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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A teologia liberal e suas implicações para a fé bíblica

15.02.2016
Do blog SOLA SCRIPTURA
Por Danilo Raphael 

Do jeito que as coisas andam em nossos dias, precisamos urgentemente nos libertar da teologia liberal. É espantoso o crescente número de livros (inclusive publicados por editoras evangélicas) que esboçam os ensinamentos deste tipo de teologia ou tecem comentários favoráveis. Embora esta teologia tenha nascido com os protestantes, hoje, porém, seus maiores expoentes são os católicos romanos.

católica encontramos grande quantidade de obras defendendo e/ou propagando a teologia liberal. E não é só isso. A forma com que alguns seminários e igrejas vêm se comprometendo com os ensinos desta teologia também é de impressionar.


A libertação da teologia liberal não só é necessária como também é vital para a Igreja brasileira, ameaçada pelo secularismo e pelo liberalismo teológico corrosivo.

Apesar das motivações iniciais dos modernistas, suas idéias, no entanto, representaram grave ameaça à ortodoxia, fato já comprovado pela história. O movimento gerou ensinamentos que dividiram quase todas as denominações históricas na primeira metade deste século. Ao menosprezar a importância da doutrina, o modernismo abriu a porta para o liberalismo teológico, o relativismo moral e a incredulidade descarada. Atualmente, a maioria dos evangélicos tende a compreender a palavra “modernismo” como uma negação completa da fé. Por isso, com facilidade esquecemos que o objetivo dos primeiros modernistas era apenas tornar a igreja mais “moderna”, mais unificada, mais relevante e mais aceitável em uma era caracterizada pela modernidade.

Mas o que caracterizaria um teólogo liberal? O verbete sobre o “protestantismo liberal” do Novo Dicionário de Teologia, editado por Alan Richardson e John Bowden, nos traz uma boa noção do termo. Vejamos três destaques de elementos do liberalismo teológico: 


1- É receptivo à ciência, às artes e estudos humanos contemporâneos. Procura a verdade onde quer que se encontre. Para o liberalismo não existe a descontinuidade entre a verdade humana e a verdade do cristianismo, a disjunção entre a razão e a revelação. A verdade deve ser encontrada na experiência guiada mais pela razão do que pela tradição e autoridade e mostra mais abertura ao ecumenismo; 

2
- Tem-se mostrado simpatia para com o uso dos cânones da historiografia para interpretar os textos sagrados. A Bíblia é considerada documento humano, cuja validade principal está em registrar a experiência de pessoas abertas para a presença de Deus. Sua tarefa contínua é interpretar a Bíblia, à luz de uma cosmovisão contemporânea e da melhor pesquisa histórica, e, ao mesmo tempo, interpretar a sociedade, à luz da narrativa evangélica; 

3
 - Os liberais ressaltam as implicações éticas do cristianismo. O cristianismo não é um dogma a ser crido, mas um modo de viver e conviver, um caminho de vida. Mostraram-se inclinados a ter uma visão otimista da mudança e acreditar que o mal é mais uma ignorância. Por ter vários atributos até divergentes, o liberal causa alergia para uns e para outros é motivo de certa satisfação, por ser considerado portador de uma mente aberta para o diálogo com posições contrárias.

A
s grandes batalhas causadas pelo liberalismo foram travadas dentro das grandes denominações históricas. Muitos pastores que haviam saído dos EUA no intuito de se pós-graduarem nas grandes universidades teológicas da Europa, especificamente na Alemanha, em que a teologia liberal abraçava as teorias destrutivas da Alta Crítica produzida pelo racionalismo humanista, acabaram retornando para os EUA completamente descrentes nos fundamentos do cristianismo histórico. Os liberais, devido à tolerância inicial dos fiéis para com a sã doutrina, tiveram tempo de fermentar as grandes denominações e conseguiram tomar para si os grandes seminários, rádios e igrejas, de modo que não sobrou outra alternativa para grande parte dos fundamentalistas senão sair dessas denominações e se organizar em novas denominações. Daí surgiram os Batistas Regulares (que formaram a Associação Geral das Igrejas Batistas Regulares, em 1932), os Batistas Independentes, as Igrejas Bíblicas, as Igrejas Cristãs Evangélicas, a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos (em 1936, que mudou seu nome para Igreja Presbiteriana Ortodoxa), a Igreja Presbiteriana Bíblica (em 1938), a Associação Batista Conservadora dos Estados Unidos (em 1947), as Igrejas Fundamentalistas Independentes dos Estados Unidos (em 1930) e muitas outras denominações que existem ainda hoje.

Podemos dizer que algumas das características do cristianismo ortodoxo se baseiam nos seguintes pontos:


• Manter fidelidade incondicional à Bíblia, que é inerrante, infalível e verbalmente inspirada;


• Acreditar que o que a Bíblia diz é verdade (verdade absoluta, ou seja, verdade sempre, em todo lugar e momento); 

• Julgar todas as coisas pela Bíblia e ser julgado unicamente por ela; 

• Afirmar as verdades fundamentais da fé cristã histórica: a doutrina da Trindade, a encarnação, o nascimento virginal, o sacrifício expiatório, a ressurreição física, a ascensão ao céu, a segunda vinda do Senhor Jesus Cristo, o novo nascimento mediante a regeneração do Espírito Santo, a ressurreição dos santos para a vida eterna, a ressurreição dos ímpios para o juízo final e a morte eterna e a comunhão dos santos, que são o Corpo de Cristo. 

• Ser fiel à fé e procurar anunciá-la a toda criatura; 

• Denunciar e se separar de toda negativa eclesiástica dessa fé, de todo compromisso com o erro e de todo tipo de apostasia; • Batalhar firmemente pela fé que foi concedida aos santos. 

Contudo, o liberalismo, em sua apostasia, nega a validade de quase todos os fundamentos da fé, como, por exemplo, a inerrância das Escrituras, a divindade de Cristo, a necessidade da morte expiatória de Cristo, seu nascimento virginal e sua ressurreição. Chegam até mesmo a negar que existiu realmente o Jesus narrado nas Escrituras. A doutrina escatológica liberal se baseia no universalismo (todas as pessoas serão salvas um dia e Deus vai dar um jeito até na situação do diabo) e, conseqüentemente, para eles, não existe inferno e muito menos o conceito de pecado. O liberalismo é um sistema racionalista que só aceita o que pode ser “provado” cientificamente pelos próprios conhecimentos falíveis, fragmentados e limitados do homem.


Os primeiros estudiosos que aplicaram o método histórico-crítico sem critérios ao estudo das Escrituras negavam que a Bíblia fosse, de fato, a Palavra de Deus inspirada. Segundo eles, a Bíblia continha apenas a Palavra de Deus.

O liberalismo teológico tem procurado embutir no cristianismo uma roupagem moderna: pegam as últimas idéias seculares e, sorrateiramente, espalham no mundo cristão. J.G. Machem, em seu livroCristianismo e liberalismo, trata deste assunto com maestria. Na contracapa, podemos ver uma pequena comparação entre o cristianismo e o liberalismo: “O liberalismo representa a fé na humanidade, ao passo que o cristianismo representa a fé em Deus. O primeiro não é sobrenatural, o último é absolutamente sobrenatural. Um é a religião da moralidade pessoal e social, o outro, contudo, é a religião do socorro divino. Enquanto um tropeça sobre a ‘rocha de escândalo’, o outro defende a singularidade de Jesus Cristo. Um é inimigo da doutrina, ao passo que o outro se gloria nas verdades imutáveis que repousam no próprio caráter e autoridade de Deus”.


Muitos, por buscarem aceitação teológica acadêmica, têm-se comprometido fatalmente, pois, na prática, os liberais tentam remover do cristianismo todas as coisas que não podem ser autenticadas pela ciência. Sempre que a ciência contradiz a Bíblia, a ciência é preferida e a Bíblia, desacreditada.

Hoje, a animosidade que demonstram para com a Bíblia tem caracterizado aqueles que crêem que ela é literalmente a Palavra de Deus e inerrante (sem erros em seus originais) como “fundamentalistas”.

1  Ora, podemos por acaso negociar o inegociável?Os liberais acusam os evangélicos de transformar a Bíblia em um “papa de papel”, ou seja, em um ídolo. Com isso, culpam os evangélicos de bibliolatria.

2  Estamos cientes de que tem havido alguns exageros por parte de alguns fundamentalistas evangélicos, mas a verdade é que os “eruditos” liberais têm-se mostrado tão exagerados quanto muitos do que eles denominam de fundamentalistas. Teoricamente falando, a maioria dos liberais acredita em Deus, supondo que Ele pode intervir na história da humanidade, porém, na prática, e com freqüência, mostram-se muito mais deístas.

3  Normalmente, os liberais também favorecem o “relativismo”, ou seja, difundem que no campo da verdade não há absolutos. Segundo este raciocínio, se não há verdades absolutas, então, as verdades da Bíblia (que são absolutas) são relativas, logo, não podem ser a Palavra de Deus. Tendo rejeitado a Bíblia como a infalível Palavra de Deus e aceitado a idéia de que tudo está fluindo, o teólogo liberal afirma que não é segura qualquer idéia permanente a respeito de Deus e da verdade teológica.

Levando o pensamento existencialista às últimas conseqüências, conclui-se que: se quisermos que a Bíblia tenha algum valor para a modernidade e fale ao homem moderno, temos de criar uma teologia para cada cultura, para cada contexto, onde nenhum ensino é absoluto, mas relativo, variando conforme o contexto sociocultural. Obviamente, tal pensamento possui fundamento em alguns pontos, mas daí ao radicalismo de pregar que nada é absoluto, isso já extrapola e fere diversos princípios bíblicos.
 
Raízes

O liberalismo teológico começou a florescer de forma sistematizada devido à influência do racionalismo de Descartes e Spinoza, nos séculos 17 e 18, que redundou no iluminismo.4  O liberalismo opunha-se ao racionalismo extremado do iluminismo.

Na verdade, quando a igreja começa a flertar com o liberalismo e se render aos seus interesses, ela perde sua autoridade e deixa de ser embaixadora de Deus. A história tem provado que onde o liberalismo teológico chega a Igreja morre. Este é um aviso solene que deve estar sempre trombeteando em nossos ouvidos
A baixa crítica

Conforme Gleason L. Archer Jr, “a ‘baixa crítica’ ou crítica textual se preocupa com a tarefa de restaurar o texto original na base das cópias imperfeitas que chegaram até nós. Procura selecionar as evidências oferecidas pelas variações, ou leituras diferentes, quando há falta de acordo entre os manuscritos sobreviventes, e pela aplicação de um método científico chegar àquilo que era mais provavelmente a expressão exata empregada pelo autor original”.5   

 
A alta crítica

J. G. Eichhorn, um racionalista germânico dos fins do século 18, foi o primeiro a aplicar o termo “alta crítica” ao estudo da Bíblia. E, por esse motivo, ele tem sido chamado de “o pai da crítica do Antigo Testamento”. Segundo  R. N. Champlin, “a ‘alta crítica’ aponta para o exame crítico da Bíblia, envolvendo qualquer coisa que vá além do próprio texto bíblico, isto é, questões que digam respeito à autoria, à data, à forma de composição, à integridade, à proveniência, às idéias envolvidas, às doutrinas ensinadas, etc. A alta crítica pode ser positiva ou negativa em sua abordagem, ou pode misturar ambos os pontos de vista”.6  Mas o que temos visto na prática é que esta forma de crítica tem negado as doutrinas centrais da fé cristã, em nome da ciência, da modernidade e da razão. O que fica evidente é que alguns críticos partem com o intuito de desacreditar a Bíblia, devido a alguns pressupostos naturalistas, chegando ao cúmulo de dizer que a Igreja inventou Jesus. 


Conforme Norman Geisler “a alta crítica pode ser dividida em negativa (destrutiva) e positiva (construtiva). A crítica negativa, como o próprio nome sugere, nega a autenticidade de grande parte dos registros bíblicos. Essa abordagem, em geral, emprega uma pressuposição anti-sobrenatural”.7  

Métodos aplicados a qualquer tipo de literatura passaram a ser aplicados também à Bíblia, com grandes doses de ceticismo (no que diz respeito à validade histórica e à integridade de seus livros), com invenções de entusiastas que tinham pouca base nos fatos históricos. 

Assim, onde vemos nas narrativas da Bíblia fatos sobrenaturais esta teologia lhes confere interpretações naturais, retirando da Palavra de Deus todas as intervenções miraculosas. Claramente é impróprio, ou mesmo blasfematório, nos colocarmos como juízes sobre a Bíblia. 

Penosamente, a “alta crítica” tem empregado uma metodologia faltosa, caindo em alguns pressupostos questionáveis. E, devido aos seus resultados, ultimamente vem sendo descrita como “alta crítica destrutiva”.  (para melhor compreensão, veja o quadro comparativo acima)


C. S. Lewis, sem dúvida o apologista cristão mais influente do século 20, em seu artigo “A teologia moderna e a crítica da Bíblia”, tece os seguintes comentários:


“Em primeiro lugar, o que quer que esses homens possam ser como críticos da Bíblia, desconfio deles como críticos9  [...] Se tal homem chega e diz que alguma coisa, em um dos evangelhos, é lendária ou romântica, então quero saber quantas lendas e romances ele já leu, o quanto está desenvolvido o seu gosto literário para poder detectar lendas e romances, e não quantos anos ele já passou estudando aquele evangelho1 0 [...] os críticos falam apenas como homens; homens obviamente influenciados pelo espírito da época em que cresceram, espírito esse talvez insuficientemente crítico quanto às suas próprias conclusões1 1 [...] Os firmes resultados da erudição moderna, na sua tentativa de descobrir por quais motivos algum livro antigo foi escrito, segundo podemos facilmente concluir, só são ‘firmes’ porque as pessoas que sabiam dos fatos já faleceram, e não podem desdizer o que os críticos asseguram com tanta autoconfiança”.1 2 
 
Prove e veja

Na Universidade de Chicago, Divinity School, em cada ano eles têm o que chamam de “Dia Batista”, quando cada aluno deve trazer um prato de comida e ocorre um piquenique no gramado. Nesse dia, a escola sempre convida uma das grandes mentes da literatura no meio educacional teológico para palestrar sobre algum assunto relacionado ao ambiente acadêmico.


Certo ano, o convidado foi Paul Tillich,1 3 que discursou, durante duas horas e meia, no intuito de provar que a ressurreição de Jesus era falsa. Questionou estudiosos e livros e concluiu que, a partir do momento que não existiam provas históricas da ressurreição, a tradição religiosa da igreja caía por terra, porque estava baseada num relacionamento com um Jesus que, de fato, segundo ele, nunca havia ressurgido literalmente dos mortos.

Ao concluir sua teoria, Tillich perguntou à platéia se havia alguma pergunta, algum questionamento. Depois de uns trinta segundos, um senhor negro, de cabelos brancos, se levantou no fundo do auditório: “Dr Tillich, eu tenho uma pergunta, ele disse, enquanto todos os olhos se voltavam para ele. Colocou a mão na sua sacola, pegou uma maçã e começou a comer... Dr Tillich... crunch, munch... minha pergunta é muito simples... crunch, munch... Eu nunca li tantos livros como o senhor leu... crunch, munch... e também não posso recitar as Escrituras no original grego... crunch, munch... Não sei nada sobre Niebuhr e Heidegger... crunch, munch... [e ele acabou de comer a maçã] Mas tudo o que eu gostaria de saber é: Essa maçã que eu acabei de comer... estava doce ou azeda?

“Tillich parou por um momento e respondeu com todo o estilo de um estudioso: ‘Eu não tenho possibilidades de responder essa questão, pois não provei a sua maçã’.

“O senhor de cabelos brancos jogou o que restou da maçã dentro do saco de papel, olhou para o Dr. Tillich e disse calmamente: ‘O senhor também nunca provou do meu Jesus,  e como ousa afirmar o que está dizendo?”. Nesse momento, mais de mil estudantes que estavam participando do evento não puderam se conter. O auditório se ergueu em aplausos. Dr. Tillich agradeceu a platéia e, rapidamente, deixou o palco”.


É essa a diferença! 

É fundamental considerar que tudo o que engloba a fé genuinamente cristã está amparado em um relacionamento experimental (prático) com Deus. Sem esse pré-requisito, ninguém pode seriamente afirmar ser um cristão. Seria muito bom se os críticos se atrevessem a experimentar este relacionamento antes de tecerem suas conjeturas. Se assim fosse, certamente se lhes abriria um novo horizonte para suas proposições e, quem sabe, entenderiam que o sobrenatural não é uma brecha da lei natural, mas, sim, uma revelação da lei espiritual.


Notas

O fundamentalismo foi um movimento surgido nos Estados Unidos durante e imediatamente após a 1ª Guerra Mundial, a fim de reafirmar o cristianismo protestante ortodoxo e defendê-lo contra os desafios da teologia liberal, da alta crítica alemã, do darwinismo e de outros pensamentos considerados danosos para o cristianismo.
2 Adoração à Bíblia.

3
 Segundo a comparação clássica entre Deus e o fabricante de um relógio, Deus, no princípio, deu corda ao relógio do mundo de uma vez para sempre, de modo que ele agora continua com a história mundial sem a necessidade de envolvimento da parte de Deus. 

4
 O Iluminismo enfatizava a razão e a independência e promovia uma desconfiança acentuada da autoridade. A verdade deveria ser obtida por meio da razão, observação e experiência. O movimento foi dominado pelo anti-sobrenaturalismo e pelo pluralismo religioso. 

5
 ARCHER, Gleason L. Merece confiança o Antigo Testamento? Edições Vida Nova, p.54.
CHAMPLIN, R.N. Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia. Vol 1. Candeia, p. 122.
GEISLER, Norman. Enciclopédia de Apologética. Editora Vida, p.113.
8 Ibid. p. 116.
9 MCDOWELL, Josh. Evidência que exige um veredicto. Vol 2. Editora Candeia, p.522.
10 Ibid., p.526.
11 Ibid., p.526.
12 Ibid., p.528.
13 Paul Tillich nasceu em 20 de agosto de 1886, em Starzeddel, na Prússia Oriental, perto de Guben. Foi um teólogo-filósofo e representante do existencialismo religioso.  


* matéria colhida na revista Defesa da Fé.
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Fonte:http://solascriptura-tt.org/SeparacaoEclesiastFundament/TeologiaLiberal-Liberalismo-DRaphael.htm

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Em direção a uma Apologética Responsiva

05.05.2014
Do portal União de Blogueiros Evangélicos
Por Valmir Nascimentopor Valmir Nascimento
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Qual a finalidade da apologética cristã? Norman Geisler diz que ela serve para abrir a porta, livrar-se dos obstáculos, desobstruir o caminho, de modo que as pessoas possam achegar-se a Cristo. Com pensamento semelhante Peter Grant também afirma que a apologética tenta ajudar os não-crentes a atravessar a jornada até a fé em Cristo – ir além do abismo cultural e encarar o abismo da cruz a fim de que possam ouvir a mensagem clara do evangelho”[1].
Se Geisler e Grant realmente estiverem certos – e eu acredito que estejam – precisamos nos lembrar que os obstáculos colocados no caminho que conduz à Cruz de Cristo e o abismo cultural que separa as pessoas do evangelho mudam com o decorrer do tempo. Cada época tem seus desafios e empecilhos próprios. E isso exige consequentemente a adaptação da apologética, para que possa responder de forma efetiva às demandas do seu contexto social, sobretudo para desfazer preconceitos contra o pensamento cristão, desmascarar vãs filosofias e destruir os conselhos e toda altivez que se levanta contra o conhecimento de Deus (2 Cor.10.5).
Por essa razão, nos dias atuais não se concebe mais uma apologética fria e racional que ofereçasomente respostas lógicas para a mente sem se importar com os anseios existenciais dos indivíduos. Nesse sentido, afirma-se que a apologética clássica, que pretende defender a existência de Deus a partir de argumentos da teologia natural, não consegue – sozinha – atender as demandas da contemporaneidade. Francis Schaeffer sintetizava essa ideia ao afirmar que apologética não significa “viver fechado em um castelo com ponte levadiça e, de quando em quando, atirar uma pedra por sobre o muro”. Ela não deve fundar-se numa mentalidade de fortaleza, do tipo: “Você não pode me atingir aqui”; e também não deve ser meramente acadêmica. Tal postura reduz o evangelho a um arcabouço teórico e frio, sem ligação com a vida e os anseios das pessoas. Ao contrário, a apologética cristã, conforme Schaeffer, deve ser entendida e praticada de maneira coerente com os sobressaltos e o contato vivo com a geração presente. Assim “o cristão não deve preocupar-se em somente apresentar um sistema perfeitamente harmônico consigo mesmo, como algum sistema metafísico grego, mas antes alguma coisa que tem contato constante com a realidade – a realidade das questões que estão sendo feitas em sua própria geração, bem como nas gerações vindouras”[2].
Ponto de vista semelhante pode ser visto no livro “Apologética Cristã no Século XXI”, no qual Alister McGrath sustenta que embora a apologética tradicional tenha deixado um grande legado no cristianismo, com um histórico honrado, hoje ela parece muitas vezes “radicada em um mundo morimbundo, um mundo em que as reivindicações de verdade do cristianismo eram testadas sobretudo nas salas de seminários das velhas universidades, onde a racionalidade era vista como critério máximo de justificação”[3]. McGrath afirma que hoje a situação mudou, inclusive o foco das discussões, porque elas não ocorrem no âmbito das universidades e dos livros-textos, mas no mercado das ideias, onde então o cristianismo deve pelejar, no estúdio da televisão, na imprensa nacional, na lanchonete das universidades e nos shopping centers, “os novos palcos de debates nos quais as declarações de verdade por parte do cristianismo são julgadas e testadas”. Igualmente, McGrath critica a apologética pressuposicionalista por causa de sua falta de pontos de contato com os descrentes e ineficiência em proporcionar diálogo com o mundo.
Dentro desse cenário McGrath propõe a revitalização criativa e eficaz da apologética para o fim de remodelar a defesa da fé adaptando-a às novas necessidades e oportunidades do mundo atual, daí o subtítulo do seu livro: ciência e arte com integridade. Em outras palavras o que McGrath sugere é a revisão da apologética tradicional com o propósito de incorporar os contornos da visão abrangente da sociedade e do ser humano – proporcionada pela cosmovisão cristã – para construir um sistema de defesa da fé dialógico e com pontos de contato que interliguem o evangelho, os indivíduos e as comunidades do mundo[5], mas sem renunciar às verdades centrais do cristianismo. Tais pontos de contato se fundamentam nas doutrinas bíblicas da criação e redenção e podem enfocar, segundo o autor, a sensação de desejo não satisfeito, racionalidade e moralidade humana, assim como a angústia existencial, a consciência de finitude e de mortalidade e o ordenamento do mundo. Na parte prática McGrath diz que um dos pontos importantes da defesa da fé é o apelo à cultura:
No que se refere ao apologista, ‘cultura’ designa tudo aquilo que o público gosta de ler, assistir ou ouvir, independentemente se isso pode ser considerado como ‘culto’ no sentido estrito da palavra. As palavras de uma música popular; algumas linhas de um bom romance contemporâneo muito lido; uma cena marcante de um filme famoso; alguns versos de uma música de sucesso nas rádios, tudo isso tem potencial nas mãos de um apologista sensível e inteligente.
O apologista, porém, deve conhecer a cultura na qual o evangelho deve ser defendido e elogiado. É pouco provável que a mais eficiente defesa de comunicação do evangelho venha dos lábios de alguém estranho à cultura na qual o evangelho deve ser proclamado. O apologista local familiarizado com sua própria situação, está em melhor posição para identificar e investigar as pistas fornecidas por esse ambiente sociocultural. É muito fácil fazer o evangelho parecer estranho a uma cultura; o apologista deve garantir que ele seja visto como um amigo, entrelaçando-o com as ideias e valores daquela cultura sempre que possível. Antes de o evangelho poder transformar uma cultura, ele precisa primeiramente firmar raízes nela.[6]
Dificilmente o cristianismo conquistará audiência se insistir em defender as suas doutrinas usando argumentos abstratos e eminentemente racionais, ainda que coerentes, longe do mundo do cotidiano das pessoas. Os argumentos teístas da existência de Deus, ontológico, cosmológico, kalam, desígnio teórico-informativo e outros, por exemplo, soam aos ouvidos da maioria esmagadora dos descrentes – principalmente jovens e adolescentes – como uma resenha inútil, chata e cansativa. Embora tais argumentos tenham a sua validade e importância no âmbito acadêmico e em debates públicos contra os antiteístas, não possuem por outro lado grande serventia para o diálogo do dia a dia.
O escritor estadunidense Josh McDowell, um dos mais renomados apologistas cristãos das décadas de 80 e 90, que usava uma metodologia tradicional (evidencialista) para a defesa da fé cristã, percebeu a necessidade de uma nova abordagem apologética. Em Razões para Crer, depois de apresentar dados estatísticos sobre o panorama do pensamento da juventude da atualidade, ele escreve que “os jovens cristãos de hoje precisam mais do que uma postura estritamente modernista, que apele para o intelecto. Precisam muito mais do que o ponto de vista pós-moderno, que rejeita a verdade e exalta a experiência pessoal”[7]; eles precisam de algo que dê sentido relacional para a vida. Portanto, escreve McDowell, nosso papel é “apresentar a fé cristã para os jovens cristãos de modo a demonstrar que crer é um exercício inteligente de saber o que é objetivamente verdadeiro e experimentá-lo de modo relacional. Quando assim fizermos, os jovens cristãos começarão a desenvolver o tipo de convicção profunda que os tornará fortes, mesmo em face dos desafios de hoje”.
Em virtude disso é que estou convencido que a compreensão do cristianismo como uma cosmovisão nos prepara para o desenvolvimento de uma apologética mais dinâmica e atual, a fim de defendermos com mais consistência a fé cristã. Isso porque, a partir da ideia da cosmovisão podemos enxergar com mais amplitude os aspectos culturais, éticos, antropológicos e legais do tempo em que vivemos, filtrando todas as coisas pelas lentes das Escrituras, o que possibilita apresentar as respostas oferecidas pelo cristianismo em harmonia com os sobressaltos da vida e a par dos dilemas das pessoas. A união da apologética tradicional com a perspectiva da cosmovisão cristã forma aquilo que chamo deApologética Responsiva, isto é, que reage e responde de forma adequada aos questionamentos do tempo presente, evidenciando, além da racionalidade da fé cristã, as suas contribuições para a sociedade, a coerência de suas doutrinas fundamentais e o sentido que proporciona à vida humana.
A compreensão do cristianismo como uma visão de mundo abrangente possibilita à apologética interagir com as pessoas e responder às questões sociais postas em discussão, seja sobre casamento homossexual, liberação das drogas, liberdade de expressão, maioridade penal, questões indígenas, moralidade na esfera pública, relacionamento entre estado e igreja etc.
Essa mudança de foco é necessária porque as demandas da atualidade, dentro de um contexto pós-moderno e pragmático, que supervaloriza os resultados, vão além daquelas objeções ao pensamento cristão de poucas décadas atrás, a exigir do apologista cristão sensibilidade para entender seus oponentes e conhecimento que vá além da teologia sistemática.
Caminhemos, pois, em direção a uma apologética responsiva!
NOTAS
[1] GRANT, Peter, em: ZACHARIAS, Ravi, GEISLER, Norman: Sua Igreja está preparada? Rio de Janeiro: CPAD, 2007,  p. 56.
[2] SCHAEFFER, Francis. O Deus que intervém, tradução de Gabriele Greggersen. São Paulo: Cultura Cristã, 2009, p. 213.
[3] MCGRATH, Alister. Apologética crista no século XXI: ciência e arte com integridade; tradução Emirson Justino e Antivan Guimarães. São Paulo: Editora Vida, 2008, 10.
[5] MCGRATH, Alister, p. 19.
[6] MCGRATH, Alister, p. 349, 350.
[7] MACDOWELL, Josh em: Razões para crer: apresentando argumentos a favor da fé crista. Rio de Janeiro: CPAD, 2011, p. 33.
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Fonte:http://www.ubeblogs.net/2014/05/em-direcao-uma-apologetica-responsiva.html

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Ateísmo: uma ideologia superficial

02.05.2014
Do portal GOSPEL PRIME
Por Leandro L Andrade 

O presente artigo tem por objetivo uma introdução prática à apologética cristã, apontando direções para uma boa defesa da fé.
Leandro L AndradeTodo ser humano que está aberto ao saber tem uma tendência natural a se encantar com um conhecimento novo que, a princípio, apresente certa lógica.
O ambiente universitário é um excelente exemplo onde encontramos jovens cujo interesse pelo “descobrimento” é latente e partindo disso serão traçadas as diretrizes por onde o jovem trilhará sua formação acadêmica e profissional, bem como princípios e valores que formarão o caráter do cidadão.
Neste contexto, nós cristãos, somos frequentemente deparados com fortes vertentes ideológicas tão enraizadas no meio acadêmico, onde até mesmo a livre construção do conhecimento pelo estudante é desprezada e a dialética é simplesmente ignorada ou manipulada tendenciosamente de acordo com os interesses do docente. Nos últimos séculos a questão “Deus existe?”, que na antiguidade era motivo de debate exclusivo das ciências humanas – mais precisamente da filosofia, tendo sua forte emersão com Platão buscando bases racionais para o emprego da fé – tornou-se interdisciplinar devido ao aprimoramento das ciências biológicas e físicas, paralelamente ao materialismo.
A conseqüência dessa ditadura ideológica acadêmica ocidental, é o rechaçamento da crença em Deus pela falsa afirmação de que “o teísmo cristão é irracional”. Coagidos pela aparente imponência intelectual ateísta que domina a bibliografia acadêmica com Nietzsche, Espinoza, David Hume, Schopenhauer, B. Russell e Jean-Paul Sartre (entre outros) do lado da filosofia, e os demais Stephen Hawkings, Francis Crick, Richard Dawkings, Leonard Susskind, além de utilizarem de deístas, panteístas, entre outros grupos céticos ao cristianismo, de acordo com a necessidade. Infelizmente o resultado é desastroso, pois ocorre a transformação do ambiente de produção científica e filosófica em um espaço maniqueísta de doutrinação ateísta.
Portanto, o cristão encontra-se num quadro em que, muitas vezes, sem nem precisar do excesso de conteúdo ateísta, o próprio espaço trata o cristão de forma inferior, pela ridicularização que acaba efetivando com primazia a eficácia da supremacia ideológica ateísta na academia universitária. Fato que acaba refletindo na sociedade com um todo. A conseqüência disso, na maioria dos casos, é o silencio devido à falta de argumentos racionais, e a exclusão pelo menosprezo. De fato, aquele que possui uma fé genuína em Cristo como Salvador jamais abandonará a sua fé na existência de Deus e a realidade que Ele passa a se tornar em sua vida! O próprio Espírito Santo é quem nos testifica que somos filhos de Deus conforme está em Romanos 8:16: “O próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus.”; bem como em Romanos 4:21 e 14:5; Gálatas 3:26-27 e 4:6; Colossensses 2:2. Portanto, temos a certeza de que nossos pecados foram perdoados, da nossa reconciliação com o Pai por meio de Jesus Cristo, nos proporcionando alegria, e paz que excede todo entendimento (Filipenses 4:7); logo, temos certeza da existência de Deus! Todavia, por ser algo pessoal, e uma experiência individual, não serve como argumento que convença um cético racionalista e materialista.
Há certa passividade e omissão por parte de alguns cristãos que simplesmente se recusam ao debate racional contra os argumentos apresentados pelo homem pós-moderno que defende a não existência de Deus e/ou rejeitam o cristianismo como única fé verdadeira. A justificativa dessa omissão é baseada em versículos que, de fato, afirmam que o agir de Deus pelo poder do evangelho (Romanos 1:16) e a ação do Espírito Santo (João 16:7-11) são suficientes para o surgimento da fé. Realmente, sem que haja a iniciativa e a ação de Deus por meio do evangelho anunciado e do Espírito Santo não haverá fé salvífica em Cristo. Contudo a defesa racional da fé é algo nitidamente visto nas Escrituras; como exemplo, temos Paulo argumentando com os filósofos gregos (epicureus e estóicos) em Atos 17:16-33, além de conter forte instrução nas Epístolas, segue alguns exemplos (com grifos meus):
“Destruímos argumentos e toda pretensão que se levanta contra o conhecimento de Deus, e levamos cativo todo pensamento, para torná-lo obediente a Cristo.”
2 Coríntios 10:5

“Estes o fazem por amor, sabendo que aqui me encontro para a defesa do evangelho.”
Filipenses 1:16

“Sejam sábios no procedimento para com os de fora; aproveitem ao máximo todas as oportunidades.
O seu falar seja sempre agradável e temperado com sal, para que saibam como responder a cada um.”
Colossenses 4:5-6

“e apegue-se firmemente à mensagem fiel, da maneira como foi ensinada, para que seja capaz de encorajar outros pela sã doutrina e de refutar os que se opõem a ela.”
Tito 1:9

“Antes, santificai ao Senhor Deus em vossos corações; e estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós,”
1 Pedro 3:15

“Amados, procurando eu escrever-vos com toda a diligência acerca da salvação comum, tive por necessidade escrever-vos, e exortar-vos a batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos.”
Judas 1:3

Sendo assim, o dom da fé é dado por Deus; mas a nossa comissão e chamado à defesa racional da fé não deve ser ignorada.
É propício alertar que grande parte da difusão do ateísmo é proveniente da propagação de uma ideologia barata firmada no senso comum, sem fundamento científico-filosófico aprofundado; portanto minha abordagem diz respeito das construções ideológicas e racionais sérias, apesar de muitas vezes militantes, que realmente merecem atenção. Esse é o motivo pelo qual prefiro ignorar a moda neo-ateísta de adolescentes na ânsia pela subversão.
Pois bem, apesar de muitos cientistas e filósofos que defendem a não existência de Deus possuírem muitas construções lógicas corretas em seus argumentos, grande parte deles falha em algum aspecto tanto nas objeções que tentam derrubar os argumentos a favor da existência de Deus, ou quanto nas afirmações de “evidências da não existência de Deus”(frase que se levarmos em consideração a semântica é por definição lógica e filosófica auto-refutável). Vale ressaltar que de modo geral os equívocos ocorrem na base dos silogismos filosóficos, e partindo dessas falácias a priori constrói-se uma mentira com os demais argumentos “verdadeiros”, o que ajuda a maquiar o que na realidade não passa de um argumento falho em sutilezas decisivas.
Diante desse “monopólio científico”, pouquíssimo (ou nada) nos é apresentado de todo conteúdo histórico da defesa da fé cristã e dos grandes, respeitáveis filósofos e cientistas contemporâneos que fazem uma brilhante explicação racional das evidências plausíveis a favor da existência de Deus, como também desconstroem os argumentos ateístas.
Segue a lista de apologetas históricos e contemporâneos e suas respectivas áreas de atuação.

HISTÓRICOS

Platão e Aristóteles (séc. IV a.C): Ambos dispensam apresentação. As principais contribuições filosóficas que apontam a existência de Deus têm gênese com o argumento teleológico desenvolvido pioneiramente pelos pensadores gregos. O argumento[1] consiste na explicação racional para a origem da complexidade natural existente. Outro argumento iniciado por Platão é o argumento da Moral, consistia em afirmar que a bondade só existe quando há contato com o Bem (objetivo e existente independentemente de matéria), com o surgimento do cristianismo o Bem passou a ser identificado como Deus. Há também o combate de Platão ao Dilema de Eutífron[2]que, em suma, afirma ser desnecessária ou incompatível a existência de uma bondade moral e Deus.
Agostinho de Hipona (354-430): Grande teólogo da patrística, o maior da História do Cristianismo dos Primeiros Séculos. Teve participação fundamental[3] para a consolidação da autoridade e legitimidade dos textos bíblicos e seus estudos contribuíram para fundamentar a razão da veracidade histórica dos fatos relatados.
Anselmo de Cantuária (1033-1109): Outro importante filósofo e teólogo católico. Anselmo deu origem ao, ainda rústico, Argumento Ontológico[4]. O argumento consiste em unir de forma consolidada a existência de Deus como algo necessário, a priori, em uma única defesa plena e satisfatória, e também em apontar todas as características de Deus em um só argumento, sem muito aprofundamento em suas conseqüências e ignorando totalmente a razão empírica. Seu argumento foi aprimorado e reformulado por vários outros pensadores, entre eles: Scotus, Descartes, Espinosa,Leibniz e atualmente por Malcolm e brilhantemente por Alvin Plantinga.
Al-Ghazali (1058-1111): Destacou-se entre os islâmicos que tentavam aprimorar o argumento cosmológico cristão da impossibilidade do regresso infinito no tempo. Como conseqüência, deu-se origem ao Argumento Cosmológico Kalam[5]. Consiste basicamente em: “todo ente que tem um começo tem uma causa; ora, o mundo é um ente que teve começo; logo, ele possui uma causa para ter começado a existir”[6]. Atualmente o argumento foi consolidado e é fortemente utilizado por William Lane Craig.
Tomas de Aquino (1225-1274): Teólogo e filósofo, sem sombra de dúvidas foi o mais distinto padre católico na História da Igreja Católica Apostólica Romana no combate às heresias, falsas doutrinas e vãs filosofias. A apologética cristã é presente em suas obras[7] utilizando-se de argumentos racionais em favor da legitimidade e autoridade bíblica, bem como elaboração de filosofias a favor da existência de Deus, que revolucionaram o pensamento crítico da época. Apresentando 3 primeiras vias do argumento cosmológico[8] e, posteriormente, o argumento teleológico.
Gregor Mendel e Louis Pasteur (séc. XIX): Famosos cientistas católicos e fortíssimos contribuintes para o aprimoramento da ciência (botânica e genética; e química e medicina, respectivamente). Foram contemporâneos de Darwin e seus estudos auxiliaram a estabelecer os limites das afirmações que a teoria da evolução ousou a afirmar posteriormente. A impossibilidade da geração de vida espontânea (abiogênese), a inviabilidade da evolução química, surgimento ao acaso de informação genética, bem como desenvolvimento ao acaso de novos sistemas e órgãos complexos e funcionais.
Blaise Pascal (1623-1662): Apesar de apresentar vários pequenos argumentos[9] em favor do cristianismo, a defesa de fé de Pascal (fundador da teoria da probabilidade) acaba por se tornar medíocre quando formula o “argumento da aposta”, que consiste em pensar de forma lógica na possibilidade da existência ou não existência de Deus, e quais seriam as conseqüências de crer ou não crer. A conseqüência disso é uma apologética interesseira e fraca, apesar de lógica.
John Locke (1632-1704): Filósofo empirista e fervoroso racionalista teológico, defendia que a fé religiosa necessita de um alicerce racional. Usou do Argumento Cosmológico e posteriormente, em plena Idade da Razão, dedicou-se em obras[10] com objetivo de trazer boas razões para crer e confiar veementemente no cristianismo e nos milagres relatados.
William Paley (1743-1805): Filósofo, grande contribuinte para a construção do argumento teleológico pela “analogia do relojoeiro”[11], que futuramente veio a se aprofundar cientificamente dando origem ao Intelligent Design. Em 1794 escreveu em 2 volumes A view of the evidences of Christianity sendo considerada a maior obra apologética até o século XVIII, onde trabalha em favor da autenticidade dos evangelhos e a confiabilidade dos milagres descritos e da ressurreição.
Søren Kierkegaard (1813-1855): Grande filósofo existencialista dinamarquês não propõe base racional para aplicação da fé, a qual ele considera como um salto necessário para uma vida coerente com sua existência[12]. Portanto, Kierkegaard afirma que a vida do homem só faz sentido se o salto de fé for realizada, sendo assim ele não aponta causas para uma determinada fé, mas a razão da necessidade da fé ao ser humano, caso contrário o ser humano permanecerá no desespero e na existência não autêntica.
Fiódor Dostoievski (1821-1881): Escritor romancista russo que consolidou o pensamento existencialista, viveu uma profunda disputa interior em seu processo de conversão. Podemos ver explicitamente suas indagações com relação ao Problema do Mal em seus romances[13], onde ele procura defender o teísmo justificando os propósitos do sofrimento e apontando para as terríveis conseqüências do relativismo moral que o ateísmo sucumbe.
G. K. Chesterton (1874-1936): Católico detentor de um currículo amplo, com atuações como escritor, poeta, jornalista, historiador, teólogo, filósofo, entre outros. Teve poucas (e interessantes) obras apologéticas publicadas[14], porém devido sua eminência nas outras áreas teve participação importante defesa da fé cristã na primeira metade do séc. XX.
C S Lewis (1898-1963): Famoso pela brilhante obra As Crônicas de Nárnia, Lewis é um exemplo de conversão racional e progressiva. Amigo de Tolkien, cuja influência mutua é notória, é autor de uma literatura excêntrica[15] (para sua época) no campo da apologética, onde aborda suas razões de fé e sua particular cosmovisão cristã. Foi destacado e reconhecido pela mídia como a conversão de maior impacto dos últimos tempos.
Francis Schaeffer (1912-1984): Filósofo e teólogo presbiteriano, arquitetou uma apologética contemporânea[16] com base na cultura do existencialismo ateu do séc. XX, cuja estrutura é o predicamento humano e o absurdo lógico da vida sem Deus, levando o homem à degeneração, desespero, falta de sentido ou uma vida contraditória.

CONTEMPORÂNEOS

Alister McGrath: PhD em Biofísica Molecular e doutor em Teologia e doutor em Letras (História Intelectual) pela Universidade de Oxford. É professor de Teologia Histórica, e autor de muitos livros[17] apologéticos à fé cristã. Sua obra mais famosa é “O delírio de Dawkins” em resposta as falácias de Dawkins em “Deus, um delírio”, que promoveu um debate/entrevista[18] entre os dois oponentes no campo das idéias.
Alvin Plantinga: Ph.D. em Filosofia pela Universidade de Yale, ocupa a cadeira de Filosofia na Universidade de Notre Dame. É seguramente, junto com Richard Swinburne, o maior Filósofo da Religião da atualidade. Molinista, soluciona de forma brilhante “O Problema do Mal”*** entre outros argumentos ateístas. Endossou o argumento “Ontológico”[19] a favor da existência de Deus.
Francis Collins: Pai do Projeto Genoma Humano, sendo responsável por grande parte do mapeamento genético do DNA. Ex-ateu e geneticista (evolucionista), reconhecido mundialmente, possui obras que conciliam a ciência com a fé cristã sem que a razão seja abandonada. Sua principal obra é A Linguagem de Deus – Um cientista apresenta evidências de que Ele existe[20].
John Lennox*: Matemático e filósofo da ciência pela Universidade de Oxford, é autor de diversos livros e atuante na apologética direta aos ateus, muito famoso por suas excelentes palestras e debates com Richard Dawkins, Lawrence Krauss e Christopher Hitchens.
N. T. Wright: Bispo anglicano da Church of England, especialista no estudo do Novo Testamento, precisamente na ressurreição de Jesus. Pesquisador literário, histórico e filosófico do contexto neotestamentário é autor de diversos livros respeitadíssimos[21] inclusive no meio secular. Para muitos é o teólogo e professor do Novo Testamento mais bem respeitado da atualidade.
Norman Geisler*: PhD em filosofia pela Loyola University – Chicago. É um respeitadíssimo teólogo cristão com uma extensa quantidade de livros e publicações conceituadas[22] de uma teologia sólida e consistente, bem como uma defesa filosófica da fé cristã extremamente concisa com as Escrituras.
Ravi Zacharias: Indiano, cristão, autor de diversos livros[23] unindo espiritualidade e a lógica da cosmovisão cristã. Utiliza a defesa de fé de forma prática, principalmente por meio de palestras evangelisticas atraindo milhares para a Verdade por meio da apologética.
Stephen C. Meyer*: Já atuou como geofísico; atualmente é um dos principais defensores do Intelligent Design, adquirindo seu PhD. em Filosofia da Ciência, dando seqüência e sofisticando os argumentos iniciados desde Panley e principalmente derrubando algumas conclusões precipitadas darwinistas.
William Lane Craig*: Certamente o maior erudito e mais conhecido apologeta cristão da atualidade. Doutor em Filosofia pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra, e em Teologia pela Universidade de Munique, na Alemanha. Aprimorou o argumento Cosmológico Kalam[24] em seu doutorado. Famoso por seus triunfos em debates com Flew, Atkins, Dacey, Sinnott-Armstrong, Price, Dawkins, Parsons, Hitchens, Cooke, Shook, Antony, D Ayala, Dayton, Edwards, Rosenberg, Carroll[25].
Wolfhart Pannenberg: Teólogo alemão dedicou-se à investigação histórica da veracidade da fé cristã com elementos filosóficos e das ciências naturais. O resultado foi uma conversão intelectual. Suas obras[26] são dedicadas de forma relevante na comprovação a realidade histórica da vida de Cristo e da lógica na confiabilidade literária dos evangelhos, e se aprofunda na ressurreição de Cristo.
Outros que merecem destaque: Antony Flew, Dave Hunt, Dinesh D’Souza, Henry Schaefer, James Irwin, J. P. Moreland, J. R. R. Tolkien, Karl Barth, Ken Ham, Marcos Eberlin*, Michael Behe, Russell Shedd, Tassos Lycurgo*, William Daniel Phillips, Walter Bradley e etc.
* Já tiveram passagem pelo Brasil, suas palestras e participações em eventos podem facilmente serem encontradas no Youtube.
Nota: É importante frisar que devido às diferentes épocas e áreas de atuação não há um consenso por parte dos apologetas, porém a contribuição mutua é de suma importância para uma defesa de fé sólida.
Além da refutação aos argumentos ateístas, há também a construção de argumentos que favoreçam a existência de um único Deus, pessoal, extremamente poderoso, atemporal, não espacial, fundamental para a existência de valores morais objetivos; e sobretudo da veracidade da fé cristã, pelas evidências históricas, filosóficas, arqueológicas, literárias e que comprovem a confiabilidade das Escrituras, e consequentemente os milagres e ressurreição de Jesus Cristo.
Em breve serão redigidos, de forma resumida, os principais argumentos contemporâneos que evidenciam a existência de Deus e que defendem de forma racional o cristianismo como a verdade absoluta mais plausível.
______________________________
[1] ARISTÓTELES. Metafísica. e
PLATÃO. Leis.

[2] ______. Eutífron – Diálogos de Platão.
[3] AGOSTINHO. Patrística – Santo Agostinho Vol. 19 – A verdadeira religião. / O cuidado devido aos mortos.
______. De Trinitate. – Livros IX – XIII

[4] ANSELMO. Proslógio.
______. Cur Deus homo.

[5] [Cit.] BEAURECUEIL, S. Gazzali et S. Thomas d’Aquin: [...]
[6] [Cit.] CRAIG, W. L. Apologética Contemporânea: A veracidade da fé cristã.
[7] TOMÁS DE AQUINO. Suma contra os gentios (vários volumes).
[8] ______. Suma teologia.
[9] PASCAL, B. Pensamentos.
[10] LOCKE, J. A Razoabilidade do Cristianismo.
______. Discurso sobre os milagres.

[11] PALEY, W. Teologia Natural.
[12] KIERKEGAARD, S. Fear and trembling.
[13] DOSTOIÉVSKI, F. Crime e Castigo.
______. Os irmãos Karamazov .

[14] CHESTERTON, G. K. Hereges.
______. Ortodoxia.
______. O homem eterno.

[15] LEWIS, C. S. Cristianismo puro e simples.
______. Milagres .
______. O problema do sofrimento.
______. Entre tantos outros.

[16] SCHAEFFER, F. Morte da Razão.
______. The God Who Is There.

[17] MCGRATH, A. Apologética pura e simples.
______. Apologética Cristã no Século XXI – Ciência e arte com integridade.

[18] http://www.youtube.com/watch?v=RJWc3ea3wL0
[19] PLANTINGA, A. Deus, Liberdade e o Mal.
______. The nature of necessity. pág. 221

[20] PDF: http://minhateca.com.br/odilon13/PASTAS+IPAD/CRIACIONISMO*2cEVOLUCIONISMO+E+ATE*c3*8dSMO/Francis+Collins+-+A+Linguagem+de+Deus,175907.pdf
[21] WRIGHT, N. T. A ressurreição do Filho de Deus.
[22] GEISLER, N. Enciclopédia de Apologética.
[23] ZACHARIAS, R. A morte da razão.
[24] CRAIG, W. L. Apologética Contemporânea: A veracidade da fé cristã. pág. 107.
[25] Você pode conferir a lista com os vídeos, áudios e transcrições nos seguintes links:
Em português: http://www.youtube.com/results?search_query=william%20craig%20debate%20legendado&sm=12

Em Inglês:
http://commonsenseatheism.com/?p=392
http://www.reasonablefaith.org/media/debates
[26] Português:
PANNENBERG, W. Fé e Realidade.
______. A pergunta sobre Deus.
Inglês (artigos):
______. Revelation as history.
______. Revelation of God in Jesus of Nazareth – Theology as history.
______. Jesus – God and man.

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Fonte:http://artigos.gospelprime.com.br/ateismo-ideologia-superficial/