29.07.2015
Do blog VOLTEMOS AO EVANGELHO, 20.07.15
Como sabem, entendemos no VE que
o dízimo é uma porcentagem exigida ao povo judeu que não se transfere
como mandamento para a igreja. Cremos que é um bom padrão para guiar
aquilo que o Novo Testamento enfatiza: contribuições voluntárias. Porém,
é importante entendermos que dar ou não o dízimo, defender ou não os
10%, não é o pilar sobre o qual se sustenta a fé cristã e que o erro
fundamental da teologia da prosperidade é a barganha com Deus através do
dízimo (e não o dízimo em si).
Assim, cremos que as palavras de Paulo
em Romanos 14.4-6 podem se aplicar a esta situação também: “Quem és tu
que julgas o servo alheio? […] Cada um tenha opinião bem definida em sua
própria mente.” Isso significa, que alguns de vocês devem parar de
condenar de herege todo pastor que fala sobre o dízimo ou de ludibriado
todo dizimista. E outros, devem parar de julgar como infiel o que oferta
generosamente, mas entende que o dízimo não é para os dias de hoje.
Ambos o fazem para o Senhor e lhe dão graças.
Dito isto, há irmãos amados em Cristo,
como o presbítero Solano Portela, que entendem a validade do dízimo para
manter a proporcionalidade no que é dado. Leia abaixo:
Introdução – Mordomo e Mordomia.
Mordomo? Quando ouvimos esta palavra,
vem à mente uma figura antiquada; uma pessoa de idade vestida com um
fraque, servindo refeições em um castelo; ou, muitas vezes, o culpado
dos crimes cometidos em histórias policiais. A palavra mordomo,
entretanto, significa simplesmente administrador. Na Bíblia, no livro de
Gênesis (39.4), lemos que José recebeu a confiança do alto oficial da
corte de Faraó, “de modo que o fez mordomo da sua casa, e entregou na
sua mão tudo o que tinha”. Temos outros exemplos, também na Bíblia,
entre esses o do Eunuco, o alto oficial etíope, (Atos 8.27), a quem
Filipe pregou o evangelho. Ele é chamado de mordomo principal da rainha
da Etiópia. Veja a extensão de suas responsabilidades no próprio verso:
ele “era superintendente de todos os seus tesouros”. Ser mordomo,
portanto, é algo muito importante. A palavra, no original grego,
significa literalmente – “aquele que coloca a lei na casa”, ou o que
administra a casa de acordo com a lei.
Mordomia é o exercício dessa capacidade
de administração. Essa palavra é ouvida com freqüência em igrejas,
normalmente referindo-se às obrigações sobre contribuições. O seu
sentido, entretanto, é muito mais amplo. Da mesma forma como Potifar
colocou nas mãos de José a administração de todos os seus bens, Deus, ao
criar o homem, colocou em suas mãos toda a criação para ser
administrada. Isso pode ser constatado. Você pode constatar isso, lendo
Gênesis 1.28 – “Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e
multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do
mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam
sobre a terra”. Nesse sentido, somos mordomos de Deus sobre o tempo, que
recebemos dele; sobre os bens que ele nos dá e sobre tudo mais que ele
nos concede, em nossa vida.
Inserido, portanto, na definição de
mordomia está o conceito de responsabilidade. Somos responsáveis pela
utilização correta de tudo que provém de Deus e isso se inicia com o
reconhecimento de sua pessoa e de que temos que glorificá-lo no todo de
nossa vida (1 Coríntios 10.31). Somos bons mordomos se demonstramos
responsabilidade no uso de nosso tempo, de nosso dinheiro e até nas
escolhas de nossas amizades.
Esse é o estudo de mordomia, nesse
sentido abrangente. Queremos focalizar nossa atenção apenas no
reconhecimento de que somos mordomos; de que tudo o que temos pertence
ao Senhor; e de como temos o privilégio de indicar o reconhecimento da
bondade e misericórdia, através de nossas contribuições. Gostaríamos,
portanto, de focalizar o aspecto tradicional do tema mordomia – o das
contribuições, mas com uma abordagem um pouco diferente da tradicional.
As bases da contribuição decimal (Gênesis 14.18-20)
Registros antigos, na Palavra de Deus,
que antecedem a Lei Cerimonial e Judicial do Povo Judeu, mostram que dar
dez por cento das posses, ou seja, o dízimo, era uma prática religiosa
abraçada pelas pessoas tementes a Deus, como forma de adoração e
reconhecimento de que nossos bens procedem da boa vontade de Deus. Nesse
sentido, Abraão, quando deu o dízimo ao sacerdote do Deus altíssimo –
Melquizedeque (Gênesis 14.18-20), estava exatamente dando extensão à sua
compreensão de mordomia, demonstrando reconhecimento a Deus pelas
bênçãos recebidas nesta vida. Assim, simbolicamente, testemunhava que
tudo era de Deus.
Essa foi também a compreensão de Jacó
(Gn 28.20-22) quando faz um voto a Deus. Ali, lemos: “Fez também Jacó um
voto, dizendo: Se Deus for comigo e me guardar neste caminho que vou
seguindo, e me der pão para comer e vestes para vestir, de modo que eu
volte em paz à casa de meu pai, e se o Senhor for o meu Deus, então esta
pedra que tenho posto como coluna será casa de Deus; e de tudo quanto
me deres, certamente te darei o dízimo”.
Dentre os muitos textos
encontrados na Bíblia sobre contribuições e, mais especificamente sobre o
dízimo, este entrelaça o conceito de bênçãos materiais advindas de
Deus, com o reconhecimento da oferta proporcional como adoração e
expressão da nossa mordomia. Jacó estava em uma jornada, comissionado
por seu pai, Isaque, para encontrar uma esposa (28.1,2). Após haver
sonhado (28.10-15) com a presença de Deus, no qual ele lhe promete
proteção, acompanhamento e a formação de uma descendência, Jacó se
atemoriza (28.16) e ergue um memorial a Deus (28.18-19).
A seguir, Jacó faz o seu voto. Deus já
havia reafirmado: “eis que estou contigo” (28.15), Jacó indica
(28.20,21) que, mediante as dádivas divinas da:
presença (“for comigo”),
proteção (“me guardar”),
pão (“me der pão”),
provisão (“roupa que me vista”) e
paz (“que eu volte em paz”) – ele o adoraria
declarativamente (“o Senhor será o meu Deus”),
demonstrativamente (“pedra, que erigi por coluna, será a casa de Deus”) e
dizimalmente (“certamente eu te darei o dízimo”).
Com isso, Jacó, antes da Lei Cerimonial e
Judicial de Israel, dava continuidade à prática já demonstrada por
Abraão, de que, em reconhecimento à segurança, que vem de Deus; ao
alimento, que vem de Deus; às vestimentas, que vêm de Deus e à paz, que
vem de Deus, o dízimo será dado. Esses registros antecedem a dádiva das
leis específicas aos Hebreus, no Antigo Testamento. A prática, portanto,
não parece estar limitada aos aspectos formais da Nação de Israel.
Estava presente na humanidade, como um todo.
Assim, nem a Lei Cerimonial, nem a
Judicial, da teocracia de Israel, são a base para a prática do dízimo,
pois as determinações dessas leis foram cumpridas em Cristo. A defesa do
dízimo utilizando prescrições específicas da Lei Mosaica carece de uma
base exegética mais sólida. A base antecede as leis de Israel,
entretanto, o estudo dessas leis mostra, pelo menos, um grande e
importante aspecto: a seriedade com a qual Deus apresentava e tratava
essa questão do dízimo. Não somente ele entrelaçou, na Lei de Israel, a
prática que a antecedia, mas castigos caíram sobre a nação exatamente
pela quebra dessa determinações. Esquecê-las era a mesma coisa que
“roubar a Deus” (Ml. 3.7-10).
No Novo Testamento também encontramos
princípios que nos levam a deduzir a continuidade da contribuição
decimal. Vamos analisar pelo menos dois desses.
Contribuir Planejadamente (2 Coríntios 9.7)
O primeiro princípio neo-testamentário, é
que a Bíblia ensina que deve-se contribuir planejadamente. Escrevendo
aos coríntios, Paulo diz: “Cada um contribua segundo propôs no seu
coração; não com tristeza, nem por constrangimento (Atualizada:
“necessidade”); porque Deus ama ao que dá com alegria”.
Freqüentemente este trecho é estudado
apenas em seu entendimento superficial, e sendo interpretado de que ele
fala simplesmente da voluntariedade da contribuição. Mas o fato, é que
ele ensina que a contribuição deve ser alvo de prévia meditação e
entendimento. Isso indica, com muito mais força, que ela deve ser uma
contribuição planejada, não aleatória, não dependente da emoção do
momento (todos esses elementos são válidos, mas não são os únicos e
principais determinantes).
Deus ensina que o “mover do coração” não
significa a abdicação de responsabilidades. O alerta é para que não é
possível que portas abertas, colocadas à frente, sejam esquecidas.
No
que diz respeito à contribuição, muitos ficam esperando o “mover do
espírito”. Tudo isso soa muito piedoso e espiritual, mas propor no
coração, significa que deve-se considerar com seriedade que a
contribuição deve ser planejada. O próprio verso 5, neste capítulo,
reforça esse entendimento, indicando que a contribuição deveria ser
“preparada de antemão”, ou seja deveria haver planejamento.
Como será esse planejamento?
Individualizado? Dependente da cabeça de cada um? Talvez seja possível
se achar excelentes formas de planejar. Mas será que será encontrada
melhor forma do que a estabelecida na Bíblia: que é a dádiva do dízimo, o
reconhecimento simbólico de que tudo o que temos pertence a Deus?
O dízimo representa a essência da
contribuição planejada e sistemática. Conseqüentemente, será que não
deveríamos propor no nosso coração dar o dízimo? Vêem como isso muda a
compreensão que tantos têm do verso? Alguns dizem: “o dízimo
constrange”; “com obrigação não pode haver alegria na contribuição”. Mas
o ensinamento é justamente o contrário: proponha no seu coração,
sistematize sua contribuição e a dádiva fluirá de você sistematicamente,
sem constrangimentos, com alegria. Não procure inventar: contribua na
forma ensinada pelo próprio Deus.
Contribuir Proporcionalmente (1 Coríntios 16.2-3)
Um segundo princípio neo-testamentário, é
que Deus espera que a contribuição seja proporcional aos ganhos, ou
seja, deve-se contribuir proporcionalmente. O trecho bíblico, também de
uma carta de Paulo, relacionado acima, diz: “No primeiro dia da semana
cada um de vós ponha de parte o que puder, conforme tiver prosperado,
guardando-o, para que se não façam coletas quando eu chegar”.
O ensinamento é, mais uma vez muito
claro. É óbvio que Paulo espera uma contribuição sistemática, pois ele
diz que ela deveria ser realizada aos domingos (no primeiro dia da
semana), que é quando os cristãos se reuniam. O trecho é muito rico em
instrução, demonstrando até a propriedade de reunião e culto aos
domingos, contra até alguns setores do neo-pentecostalismo
contemporâneo, que insistem que deve-se continuar guardando o sábado, o
sétimo dia da semana.
Mas o ponto que chama a nossa atenção, é
o fato de que Paulo ensina que a contribuição deve ser conforme Deus
permitir que se prospere, ou seja, conforme os ganhos de cada um. Essa é
a grande forma eqüitativa apontada por Deus: as contribuições devem ser
proporcionais, ou seja um percentual dos ganhos. Assim, todos
contribuem igualmente, não em valor, mas em percentual.
Verificamos que é possível se inventar
um percentual qualquer. Talvez isso fosse possível se nunca tivéssemos
tido acesso ao restante da Bíblia, mas o percentual que o próprio Deus
confirmou e registrou: dez por cento dos ganhos individuais, é por
demais conhecido! Isso parece satisfatório e óbvio. Não é preciso se
sair procurando por outro meio e forma de contribuição. Se isso for
feito, pode-se até dizer, “eu contribuo sistematicamente com o
percentual que eu escolhi”, mas nunca será possível dizer que isso é
feito em paridade e justiça com as outras pessoas. Quem vai garantir que
o percentual do outro é igual ao meu? Essa aleatoriedade destruiria o
próprio ensinamento da proporcionalidade que Deus ensina através de
Paulo. A grande pergunta que tem que ser respondida é essa: “Se Deus já
estabeleceu, no passado, uma forma de porporcionalidade, por que não
seguir a forma, o planejamento e a proporção determinada por Deus?”
Conclusão e Aplicação
As contribuições dizimais refletem
apenas o reconhecimento de que tudo provém de Deus. Em paralelo, é
preciso se estar alerta a dois pontos:
1. O exercício correto da mordomia é
muito mais abrangente do que simplesmente contribuir. Envolve a
responsabilidade total sobre todos os recursos que são recebidos como
bênçãos de Deus nas nossas vidas.
2. A contribuição não é “ponto de
barganha” com Deus. Por mais sistemática, proporcional e planejada que
ela deva ser, permanece uma plataforma de adoração. Ela não tem eficácia
para expiar pecados, nem para angariar “favores” de Deus. Deus condena
aqueles que se esmeram no contribuir, mas se apresentam à adoração em
pecado (Amós 4.4 – “… multiplicai as transgressões; e cada manhã trazei
os vossos sacrifícios, e de três em três dias os vossos dízimos”).
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Fonte:http://voltemosaoevangelho.com/blog/2015/07/o-dizimo-nao-e-uma-invencao-da-teologia-da-prosperidade/