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quarta-feira, 24 de abril de 2024

A Reforma Protestante e a Liberdade Religiosa

24.04.2024

Do portal CPADNEWS, 29.10.21

Por pr. Douglas Baptista

No período de transição da Idade Média e Tempos Modernos, apesar do avanço do humanismo que valorizava os direitos individuais do cidadão, a religião católica permanecia com grande influência na vida econômica, social e política do mundo civilizado.


O Estado apoiava-se na Igreja em busca de legitimação, e assim, a Igreja superava o poder do Estado (ARRUDA, 1982, p. 32).


Não obstante, todo o poder desfrutado pelo catolicismo, a divulgação e propagação dos ideais dos humanistas despertaram nos cristãos a necessidade de reformar a Igreja, especialmente o Clero.


O que se desejava era mudar a estrutura da igreja e coibir os desmandos e os abusos cometidos pelas autoridades eclesiásticas. O Clero era contrário, pois temia perder privilégios.


Contudo, a Reforma foi deflagrada em 1517, na Alemanha. O Monge Martinho Lutero rompeu com o catolicismo. Os príncipes alemães apoiaram a Reforma porque desejavam se livrar do jugo do Papa e do Imperador católico.


Os príncipes aproveitaram para tomar as terras da Igreja Católica e anexá-las às propriedades do Estado.


Não obstante, foi na Reforma que, pela primeira vez, um movimento revolucionário questionou abertamente o papado e os dogmas da Igreja Católica.


A Reforma rompeu a unidade religiosa da Europa Ocidental e quebrou o monopólio mantido até então pelo catolicismo.


A Reforma estabeleceu as bases para a “tolerância religiosa” e para separação da Igreja do Estado (CHEHOUD, 2012, p. 32).


Na Alemanha, o protesto dos príncipes externou o desejo dos governantes de libertarem-se do controle da Igreja Católica.


Em 1529 na Dieta de Spira, quando o Papa e o Imperador tentaram impor o catolicismo na Alemanha, os príncipes alemães não cederam o que lhes rendeu a alcunha de “protestantes”.

Na França em 1534, Calvino recebeu apoio dos humanistas para reformar a Igreja em território francês. Expulso para Genebra na Suíça, Calvino alcançou a Itália, França, Holanda, Inglaterra e a Escócia.


Na Inglaterra, em 1534, o rei Henrique VIII rompeu com o catolicismo. O pretexto usado foi à recusa do Papa em anular seu casamento.


O motivo real foi escapar da influência do Clero e tomar posse dos bens e das terras da Igreja para o Estado. O rei declarou-se chefe da nova Igreja Anglicana e manteve a união entre a nova Igreja e o Estado.


Nesse período, foi instituída a Contrarreforma Católica. Conflitos, mortes, perseguições, alianças políticas, traições e destruições diversas foram protagonizadas por ambos os lados em nome da Religião.


Apesar dos excessos cometidos, foi a partir da Reforma que gradualmente os conceitos de liberdade, tolerância religiosa e separação entre Igreja e Estado foram alçados ao status de direito fundamental (CHEOUD, 2012, p. 33).


Significa que a Reforma, entre outros aspectos, estabeleceu os princípios para a liberdade religiosa, isto é, o direito de crer ou de não crer, o direito de o cidadão pertencer à religião de sua escolha sem a interferência do Estado.


Em tempos atuais, por meio da cultura do cancelamento e do assassinato de reputações, pessoas inescrupulosas se esforçam para enfatizar as falhas e desconstruir a Reforma liderada por Lutero.


A ironia dessa ingratidão e ressentimento com Lutero, reside justamente no uso da liberdade religiosa desfrutada por tais pessoas para fazer suas críticas à Reforma.


O que não sabem ou não querem reconhecer é que tal direito de criticar o mau uso da Religião foi estabelecido e conquistado pelo Reformador da Igreja.


Somente a Fé, somente as Escrituras, somente Cristo, somente a Graça e somente a Deus a Glória!


Pense Nisso!


Douglas Roberto de Almeida Baptista


Referências Bibliográficas


ARRUDA, José J. A. História Moderna e Contemporânea. Ática: São Paulo, 1982.
CHEHOUD, Heloísa Sanches Querino. A Liberdade Religiosa nos Estados Modernos. Almedina, 2012.

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Fonte:https://www.cpadnews.com.br/a-reforma-protestante-e-a-liberdade-religiosa/

quinta-feira, 16 de novembro de 2017

Pentecostalismo e protestantismo

16.11.2017
Do portal CPADNEWS, 31.10.17
Por Valdir Nascimento

Em tempos de comemoração do aniversário da Reforma Protestante, que neste ano completa 499 anos, é comum reacender a discussão a respeito de quem faz parte da tradição protestante dentre os grupos do segmento evangélico. É uma espécie de análise do divino direito hereditário ao movimento reformista do início do Século XVI, conduzido em regra por certo elitismo teológico que insiste em monopolizar um evento que combatia esse tipo de postura.
Nesta mesma época do ano passado chamei a atenção para a complexidade e heterogeneidade do movimento reformador, com implicações eclesiásticas, morais, políticas e econômicas. Em seu cerne estava o protesto contra a corrupção religiosa e a venda de indulgências pela igreja, assim como a defesa de que cada cristão pudesse, por si só, ler e compreender as Escrituras. A Reforma combateu, entre outras coisas, a autoridade central e o monopólio clerical como fonte única e oficial de interpretação da Bíblia.
É interessante que ainda hoje aqueles que afirmam possuir a legitimidade para falar em nome da Reforma contrariem esse pressuposto protestante, tentando excluir outros segmentos cristãos que não seguem algum ponto da doutrina que professam, indo além dos cinco solas característicos do protestantismo: Soli Deo Gloria (Glória somente a Deus); Sola Fide (Somente a Fé); Sola Gratia (Somente a Graça); Sola Christus (Somente Cristo); Sola Scriptura (Somente as Escrituras).
Nesse sentido, há quem exclua o pentecostalismo da grande tradição protestante, ao argumento de que o movimento carismático não se enquadra nas bases doutrinas das igrejas históricas. 
Antes de abordar esse aspecto, devo dizer o óbvio ululante, especialmente aos jovens reformados que parecem acreditar nisso: o cristianismo não foi iniciado com a Reforma Protestante! Embora a Reforma tenha sua relevância para a história em geral e para o cristianismo em particular, representando uma correção de percurso na igreja cristã, com significativa contribuição para os avivamentos espirituais que se seguiram, o movimento não pode ser idealizado como a síntese delimitadora da fé cristã. 
Em outras palavras, a Reforma Protestante deve ser estudada, valorizada e considerada historicamente, mas jamais idolatrada. A Bíblia é a chave de interpretação da Reforma, e não o contrário. A Reforma é uma das provas da ação de Deus na história, mas Deus não se limita aos próprios eventos históricos. 
Ainda assim, a tentativa de apropriação desse evento por parte da cristandade deve ser rechaçada. Tal se dá, como escreveu o amigo César Moisés Carvalho, embora falando sobre outra perspectiva, “porque somos cristãos e não há motivo algum para descrer em doutrinas basilares que não são propriedade de nenhuma das expressões do cristianismo, ou seja, não são católicas, evangélicas, ou pentecostais, mas simplesmente cristãs” (1).
Em sua obra “Revolução Protestante” o teólogo anglicano Alister McGrath observa que a fase emergente da Reforma foi sacudida por intensos debates teológicos e divergências marcantes. A respeito da salvação, justificação e predestinação, McGrath diz que, apesar dos embates históricos entre luteranismo, calvinismo e arminianismo, “todas as três permanecem opções relevantes para o protestantismo atual e a passagem do tempo não corroeu a credibilidade de nenhuma delas nem as tensões que geraram no movimento protestante mais amplo. Todas elas afirmam os temas centrais da Bíblia – embora de diferentes formas e com resultado diferentes” (2). Por esse motivo, o teólogo inglês sustenta que o protestantismo pertence à categoria abrangente do escritor C. S. Lewis de “cristianismo puro e simples”, no fato de que compartilha as crenças essenciais do cristianismo como um todo. 
Diante disso, não há como negar a identificação do pentecostalismo com os postulados da Reforma Protestante. No livro já citado McGrath escreve um poderoso capítulo intitulado “Línguas de Fogo: A revolução pentecostal do protestantismo”, no qual enfatiza a vinculação do pentecostalismo com a teologia protestante, ainda que possua distintivos marcantes na ênfase doutrinal e nos padrões de adoração. 
De acordo com o autor, o pentecostalismo emergiu historicamente da tradição de santidade norte-americana e enfatiza o lugar da Bíblia na vida e tradição cristãs. De forma mais contundente McGrath escreve:
“O pentecostalismo deve ser entendido como parte do processo protestante de reflexão, reconsideração e regeneração. Ele não é consequência de uma “nova Reforma”, mas o resultado legítimo do programa contínuo que caracteriza e define o protestantismo desde o seu início. O pentecostalismo, como a maioria dos outros movimentos do protestantismo, fundamenta-se no que aconteceu antes. Seu igualitarismo espiritual é claramente a redescoberta e reafirmação da doutrina protestante clássica do “sacerdócio de todo os crentes”. Sua ênfase na importância da experiência e na necessidade de transformação remonta ao pietismo anterior, em especial, como desenvolvimento na tradição da santidade. Contudo, o pentecostalismo uniu e casou essas percepções em sua própria percepção distintiva da vida cristã e de como Deus é encontrado e anunciado. Ele oferece um novo paradigma marginal e levemente excêntrico pelos crentes da corrente principal; cem anos depois, o pentecostalismo cada vez mais, passa, ele mesmo, a definir e a determinar essa mesma corrente principal”(3).
O pentecostalismo, portanto, longe de contrariar o protestantismo, deu-lhe vigor e dinamismo, por meio do seu programa evangelístico e missionário, aliado à ênfase no Espírito Santo para exaltar e testemunhar o senhorio de Cristo. 
Mas não somente isso, a herança teológica pentecostal é distintamente relevante para reacender o ideal protestante do sacerdócio universal, na medida em que realça o valor da experiência e a convicção de que as narrativas de Atos-Lucas possuem valor normativo para a igreja cristã. Como escreveu Robert Menzies: “As históricas de Atos são as nossas histórias, e as lemos com expectativa e ânsia. História de poder do Espírito Santo, que capacita os discípulos comuns a fazer coisas extraordinárias para Deus” (4).
por Valmir Nascimento


Referências

1. CARVALHO, César Moisés. Revelação, experiência e teologia. Revista Obreiro Aprovado, n. 75. Rio de Janeiro: CPAD, 2016, p. 32.
2. MCGRATH, Alister. Revolução protestante. Brasília: Editora Palavra, 2012, p. 266.
3. MCGRATH, Alister, 2012, p. 428.
3. MENZIES, Robert. Pentecostes: Essa história é nossa história. Rio de Janeiro: CPAD, 2016, posição 305.
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Fonte:http://www.cpadnews.com.br/blog/valmirnascimento/enfoque-cristao/125/pentecostalismo-e-protestantismo.html

sábado, 21 de janeiro de 2017

A importância da leitura para o alicerce da fé cristã

21.01.2017
Do blog COSMOVISÃO CRISTÃ, 21.11.16
Por Valdir Nascimento*

As pessoas que desejam ter uma fé sólida e aprender a defender consistentemente as doutrinas do Cristianismo precisam desenvolver o hábito da leitura. Embora as Escrituras Sagradas sejam, como já disse, a fonte primária da defesa da fé cristã, os livros – de bons autores – servem como guias e nos ensinam a entender melhor alguns pontos da fé cristã, lançando luz sobre questões bíblicas complexas e, por via de consequência, contribuindo para uma boa formação apologética.
Infelizmente o brasileiro lê pouco. Não obstante o analfabetismo tenha recrudescido em nosso país nos últimos anos, o hábito de leitura ainda é tímido. A questão é que muitos dos nossos compatriotas foram do analfabetismo à TV sem passar na biblioteca[1]. O brasileiro lê, em média, 1,8 livro/ano. Um estudo realizado em 2005 pelo Instituto Paulo Montenegro apontou que 74% da população brasileira, entre 16 e 64 anos de idades, não sabem ler ou possuem muita dificuldade em entender o que leem[2]. Em 2011, o Instituto Pró-Livro apontou que em 2007 55% da população era considerada leitora (havia lido pelo menos um livro, inteiro ou em partes, nos três meses anteriores à pesquisa). Já em 2011 o índice diminuiu para 50% da população.
Sobre o ambiente religioso, Altair Germano também adverte em seu livro O cristão e o hábito da leitura que “o líder cristão ainda não reconhece no ato de ler o seu valor para o desenvolvimento intelectual, adequação de comportamentos à nova realidade cultural e social, sem falar da possibilidade de conduzir a igreja, o ministério ou grupo que lidera a um processo de desenvolvimento e entendimento a realidade”, o que segundo ele produziria uma igreja mais atuante, conhecedora dos grandes desafios deste século e capaz de adequar suas práticas ao novo contexto[3].
Não podemos generalizar. Muitos líderes cristãos compreendem o valor e a importância do ato de ler para o crescimento intelectual e espiritual da igreja. Mas, poucos incentivam ou idealizam algum programa em suas congregações com o objetivo de disseminar esse hábito. A criação de pequenas bibliotecas no ambiente da igreja seria uma importante ação eclesiástica, que certamente beneficiaria a vida de muitos crente, inclusive jovens.
É preciso reacender em nossas igrejas o apreço pela leitura, afinal, ela é ingrediente vital no processo de tomada de consciência e até mesmo fervor espiritual. Em seu livro, Altair Germano demonstra como a leitura foi importante no Antigo e Novos Testamentos, entre os pais da igreja, na Reforma Protestante, nos períodos de reavivamento e das missões modernas.
Altair Germano escreve:
“Os benefícios da leitura, uma vez revelados, poderão influenciar positivamente na tomada de consciência sobre a necessidade de ler. O interesse pela leitura tende a crescer quando se sabe que, além da emancipação crítica e da autonomia como indivíduo, o hábito de leitura proporciona o desenvolvimento intelectual, o enriquecimento do vocabulário, a fluência verbal, a apropriação dos bens culturais, a informação e o conhecimento, a saúde emocional e psíquica, o estímulo e saúde mental e comunhão com as grandes mentes”.[4]
No clássico A vida intelectual, A.D. Sertillanges propõe que a leitura é o meio universal para o aprendizado, e é a preparação próxima e remota para a produção. Ele escreveu:
“Nunca pensamos isoladamente: pensamos em sociedade, em colaboração imensa; trabalhamos com os trabalhadores do passado e do presente. Graças à leitura, pode comparar- se o mundo intelectual a uma sala de redacção ou repartição de negócios, onde cada qual encontra no vizinho a sugestão, o auxílio, a crítica, a informação, o ânimo de que carece. Portanto, saber ler e utilizar as leituras, é necessidade primordial que o homem de estudo não deve esquecer”.[5]
Quando lemos, nos beneficiamos da pesquisa e do conhecimento de pensadores do presente e do passado. Eles abrem nossas mentes, instrui nosso pensamento e nos fornecem informações valiosas. Nesse sentido, Sertillanges vai dizer que o contato com escritores geniais nos faz granjear vantagens imediatas de elevar-nos a um plano alto; somente pela sua superioridade eles conferem um benefício sobre nós mesmos antes que nos ensinem alguma coisa[6].
Quanto à forma de leitura, cabe aqui dois conselhos: um de Sertillanges e outro de C. S. Lewis.
Sertillanges dizia que embora a leitura seja importante, ela deve ser feita na quantidade adequada. Por isso, ele diz: Leia pouco!. Esse conselho parece paradoxal, já que estamos falando da importância e da necessidade de leitura. Mas o que Sertillanges tem em mente é a qualidade da leitura, e nem tanto a quantidade. Ele diz que a leitura deve ser feita com inteligência, pois
“(…) a leitura desordenada não alimenta, entorpece o espírito, torna-o incapaz de reflexão e concentração e, por conseguinte, de produção; exterioriza-o no seu interior, se assim se pode dizer, e escraviza-o às imagens mentais, ao fluxo e refluxo das ideias que ele se limita a contemplar na atitude de simples espectador. É embriaguez que desafina a inteligência e permite seguir a passo os pensamentos alheios e deixar-se levar por palavras, por comentários, por capítulos, por tomos.
A série de excitações assim provocadas arruína as energias, como a constante vibração estraga o aço. Não esperemos trabalho verdadeiro de quem cansou os olhos e as meninges a devorar livros; esse encontra-se, espiritualmente, em estado de cefalalgia, ao passo que o trabalhador, senhor de si, lê com calma e suavidade somente o que quer reter, só retém o que deve servir, organiza o cérebro e não o maltrata com indigestões absurdas”. [7]
Por seu turno, o conselho de Lewis é o seguinte: Leia livros antigos. Ele dizia que depois de ler um livro novo, “nunca se permitir outro novo até que se leia um antigo entre os dois. Se isso for demais para você, então leia um velho pelo menos a cada três novos”. Lewis não está menosprezando os livros novos. Ele diz que devemos contrabalancear nossas leituras com livros novos e livros antigos – os clássicos da literatura. Nañez captou essa mesma ideia ao afirmar que somente depois de apreciar os mestres da prosa e poesia do passado, consegue-se meditar a qualidade de obras mais recentes. Ele nos incentiva a deleitarmos em Cícero, Calvino, Dickens, Dillard, Dostoievski; partir o pão com Buechner, Burroughs, experimentar Tolstói ou Newman, Carnell ou Merton, O’Connor ou Chesterton. Poderia acrescentar Jacob Armínio, Agostinho, Tomás de Aquino, John Bunyan e muitos outros. Não levará muito tempo e então perceberemos, diz Nañez, a profundidade marcante de autores e reconhecer o abismo significativo que separa a literatura cristã popular de hoje do concentrado de informações espirituais e cognitivas das penas de antigamente.[8]
O Cristão e a Universidade
Fonte: Nascimento, Valmir (O Cristão e a Universidade, CPAD, 2016).
Referências
[1] SOEIRO, Rafael. Por que o brasileiro lê pouco. Disponível em http://super.abril.com.br/cultura/brasileiro-le-pouco-610918.shtml. Acesso em 14 de janeiro de 2015.
[2] GERMANO, Altair. O líder cristão e o hábito da leitura. CPAD: Rio de Janeiro, 2011, p. 12.
[3] GERMANO, Altair, 2011, p. 12.
[4] GERMANO, Altair, 2011, p. 86.
[5] SERTILLANGES, A.D. A vida intelectual. Cópia disponível na internet. p. 48.
[6] SIRE, James, 2005, p. 203.
[7] SERTILLANGES, A.D. A vida intelectual. Cópia disponível na internet. p. 48.
[8] NÃNEZ, Rick, 2007, p. 342.
*Valmir Nascimento. Jurista e teólogo. Mestrado em Teologia. Professor universitário. Comentarista de Lições Bíblicas de Jovens da CPAD.
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Fonte:https://comoviveremos.wordpress.com/2016/11/21/a-importancia-da-leitura-para-o-alicerce-da-fe-crista/

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

A Reforma Protestante no Brasil

11.01.2017
Do BLOG DO IRINEU MESSIAS*, 13.12.16

154

Há tempos atrás o Brasil tinha como religião oficial o Catolicismo, período no qual os portugueses dominavam todo o território, além do domínio a exigência a uma religião única.
Para melhor compreensão da vasta história do Protestantismo no território brasileiro vamos apresentar uma linha do tempo com os acontecimentos de suprema importância história da nossa sociedade:

Ø Entre os séculos XVI e XVII, franceses e holandeses invadirão o Brasil em duas regiões distintas, importunando os portugueses que brevemente expulsaram os invasores.
  • Década de 1555, o Brasil estava isolado até o presente momento, quando novamente chegou as terras Brasileiras uma expedição na Baia de Guanabara liderada por Nicolas Durand de Villegaignon e amparados por adeptos do protestantismo.
Tempos depois Nicolas já estabelecido em terras brasileiras solicitou ao Reformador suíço João Calvino pessoas para trabalhar nas colônias e pastores para evangelizar.
  • No ano de 1557 Nicolas Durand obteve respostas das solicitações, onde uma segunda expedição chegou com pastores e pessoas, e em 10 de março de 1557 ocorreu o primeiro culto no Brasil, sendo também o primeiro culto terras Latina Americana.
Pouco tempo depois houve algumas divergências internas, o pastor Chartier que veio ao Brasil na segunda expedição foi deportado a França e os colonos protestantes logo expulsos do Brasil.
  • Período de 1650 a 1654. Novamente Holandeses instalaram-se no Brasil e permaneceram entre 1630-1654, contudo líder holandês João Maurício de Nassau-Siegen, abandonou o cargo em 1644 propiciando no ano seguinte a revolta entre brasileiros e portugueses os quais foram expulsos em 1654.
  • Momento de Modificações entre 1822­1889. No decorrer das mudanças que ocorreram na Corte, o Brasil permaneceu fechado para a vinda de protestantes, que veio ser aberta somente quando houve alteração no estado e na família Real, com isso houve a proclamação da independência do Brasil, e a liberação para a vinda de estrangeiros ocidentais, inclusive protestantes.
  • A Constituição do Estado. Foi proclamada em 1824 o conjunto de regras do estado conhecido como Constituição, por meio dela foi regulamentado o culto, entretanto manteve-se o catolicismo como religião oficial.
Com o passar dos anos houve um grande crescimento do protestantismo, hoje ele tem algumas denominações chamada histórias, ou seja, aquelas que não apresentaram grandes mudanças, e mantiveram suas particularidades, sendo algumas delas as seguintes: Luteranismo, Calvinismo e Anglicanismo.

De acordo com uma publicação da Carta Capital – Edição 25 julho 2012, “A avalanche evangélica” pág 45, cerca de 17% da população brasileira são evangélicos, um desenvolvimento satisfatório pois chega a 32 milhões de pessoas, uma vez que em 1991 o índice anterior era de 9% da população.

O Protestantismo no Brasil é fruto da semente plantada por Martinho Lutero e outros reformadores da igreja, que se espalhou por todo o mundo, permitindo hoje a nós Cristãos, o acesso à palavra de Deus, privilégio que muitas pessoas não têm. Louve e agradeça a Deus pela oportunidade em que lhe é permitido.

Nota: Artigo originalmente do blog do Instituto Exito de Teologia.
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Fonte:http://teologia.exitoied.com.br/blog/2016/09/22/a-reforma-protestante/

terça-feira, 1 de novembro de 2016

5 sinais do distanciamento ou aproximação da Reforma Protestante

01.11.2016
Do portal GOSPEL PRIME
Por Sady Santana*

A Igreja é reformada e está sempre se reformando

5 sinais do distanciamento ou aproximação da Reforma ProtestanteUm homem está na porta de uma catedral importante na Europa. Logo abaixo um povo ignorante e enganado por um clero, observa. Este monge começa a cravar naquela porta um protesto com 95 itens, são alguns dos erros que a sua igreja querida estava cometendo contra a verdade do evangelho.

Este dia ficou para a história da igreja na terra como mais um capítulo da redenção. Um dia importante e decisivo que o Deus soberano reservou para os seus. Tanto é verdade que o mundo todo foi impactado nas estruturas. Reinos e estados terrenos foram sacudidos por uma mudança sem precedentes.
Você pode até estar aí a não dar importância devida, ou dizer que a Reforma Protestante é coisa de homens. No entanto, me aponte, fora a Salvação em Cristo, alguma obra aqui na terra de avanço do evangelho que não tenha sido feito por homens santos e separados pelo próprio Deus. Deus moveu Lutero até aquela porta. Deus levantou Calvino e a muitos outros homens neste mesmo período para dar continuidade e trazer a Bíblia de volta ao Corpo de Cristo.
Inclusive, Deus já tinha usado muitos outros homens, antes mesmo de Lutero nascer, para lutar pela Verdade. E Ele mesmo continuará levantando homens que leiam cuidadosamente as Escrituras, que se afadiguem em explica-la, que se esmerem em fazê-la compreensível e acessível aos menos sábios do reino, com a ajuda do Espírito e com trabalho duro.
Em todo lugar, em toda igreja, em toda casa onde uma bíblia for desprezada e deixada para empoeirar-se, uma graça será esquecida e o evangelho será distorcido. Veja aqui cinco sinais claros que podem te orientar sobre se a sua igreja, a que você pertence, ou mesmo a sua vida tem andado na mesma trilha dos apóstolos, e dos reformadores.

Somente a ESCRITURA

Quando saímos do culto temos que nos fazer algumas perguntas como: Entendi as palavras da Bíblia, ela me foi explicada adequadamente, posso explicar a outra pessoa o que eu entendi. E mais, saí do culto desejando ler mais as Escrituras em casa, sou desafiado pela minha liderança a conhecer e ler toda a Bíblia.
E ainda, a Bíblia é a única fonte de revelação em minha igreja, ou a experiência individual tem pautado o andar da minha comunidade? Nos dias de Lutero, a igreja se dizia Igreja mas não estava nem aí para que a Bíblia dizia. Versículos eram destacados e isolados, e depois usados para referendar as práticas de pedir dinheiro.

Somente CRISTO

Palavras de conquista, de buscar a benção, de prosperidade foram substituindo palavras como redenção, arrependimento e santidade? Quando vou à igreja ouço sobre Cristo e seu sacrifício, ouço que a cruz de Cristo não me fará mais rico, sem doença, não me fará imune a problemas e dificuldades? A minha igreja dá mais ênfase a santidade na Palavra, ou para as campanhas de desafio e conquista?

Somente a GRAÇA

Por incrível que pareça, as indulgencias voltaram. Se você desconhece que um dia uma igreja quis vender a salvação em um pedaço de papel, e que esse papel atestava o perdão dos pecados para toda a vida, procure ler a respeito e você ficará impressionado com tamanha ousadia. Contudo, atualmente uma suposta salvação começou a ser vendida novamente. A ênfase no dinheiro, e nos desafios envolvendo ganhos, tomaram proporções absurdas no movimento evangélico em todo o mundo. E igrejas simplesmente só falam disso, o tempo inteiro. As modernas indulgencias voltaram. Pergunte-se se em algum ponto da sua vida cristã, você não teria feito parte, inconscientemente, desse desvio da graça. Toda vez que a salvação em Cristo for velada e escondida por outras pregações, então a Graça foi pervertida e o verdadeiro evangelho foi encoberto.

Somente a FÉ

Aqui é a fé para a salvação, não a fé para conseguir coisas, ou a fé do pensamento positivo. Somente essa fé que nos salvou nos fará suportar as perseguições. É a fé para viver o evangelho mesmo tendo oposição do mundo inteiro. É a fé para buscar santidade com coragem. É a fé para entender e esperar que este mundo não estará melhorando, e sim que ele está em franca destruição. É a fé para entender que somos peregrinos aqui e a nossa pátria está no céu.

Somente A DEUS TODA A GLÓRIA

Onde está a glória de Deus em tempos de celebridades gospel, de fãs, de seguidores, de fumaça e de luzes no púlpito-palco? Se seu pastor pula e grita o tempo todo, os crentes giram e saem de órbita, e as “experiências “ de adoração extravagante aumentaram, enquanto o lugar da explicação das Escrituras foi diminuindo?
Então, a glória de Deus certamente não está sendo enaltecida. Se a congregação está negligenciando a pregação cuidadosa da cruz de Cristo, da graça, e da fé, então a glória de Deus está sendo desviada e corrompida. O conselho é que você não faça parte disso, é perigoso, é tóxico.
Existe uma frase, um mote, um lema que foi usado pelos reformadores que diz: Ecclesia Reformata et Semper Reformanda Est, que quer dizer, “A Igreja é reformada e está sempre se reformando”. Mas, não se confunda com mudança para frente, para longe das Escrituras, o movimento é sempre para trás, pois, a igreja sempre estará retornando aos ensinos dos apóstolos enquanto avança sobre as portas do inferno.
Quando tudo o mais for invenção, barulho e confusão, uma igreja remanescente estará fazendo o movimento de retorno às Escrituras, aparando exageros, reformando-se.
Soli Deo Glória!
Sempre foi assim, e sempre será.

*Sady Santana  é jornalista pelo Mackenzie, estudou teologia no IBEL onde descobriu o seu amor por missões e pela noiva de Cristo. Atualmente está ajudando seu esposo, pastor Nelson Ferreira, na implantação de uma igreja no Grajaú, SP.


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Fonte:https://artigos.gospelprime.com.br/5-sinais-do-distanciamento-ou-aproximacao-da-reforma-protestante/

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Nota Pública sobre Debates Teológicos entre Calvinistas e Arminianos

19.01.2016
Do blog VOLTEMOS AO EVANGELHO

nota-debate-calvinistas-arminianos

Diante da recorrência de discussões e ataques pessoais realizados no âmbito eclesiástico, na internet e nas redes sociais, especialmente entre calvinistas e arminianos para a defesa de posições teológicas, NÓS, abaixo subscritos, vimos a público emitir a presente nota:

Reconhecemos a importância e a historicidade do debate teológico dentro da tradição cristã como meio de defesa e salvaguarda da verdade e, consequentemente, da ortodoxia bíblica.

Apoiamos a produção e a reflexão teológica realizada no ambiente da internet, em virtude de seu caráter democrático e do livre curso de ideias, como corolário da Reforma Protestante.

Repudiamos, todavia, que para a defesa de posições teológicas haja discussões e ataques pessoais realizados em nome da fé, que promovem dissensões, inimizades e escândalo ao nome de Cristo. Rejeitamos, assim, todo e qualquer conteúdo difamatório, ofensivo e jocoso, ainda que a pretexto do humor, produzido contra irmão de vertente religiosa diversa, que atente contra sua honra e imagem.

Entendemos incompatíveis com os preceitos que devem reger a conduta dos discípulos do Mestre posturas antiéticas que estimulam a zombaria, o desrespeito e o escárnio, baseado em dolo, distorções e mentiras.

Discordamos das publicações anônimas, especialmente quando realizadas com o objetivo de provocar animosidade e discórdia entre os cristãos. Além de ser proibido constitucionalmente (Art. 5o, IV), o anonimato atenta contra os princípios bíblicos da transparência (2Co 3.18), sinceridade (Tt 2.7) e honestidade (1Tm 2.2).

Relembramos que a calúnia, a injúria e a difamação são crimes contra a honra, de acordo com o Código Penal Brasileiro, os quais não se coadunam com o caráter do verdadeiro cristão, que deve expressar o fruto do Espírito (amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança), conforme Gálatas 5.22.

Aconselhamos os cristãos piedosos a não dar audiência a páginas e grupos que promovam tais ofensas.

Defendemos e incentivamos a exposição de convicções cristãs, bem como o debate teológico na internet e nas redes sociais, de modo irênico, ou seja, de espírito pacífico (Rm 12.18), com cordialidade e respeito. A discordância e a confrontação das ideias alheias, quando for o caso, devem ser conduzidas com ética, honestidade intelectual e de maneira objetiva, sem denegrir e atacar o oponente.

Asseveramos que a produção teológica é, sobretudo, um ato de glorificação a Deus. Discussões, pois, que se desenvolvem com o único propósito de vencer desavenças intelectuais, baseadas em disputas do ego, estão longe de honrar o nome de Cristo. A determinação bíblica de “falar o que convém à sã doutrina” (Tt 2.1) exige coragem, mas também responsabilidade, para os cristãos em geral e os pastores em particular, os quais devem ser, dentre outras coisas, “irrepreensíveis, honestos, moderados, aptos a ensinar, não contenciosos…” (1 Tm 3.2,3).

Citamos, a propósito, as palavras de J.I. Packer: “Se a nossa teologia não nos reaviva a consciência nem amolece o coração, na verdade endurece a ambos; se não encoraja o compromisso da fé, reforça o desinteresse que é próprio da incredulidade; se deixa de promover a humildade, inevitavelmente nutre o orgulho. Assim, aquele que expõe teologia em público, seja formalmente, no púlpito ou pela imprensa, ou informalmente, em sua poltrona, deve pensar muito sobre o efeito que seus pensamentos terão sobre o povo de Deus e outras pessoas”.

Recomendamos, assim, a importância da constante elevação bíblica e espiritual do nível dos debates teológicos. E caso nos deparemos com um irmão em Cristo com postura inadequada e não condizente com a ética e pratica cristãs, que ele seja repreendido, mas que em tal ato não falte educação e principalmente amor.

Reconhecemos as diferenças marcantes historicamente existentes entre as tradições calvinistas e arminianas, notadamente em referência à doutrina da salvação. Todavia, tais divergências teológicas não suplantam a comunhão cristã que deve haver entre os irmãos dessas duas vertentes da cristandade. Em uníssono, à luz das Escrituras Sagradas, enfatizamos que a salvação somente se alcança em Cristo somente, mediante a graça somente, pela fé somente (Rm 3.24; Ef 2.8; Tt 2.11).

Finalizamos com a menção ao episódio em que o calvinista George Whitefield foi perguntado se esperava ver o arminiano John Wesley nos céus. Sua resposta foi: “Não. John Wesley estará tão perto do Trono da Glória, e eu tão longe, que dificilmente conseguirei dar uma olhadela nele”. Assim se tratam verdadeiros cristãos que discordam em questões de soteriologia, mas que não fazem nada por contenda ou vanglória, e consideram os outros superiores a si mesmos (Fp 2.3). E, sobretudo, estes sabem o preço custoso com que foram comprados por Cristo Jesus.

18 de janeiro de 2015.

Augustus Nicodemus Lopes, pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia-GO.
Altair Germano, pastor da Assembleia de Deus – Itália, escritor.
Carlos Kleber Maia, pastor da Assembleia de Deus – RN, escritor de obra arminiana.
César Moisés de Carvalho, pastor da Assembleia de Deus, teólogo, escritor.
Ciro Sanches Zibordi, pastor da Assembleia de Deus na Ilha da Conceição em Niterói – RJ, escritor e articulista.
Clóvis José Gonçalves, membro da igreja O Brasil para Cristo e editor do blog Cinco Solas.
Davi Charles Gomes, Chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie-SP.
Euder Faber Guedes Ferreira, pastor, presidente da VINACC (Visão Nacional para a Consciência Cristã).
Solano Portela Neto, presbítero da Igreja Presbiteriana do Brasil, conferencista e autor reformado.
Franklin Ferreira, pastor batista, diretor geral do Seminário Martin Bucer-SP.
Geremias do Couto, pastor da Assembleia de Deus, escritor.
Glauco Barreira Magalhães Filho, pastor batista – CE, professor universitário, escritor.
Gutierres Fernandes Siqueira, membro da Assembleia de Deus – SP, editor do blog Teologia Pentecostal.
Helder Cardin, pastor batista, reitor do Seminário Palavra da Vida-SP.
Jamierson Oliveira, pastor batista, teólogo, escritor.
Jonas Madureira, pastor batista, editor de Edições Vida Nova e professor do Seminário Martin Bucer.
José Gonçalves, pastor da Assembleia de Deus – PI, teólogo, escritor.
Magno Paganelli, pastor da Assembleia de Deus – SP, teólogo, escritor.
Marcos Antônio Moreira Guimarães, professor de teologia, obreiro da Assembleia de Deus – MT.
Mauro Fernando Meister, diretor do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper-SP.
Norma Cristina Braga Venâncio, escritora, membro da Igreja Presbiteriana do Pirangi, Natal-RN.
Paulo Romeiro, pastor, teólogo, escritor.
Renato Vargens, pastor da Igreja Cristã da Aliança de Niterói-RJ.
Solon Diniz Cavalcanti, pastor, teólogo, presidente do CEAB Transcultural.
Thiago Titillo, pastor batista, professor, escritor.
Tiago José dos Santos Filho, pastor batista, editor-chefe da Editora Fiel, diretor pastoral do Seminário Martin Bucer-SP.
Uziel Santana, presidente da Anajure (Associação Nacional de Juristas Evangélicos).
Valdeci do Carmo, obreiro da Assembleia de Deus, teólogo, coordenador do curso de Teologia das Faculdades Feics, Cuiabá/MT.
Valmir Nascimento Milomem Santos, teólogo da Assembleia de Deus, professor universitário, editor da revista Enfoque Teológico.
Wallace Sousa, evangelista da Assembleia de Deus, DF, escritor, pós-graduado em teologia, coordenador da União de Blogueiros Evangélicos.
Wellington Mariano, pastor da Assembleia de Deus, escritor e tradutor de obras arminianas.
Wilson Porte Junior, pastor batista e professor do Seminário Martin Bucer.
Zwinglio Rodrigues, pastor batista, escritor de obra arminiana.
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Fonte:http://voltemosaoevangelho.com/blog/2016/01/nota-publica-sobre-debates-teologicos-entre-calvinistas-e-arminianos/

domingo, 29 de novembro de 2015

JAN HUS:600 anos de um martírio

30.11.2015
Do portal ULTIMATO ON LINE, 09.2015
Por Alderi Souza de Matos

No dia 6 de julho de 2015 transcorreu o 6º centenário da morte de Jan Hus, tido como um dos precursores da Reforma Protestante. Esse sacerdote tcheco com cerca de 42 anos foi executado na fogueira após ter sido condenado como herege pelo Concílio de Constança, no sul da Alemanha. Ele foi mais um da longa lista de vítimas da intolerância da cristandade para com os dissidentes, que havia começado no quarto século com a execução do bispo espanhol Prisciliano e alguns companheiros, no ano 385.

Jan Hus nasceu em 1372 ou 1373 na vila de Husinec, no sudoeste da Boêmia, atual República Tcheca. Em 1396, obteve o grau de mestre de artes na Universidade de Praga e, quatro anos mais tarde, foi ordenado ao sacerdócio enquanto lecionava nessa mesma universidade, a primeira da Europa central. Em 1409, concluiu todos os requisitos para o doutorado em teologia, mas não chegou a obter esse grau devido às controvérsias em que se envolveu (Cf. Williston Walker et al., “A history of the Christian church”, 4ª ed.).


Algum tempo antes de abraçar o sacerdócio, ele havia tido uma experiência de conversão mediante o estudo da Bíblia e se tornou um forte defensor de reformas na vida clerical. Em 1402, foi nomeado pregador da Capela de Belém, em Praga, o centro de um movimento reformador tcheco que havia começado em meados do século anterior. As principais características desse movimento eram a pregação no idioma vernáculo, a reforma moral do clero e dos leigos, a centralidade da Escritura como norma de vida e o apelo à participação frequente na Eucaristia.

O impulso reformador de Hus foi intensificado mediante o contato com as ideias de outro crítico da igreja, o sacerdote inglês John Wyclif (c. 1325--1384), que havia sido um conhecido professor de filosofia na Universidade de Oxford. Graças ao casamento do rei Ricardo II com uma princesa boêmia, vários jovens tchecos foram estudar em Oxford e de lá trouxeram para o seu país as doutrinas e escritos de Wyclif. Entre eles estava Jerônimo de Praga, amigo íntimo de Hus. Debaixo de todas essas influências, Hus se tornou um pregador e um líder nacionalista imensamente popular, numa época em que a Boêmia estava sob o controle do Sacro Império Germânico.

Hus não foi um seguidor servil das ideias de Wyclif, aceitando apenas aquelas que ele considerava plenamente ortodoxas. Como o seu colega inglês, ele ensinou que a verdadeira Igreja consiste somente dos eleitos, dos quais o cabeça é Cristo, e não o papa. A vida da igreja devia ser marcada pela simplicidade e pobreza exemplificadas por Cristo. Insistiu que a única lei da igreja devia ser a Bíblia, em especial o Novo Testamento, e não as tradições da lei canônica, mas aceitou a autoridade docente dos antigos pais e doutores cristãos. Ao contrário de Wyclif, Hus não negou o dogma da transubstanciação, mas defendeu que os leigos participassem também do cálice.


Com o passar do tempo, sua identificação com os ensinos wyclifitas e suas críticas contra o clero, o papa e as indulgências fizeram com que perdesse o apoio de importantes simpatizantes, como o arcebispo e o rei da Boêmia. Em especial, atraiu a animosidade dos professores alemães que em 1409 deixaram a Universidade de Praga para fundar uma nova universidade em Leipzig. Depois de ser excomungado, ele deixou Praga em outubro de 1412 e buscou refúgio junto a alguns amigos no sul da Boêmia. Nessa época, além de escrever numerosos tratados na língua pátria, compôs sua principal obra, “De ecclesia” (Sobre a igreja), uma versão atenuada das posições de Wyclif. Não reconhecendo a autoridade jurisdicional do clero que o condenou, disse que apelava somente a Deus e Cristo, não a um papa ou concílio.

Hus foi convocado a comparecer diante do célebre Concílio de Constança (1414–1418), que teve como um dos principais objetivos sanar o chamado “Grande Cisma”, a existência simultânea de três papas (Roma, Avinhão e Pisa). Embora tivesse recebido um salvo-conduto do imperador Sigismundo, irmão do rei Venceslau da Boêmia, ele sabia que iria correr grande perigo, mas ainda assim decidiu ir a Constança para defender as suas posições. Foi aprisionado poucas semanas depois que chegou, sendo o salvo-conduto considerado nulo. Enquanto seus inimigos tchecos e alemães faziam amargas acusações contra ele, sofreu grandes privações nos vários locais em que esteve detido.

No dia 5 de maio de 1415, o concílio condenou oficialmente John Wyclif como herege, agravando a situação de Hus. Foi-lhe exigido que renegasse trinta ensinos errôneos colhidos em seus escritos. Ele declarou falsas algumas das acusações e quanto a outras disse que só voltaria atrás se convencido pela Escritura e pelos antigos pais. No dia 6 de julho, foi condenado à pena capital e poucas horas depois queimado na fogueira, enfrentando essa morte cruel com grande coragem e dignidade. No ano seguinte, seu colega Jerônimo de Praga teria a mesma sorte.

A reação do povo tcheco foi intensa, surgindo um vigoroso movimento político-religioso em torno das ideias do líder martirizado. Daí resultou em 1458 a “Unitas Fratrum” (Unidade dos Irmãos Boêmios), antecessora dos famosos Irmãos Morávios. Por uma grande ironia, um século depois de Hus, na mesma Alemanha em que ele foi morto, outro sacerdote e professor universitário haveria de liderar um protesto semelhante, porém com efeitos muito mais amplos e duradouros -- Martinho Lutero.

• Alderi Souza de Matos é doutor em história da igreja pela Universidade de Boston e professor no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper. É autor de “Erasmo Braga,o Protestantismo e a Sociedade Brasileira”A Caminhada Cristã na História e “Fundamentos da Teologia Histórica”. Artigos de sua autoria estão disponíveis em www.mackenzie.com.br.
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Fonte:http://www.ultimato.com.br/revista/artigos/356/600-anos-de-um-martirio