01.03.2022
Do  portal CPADNEWS, 26.02.2020
Por pastor César Moisés*
No último dia 17 de março, a comunidade 
científica foi “sacudida” por uma descoberta que teria “comprovado” uma 
vertente, ou “fase”, da teoria do Big Bang, a chamada hipótese 
inflacionária. O achado consistia de “ondas gravitacionais” que, na 
expressão de alguns cientistas, são classificadas como “marcas” 
inequívocas de que o Universo foi mesmo gerado há 13,72 bilhões de anos.
 Apesar da excitação que esse tipo de descoberta provoca, o físico 
brasileiro Marcelo Gleiser, em sua coluna na Folha On-Line,
 afirma que, assim “Como toda nova descoberta científica, esta também 
precisa passar pelo escrutínio da comunidade e ser confirmada por outros
 experimentos” (Ecos da Criação).
 Infelizmente, pouco mais de três meses depois, parece que tudo não 
passou de alarme falso e houve uma precipitação em divulgar o “achado”.* 
É o que informa o mesmo cientista em sua coluna no dia de hoje (A Sedução da fama).
 A que se respeitar a naturalidade da euforia inicial, principalmente se
 se considerar que os primeiros sinais desse tipo foram detectados, 
involuntariamente, há 50 anos, pelos radioastrônomos, Arno Penzias e 
Robert Wilson que, segundo Stephen Hawking, eram “dois físicos 
americanos dos Bell Telephone Laboratories, em Nova Jersey” que “estavam
 testando um ultra-sensível detetor de microondas (microondas são como 
ondas de luz, porém, com frequência da ordem de apenas dez bilhões de 
ondas por segundo). Penzias e Wilson ficaram preocupados quando 
descobriram que seu detetor estava registrando mais ruído do que 
deveria. 
O ruído não parecia vir de qualquer  direção particular. 
Primeiro descobriram dejetos de aves no aparelho e pesquisaram outros 
possíveis defeitos, mas logo desistiram. Sabiam que qualquer ruído 
interior da atmosfera seria mais forte se o detetor não estivesse 
apontado diretamente, do que quando estivesse, porque os raios de luz 
atravessam muito mais atmosfera quando recebidos próximo do horizonte, 
do que quando recebidos diretamente do além. O ruído extra era o mesmo 
em qualquer direção que o detetor apontasse; portanto, deveria vir de fora
 da atmosfera. Era também o mesmo de dia ou à noite, e durante todo o 
ano, ainda que a Terra estivesse em rotação sobre seu eixo e percorrendo
 sua órbita em torno do Sol. Isto demonstrava que a radiação deveria vir
 de além do sistema solar e, mais ainda, de além da galáxia, ou variaria
 quando do movimento da Terra apontasse o detetor para diferentes 
direções” (Uma Breve História do Tempo, pp.69-70).
	 
	Por causa desse “achado”, Penzias e Wilson, ganharam em 1978, o Prêmio 
Nobel de Física. A demora se deu pelo fato de que a associação dos 
sinais detectados com a teoria do Big Bang só “foram interpretados mais 
tarde como resquícios de uma fase extremamente quente do Universo”, diz o
 físico brasileiro Mário Novello em sua obra Do Big Bang ao Universo Eterno (p.21). O que poucos sabem é que, como relata o jornalista Francisco Neves, em um dos textos de apoio à obra Poeira das Estrelas,
 de Marcelo Gleiser, apesar de a descoberta acidental dos dois físicos 
fornecer sustentação experimental à teoria, “Georg Gamow, Ralph Alpher e
 Robert Hermann, que em 1948 haviam apresentado o modelo teórico do Big 
Bang — no qual a existência de uma radiação cósmica de fundo era 
postulada —, sequer foram mencionados pelos laureados pelo trabalho” 
(p.155). 
É constrangedor que isso tenha ocorrido no meio acadêmico, pois
 os dois radioastrônomos não descobriram nada, eles apenas tiveram a 
“sorte” de constatar — acidentalmente, observe-se —, o que Gamow, Alpher
 e Hermann postularam três décadas antes. Infelizmente, conhecimento e 
titulação não significam necessariamente que a pessoa tenha caráter e 
civilidade. Patifarias à parte, o fato é que o achado de março é mais 
uma confirmação de um tipo de postulação teórica que teve início há 
pouco mais de noventa anos. Apesar de toda a hostilidade existente entre
 religiosos e cientistas, é “quase irônico”, diz Gleiser, “que o 
primeiro a propor um modelo científico da origem do universo fosse ao 
mesmo tempo padre e cosmólogo” (Ibid., p.141). 
Foi o que aconteceu em 
1930 quando o padre belga, Georges Lemaître, que além de teólogo, era 
físico, propôs o chamado “Átomo Primordial”. A despeito dessa informação
 de Marcelo Gleiser, o matemático canadense John Byl, afirma que “Edgar 
Allan Poe, que se tornou mais famoso por seus contos, foi o primeiro a 
sugerir que o universo teve origem numa gigantesca explosão” (Deus e Cosmos, p.70). Byl informa que no “pequeno livro Eureka,
 publicado em 1848, Poe descreve como o universo foi criado por Deus, a 
partir do nada, como uma partícula primordial explosiva”. A explicação 
da hipótese de Poe, é que “Inicialmente a matéria explodiu 
movimentando-se em todas as direções. Na medida em que o universo se 
expandia, a gravidade gradualmente induziu os átomos a se condensarem, 
formando assim as estrelas e planetas. Eventualmente, em algum tempo no 
futuro, a ação da gravidade fará que pare a expansão, e então começará a
 contração. O cosmos finalmente retornará ao seu estado inicial, um 
pequeno ponto, tempo na qual ele desaparecerá” (Ibid.).   
	Mas o destaque ao nome de Lemaître não se dá por ter sido, ou não, o 
primeiro a propor uma teoria do início do universo. Segundo o físico 
Lawrence Krauss, a proposta do padre belga foi fundamental para a Teoria
 da Relatividade Geral de Albert Einstein, daí a sua importância. Isso 
porque, apesar de ainda no início de 1916 o famoso físico ter completado
 a elaboração de uma nova teoria da gravitação, e não apenas isso, pois 
era igualmente “uma nova teoria do espaço e do tempo também”, pois, “foi
 a primeira teoria científica que explicou não apenas como os objetos se
 movem através do espaço, mas também como o próprio Universo pode se 
desenvolver”, como Krauss explica, havia “um percalço” na teoria. 
“Quando Einstein começou a aplicar sua teoria para descrever o Universo 
como um todo, ficou claro que ela não descrevia o Universo em que 
vivíamos” (Um universo que veio do nada, p.18). 
Isso porque, 
como diz Krauss, para a “comunidade científica de 1917, o Universo era 
estático e contínuo, e consistia em uma única galáxia, a Via Láctea, 
rodeada por um espaço vasto, infinito, escuro e vazio. Isso descreve o 
que você veria ao olhar para o céu, a olho nu ou com um pequeno 
telescópio, e na época havia poucos motivos para suspeitar do contrário”
 (Ibid., pp.18-19). Em outras palavras, “a teoria da Relatividade Geral 
de Einstein não pare[cia] consistente com a imagem [estática] que se 
tinha do Universo”, levando-o a inserir uma modificação em suas 
equações, o termo cosmológico ou, como diz Gleiser, “pressão negativa” (O fim da Terra e do Céu,
 p.284), que ele posteriormente classificou como “o maior erro de sua 
vida”. Krauss afirma que por “ser apenas o acréscimo de uma constante às
 equações, agora é convencional chamar esse termo de constante 
cosmológica” (Ibid., p.71). Em termos mais claros, apesar de Einstein 
ter intuído, mas não apenas isso, pois segundo Krauss, sua teoria também
 “teve a ver com a observação” (p.19), pelo fato de esta não coadunar 
com o que se pensava acerca do universo naquele contexto histórico, sua 
teoria teve de ser ajustada — erradamente —, para que pudesse ser ao 
menos postulada.
	Surpreendentemente, informa-nos Krauss, em “1927, antes de obter o 
segundo doutorado, Lemaître resolveu as equações de Einstein da teoria 
da Relatividade Geral e demonstrou que ela prevê um Universo não 
imutável e que, de fato, sugere que o Universo em que vivemos está em 
expansão. A ideia parecia tão chocante que o próprio Einstein a 
contestou com a declaração: ‘Sua matemática está correta, mas sua física
 é abominável’” (Ibid., pp.21-22). Ignorando tal oposição, “Lemaître 
seguiu adiante e, em 1930, propôs que o Universo em expansão na verdade 
teve início como um ponto infinitesimal, que ele chamou de ‘Átomo 
Primordial’, e que esse início representava, talvez numa alusão ao 
Gênesis, um ‘Dia sem Ontem’” (Ibid., p.22). Apesar disso, segundo 
Gleiser, “Lemaître foi o primeiro a admitir que o seu modelo era mais 
uma visão mítico-científica que uma descrição matemática da origem do 
universo. Algumas de suas ideias, porém, foram incrivelmente proféticas. 
Por exemplo, ele sugeriu que as desintegrações radiativas do núcleo 
primordial deveriam deixar ‘fósseis’, formas de radiação espalhadas pelo
 cosmo. Essa radiação, conhecida como radiação cósmica de fundo, foi 
encontrada em 1965!” (Poeira das Estrelas, p.143). Justamente 
os sinais que os radioastrônomos detectaram de forma acidental. Antes 
ainda de prosseguir, é preciso observar que a proposição de Lemaître 
coincide com a descoberta do americano Edwin Hubble que, no final da 
década de 20, “demonstrou que as galáxias se afastam umas das outras a 
velocidades que aumentam proporcionalmente à sua distância” (Ibid., 
p.140). Tais exemplos ilustram, concretamente, a tese defendida por 
Thomas Kuhn a respeito do papel de uma teoria que acaba tornando-se um 
paradigma, isto é, uma “revolução científica” (A estrutura das revoluções científicas,
 p.122). Houve muita resistência até que a física einsteiniana 
substituísse a newtoniana**, pois a “emergência de novas teorias é 
geralmente precedida por um período de insegurança profissional, 
pronunciada, pois exige a destruição em larga escala de paradigmas e 
grandes alterações nos problemas e técnicas da ciência normal” (Ibid., 
p.95). Na verdade, a insegurança da ciência existente no momento em dar 
respostas, aponta para um “fracasso das regras existentes” que, por sua 
vez, “é o prelúdio para uma busca de novas regras” (Ibid.). 
	Evidentemente que não há possibilidade, e também necessidade, de neste 
espaço se recontar “a história do universo, geralmente aceita, de acordo
 com o que é conhecido como ‘modelo da grande explosão térmica’” (Uma Breve História do Tempo,
 p.164). Mesmo porque, para isso, teríamos de passar por lances 
históricos que envolvem nomes como os do físico austríaco Christian 
Doppler, bem como o de Henrietta Swan Leavitt, Vesto Slipher e Milton 
Humason que, em 1842, 1908, 1912 e 1929, respectivamente, fizeram 
descobertas que proporcionaram as condições para que o conhecimento a 
respeito do referido modelo viesse à tona, ou “confirmaram”, 
retroativamente, aspectos da futura hipótese (Um universo que veio do nada,
 pp.18-52). 
Na realidade, todas as observações dessas personagens, 
contrariavam a ideia que se tinha na época, ou seja, que o universo era 
“essencialmente constante no tempo” (O universo numa casca de noz,
 p.71) e, por conseguinte, eterno. Um exemplo emblemático de resistência
 a essas “inovações” data de 1948 quando, três cientistas, Fred Hoyle, 
Herman Bondi e Thomas Gold, no lugar de “supor que a expansão cósmica 
leva a uma origem num momento do passado, sugeriram que o universo 
sempre foi o mesmo: segundo eles, o cosmo não só é essencialmente o 
mesmo em todo o espaço, como havia sugerido Einstein com seu princípio 
cosmológico***, mas também no tempo” (Poeira das Estrelas, 
p.144). Tal ideia ficou conhecida “como ‘princípio cosmológico 
perfeito’, segundo o qual o cosmo é e sempre foi essencialmente o mesmo 
no tempo e no espaço”. 
Gleiser informa que com essa alternativa, em 
“termos filosóficos, voltamos à noção pré-socrática do ser, imutável e 
fundamental” (Ibid.). Evidentemente que o trio possuía “argumentos 
científicos” para apresentar tal proposta. Diante de objeções como a 
descoberta de que as galáxias estão em recessão, um desses argumentos, 
“aparentemente uma heresia científica”, diz Gleiser era que “para 
acomodar a expansão cósmica, basta supor que a energia total do universo
 não seja conservada” (Ibid.). Contudo, conforme informa o físico 
brasileiro, “em meados da década de 1960 ficou claro que esse modelo, 
conhecido como ‘modelo padrão’, está incorreto: não podia explicar de 
forma simples e convincente a existência da radiação cósmica de fundo” 
(Ibid., p.145).
	Para se ter uma ideia da força do “modelo padrão”, em 1955, nada menos 
que Stephen Hawking, à época um pré-adolescente de apenas 12 anos cujo 
apelido no colégio era “Einstein”, revela, em sua autobiografia, que 
“tinha seis ou sete amigos próximos” com os quais travava “longas 
conversas e discussões a respeito de tudo, desde modelos controlados por
 rádio até religião, parapsicologia e física”. Ele diz, porém, que com o
 seu grupo, “Uma das coisas sobre as quais [falava] era a origem do 
universo e se foi necessário um Deus para criá-lo e levá-lo adiante. Eu 
ouvira falar que a luz das galáxias distantes tendia para a extremidade 
vermelha do espectro e que isso devia indicar que o universo estava se 
expandindo. (A tendência para o azul teria significado que estava se 
contraindo.) 
Mas eu tinha certeza, de que deveria haver alguma razão 
para o desvio para o vermelho. Um universo essencialmente imutável e 
eterno parecia muito mais natural. Talvez a luz ficasse apenas cansada, e
 mais vermelha, em seu caminho até nós, especulei” (Minha breve história,
 p.32). Contudo, Hawking informa que dois anos depois de iniciar seu 
ph.D., percebeu que estava errado, ou seja, diante das evidências, ficou
 claro que o “modelo da grande explosão térmica”, proposto no final da 
década de 1940, era mais exequível por concordar com as observações. 
Marcelo Gleiser diz que tal “modelo, que o próprio Hoyle zombeteiramente
 chamou de ‘modelo do Big Bang’, pressupõe exatamente o oposto do modelo
 padrão: o cosmo teve, sim, uma origem, há bilhões de anos” (Poeira das Estrelas,
 p.145). O fato é que, conforme informa-nos Hawking, a “grande questão 
em cosmologia no início da década de 1960 era se o universo tinha um 
princípio”. 
Muitos cientistas instintivamente se opunham a essa ideia e,
 como consequência, à teoria do Big Bang, porque sentiam que estabelecer
 um ponto inicial da criação levaria a ciência a um impasse. Seria 
necessário apelar para a religião e a mão de Deus para determinar como o
 universo tinha começado” (Minha breve história, p.69). Como já
 foi dito, o embate se concentrou em dois modelos, um na teoria do 
estado estacionário e o outro, na chamada hipótese inflacionária. Uma 
vez que o primeiro vinha, diante das observações, cada vez mais perdendo
 a sua força, diz Mário Novello, citando uma fala de um debate informal 
no apêndice I de sua obra, na qual o debatedor afirma que “o modelo 
inflacionário apresentou uma proposta simples e que possui consequências
 passíveis de observação — e, como tal, está dentro do esquema 
convencional da ciência”. 
O mesmo debatedor reconhece que “a história da
 física, como qualquer tipo de história, é feita por aqueles que detêm o
 poder”. Assim, apesar de se atribuir “a Alan Guth a ideia original” do 
modelo inflacionário, é possível pensar que “vários outros cientistas 
apresentaram antes dele trabalhos semelhantes, como Alexey Starobinsky, 
Katsuito Sato e outros” (Do Big Bang ao Universo Eterno, p.114). 
	Como a história da cosmologia pende para o nome de Alan Guth na 
discussão da formação da teoria do Big Bang, vale a pena deter-se um 
pouco mais em sua proposta. Antes, porém, é importante observar que, a 
despeito do crescente interesse em torno da proposta do Big Bang (pois a
 “hipótese de um universo que começou extremamente quente e foi se 
resfriando à medida em que se expandia está de acordo com todas as 
evidências observáveis que temos atualmente”), é preciso reconhecer que,
 a despeito disso, mesmo essa hipótese “deixa inúmeras perguntas sem 
resposta” (Uma Breve História do Tempo, p.171). 
“Estranhamente”, as quatro questões “sem respostas” estão apenas na 
edição antiga da excelente obra de Hawking. 
Na nova edição do livro, 
escrita com Leonard Mlodinow e lançada em 2005, além de o título ter 
sido ligeiramente modificado — Uma nova história do tempo —, 
tais indagações simplesmente não aparecem. O detalhe curioso é que elas 
ainda não foram respondidas. É preciso, antes de prosseguir, ressaltar 
duas outras questões: A primeira é que, conforme explica Mário Novello, 
“o cenário descoberto pelo matemático [e físico] russo Alexander 
Friedmann, que descreve um Universo dinâmico, em expansão, como um 
processo evolutivo, permitiu vislumbrar um território novo” (Do Big Bang ao Universo Eterno,
 p.23). Como já foi dito, a despeito de não haver espaço aqui para se 
recontar a história do Big Bang, torna-se interessante destacar alguns 
nomes e aqui parece prudente falar desse russo, Alexander Alexandrovich 
Friedmann (1888-1925), que teve importância capital na formação dessa 
cosmologia. 
Enquanto Lemaître desenvolveu a posição de Einstein 
mostrando que, contrariamente ao que defendia o cientista alemão de 
origem judaica, o modelo cosmológico apresentado por ele implicava em um
 universo dinâmico, Friedmann, diz Novello, no final dos anos 20, 
“submeteu à publicação na revista alemã Zeitschrift fur Physisk
 uma análise da questão cosmológica distinta daquela contida na solução 
original proposta pelo fundador da cosmologia moderna” (Ibid., p.35). De
 acordo com Novello, a “principal novidade consistia em tratar a questão
 como um processo dinâmico, no qual contrariamente ao modelo de 
Einstein, exibia-se uma evolução do Universo, uma dependência temporal 
de suas propriedades mais fundamentais e, em particular, de sua 
geometria. 
No entanto, o apriorismo de um Universo estático — a famosa 
hipótese introduzida por Einstein em seu primeiro modelo cosmológico — 
mostrou-se tão fortemente reacionário que conseguiu evitar, por mais de 
um ano, a publicação do trabalho de Friedmann” (Ibid.). Prescindindo de 
muita explicação pode-se citar que, de acordo com a cosmologia de 
Friedmann, há três possíveis modelos e destinos do Universo: “um 
universo supercrítico [com] geometria fechada [que] acaba entrando em 
colapso [‘Big Crunch’]; um universo crítico [com] geometria plana [que] 
continuará sua expansão indefinidamente; [e] um universo subcrítico 
[com] geometria aberta [que] também continuará sua expansão 
indefinidamente” (O fim da Terra e do Céu, p.290). “Fechando” o círculo histórico, basta dizer que Georg Gamow, trabalhou com Friedmann até sua morte em 1925.
	A segunda questão é que existem vários modelos de Big Bang ou, como 
chama Marcelo Gleiser, “universos de escrivaninhas” que “foram 
descobertos nos anos de 1920 e 1930, baseados em soluções das equações 
de Einstein com diferentes distribuições de matéria” (Ibid., p.286). 
Apesar de o próprio Gleiser dizer que Alan Guth, atualmente lotado no 
“Instituto de Tecnologia de Massachusetts, desenvolveu originalmente a 
teoria que prevê que a geometria do Universo deve ser plana, conhecida 
como ‘teoria do universo inflacionário’”, é preciso observar que, 
segundo o mesmo autor, “Ideias que se aproximavam da solução de Guth já 
existiam no final dos anos 1970, mas ninguém as havia aplicado dentro do
 contexto relevante e com a mesma elegância e clareza” (Ibid., p.332). 
Tal é possível pelo fato de que, como explica Mário Novello, a 
“geometria de Friedmann admite como fonte — via equações da relatividade
 geral — um fluido perfeito. Essa configuração de distribuição da 
matéria é caracterizada, [...] pela densidade de energia (representada 
pela letra E) e pela pressão (representada pela letra P). Entre elas existe em geral uma equação de estado que relaciona as duas quantidades, a saber: P = s E” (Do Big Bang ao Universo Eterno, p.129). “Assim”, finaliza o mesmo autor, “para cada valor possível da constante s,
 temos um dado tipo de fluido perfeito. Como, na maior parte dos fluidos
 conhecidos, s assume valores entre 0 e 1, existe uma grande quantidade 
de configurações materiais. Cada uma dessas configurações corresponde a 
uma dada geometria possuindo um correspondente big bang. Claro que 
somente um desses valores teria sido efetivamente realizado na natureza. 
Como não sabemos com precisão qual foi ele, todas as possibilidades 
devem ser entendidas como geometrias possíveis, isto é, possíveis 
universos, cada qual gerando seu correspondente big bang” (Ibid.). O 
ponto a destacar é que o “artigo de Guth apareceu em 1981 e foi 
rapidamente seguido por variações propostas por Andrei Linde (hoje na 
Universidade de Stanford) e, independentemente, por Andreas Albrecht 
(hoje na Universidade da Califórnia, em Davis) e Paul Steinhardt (hoje 
na Universidade de Princeton)” (O fim da Terra e do Céu, 
pp.332-33). Assim, desde quando o trabalho pioneiro de Guth veio a 
público, informa Gleiser, “dezenas de cenários alternativos foram 
propostos — alguns por este autor — pressupondo receitas diferentes para
 a sopa primordial de partículas, mas obtendo basicamente os mesmos 
resultados, após um número maior ou menor de aproximações, mais ou menos
 elegantes”. 
O que está se afirmando, é que o modelo inflacionário, ou 
seja, a “inflação em cosmologia é ainda uma ideia em busca de uma 
teoria”, pois “boa parte do debate atual entre cosmólogos é se um ou 
outro modelo é melhor ou mais ‘natural’” (Ibid., p.333). Após explicar 
toda a problemática, Gleiser informa que “qualquer que seja a física 
pré-inflacionária (supercordas ou outra), ela está codificada no 
ínflaton**** e suas interações; o modelo do Big Bang é o que vem depois
 da inflação. Em outras palavras, a inflação reinventou o Big Bang. Não 
foi à toa que Alan Guth deu o subtítulo ‘The quest for a new theory of 
cosmic origins’ [A busca por uma nova teoria da origem do cosmo] a seu 
livro de divulgação científica sobre a cosmologia inflacionária” (Ibid.,
 p.345).
	A aceitabilidade da proposta de Guth se deu por sua capacidade de 
responder a um dois principais problemas do modelo cosmológico do Big 
Bang. Trata-se do problema do horizonte que, explica Gleiser, é
 uma das “limitações mais óbvias do modelo do Big Bang”, pois refere-se 
a, “paradoxalmente, sua incapacidade de explicar uma de suas 
propriedades mais relevantes, a incrível homogeneidade da temperatura da
 radiação cósmica de fundo”. Essa é um dos mistérios a ser explicados, 
pois, como se sabe, “qualquer que seja a direção em que uma antena 
sensível à radiação de micro-ondas aponte na abóbada celeste, essa 
antena medirá a mesma temperatura com uma precisão de uma parte em 100 
mil. 
Tal homogeneidade da distribuição de fótons torna-se ainda mais 
impressionante quando tentamos entender como ela é possível” (Ibid., 
p.333). Prescindindo estritamente de tal explicação pela absoluta falta 
de espaço, vale ainda dizer que o “que torna misteriosa a questão da 
homogeneidade da temperatura da radiação cósmica de fundo é que, como 
vimos, a última vez que os fótons puderam interagir com as partículas de
 matéria para ajustar as suas temperaturas foi durante o desacoplamento,
 quando o Universo tinha a tenra idade de 300 mil anos. O problema é 
que, nessa época, o horizonte causal — a região dentro da qual a 
temperatura poderia ter sido homogeneizada — correspondia a uma área que
 hoje ocupa menos de um grau no céu (em torno de duas leias cheias). 
Nesse caso, como é que os fótons em regiões distantes do Universo 
‘sabem’ que devem ter a mesma temperatura?” (Ibid., p.335). 
Gleiser diz 
que “Guth propôs uma solução brilhante”. Sua proposta, segundo Gleiser, 
foi a seguinte: “Suponha que durante os primeiros instantes de sua 
existência, em torno da época em que a Grande Unificação***** 
supostamente ocorreu (10-36 segundo), o Universo sofreu um dramático 
aumento de sua taxa de expansão, de modo a inflar uma região minúscula —
 menor do que o horizonte causal da época — até um tamanho gigantesco, 
grande o suficiente para incluir todo o Universo observável hoje [...]. 
Após um curtíssimo intervalo de tempo, a taxa de expansão cósmica 
retorna ao normal e o Universo, agora ‘inflado’, volta a evoluir de 
acordo com o modelo do Big Bang. (Lembre-se que, no modelo do Big Bang, a
 gravidade diminui gradualmente a taxa de expansão do Universo.) Devido a
 esse curto, mas extremamente rápido, período de expansão (para aqueles 
leitores mais matemáticos, a expansão da geometria durante esse período 
foi exponencial), a solução de Guth ficou conhecida como ‘universo 
inflacionário’” (Ibid., pp.335-36). 
	A não confirmação do achado do dia 17 de março traz à tona a 
possibilidade de se discutir outros modelos cosmológicos, entre eles, o 
que defende Mário Novello, um universo eterno, sem singularidade, ou 
seja, autogerado, sem início e sem fim. Isso apenas demonstra que o 
insaciável desejo humano pelo conhecimento das origens de tudo parece 
não descansar. Mesmo que uma teoria prove ser a descrição da realidade 
ou ainda que uma das centenas de narrativas sobre a criação pareça ser 
uma pista do surgimento de tudo, ainda assim não haverá a saciedade de 
tal busca. Fico a pensar como reagiriam religiosos que se apropriam das 
teorias para comprovar a Bíblia. 
Penso especificamente na proclamação, 
em 1951, do Big Bang, pelo papa Pio XII, como evidência do Gênesis. E 
imagino também a reação de pensadores cristãos como Charles Colson, por 
exemplo, que no combate ao evolucionismo afirma que a “teoria do big 
bang dá um sopro quase fatal na filosofia naturalista, pois o seu credo 
considera a realidade como uma sequência ininterrupta de causa e efeito 
que pode ser traçada indefinidamente” (E agora como viveremos?,
 p.85). Antes de tecer explicações acerca do princípio antrópico 
(registre-se apenas que existem duas versões dele: a forte e a fraca), 
Colson diz que os “naturalistas simplesmente não têm nenhuma forma de se
 opor ao desafio colocado pelo big bang sem enroscar-se em contorções 
lógicas impossíveis. Os fatos claramente indicam que o Universo não é 
eterno, e não pode originar-se a si mesmo. A implicação é que o Universo
 começou em um momento definido no tempo, em um lampejo de luz e 
energia. A ciência começou a soar misteriosa tal como o Gênesis 1: ‘E 
disse Deus: Haja luz’ (1.3)” (Ibid., p.86). 
O grande e grave problema 
para quem adota esse tipo de abordagem que, reconheço, tem até uma 
motivação boa, é que ele acaba refém da comprovação de tal perspectiva, 
assim como ateus que adotam a mesma visão com outras motivações. 
Esquecendo de que, como ensinou Lemaître, o “fato de o Big Bang ter 
acontecido ou não é uma questão científica, não teológica” (Um universo que veio do nada,
 p.22). Não obstante, no afã de comprovar sua tese, o próprio físico 
ateu, Lawrence Krauss, cai na armadilha de dizer que o Big Bang é um 
fato, pois “todas as evidências hoje confirmam de maneira contundente” 
(Ibid.). Ele, porém, tem o mérito de afirmar que, caso tenha ocorrido, o
 Big Bang “pode ser interpretado de diferentes maneiras, de acordo com 
predileções religiosas ou metafísicas” (Ibid.) 
Ele chega a dizer que é 
possível “ver o Big Bang como o próprio Criador ou, ao contrário, 
argumentar que a matemática da relatividade explica a evolução do 
Universo desde o seu início, sem a intervenção de qualquer divindade”.  E
 completa dizendo que uma “especulação metafísica como essa é 
independente da validação do Big Bang e irrelevante para a nossa 
compreensão” (Ibid., pp.22-23). Será? Tudo leva a suspeitar que não, 
pois como veremos no próximo texto, Stephen Hawking, Mário Novello e o 
próprio Lawrence Krauss, importam-se com a fundamental questão de como 
surgiu tudo.
***** 
	* A vantagem de se escrever lentamente é não ter de produzir um texto e
 logo depois outro, às pressas, para desfazer o que foi afirmado 
anteriormente. Iniciei as leituras e pesquisas para produzir esse texto 
ainda em março, mas justamente hoje, sim, hoje, 22 de junho de 2014, o 
dia em que já estava pronto para ser postado, soube que tal achado não 
se confirmou. Quem não é familiarizado com as questões relacionadas à 
ciência, certamente se deliciou com a extensa reportagem da revista Veja, edição 2366, ano 47, número 13, de 26 de março de 2014, intitulada Mais Big do que Bang
 (pp.112-118). Certamente muitos professores de física (e apologistas 
cristãos) que não leem literatura especializada, divulgaram a 
descoberta, mas desconhecendo a informação de hoje, não desfarão o que 
disseram anteriormente.  
** Muito embora, conforme citação de Planck, em meu texto Assuntos 
relevantes em discussões infrutíferas — Parte 4, a física de Einstein 
apenas modificava ligeiramente a de Newton e tinha como objetivo até 
mesmo clarear alguns aspectos do universo estático. Em outras palavras, a
 ideia não era contrariar a física newtoniana.
	*** Acredito que no caso de Lemaître tenha ficado claro, entretanto, 
para que não haja dúvidas, é importante observar que “Einstein parece 
nunca ter levado a sério o big-bang”, ou seja, a despeito disso, “a 
teoria de Einstein implica que o tempo tem um começo, embora a ideia 
nunca lhe tivesse agradado” (O universo nunca casca de noz, pp.22-23).
**** “O campo que causa a expansão inflacionária do Universo” (O fim da Terra e do Céu,
 p.342). O mesmo autor explica que “Toda partícula na Natureza, seja ela
 uma partícula de matéria — como o elétron ou um quark —, ou uma 
partícula de força — como um fóton ou um glúon —, é associada a um 
campo” (Ibid., p.327). 
	***** A chamada Teoria de Grande Unificação (ou, abreviadamente, GUT), 
refere-se à unificação das forças nucleares forte e fraca, isto é, um 
dos passos na unificação total das quatro forças fundamentais na 
Natureza (a força gravitacional, a força eletromagnética, a força nuclear forte e a força nuclear fraca [registre-se que esta última ainda não foi “encontrada”]). 
* César Moisés  Carvalho é pastor, pedagogo, chefe
 do Setor de Educação Cristã da CPAD e professor universitário. É autor 
de “Marketing para Escola Dominical”, que ganhou o Prêmio Areté da 
Associação de Editores Cristãs (Asec) de Melhor Obra de Educação Cristã 
no Brasil em 2006, e do romance juvenil “O mundo de Rebeca”; e co-autor 
de “Davi: As vitórias e derrotas de um homem de Deus”, todos títulos da 
CPAD. 
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Fonte:http://cpadnews.com.br/blog/cesarmoises/fe-e-razao/28/o-big-bang-o-universo-eterno-e-o-criacionismo-%C2%97-parte-1.html