20.03.2022
Do portal ULTIMATO ONLINE, 20.02.22
Por Kiel, Alagoinha - BA
Na condição de agente público e cristão (ou não), o policial tem
uma contribuição significativa a oferecer tanto para sua corporação
quanto para o bem-estar da sociedade na luta contra a violência,
racismo e direitos humanos.
Desde a repercussão
internacional da morte de George Floyd (negro morto covardemente por
um policial numa abordagem criminosa nos EUA) e registros como o caso
de Jacob Blake (2020), as manifestações de repúdio e protestos
contra violência policial atrelada ao racismo tem crescido cada vez
mais em vários países.
O aumento dessa indignação
social não é mero "barulho" de militantes do Black Lives
Matter, mas representa todos os que não compactuam com excessos
recorrentes de integrantes das forças policiais contra pessoas
marginalizadas pela sua condição econômica ou cor da pele.
Abro
parêntesis. Este texto não é um "tratado sociológico",
óbvio. Nem de esquerda ou direita, progressista ou conservador -
minhas preferências teóricas na "crítica social" ou
pendor ideológico não estão em pauta, mas faço uma interpretação
livre a partir de uma cosmovisão cristã e crivo de minha
consciência.
Uma demonstração de indignação e
engajamento pelo linchamento moral não prova virtude, mas pode
apontar projeção e ocultação de deformidades de caráter de quem
esbraveja contra o execrado. Um exemplo: a turba justiceira que
depredou e queimou a casa da torcedora do Grêmio que chamou o
goleiro do Santos (2015) de macaco. Em nome do "racistas não
passarão", ameaçaram-na até de estupro e morte. Em prantos e
demonstrando-se arrependida, a jovem suplicou perdão (tentou
explicar seu erro como um infeliz momento passional), mas os
antirracistas virtuais foram implacáveis – até o goleiro.
Não
engrosso o coro dos que se sentem “voz das minorias ou
excluídos”, com ostentação humanitarista e adotando a função
de "fiscal dos preconceituosos" e "juiz" dos que
perpetram injustiças. Creio que há um risco de se enquadrarem no
grupo de sinceros funcionais úteis movidos por puro ideal ou de
manipuladores beneficiários de poder. Fecho parêntesis.
Embora
a ação ostensiva da atividade policial contra suspeitos de crime
deva se respaldar nos princípios da isonomia, proporcionalmente não
é o que ocorre quando se trata de abordagem contra estigmatizados
socialmente.
No entanto, ainda que alguns estereótipos
sejam tido por compreensíveis (mesmo que não justificáveis),
comprova-se: muitas pessoas vistas como “suspeitas” pelo
seu aspecto exterior (roupa, tatuagem, brinco, cabelo etc.), são
indivíduos em dignidade com meros traços característicos de seu
meio social.
A fim de evitar leviandade numa abordagem
policial, cabe ao agente de segurança pública conceder, no contexto
devido, legítima presunção da inocência e o benefício da dúvida
- até que se prove ou se tenha indícios do contrário.
Fartas
evidências e provas estatísticas confirmam que negros estão entre
os mais vulneráveis socialmente: maiores taxas de analfabetismo,
desemprego, menores salários, condições de sobrevivência e IDH
precários. Além disso, estão entre os que mais morrem por
violência policial ou envolvimento no crime – Tráfico, Facções
etc.
Contudo, sabe-se também que a maioria dos negros das
comunidades pobres são trabalhadores que não aderem à
criminalidade. E os que estão entre os que mais morrem por violência
policial, ao mesmo tempo, estão entre os que mais matam e cometem
crimes, porém ninguém deve ser inocentado ou criminalizado pela cor
da pele, mas com base nos seus atos diante da Lei.
Dessa
forma, faz-se necessário aprimoramento não só técnico e tático
na formação policial, mas também em inteligência emocional, pois
seguindo hostilizados em muitas comunidades, não será tarefa fácil
conquistar a confiança e respeito (perdidos por décadas) em razão
de inúmeras ações truculentas, reflexos de certa ineficiência do
Estado e disfuncionalidade na segurança pública.
Conquanto
seja dever de ofício o combate ao crime e ação enérgica contra
criminosos, urge inteligência emocional e proficiência operacional
para que, em nome do combate ao crime, o Estado não cometa novos
crimes contra inocentes.
Embora não se possa fragilizar
as forças policiais na luta contra a criminalidade, é preciso rigor
também frente aos crimes de colarinho-branco e brancos ricos que
encontram brechas na lei através de advogados caros que os defendem,
enquanto muitos negros pobres nem sabem o que é um Habeas-Corpus ou
seus direitos básicos respaldados na Constituição ou Declaração
Universal dos Direitos Humanos.
A existência do pecado
atesta: longa é a jornada na desconstrução da imagem da polícia
como "vilã" ("assassina de negros"), mas tal
como os esforços estratégicos na redução de erros operacionais e
busca incessante pelo fim de mortes injustas são essenciais, um
caminho mais curto a ser percorrido nesse objetivo são policiais
rendendo-se a Cristo e tornando-se tanto uma muralha de guerra contra
o crime quanto uma ponte que promove paz entre sociedade e policiais.
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Fonte: https://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/o-papel-do-policial-cristao-ou-nao-na-em-prol-dos-direitos-humanos-e-contra-o-racismo