATO ON LINE
DEVOCIONAL DIÁRIA
Por Martinho Lutero

terça-feira
Os meninos se empurravam dentro dela, pelo que disse: “Por que está me acontecendo isso?” Foi então consultar o Senhor. — Gênesis 25.22
A oração de Rebeca era para a sua própria vida e a dos seus bebês. Mesmo assim, sua oração resultou no nascimento de dois grandes líderes e de todos os seus descendentes. Ela pediu a Deus apenas um centavo, mas obteve uma montanha de ouro – algo que ela não havia esperado nem ousado acreditar. Ela fez uma oração modesta e razoável, e estava disposta a ficar satisfeita com pequenos benefícios.
Nós também temos o hábito de orar por coisas triviais e insignificantes. Quando oramos, não levamos em consideração a grande majestade de Deus. Se Deus quisesse nos dar somente coisas mesquinhas e superficiais, ele não teria nos dado tal modelo magnificente de oração: “Pai nosso, que estás nos céus! Santificado seja o teu nome. Venha o teu reino”. Deus tem abundância de recursos e ele não é avarento. Ele nos oferece generosamente os melhores presentes disponíveis no céu e na terra. Ele espera que nós peçamos a ele muitas coisas e que acreditemos sinceramente que obteremos o que pedimos. Quando recebemos o que pedimos na oração do Pai-Nosso, estamos, na verdade, recebendo céu e terra, e tudo o que eles contêm. Pois, quando pedimos que o seu nome seja santificado, que o seu reino venha, e que sua vontade seja feita, estamos esmagando inúmeros demônios e envolvendo o mundo todo em uma única oração.
Por sermos tão limitados e termos uma fé tão fraca, devemos observar cuidadosamente como Deus respondeu à oração de Rebeca. Deus não fica contente em nos proporcionar uma pequena quantidade daquilo que pedimos, mesmo se pedimos somente um pouco. Ele prefere nos dar “infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos” (Ef 3.20).
>> Retirado de Somente a Fé – Um Ano com Lutero. Editora Ultimato.
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Fonte:http://ultimato.com.br/sites/devocional-diaria/2016/01/19/autor/martinho-lutero/infinitamente-mais-do-que-pedimos/

Nota Pública sobre Debates Teológicos entre Calvinistas e Arminianos

19.01.2016
Do blog VOLTEMOS AO EVANGELHO

nota-debate-calvinistas-arminianos

Diante da recorrência de discussões e ataques pessoais realizados no âmbito eclesiástico, na internet e nas redes sociais, especialmente entre calvinistas e arminianos para a defesa de posições teológicas, NÓS, abaixo subscritos, vimos a público emitir a presente nota:

Reconhecemos a importância e a historicidade do debate teológico dentro da tradição cristã como meio de defesa e salvaguarda da verdade e, consequentemente, da ortodoxia bíblica.

Apoiamos a produção e a reflexão teológica realizada no ambiente da internet, em virtude de seu caráter democrático e do livre curso de ideias, como corolário da Reforma Protestante.

Repudiamos, todavia, que para a defesa de posições teológicas haja discussões e ataques pessoais realizados em nome da fé, que promovem dissensões, inimizades e escândalo ao nome de Cristo. Rejeitamos, assim, todo e qualquer conteúdo difamatório, ofensivo e jocoso, ainda que a pretexto do humor, produzido contra irmão de vertente religiosa diversa, que atente contra sua honra e imagem.

Entendemos incompatíveis com os preceitos que devem reger a conduta dos discípulos do Mestre posturas antiéticas que estimulam a zombaria, o desrespeito e o escárnio, baseado em dolo, distorções e mentiras.

Discordamos das publicações anônimas, especialmente quando realizadas com o objetivo de provocar animosidade e discórdia entre os cristãos. Além de ser proibido constitucionalmente (Art. 5o, IV), o anonimato atenta contra os princípios bíblicos da transparência (2Co 3.18), sinceridade (Tt 2.7) e honestidade (1Tm 2.2).

Relembramos que a calúnia, a injúria e a difamação são crimes contra a honra, de acordo com o Código Penal Brasileiro, os quais não se coadunam com o caráter do verdadeiro cristão, que deve expressar o fruto do Espírito (amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança), conforme Gálatas 5.22.

Aconselhamos os cristãos piedosos a não dar audiência a páginas e grupos que promovam tais ofensas.

Defendemos e incentivamos a exposição de convicções cristãs, bem como o debate teológico na internet e nas redes sociais, de modo irênico, ou seja, de espírito pacífico (Rm 12.18), com cordialidade e respeito. A discordância e a confrontação das ideias alheias, quando for o caso, devem ser conduzidas com ética, honestidade intelectual e de maneira objetiva, sem denegrir e atacar o oponente.

Asseveramos que a produção teológica é, sobretudo, um ato de glorificação a Deus. Discussões, pois, que se desenvolvem com o único propósito de vencer desavenças intelectuais, baseadas em disputas do ego, estão longe de honrar o nome de Cristo. A determinação bíblica de “falar o que convém à sã doutrina” (Tt 2.1) exige coragem, mas também responsabilidade, para os cristãos em geral e os pastores em particular, os quais devem ser, dentre outras coisas, “irrepreensíveis, honestos, moderados, aptos a ensinar, não contenciosos…” (1 Tm 3.2,3).

Citamos, a propósito, as palavras de J.I. Packer: “Se a nossa teologia não nos reaviva a consciência nem amolece o coração, na verdade endurece a ambos; se não encoraja o compromisso da fé, reforça o desinteresse que é próprio da incredulidade; se deixa de promover a humildade, inevitavelmente nutre o orgulho. Assim, aquele que expõe teologia em público, seja formalmente, no púlpito ou pela imprensa, ou informalmente, em sua poltrona, deve pensar muito sobre o efeito que seus pensamentos terão sobre o povo de Deus e outras pessoas”.

Recomendamos, assim, a importância da constante elevação bíblica e espiritual do nível dos debates teológicos. E caso nos deparemos com um irmão em Cristo com postura inadequada e não condizente com a ética e pratica cristãs, que ele seja repreendido, mas que em tal ato não falte educação e principalmente amor.

Reconhecemos as diferenças marcantes historicamente existentes entre as tradições calvinistas e arminianas, notadamente em referência à doutrina da salvação. Todavia, tais divergências teológicas não suplantam a comunhão cristã que deve haver entre os irmãos dessas duas vertentes da cristandade. Em uníssono, à luz das Escrituras Sagradas, enfatizamos que a salvação somente se alcança em Cristo somente, mediante a graça somente, pela fé somente (Rm 3.24; Ef 2.8; Tt 2.11).

Finalizamos com a menção ao episódio em que o calvinista George Whitefield foi perguntado se esperava ver o arminiano John Wesley nos céus. Sua resposta foi: “Não. John Wesley estará tão perto do Trono da Glória, e eu tão longe, que dificilmente conseguirei dar uma olhadela nele”. Assim se tratam verdadeiros cristãos que discordam em questões de soteriologia, mas que não fazem nada por contenda ou vanglória, e consideram os outros superiores a si mesmos (Fp 2.3). E, sobretudo, estes sabem o preço custoso com que foram comprados por Cristo Jesus.

18 de janeiro de 2015.

Augustus Nicodemus Lopes, pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia-GO.
Altair Germano, pastor da Assembleia de Deus – Itália, escritor.
Carlos Kleber Maia, pastor da Assembleia de Deus – RN, escritor de obra arminiana.
César Moisés de Carvalho, pastor da Assembleia de Deus, teólogo, escritor.
Ciro Sanches Zibordi, pastor da Assembleia de Deus na Ilha da Conceição em Niterói – RJ, escritor e articulista.
Clóvis José Gonçalves, membro da igreja O Brasil para Cristo e editor do blog Cinco Solas.
Davi Charles Gomes, Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie-SP.
Euder Faber Guedes Ferreira, pastor, presidente da VINACC (Visão Nacional para a Consciência Cristã).
Solano Portela Neto, presbítero da Igreja Presbiteriana do Brasil, conferencista e autor reformado.
Franklin Ferreira, pastor batista, diretor geral do Seminário Martin Bucer-SP.
Geremias do Couto, pastor da Assembleia de Deus, escritor.
Glauco Barreira Magalhães Filho, pastor batista – CE, professor universitário, escritor.
Gutierres Fernandes Siqueira, membro da Assembleia de Deus – SP, editor do blog Teologia Pentecostal.
Helder Cardin, pastor batista, reitor do Seminário Palavra da Vida-SP.
Jamierson Oliveira, pastor batista, teólogo, escritor.
Jonas Madureira, pastor batista, editor de Edições Vida Nova e professor do Seminário Martin Bucer.
José Gonçalves, pastor da Assembleia de Deus – PI, teólogo, escritor.
Magno Paganelli, pastor da Assembleia de Deus – SP, teólogo, escritor.
Marcos Antônio Moreira Guimarães, professor de teologia, obreiro da Assembleia de Deus – MT.
Mauro Fernando Meister, diretor do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper-SP.
Norma Cristina Braga Venâncio, escritora, membro da Igreja Presbiteriana do Pirangi, Natal-RN.
Paulo Romeiro, pastor, teólogo, escritor.
Renato Vargens, pastor da Igreja Cristã da Aliança de Niterói-RJ.
Solon Diniz Cavalcanti, pastor, teólogo, presidente do CEAB Transcultural.
Thiago Titillo, pastor batista, professor, escritor.
Tiago José dos Santos Filho, pastor batista, editor-chefe da Editora Fiel, diretor pastoral do Seminário Martin Bucer-SP.
Uziel Santana, presidente da Anajure (Associação Nacional de Juristas Evangélicos).
Valdeci do Carmo, obreiro da Assembleia de Deus, teólogo, coordenador do curso de Teologia das Faculdades Feics, Cuiabá/MT.
Valmir Nascimento Milomem Santos, teólogo da Assembleia de Deus, professor universitário, editor da revista Enfoque Teológico.
Wallace Sousa, evangelista da Assembleia de Deus, DF, escritor, pós-graduado em teologia, coordenador da União de Blogueiros Evangélicos.
Wellington Mariano, pastor da Assembleia de Deus, escritor e tradutor de obras arminianas.
Wilson Porte Junior, pastor batista e professor do Seminário Martin Bucer.
Zwinglio Rodrigues, pastor batista, escritor de obra arminiana.
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Fonte:http://voltemosaoevangelho.com/blog/2016/01/nota-publica-sobre-debates-teologicos-entre-calvinistas-e-arminianos/

A definição bíblica de casamentoo

19.01.2016
Do portal ULTIMATO ON LINE, 16.01.16
DEVOCIONAL DIÁRIA
Por John Sttot


sábado


Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne. [Gênesis 2.24]
O casamento tem sofrido tantas ameaças no mundo ocidental de hoje que é bom relembrarmos sua base bíblica. Em Gênesis 2.24 encontramos a definição bíblica para casamento; ela é ainda mais importante porque foi endossada pelo Senhor Jesus Cristo (cf. Mc 10.7). Este é um relacionamento com cinco características especiais:

  • Heterossexual. O casamento é a união entre um homem e uma mulher. Uma parceria homossexual jamais poderá ser vista como uma alternativa legítima.
  • Monogâmico. “Um homem” e “uma mulher”, ambos no singular. A poligamia pode ter sido tolerada por algum tempo, na época do Antigo Testamento, mas a monogamia sempre foi o propósito de Deus, desde o princípio.
  • Compromisso. Quando um homem deixa a casa de seus pais para se casar, ele deve “unir-se” à sua mulher, juntar-se a ela como cola (como sugere o texto equivalente no Novo Testamento). O divórcio deve ser permitido apenas em uma ou duas situações definidas. “Mas não foi assim desde o princípio”, Jesus insistiu (Mt 19.8). Além disso, o que se perde com o divórcio é precisamente o compromisso, que é fundamental para o casamento.
  • Público. Antes de partir para o casamento é preciso “deixar” os pais, e esse “deixar” indica que esta é uma ocasião social pública. A família, os amigos e a sociedade têm o direito de saber o que está acontecendo.
  • Físico. “Eles se tornarão uma só carne”. Se por um lado, o casamento heterossexual é o único contexto dado por Deus para a união sexual e a procriação, por outro, a união sexual é um elemento tão importante no casamento que a sua não consumação deliberada é, em muitas sociedades, motivo para a sua anulação. Adão e Eva certamente não experimentaram nenhum constrangimento com relação ao sexo. “O homem e sua mulher viviam nus, e não sentiam vergonha” (Gn 2.25).

Assim, o casamento de acordo com o propósito de Deus quando de sua instituição é uma união heterossexual e monogâmica que envolve um compromisso amoroso mútuo, por toda a vida; deve ser firmado depois do deixar público dos pais e consumado na união sexual.
Para saber mais: Efésios 5.21-33
>> Retirado de A Bíblia Toda, o Ano Todo [John Stott]. Editora Ultimato.
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Fonte:
http://ultimato.com.br/sites/devocional-diaria/2016/01/16/autor/john-stott/a-definicao-biblica-de-casamento/

Sexo não é problema. Lascívia, sim

19.01.2016
Do portal ULTIMATO ON LINE


Quem é assinante da revista Ultimato já pode ler todo o conteúdo da edição de janeiro/fevereiro no Portal. Basta acessar a página “edição atual” e navegar pelas seções e colunas da revista que, neste número, aborda um problema antigo e sério: a imoralidade sexual.

A Bíblia não esconde a questão. Desde Gênesis, não faltaram pessoas com dificuldades no controle de seus ímpetos sexuais. Alguns casos são absurdos, como o estupro de Diná.

Mas também há exemplos positivos, como o de José do Egito. Infelizmente, prega-se mais sobre o fracasso de Davi com Bate-Seba do que sobre a vitória de José diante da mulher de Potifar.

A imoralidade sexual também é um tema abordado por Paulo. Ele é direto quando aconselha os irmãos de Tessalônica: “abstenham-se da imoralidade sexual” (1 Ts 4.3).

E como disse Joshua Harris, “sexo não é problema (lascívia, sim)”, vale a pena separar as duas coisas.

Esta edição também traz artigos sobre temas atuais, como terrorismo. Além disso, você lê uma reportagem sobre a vida de travestis que se prostituem em Belo Horizonte (MG).

Tudo disponível a poucos cliques. Confira!


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Fonte:http://www.ultimato.com.br/conteudo/sexo-nao-e-problema-lascivia-sim