Pesquisar este blog

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Espiritualidade Bumerangue

15.01.2016
Do portal ULTIMATO ON LINE, 07.01.16


O dicionário define o bumerangue, de forma simples, como um objeto de arremesso, objeto esse que após ser lançado ele volta à mão da pessoa. O bumerangue já foi usado até como arma, mas agora é usado como brinquedo, onde as pessoas jogam o bumerangue e ele volta. As manobras são interessantes e há várias formas de jogar e de fazer o bumerangue girar com efeitos e com mais velocidade. A ideia do bumerangue, como o objeto que vai e volta, pode ser uma usada como uma metáfora para explicação dessa espiritualidade evangélica brasileira que cada vez fica descaracterizada e distante do evangelho apresentado na Bíblia. A espiritualidade evangélica sofre de uma deformidade racional, lógica e prática, pois se distancia dos fundamentos bíblicos básicos e assim está se tornando cada vez mais esquizofrênica. É uma espiritualidade no estilo colha de retalhos, que se soma um pouco de cada prática religiosa, que aceita o sincretismo religioso, e assim as práticas públicas de celebrações públicas, passam a ser vista com desrespeito e irreverência para aqueles que conhecem um pouco das Escrituras sagradas. Essa espiritualidade evangélica ajuda a sociedade fomentar um estereótipo do evangélico como aquele que é sem estudo, desprovido da racionalizada, que gosta de coisas de mau gosto, e que aceita tudo sem reflexão.

Essa espiritualidade bumerangue é pautada pelas leis do mercado e do consumo e tem suas raízes nas bases seculares e não na Bíblia, que é para os cristãos a única regra de fé e prática. Essa espiritualidade foca no conceito de sucesso financeiro e no sucesso profissional como elementos de comprovação da presença de Deus na vida das pessoas. O referencial de sucesso, nada tem a ver com os heróis da Bíblia ou com os grandes homens de Deus, e sim com os padrões de sucesso que a sociedade secular tem como padrão. Na realidade, a espiritualidade cristã na sua maioria, pensa e faz propaganda das “bênçãos” materiais, seguindo o mesmo padrão secular. A prática evangélica no Brasil não é de engajamento evangelical, no sentido de levar pessoas a serem cristãs, mas é um ensinamento de formas e métodos para solucionar problemas terrenos e fugazes. 

A espiritualidade cristã nos leva a sermos pessoas melhores, a sermos transformados pelo evangelho e a vivermos com a viva esperança da eternidade, e não para sanarmos as vicissitudes dessa vida. A espiritualidade evangélica é tão disfuncional que ensina os fiéis, e só são fiéis enquanto “as coisas estão acontecendo naquele ministério”, a fazerem coisas que vão fazer com que Deus os abençoe. Em nenhum momento essas espiritualidade bumerangue fala, prega ou ensina os fiéis amarem a Deus acima de todas as coisas, e/ou a priorizar o reino de Deus e sua justiça; pelo contrário, eles ensinam códigos, mandingas gospel, métodos, campanhas, fórmulas, orações específicas, venda de produtos, promessas e cobram muito dinheiro para que as coisas aconteçam. Essa espiritualidade bumerangue é quando o fiel não faz algo ao Senhor por amá-LO e sim por querer algo em troca. Ele entrega dinheiro na igreja não para sustentar a obra missionária, mas ara que Deus veja a sua fidelidade e assim o recompense. Que lastimável. Ele vai a igreja não para cultuar a Deus e sim para aprender como fazer a nova campanha que abrirá a comporta dos céus que derramará curas e dinheiro para que ele volte na próxima semana para contar o “testemunho”. É uma espiritualidade onde o homem continua no centro, e ele faz as coisas para Deus, mas o foco é ele mesmo. Faz pensando em si. Faz pensando em receber. Faz porque foi ensinado a fazer e não por amor a Deus e a sua obra. 

Essa espiritualidade bumerangue é mesquinha, egoísta, maligna e sem fundamento bíblico. A espiritualidade cristã nos ensina a descansarmos em Deus e no Seu cuidado. A espiritualidade cristã nos leva a priorizarmos o reino de Deus e a sua justiça sabendo que as Ele acrescentará tudo oque precisamos. É a espiritualidade que agradece pela alvação como maior dádiva do Senhor, é a espiritualidade que tira nosso olhar do brilho das coisas desse mundo e nos leva a contemplarmos a glória de Deus. Que a espiritualidade bumerangue não contamine o povo de Deus e que possamos aprender mais e mais com Jesus, o Filho amado.


****
Fonte:http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/espiritualidade-bumerangue

A História da Bíblia e dos Cristãos - Documentário Completo

15.01.2016
Do canal no YOUTUBE do Pastor Hafner, 18.03.13

Excelente documentário sobre a História da Bíblia e dos Cristãos. Vale a pena assistir!


*****
Fonte:http://irineumessias.blogspot.com.br/2016/01/a-historia-da-biblia-e-dos-cristaos.html

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O Facebook destruiu meu casamento

12.01.2016
Do blog BELVEREDE, 03.07.2015
Por Eliseu Antonio Gomes

Estive ontem num hipermercado com minha esposa, fui pesquisar preços de tablet da Samsung, com o objetivo de presenteá-lo a mim mesmo. Tenho dificuldades de digitar em aparelhos celulares devido ao tamanho das teclas virtuais. Aperto pensando pressionar uma letra e estou acionando outra. Desse jeito, não consigo fazer parte de redes sociais como o WattsApp.

No departamento de eletrônicos, encontrei um amigo de longa data, que casou-se há vinte e cinco anos e tem um adolescente com dezessete, que o acompanhava naquela ocasião.

 - Meu casamento acabou por causa do Facebook - disse-me o amigo em tom gutural, bem diferente do seu jeito largo de falar.

 - Depois que minha esposa aprendeu usar o Facebook, ficou esquisita comigo, e meu filho flagrou uma página com conversas de namorados entre ela e um estranho. Brigamos, nos separamos. Ela viajou para a cidade do estranho num final de semana e voltou para a nossa cidade com ele, estão morando juntos agora. Então, divorciamos.

Quis lhe dizer que a rede social não estraga pessoas, que apenas revela quem são as estragadas, assim como os automóveis não guiam os motoristas, mas quem está ao volante é que decide qual rumo tomará e conduz o carro até o destino desejado. Mas o amigo não dava brecha para eu falar isso.

Eu me dirigi ao garotão, aconselhei-o para não tomar partido da situação, pois as duas partes da questão são o seu pai e sua mãe, e que ele deve amá-los e respeitá-los, apesar de todo este fato lamentável ter acontecido. O garoto então disse que não quer mais viver com a mãe, que o chamou para morar com ela. 

Por gozar alguma liberdade, apertei sem medo o braço do meu amigo cuja atenção era para a minha esposa, para que me ouvisse, e consegui ter seu olhar. Ele silenciou olhando em meus olhos. 

- O melhor a ser feito agora – falei para ele - é fechar a boca e orar. Não deixe a raiva dominar seu coração. Ore e deixe que Deus ilumine o seu caminho, para que possa encontrar a solução desse conflito. Essa situação poderá até ser resolvida de uma maneira que você menos espera, mas com certeza será o melhor de Deus para você dentro desse assunto. Conheço caso de pessoas divorciadas que reataram o matrimônio.

Não sei se concordou com minhas palavras, mas por uns breves segundos parecia pensar no que disse. Mas logo virou-se para minha esposa, com quem estava falando antes de apertar-lhe o braço, e voltou a dizer como era grande sua revolta. 

Voltei a conversar com o filho dele:

 - O Facebook pode ser bom ou ruim, depende do usuário. Eu e minha esposa tivemos a oportunidade de unir um casal que estava em crise e quase se separando, nossa comunicação era justamente pelo Facebook em conversas reservadas. Eles moram do outro lado do mundo, lá no Japão. Na semana passada, após quase dois anos que se reconciliaram, a mulher ainda nos agradece pelo que pudemos realizar com a graça e misericórdia de Deus no matrimônio dela.

O rapaz concordou comigo sobre a realidade que o Facebook não estraga pessoas, apenas revela quem são as estragadas. 

Nos despedimos ali após combinar em nos encontrar em um local mais apropriado para continuar a conversa. 

Voltei para casa sem o aparelho Samsung, a compra ficará para outra ocasião quando o bolso resolver sorrir para ele saudando-o com um “olá”.

E.A.G. 
*****
Fonte:http://belverede.blogspot.com.br/2015/07/O-Facebook-destruiu-meu-casamento.html

Basta! Não queremos mais ouvir a voz de Deus!

12.01.2016
Do portal GOSPEL PRIME
ESTUDOS
Por Armando Taranto Neto

Enquanto houver uma alma disposta a ser humildemente usada pelo Santo Espírito de Deus o monte Sinai vai continuar fumegando, os trovões bradarão e a terra tremerá.

Deuteronômio cap 5.23-30

Basta! Não queremos mais ouvir a voz de Deus!23 Quando vocês ouviram a voz que vinha do meio da escuridão, estando o monte em chamas, aproximaram-se de mim todos os chefes das tribos de vocês, com as suas autoridades.

24 E vocês disseram: “O Senhor, o nosso Deus, mostrou-nos sua glória e sua majestade, e nós ouvimos a sua voz vinda de dentro do fogo. Hoje vimos que Deus fala com o homem e que este ainda continua vivo!

25 Mas, agora, por que deveríamos morrer? Este grande fogo por certo nos consumirá. Se continuarmos a ouvir a voz do Senhor, o nosso Deus, morreremos.

26 Pois, que homem mortal chegou a ouvir a voz do De­us vivo falando de dentro do fogo, como nós o ouvimos, e sobreviveu?

27 Aproxime-se você, Moisés, e ouça tudo o que o Senhor, o nosso Deus, disser; você nos relatará tudo o que o Senhor, o nosso Deus, lhe disser. Nós ouviremos e obedeceremos.

28 O Senhor ouviu quando vocês me falaram e me disse: “Ouvi o que este povo lhe disse, e eles têm razão em tudo o que disseram.

29 Quem dera eles tivessem sempre no coração esta disposição para temer-me e para obedecer a todos os meus mandamentos. Assim tudo iria bem com eles e com seus descendentes para sempre!

30 Vá, diga-lhes que voltem às suas tendas.

Esta é uma das passagens mais estranhas da Bíblia. Pois o Senhor, por graça e misericórdia, havia se manifestado no monte Sinai acompanhado de trovões, tremores de terra, nuvens espessas etc. Foi um espetáculo aterrorizante em que até o próprio Moisés temeu.

Os anciãos das tribos, ou também chamados de príncipes, os homens que eram tidos por referências das famílias, resolvem ir fazer uma proposta absurda ao líder Moisés. Primeiro elogiam o fato de o Senhor se manifestar de forma tão tremenda e permanecerem vivos.

Depois se consideram um povo agraciado por ter um Deus tão terrível que fala particularmente a seu próprio povo. Entretanto, a despeito de todas estas maravilhas, eles decidem que das próximas vezes que Jeová resolvesse falar com a nação, que Moisés fosse sozinho, recebesse todas as ordens do Altíssimo e então repassasse para o povo, para que eles não viessem a morrer.

Quando leio esta passagem Bíblica situada em 1400 a.C. aproximadamente, vejo o quanto ela é atual.

Vivemos em uma época em que uma grande parte do povo cristão não quer mais ouvir a voz do Senhor, pois sabem que a Sua voz os “matará”. Não a morte física, mas a morte para o mundo e suas concupiscências. Preferem viver uma duplicidade de vida, flertando com os prazeres efêmeros da carne e encenando um viver espiritual sem substância e sem comprometimento com Deus.

Assim como o povo de Israel que saiu do Egito e levaram ocultamente seus “Baalins” (pequenas estatuetas de deuses egípcios e cananeus), escondidos em suas bagagens em suas tendas. Ou seja, adoravam a Jeová mas não deixavam seus ídolos. Cultuavam ao Senhor e faziam secretamente suas “mandingas”.

Mas, afinal, quais foram as Palavras que o Senhor deu a Moisés no monte Horebe? Foram exatamente os dez Mandamentos que se iniciam com o a proibição de cultuarem outros deuses que não fosse Jeová:

Então falou Deus todas estas palavras, dizendo: Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim. Não farás para ti imagem de escultura, nem alguma semelhança do que há em cima nos céus, nem em baixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não te encurvarás a elas nem as servirás; porque eu, o Senhor teu Deus, sou Deus zeloso, que visito a iniquidade dos pais nos filhos, até a terceira e quarta geração daqueles que me odeiam. Ex 20.1-5

Hoje são várias as deidades diante das quais a cristandade tem se curvado:  Mamom e a ilusão da prosperidade e riqueza, idolatria ao “Artistas Gospel”, idolatria Ministerial, idolatria Denominacional, Egolatria, sensualidade, etc.

Outros, ainda, na intenção de calar a voz de Jeová, tem seus profetas particulares, os “Personal Prophets” que em troca de um bom cachê fazem prognósticos para nenhum líder desviado botar defeito.

O certo é que, queiram os  “príncipes” e anciãos ou não , Jeová vai continuar falando, ninguém o calará. Enquanto houver uma alma disposta a ser humildemente usada pelo Santo Espírito de Deus o monte Sinai vai continuar fumegando, os trovões bradarão e a terra tremerá.

Quando o Senhor ouviu a proposta dos príncipes desmascarou-os imediatamente e mandou que regressassem às tendas.

E é isso que devemos fazer, voltarmos às nossas tendas e desentocarmos todas as tranqueiras escondidas que impedem de servirmos a Deus com inteireza de coração.
Voltemos às nossas tendas, cada um tem a sua.
****
Fonte:https://artigos.gospelprime.com.br/basta-nao-queremos-mais-ouvir-a-voz-de-deus/

domingo, 10 de janeiro de 2016

BIOGRAFIA: Policarpo de Esmirna

10.01.2016
Do blog ASSEMBLEIANOS PURITANOS, 28.04.2011
Cedido Por www.Explosãodemilagres.com.br

Nascido em uma família cristã por volta dos anos 70, na Ásia Menor (hoje Turquia), Policarpo dizia ser discípulo do Apóstolo João. Em sua juventude costumava se sentar aos pés do Apóstolo do amor. Também teve a oportunidade de conhecer Irineu, o mais importante erudito cristão do final do segundo século. Inácio de Antioquia, em seu trajeto para o martírio romano em 116, escreveu cartas para Policarpo e para a Igreja de Esmirna. Nos dias do Papa Aniceto, Policarpo visitou Roma, a fim de representar as igrejas da Ásia Menor que observavam a Páscoa no dia 14 do mês de Nisan. Apesar de não chegar a um acordo com o papa sobre este assunto, ambos mantiveram uma amizade. Ainda estando em Roma, Policarpo conheceu alguns hereges da seita dos Valencianos, e encontrou-se com Márcio, o qual Policarpo denominava de “primogênito de Satanás”.

A Carta

Apesar de escrever várias cartas, a única preservada até a data, foi a endereçada aos Filipenses no ano 110. Nesta carta, Policarpo enfatiza a fé em Cristo, e o desenvolvimento da mesma através do trabalho para Cristo na vida diária. Também faz alusão à carta do Apóstolo Paulo aos Filipenses e usa citações diretas e indiretas do Velho e Novo Testamento, atestando-os como canônicos. Na mesma carta, ele repete muitas informações recebidas dos apóstolos, especialmente de João. Por isto, ele é uma testemunha valiosa da vida e da obra da Igreja primitiva no segundo século. Policarpo exorta os Filipenses a uma vida virtuosa, às boas obras e à firmeza, mesmo ao preço de morte, se necessária, uma vez que tinham sido salvos pela fé em Cristo. As 60 citações do Novo Testamento, das quais 34 são dos escritos de Paulo, evidenciam seu profundo conhecimento da Epístola do Apóstolo aos Filipenses e outras do mesmo Testamento. Ao contrário de Inácio, Policarpo não estava interessado em administração eclesiástica, mas antes em fortalecer a vida diária prática dos cristãos.

O Martírio

O martírio de Policarpo é descrito um ano depois de sua morte, em uma carta enviada pela Igreja de Esmirna à Igreja de Filomélio. Este registro é o mais antigo martirológio cristão existente. Diz a história que o procônsul romano, Antonino Pius, e as autoridades civis tentaram persuadí-lo a abandonar sua fé em sua avançada idade, a fim de alcançar sua liberdade. Ele entretanto, respondeu com autoridade: “Eu tenho servido Cristo por 86 anos e ele nunca me fez nada de mal. Como posso blasfemar contra meu Rei que me salvou? Eu sou um crente”! No ano 156, em Esmirna, Policarpo é colocado na fogueira. Milagrosamente as chamas não o queimaram. Seus inimigos, então, o apunhalaram até a morte e depois queimaram o seu corpo numa estaca. Depois de tudo terminado, seus discípulos tomaram o restante de seus ossos e o colocaram em uma sepultura apropriada. Segundo a história, os judeus estavam tão ávidos pela morte de Policarpo quanto os pagãos, por causa de sua defesa contra as heresias.

(Segundo a igreja católica Romana,  o Papa São Aniceto (em latim, Anicetus) foi o décimo-primeiro papa católico, entre os anos 154 e166 D.C).
 

****
Fonte:http://assembleianospuritanos.blogspot.com.br/2011/04/biografia-policarpo-de-esmirna.html

Resenha do livro: "Lendo as Escrituras com os Pais da Igreja"

10.01.2016

Do blog GRAÇA LIVRE, 08.01.14
Por Thiago Velozo Titillo

HALL, Christopher A. Lendo as Escrituras com os pais da igreja. 2. ed. Tradução Rubens Castilho e Meire Santos. Viçosa, MG: Ultimato, 2007. 248 p.

A pergunta que permeia a obra de Hall é: a leitura bíblica dos pais da igreja tem algo a me acrescentar hoje?

Para responder a essa questão, o autor, logo no primeiro capítulo, apresenta motivos para ler os pais da igreja ("por que ler os pais?"). Hall desenvolve um cuidadoso trabalho no sentido de quebrar preconceitos protestantes acerca dos pais como sendo os promotores dos abusos medievais amparados pela tradição católica. O próprio Lutero interagiu com os pais, em particular, com Agostinho, insistindo que "é necessário comparar os livros dos pais com a Escritura e julgá-los de acordo com sua luz" (p. 19). Mesmo o moto "sola scriptura" não deve ser entendido como absoluto individualismo (oriundo do iluminismo). Lutero e Calvino consideraram seriamente a história, os credos e concílios, a tradição e os pais. Para tais reformadores, fechar-se a tais fontes era uma tolice cometida por arrogantes (p. 20). Como apelo final, Hall menciona a jornada teológica de Thomas Oden da teologia moderna (e liberal!) para a paleo-ortodoxia através do criterioso estudo do pensamento patrístico. Em última análise, esquecer o passado cristão é navegar à deriva no imenso mar do cristianismo histórico.

No capítulo dois, intitulado "a mente moderna e a interpretação bíblica", Christopher Hall mostra o impacto do iluminismo na teologia em geral, e na interpretação bíblica, em particular. O afastamento da cosmovisão cristã da realidade logo tornou o ateísmo uma opção filosófica amplamente aceita (pp. 31-32). A filosofia e a hermenêutica pós-moderna, no entanto, questionam a pretensão iluminista de uma razão autônoma. Doutro lado, cristãos conservadores buscavam interpretar a Bíblia como um livro que caiu do céu, lendo-a como se ninguém antes a tivesse lido. Tal fuga da tradição apenas alimenta o exagerado individualismo epistemológico e teológico prevalecentes hoje. Contra tal postura, Wilken argumenta que "nós aprendemos a pensar lendo bons pensadores e deixando que seus pensamentos formem nossos pensamentos" (p. 36). Eles já passaram pela prova do tempo. 

Ao construirmos pontes que nos levem ao mundo dos pais, poderemos encontrar respostas não-viciadas para questões atuais. Agostinho é um exemplo de como a questão do comportamento sexual também fazia parte da vida de um homem dos idos de 400 d.C. Sua sociedade também era sexualmente permissiva (p. 41). Clemente de Alexandria denuncia a extravagância e ostentação em suas próprias congregações (p. 42). Um argumento significativo em favor de se "ler as Escrituras com os pais da igreja" é a proximidade hermenêutica destes em relação aos textos sagrados. Hall cita Allison mencionando que nenhum comentário moderno sobre Mateus liga à afirmação de Jesus ("Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra"; Mateus 5.5) a Moisés. Todavia, Crisóstomo, Teodoreto de Ciro e Eusébio veem nas palavra de Jesus uma referência a Números 12.3, onde é dito que Moisés é o homem mais manso da terra, embora não tenha entrado na terra da promessa. Não seria sóbrio considerar tal alusão, tendo em vista a proximidade hermenêutica dos pais em relação às Escrituras?

No capítulo três, o autor define os critérios para ser um pai da igreja: 1) antiguidade; 2) santidade de vida; 3) doutrina ortodoxa; 4) aprovação eclesiástica.

No capítulo seguinte, Hall apresenta a abordagem hermenêutica dos quatro doutores do Oriente: Atanásio, Gregório de Nazianzo, Basílio o Grande e João Crisóstomo.

O capítulo cinco, segue a apresentação hermenêutica dos quatro doutores do Ocidente: Ambrósio, Jerônimo, Agostinho e Gregório o Grande.

No capítulo seis ("Os pais e a Escritura"), Christopher Hall apresenta a exegese em Alexandria, segundo a qual a Bíblia era tida como um texto polissêmico, contendo um significado mais profundo e espiritual do que aquele aparente num primeiro olhar. Para alguns pais a distinção entre tipologia e alegoria era uma linha tênue demais. As exegeses de Justino, Irineu, Filo (judeu) e Orígenes são tratadas nesse capítulo.

No capítulo seguinte, Hall apresenta a resposta de Antioquia, através de uma exegese fundamentada na "theoria" (tipologia) cristológica, priorizando o sentido histórico do texto. Deodoro de Tarso (seu comentário sobre os Salmos) e Teodoro de Mopsuéstia recebem atenção nesse capítulo. No fim do capítulo, o autor apresenta as singularidades das escolas alexandrina e antioquena sobre a questão da riqueza e da pobreza, principalmente à luz da passagem sobre o jovem rico.

O oitavo e último capítulo, intitulado, "Dando sentido à exegese patrística", busca fortalecer a ideia prévia de que a leitura dos pais é oportuna para os cristãos hodiernos. Isso porque há uma tradição comum entre os cristãos de segmentos diferentes, inclusive naqueles que pensam que existem sem qualquer tradição. Ouvir os pais e recordar aquilo que o Espírito deu aos seus servos do passado não é apenas sábio, mas um sinal de confiança no Deus que agiu no passado e continua a agir hoje.

****
Fonte:http://graca-livre.webnode.com/news/resenha-do-livro-lendo-as-escrituras-com-os-pais-da-igreja/

sábado, 9 de janeiro de 2016

POR QUE SÃO IMPORTANTES OS ESCRITOS DA IGREJA PRIMITIVA?

09.10.2016
Do blog COMPILADOR CRISTÃO

Quem entende melhor os apóstolos?

Os cristãos que acreditam em a Bíblia usualmente pensam que são seguidores do cristianismo como o ensinaram os apóstolos. Os cristãos primitivos também criam que seguiam os ensinos apostólicos. Como podemos saber se eles seguiam melhor a norma estabelecida pelos apóstolos, ou se a igreja moderna a segue melhor?
Chega-nos o pensamento: “Bom, comparemos o que eles ensinavam e o que a igreja atual com a Bíblia.” Muito bem, mas tal resposta realmente não resolve o problema. Os cristãos primitivos baseavam suas crenças na Bíblia, o mesmo que fazem todas as denominações. Citavam as Escrituras para apoiar o que diziam como também o fazemos nós. O problema ao fundo chega a ser de interpretação. Bem que podemos comparar suas interpretações das Escrituras com as nossas, mas isto por si só não resolve o problema.
Há ainda outra pergunta que fazer: É mais provável do que a interpretação da igreja moderna seja a correta, ou a deles?

A vantagem do tempo

É de interesse notar que os cristãos primitivos tinham uma disputa com os Gnósticos que é muito semelhante à disputa da igreja evangélica com eles. Tanto a igreja como os Gnósticos afirmavam que estavam no correto quanto ao evangelho. Tertuliano escreveu: “Eu digo que o evangelho meu é o correto. Marciano [um dos principais mestres gnósticos] diz que o seu é o correto. Eu digo que o evangelho de Marciano se adulterou. Ele diz que o meu se adulterou. Bom, como pode resolver esta disputa, exceto pelo fundamento de tempo? Segundo este fundamento, tem a autoridade o que tem a posição mais antiga. Isto se baseia na verdade elementar que a adulteração está com aquele cuja doutrina originou mais recentemente. Já que o erro é a falsificação da verdade, a verdade tinha que existir antes do erro.”
O fundamento de tempo utilizado por Tertuliano é um dos fundamentos que os historiadores utilizam para avaliar relatórios históricos contraditórios. Um relatório escrito mais próximo em tempo ao fato histórico usualmente se considera mais confiável do que um relatório escrito depois. De semelhante maneira, os eruditos utilizam o fundamento de tempo para avaliar a fidelidade dos manuscritos da Bíblia. Onde diferem os manuscritos, geralmente se toma mais em conta os mais antigos, e não os mais recentes.
Pense você. Confiaria você num manuscrito do Novo Testamento que diferia dos demais e que foi produzido 1400 anos depois de que morreram os Apostolos? Especialmente se tivesse um manuscrito disponível que foi escrito uns poucos decênios depois da morte dos apóstolos, confiaria ainda no mais recente? Por que, pois, escolhemos doutrinas que se ensinaram pela primeira vez 1400 anos depois da morte dos apóstolos, ou ainda depois disso? Temos à vista as doutrinas que ensinaram os cristãos que viviam mal uns poucos decênios depois dos apóstolos.

O efeito acumulativo de mudanças leves

Uma cópia que se faz não reproduz exatamente o original. O cristianismo foi copiado de uma geração a outra, e através dos anos isto produziu mudanças. De uma geração à próxima, a maioria das mudanças foi muito leves, quase imperceptíveis. Não obstante, o efeito cumulativo de mudanças leves através de muitos séculos pode produzir mudanças verdadeiramente significantes. Tome, por exemplo, a língua espanhola. De uma geração a outra, nossa língua muda levemente. A mudança se produz tão devagar que mal nos damos conta dele. Notamos muito pouca diferença entre o nosso falar e o de nossos avôs. No entanto, através de muitos anos, o efeito cumulativo de tantas mudanças leves produz uma língua muito diferente do que era. Por exemplo, se nos puséssemos a ler o espanhol do século décimo terceiro, creríamos estar lendo uma língua mal conhecida.
Vemos o mesmo quanto ao cristianismo. Estou seguro que o cristianismo do segundo século não era uma cópia exata do cristianismo apostólico. Mas os cristãos do segundo século estavam, podemos dizer, na geração que seguia à dos apóstolos. E nós vivemos afastados do cristianismo primitivo por 1900 anos! Será razoável dizer que depois de dezenove séculos o cristianismo de hoje não mudou do cristianismo dos apóstolos? Especialmente quando, ao mesmo tempo, dizemos que o cristianismo do segundo século tinha mudado grandemente depois de mal 50 anos?

A vantagem de língua e de cultura

Mas o fundamento de tempo não é a única vantagem que os cristãos primitivos levavam com respeito a nós. Eles também estavam numa posição muito melhor para interpretar os escritos dos apóstolos.

Pensa você no grego antigo?

Como primeiro ponto, os cristãos primitivos podiam ler as Escrituras do Novo Testamento no grego original dos apóstolos. Quantos de nós podemos fazer isto? Alguns pastores estudam o grego antigo vários anos nos seminários. Mas poucos deles dominam bem o grego. A maioria deles nem podem ler um texto grego sem a ajuda de um léxico grego-espanhol. E os cristãos primitivos? Não tinham que estudar o grego antigo; era sua língua materna. Não só falavam o grego; pensavam em grego.
Quanto nós entendemos da cultura da época do mundo mediterrâneo?
O que falar da barreira cultural? A maioria dos cristãos de hoje sabem muito pouco a respeito da cultura e o ambiente histórico da época do Novo Testamento. E muitas vezes, o que julgam saber é mais falso que verdadeiro. Ainda os eruditos que dedicam a vida inteira ao estudo da cultura e o ambiente histórico do Novo Testamento jamais poderão entendê-lo tão bem como entendiam aqueles que viviam nesse tempo. Desta maneira, outra vez os cristãos primitivos levam uma vantagem importante sobre nós quanto a entender as Escrituras.

Falamos nós com o apóstolo João?

Como ponto final, a primeira geração de cristãos primitivos teve a oportunidade de ouvir aos Apostolos pessoalmente, como também de fazer-lhes perguntas.
Clemente de Roma é um exemplo. Ele era discípulo pessoal tanto do apóstolo Paulo como também do apóstolo Pedro. Paulo fala especificamente de Clemente em sua carta aos filipenses: “Assim mesmo te rogo a ti, colega fiel, que ajudes a estas que combateram juntamente comigo no evangelho, com Clemente também e os demais colaboradores meus, cujos nomes estão no livro da vida” (Filipenses 4.3). Será provável que Clemente, o colega pessoal de Paulo, entendesse mau o que Paulo ensinava a respeito da salvação? Por que falaria Paulo com tanto apreço de seu colaborador se este ensinasse o erro?
Já falei da relação de Policarpo com o apóstolo João, quem lhe ordenou como bispo da igreja de Esmirna. Se os “anjos” das sete igrejas do Apocalipse se referem aos bispos destas igrejas, é bem possível que o “anjo” de Esmirna fora o mesmo Policarpo. E, em Apocalipse, Jesus não diz nem uma palavra a respeito de algum erro doutrinal na igreja de Esmirna. De fato, Jesus não teve que corrigir nada nesta igreja. Nada (Apocalipse 2.8-11). Claro que a igreja de Esmirna caminhava muito bem sob a liderança de Policarpo; de outra maneira teria dito o Senhor.
Para os cristãos primitivos ouvir os apóstolos explicar seus próprios escritos não era luxo; era necessário. Que comentou Pedro mesmo dos escritos de Paulo? “Nosso amado irmão Paulo. escreveu-vos, quase em todas suas epístolas, falando nelas destas coisas; entre as quais há algumas difíceis de entender, as quais os incrédulos e inconstantes torcem, como também as outras Escrituras, para sua própria destruição” (2 Pedro 3.15-16). Pedro escrevia a cristãos que dominavam bem o grego e que entendiam perfeitamente a cultura em que viviam a mesma que tinha Paulo. Mas ainda com estas vantagens, Pedro admite de que há coisas “difíceis de entender” nos escritos de Paulo. E nós, que vivemos distanciados deles por quase 2000 anos e falamos outro idioma, cremos que é impossível que entendêssemos mal os escritos de Paulo!

A maioria dos ensinos dos apóstolos era falada

Todos os ensinos de Jesus se comunicavam oralmente. Ele não deixou nem sequer uma palavra escrita de instrução para a igreja. Quando a igreja teve seu princípio no dia de Pentecostes, o único ensino cristão era a palavra falada. De fato, o Novo Testamento que conhecemos hoje não se completou até quase terminar o primeiro século. Por esta razão a igreja do primeiro século tinha que depender, grandemente dos ensinos falados dos apóstolos. E os apóstolos ensinavam oralmente a estes cristãos.
Realmente você crê que o Apostolo Paulo, evangelista e pregador incansável, não ensinou nada mais às igrejas senão só as 13 ou 14 cartas breves que temos em nosso Novo Testamento? Claro que ensinou mais! Paulo exortou aos Tessalonicenses: “Assim que, irmãos, estai firmes, e retende a doutrina que aprendestes, seja por palavra, ou por carta nossa” (2 Tessalonicenses 2.15). Paulo desejava que os cristãos seguissem seus ensinos falados tanto como os escritos.
E os demais apóstolos? Crie você que Pedro nunca escreveu nada senão umas sete páginas? E o que falar dos apóstolos André, Tiago, Felipe, Bartolomeu, Tomé, Tiago (o filho de Alfeu), Simão o zelote, e Judas (filho de Tiago)? Realmente crê que eles não tinham nada que compartilhar com a igreja? Incrível! Estes eram os homens que Jesus mesmo tinha escolhido. Tinham estado com ele por três anos, um grupo de discípulos íntimos que escutaram seus ensinos. Segundo o depoimento da igreja primitiva, todos os apóstolos dedicavam sua vida à pregação do evangelho, ensinando constantemente.
Paulo escreveu aos Coríntios: “Vos louva, irmãos, porque em tudo vos lembra de mim, e retendes as instruções tal como vo-las entreguei” (1 Coríntios 11.2). Paulo segue com uma advertência a algumas mulheres de Corinto que não levavam um véu sobre a cabeça. Não sabemos de nenhum mandamento apostólico escrito antes disso de que as mulheres cristãs levassem um véu quando oravam ou profetizavam. Mas claramente os apóstolos tinham dado uma instrução falada. E Paulo testemunha que as igrejas já tinham um costume quanto ao uso do véu : “Se algum quer ser contencioso, nós não temos tal costume [a de andar uma mulher sem véu], nem as igrejas de Deus” (1 Coríntios 11.16).
Por favor, não se adiante aqui concluindo que existam outras doutrinas, ou outros mandamentos morais, ou outras revelações que receberam os cristãos primitivos só verbalmente. Em verdade, os escritos dos cristãos primitivos dão uma evidência ampla de que não tinha nenhuma doutrina senão só as que temos escritas. Nosso Novo Testamento contém todas as doutrinas e todos os mandamentos morais necessários para a vida cristã.
Em vez disso, a tradição apostólica (ou seja, os ensinos falados dos apóstolos) constava de duas coisas maiores. Primeiro, estabeleciam ou aprovavam práticas com respeito à adoração e o companheirismo cristão. Em verdade, a igreja primitiva recebeu a maioria de suas praticas nestes pontos por tradição apostólica falada, não por escrito. Por exemplo, em nenhuma parte do Novo Testamento lemos quando devem reunir-se os cristãos, ou quantas vezes devem celebrar a santa ceia. Mas o depoimento dos cristãos primitivos nos ensina que definitivamente tinha tradições dadas pelos apóstolos e seus colegas quanto a esses pontos.
O governo da igreja também se estabeleceu por tradição apostólica, ou seja, pelos ensinos falados dos apóstolos. Quando Paulo deu a Timóteo e Tito as instruções a respeito de escolher anciãos e diáconos para a igreja, não instituía uma nova forma de governar a igreja (1 Timóteo 3.1-13; Tito 1.5-9). Singelamente descrevia aos homens que deviam ser escolhidos para tomar os postos que todos já conheciam.
Em segundo lugar, os ensinos falados dos apóstolos aclaravam e explicavam os pontos que se tinham tratado (ou que cedo seriam tratados) nos escritos que compõem o Novo Testamento. Os apóstolos nunca creram que a igreja devesse interpretar seus escritos por si sós, aparte dos muitos ensinos faladas que davam. E já que a igreja primitiva se aferrava às abundantes instruções faladas dos apóstolos, levavam uma vantagem enorme a nós quanto a interpretar os escritos dos apóstolos.
Mas, por favor, não confunda você as tradições apostólicas com as tradições humanas adotadas pelas igrejas depois. A grande maioria das tradições ensinadas pela igreja católica romana e pela igreja ortodoxa (da Grécia e Rússia) eram desconhecidas aos cristãos primitivos. Tais tradições se adotaram depois do tempo de Constantino.
Será que os cristãos primitivos de propósito falsificaram a verdade? Os cristãos primitivos estavam em melhor posição para entender e imitar os apóstolos.

Falsificaram-se de propósito os ensinos dos apóstolos?

Se o cristianismo mudou radicalmente dentro de poucos decênios depois da morte do apóstolo João, não creio que fora porque a igreja não entendesse os ensinos dos apóstolos. Sejamos razoáveis. Se os cristãos que receberam instrução pessoal dos apóstolos não puderam entender seus ensinos, quem as poderá entender? Por isto digo, se os cristãos se apartaram fundamentalmente do cristianismo dos apóstolos, tiveram que ter feito de propósito, com pleno conhecimento.

Criam que não teria nenhuma nova revelação de Deus.

Criam os cristãos primitivos que os apóstolos erraram em alguns pontos da fé? Criam que a igreja tinha recebido alguma revelação nova depois da morte dos apóstolos? Ou que a doutrina apostólica chegou a passar de moda?
A resposta a todas estas perguntas é um “não” inequívoco. A igreja primitiva ensinava claramente que não teve nenhuma revelação nova depois da morte dos apóstolos. Criam firmemente que tudo o que podemos saber de Deus já nos foi revelado por meio dos apóstolos. Ademais, a igreja cria que os apóstolos não tinham ensinado nada errôneo e que seus ensinos aplicavam aos cristãos até o fim do século.
Por exemplo, Tertuliano escreveu: “Nos apóstolos do Senhor achamos nossa autoridade. Mas nem ainda eles se atreveram a introduzir nada novo, mas fielmente entregaram às nações (de todo mundo) a doutrina que eles tinham recebido de Cristo. Portanto, se ainda ‘um anjo do céu. anunciar outro evangelho’, que seja anátema [Gálatas 1.8]. Portanto, temos esta norma: Já que o Senhor Jesus cristo mandou aos apóstolos que pregassem [o evangelho], não recebemos nenhum outro que prega senão só aos mandados por Cristo. O Filho não revelou [a seu Pai] a ninguém senão só aos apóstolos, a quem também encarregou que pregassem o que lhes tinha revelado.”
Em verdade, o desacordo principal da igreja primitiva com os grupos heréticos tratava isso mesmo: o tema de revelação. Quase todos os hereges afirmavam ter revelações novas além das dos apóstolos.
Os cristãos primitivos se aferravam firmemente à posição de que não teria outra revelação de Deus depois da revelação dada aos apóstolos. Por isso, a igreja recusava imediatamente qualquer ensino que não tinham recebido dos lábios dos apóstolos.

Os líderes da igreja primitiva eram homens de integridade

Mas, para continuar nossa discussão, o fato de que os cristãos primitivos diziam que não tinha nenhuma revelação depois da que foi dada aos apóstolos não quer dizer que eles mesmos não mudassem com astúcia os ensinos apostólicos, com intenção de enganar. O que falar da sua integridade? Eram eles homens honrados, tementes de Deus, ou buscavam riqueza e poder com pouco escrúpulo? A evidência incontestável é que eles eram homens tementes a Deus, humildes e honrados. Como primeiro ponto, não receberam nenhuma remuneração econômica por sua posição. Não recebiam nenhum salário. Os que serviam como anciãos na igreja se negavam das comodidades da vida e viviam em pobreza. Só os hereges sacavam ganho de sua posição de liderança. Tinha pouquíssimos atrativos para alguém que quisesse uma posição de liderança na igreja senão só um anseio honrado de servir a Deus.
Mais do que isso, em tempo de perseguição, os líderes da igreja eram o grupo mais procurado dos soldados e das multidões. Durante algumas épocas, ser nomeado como ancião de igreja quase equivalia a receber a pena de morte. Contudo, quase sem exceção, os líderes da igreja primitiva estavam dispostos a suportar as torturas desumanas antes de negar a Cristo. Muitos dos líderes cristãos que citamos neste dicionário, Inácio, Policarpo, Justino, Hipólito, Cipriano, Metódio, e Orígenes, de boa vontade deram suas vidas por sua fé em Jesus Cisto. Se estes homens tivessem sido enganadores sem escrúpulos, torcendo os ensinos de Cristo e seus apóstolos, estariam dispostos a morrer por Cristo? Os Gnósticos não estavam dispostos a morrer por sua fé. Ainda que afirmassem ter recebido novas revelações de Deus, quando lhes defrontava a tortura e a morte, cedo se rendiam e negavam sua fé. Poucas pessoas estão dispostas a morrer por um engano conhecido.
Não usamos esta mesma verdade quando defendemos a veracidade da ressurreição de Jesus? Não dizemos que os apóstolos não tivessem estado dispostos a dar suas vidas por um engano que eles mesmos iniciaram? Que nos faz crer que os seguidores dos apóstolos tivessem morto por um engano?

Eles reuniram e preservaram o Novo Testamento

Em verdade, a autenticidade de nosso Novo Testamento tem seu fundamento na integridade dos cristãos primitivos. Afinal de contas, os líderes da igreja primitiva reuniram, preservaram, e provaram a autenticidade dos escritos que nós agora chamamos o Novo Testamento.
Alguns cristãos hoje em dia creem equivocadamente que os apóstolos, antes de morrer, reuniram seus escritos e os entregaram à igreja, um livro completo. Supõem que eles lhes disseram aos cristãos de então: “Aqui está o Novo Testamento. Com isto, não lhes falta nada. Aqui esta a revelação de Deus.” Mas não foi assim. As diferentes cartas e livros escritos pelos apóstolos não foram reunidos todos por uma só igreja num livro. Algumas igrejas reuniram uns; outras igrejas, outros. Os apóstolos nunca deixaram dito às igrejas quais escritos aceitar e quais eliminar. Os cristãos primitivos decidirem eles mesmos quais escritos foram legítimos dos apóstolos e quais não foram. E isso não era tão fácil.
Agora, se dizemos que os cristãos primitivos não eram homens honrados, colocamo-nos entre a espada e a parede. Se eles mudaram de propósito os ensinos dos apóstolos, temos que dizer que, com toda probabilidade, também mudaram os escritos dos apóstolos. Então, que base fica para nossas crenças? Resulta que quando defendemos o Novo Testamento como legítimo e autêntico estamos defendendo também a integridade dos cristãos primitivos. Usamos o depoimento deles e sua aceitação destes escritos como nosso fundamento primordial de defesa.
A integridade destes homens se nota especialmente em suas decisões de quais livros incluírem no Novo Testamento. Por exemplo, entendendo a doutrina dos cristãos primitivos com respeito às obras e a salvação, creríamos que a igreja primitiva tivesse dado grande ênfase à carta de Tiago, aceitando sem demora sua autenticidade. Ao mesmo tempo, esperaríamos que se opusessem à carta de Paulo aos romanos. Mas foi tudo ao contrário. Os cristãos primitivos poucas vezes citavam da carta de Tiago, e por um tempo muitas igrejas duvidaram de sua autenticidade. Por contraste, citavam muitas vezes das cartas de Paulo, e incluíam sem demora suas cartas no Novo Testamento.
Que integridade mais tremenda! Duvidavam a autenticidade do livro que mais os apoiava em sua doutrina da salvação. Ao mesmo tempo, aceitavam sem demorar aqueles livros que ao que parece davam menos ênfases ao que criam. Tivéssemos nós tão grande integridade?

Os cristãos primitivos eram muito conservadores

Os cristãos primitivos eram muito conservadores. Para eles a mudança equivalia ao erro. Já que não esperavam nenhuma revelação fora da dos apóstolos, eliminavam de imediato qualquer ensino que não tinham recebido dos apóstolos. Por exemplo, na carta que uma congregação escreveu a outra congregação, temos o seguinte: “Vocês entendem muito bem, sem dúvida, que aqueles que desejam promover novas doutrinas se acostumam cedo a perverter as provas nas Escrituras que desejam usar, conformando-as a seu próprio parecer. Portanto, um discípulo de Cristo não deve receber nenhuma doutrina nova, nenhuma que se adiciona ao que já nos foi dado pelos apóstolos.”
Quando um crê que qualquer mudança constitui erro, as coisas não mudam muito. Se compararmos o cristianismo do segundo século com o de terceiro século, vemos isto mesmo muito bem. Quando comparamos os escritos dos dois séculos, vemos muito poucas mudanças nas doutrinas ensinadas em todas as igrejas ou nos preceitos morais que seguiam. Tinha algumas mudanças leves, sim, mas, na maioria tinham a ver com o governo da igreja e sua disciplina.

Conferiram os discípulos dos apóstolos

Outra coisa que impressiona a respeito dos cristãos primitivos era seu desejo sincero de evitar o extraviar-se por descuido das praticas dos apóstolos. As igrejas do primeiro século se aferram aos ensinos por palavra dos apóstolos e conferiram com os apóstolos quando surgia qualquer dúvida. Se não podiam conferir com os apóstolos, conferiram com os anciãos daquelas igrejas onde os apóstolos tinham ensinado pessoalmente. Este último costume se praticava até o tempo de Constantino. Por exemplo, Irineu escreveu: “Ponhamos que se levanta entre nós uma discussão sobre um ponto importante. Não devêssemos voltar às igrejas mais antigas com as quais os apóstolos tratavam, aprendendo delas o que é verdadeiro e manifesto quanto a nossa dúvida?”
Recordemos que até o ano 150 tinha anciãos na igreja quem tinham sido instruídos pessoalmente por um ou mais dos apóstolos. Até os princípios do terceiro século, tinha líderes na igreja quem receberam instrução dos discípulos pessoais dos apóstolos. Claro, conferir com as igrejas fundadas pelos apóstolos não era o mesmo que conferir com os mesmos apóstolos. Mas quando tomamos em conta o espírito muito conservador da igreja primitiva, vemos que constitui um método válido para evitar desviar-se das praticas e os ensinos dos apóstolos.
Aqui devemos notar que este costume se praticava voluntariamente. Nenhuma igreja tinha autoridade sobre outras igrejas. Recordemos também que este costume não se baseava no pensamento que as igrejas fundadas pelos apóstolos tivessem alguma revelação ou autoridade nova, senão em que serviam como o melhor elo à revelação dada pelos apóstolos.

Todos ensinavam as mesmas doutrinas fundamentais

O cristianismo primitivo se caracteriza por uma diversidade de crenças sobre os pontos menos importantes de doutrina. Ao mesmo tempo, a grande maioria das doutrinas e as práticas fundamentais, ensinavam-se quase universalmente na igreja primitiva. Esta universalidade das doutrinas fundamentais da igreja nos convence que estas doutrinas vinham dos apóstolos. Não tinha nenhum cristão no segundo século que tivesse tido tal grau de influência em todas as igrejas que tivesse podido originar uma doutrina nova que seria recebida em todas.
Se as igrejas se tivessem apartado da única fé verdadeira pregada pelos apóstolos, como é possível que todas resultassem ensinando o mesmo? Nesse tempo, não tinha nenhum papa, nem hierarquias eclesiásticas, nem concílios mundiais, nem seminários, nem sequer impressos. Não tinha nenhuma maneira de disseminar ensinos errôneos em todas as igrejas. Não tinha nem sequer um credo que fora usado em todas as igrejas dos séculos dois e três. Cada congregação tinha sua própria declaração de doutrina cristã. Então, em que maneira tivessem podido estas igrejas chegar às mesmas interpretações e praticas se não é que seguiram fielmente o que lhes foi ensinado por Paulo e os demais apóstolos? E notemos uma coisa mais. Trezentos anos depois da morte de Cristo, os cristãos formavam um corpo unido. Mas, trezentos anos depois da Reforma, os cristãos estavam divididos entre centenas de grupos e seitas dissidentes. Não deveremos aprender um pouco de este fato?

Que disse Jesus a respeito de seus ensinos?

Por fim, e como ponto mais importante tem o depoimento de Jesus mesmo a respeito destes cristãos. Ao final do primeiro século, ele avaliou a sete igrejas e deixou escrita sua avaliação no livro de Apocalipse. Muito poucos anos separaram este livro escrito por João dos primeiros escritos que citei neste livro. A verdade é que as cartas de Inácio e Clemente de Roma provavelmente foram escritas antes que Apocalipse.
No livro de Apocalipse, que disse Jesus a estas sete igrejas representantes das demais? As repreendeu por suas doutrinas falsas? Censurou-lhes porque criam que as obras têm que ver com a salvação? Não. Muito pelo contrário.
Exortou-lhes que aumentassem suas obras. Disse à igreja em Sardes que suas obras não eram completas. Mas não disse nada a nenhuma igreja a respeito de suas doutrinas fundamentais. Sua censura mais importante contra estas igrejas era que davam lugar entre eles a alguns mestres imorais e às pessoas que os seguiam. E este problema sim se remediou no segundo século.
Não há nada nas mensagens de Jesus às sete igrejas que nos fizesse crer que elas ensinassem doutrinas falsas. Como já disse Jesus não repreendeu em nenhum ponto à igreja de Esmirna, igreja onde Policarpo era o bispo. Que medida de aprovação maior do que essa pudesse receber? Agradavam a Deus.
****
Fonte:http://www.compiladorcristao.com/blog/dicionario-da-igreja-primitiva/por-que-sao-importantes-os-escritos-da-igreja-primitiva/