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quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Pergunta: "O que é o existencialismo?"

01.01.2014
Do portal GOT QUESTIONS


Resposta: O existencialismo não é tanto um sistema formal de filosofia quanto é uma orientação geral para as questões filosóficas. Ele foi mais popular na Europa no início do século XX. Foi uma reação ao excesso de confiança do Iluminismo na razão humana. 

Algumas das influências que provavelmente tornaram-no atraente incluem a visão de Kierkegaard de que a fé cristã não pode ser reduzida a um conjunto de proposições racionais, mas que também inclui mais amplas implicações emocionais e relacionais. Ainda mais significativamente, certos eventos históricos, como a devastação da Primeira Guerra Mundial, os colapsos econômicos das décadas de 1920 e 1930 e os horrores da Segunda Guerra Mundial, exibiram a falsa esperança do modernismo de que a razão humana possa superar todos os problemas.

O existencialismo, portanto, minimiza a capacidade da razão humana. Ele não consegue dar significado ao lugar de alguém em um cosmos racional e ordenado. A ordem racional em si é suspeita aos existencialistas. Portanto, a explicação racional fica em segundo lugar a outras abordagens para encontrar sentido. Alguns existencialistas expressam significado em termos das realizações de um indivíduo em transcender as suas circunstâncias. Outros expressam significado em termos de se conectar e se comunicar com outras pessoas sobre a experiência humana. A experiência de existir é o foco. A explicação racional é colocada de lado.

Como pode um cristão ser eficaz em responder às reivindicações do existencialismo? Por um lado, um cristão pode concordar que o modernismo tem uma falsa esperança na capacidade da razão humana de enfrentar e superar todos os desafios. Na verdade, há muitas coisas que, de acordo com o ensino bíblico, só são superadas pela graça de Deus, incluindo os problemas do pecado humano e da própria morte. Além disso, os cristãos reconhecem que há muitas coisas que a razão humana não pode descobrir e que são descobertas somente se Deus escolher revelá-las. Por outro lado, um cristão discorda com o espírito do existencialismo de desesperança. 

O Cristianismo altamente enfatiza dois aspectos do futuro. Primeiro, o Cristianismo afirma o julgamento final no qual tudo o que é errado, desordenado e quebrado será finalmente ajustado uma vez que Cristo voltará no fim dos tempos para vencer todo o mal do cosmos e reinar sobre todos. 

Segundo, o Cristianismo afirma a realidade esperançosa do futuro a todos os que confiam em Cristo, ou seja, a realidade da ressurreição, da vida eterna e a conclusão absoluta da santificação - tudo isso dado livremente pela graça de Deus. Muitas passagens bíblicas poderiam ser citadas sobre esses dois aspectos do futuro. Aqui está uma de muitas, Romanos 6:23: "porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor."

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Fonte:http://www.gotquestions.org/Portugues/existencialismo.html

domingo, 8 de dezembro de 2013

Quais são os perigos do pós-modernismo?

08.12.2013
Do portal GOT QUESTIONS

Pergunta: "Quais são os perigos do pós-modernismo?"

Resposta:Em termos simples, o pós-modernismo é uma filosofia que afirma que não existe nenhuma verdade objetiva ou absoluta, especialmente em questões de religião e espiritualidade. Quando confrontado com uma afirmação verídica sobre a realidade de Deus e prática religiosa, o ponto de vista do pós-modernismo é exemplificado na declaração "que algo pode ser verdade para você, mas não para mim." Embora tal resposta seja completamente apropriada quando se fala de comidas favoritas ou preferências artísticas, tal mentalidade é perigosa quando aplicada à realidade porque confunde questões de opinião com questões de verdade.

O termo "pós-modernismo" significa literalmente "após o modernismo" e é usado para descrever filosoficamente a era atual, a qual veio depois do modernismo. O pós-modernismo é uma reação (ou talvez mais apropriadamente, uma resposta desiludida) à falha promessa do modernismo de usar apenas a razão humana para melhorar a humanidade e o mundo. Porque uma das crenças do modernismo era a de que absolutos não existem, o pós-modernismo procura "corrigir" as coisas através de eliminar primeiramente a verdade absoluta e tornar tudo (inclusive a religião e ciências empíricas) relativo às crenças e desejos de um indivíduo.

Os perigos do pós-modernismo podem ser vistos como uma espiral descendente que começa com a rejeição da verdade absoluta, o que leva a uma perda de distinções em questões de religião e fé, e culmina em uma filosofia do pluralismo religioso que diz que nenhuma fé ou religião é objetivamente verdadeira e, portanto, ninguém pode afirmar que a sua religião é verdadeira e a outra é falsa.

Perigos do Pós-modernismo - # 1 - Verdade Relativa

A posição do pós-modernismo quanto à verdade relativa é a consequência de muitas gerações de pensamento filosófico. De Agostinho à Reforma, os aspectos intelectuais da civilização ocidental e o conceito de verdade foram dominados pelos teólogos. No entanto, com o Renascimento dos séculos XIV - XVII, os pensadores começaram a elevar a humanidade ao centro da realidade. Se olhássemos os períodos da história como uma árvore genealógica, o Renascimento seria a avó do modernismo e o Iluminismo seria a sua mãe. A afirmação "Penso, logo existo" de Renée Descartes personificava o início da época. Deus não era mais o centro da verdade - o homem era.

O Iluminismo foi, de certa forma, a imposição completa do modelo científico de racionalidade sobre todos os aspectos da verdade. Alegou que somente os dados científicos podiam ser objetivamente entendidos, definidos e defendidos. A verdade como pertencia à religião foi descartada. O filósofo que contribuiu à ideia da verdade relativa foi o prussiano Immanuel Kant e sua obra A Crítica da Razão Pura, que apareceu em 1781. Kant argumentou que o verdadeiro conhecimento de Deus era impossível, por isso ele criou uma divisão de conhecimentos entre "fatos" e "fé". Segundo Kant, "Os fatos não têm nada a ver com religião." O resultado foi que os assuntos espirituais foram atribuídos ao reino da opinião e apenas as ciências empíricas tinham a autoridade de falar a verdade. Enquanto o modernismo acreditava em verdades absolutas na ciência, a revelação especial de Deus (a Bíblia) foi expulsa do reino da verdade e da certeza. Do modernismo vieram o pós-modernismo e as ideias de Frederick Nietzsche. Como o santo patrono da filosofia pós-moderna, Nietzsche se apegou ao "perspectivismo", que diz que todo o conhecimento (incluindo a ciência) é uma questão de perspectiva e interpretação. Muitos outros filósofos têm construído sobre a obra de Nietzsche (por exemplo, Foucault, Rorty e Lyotard) e compartilharam a sua rejeição de Deus e da religião em geral. Eles também rejeitaram qualquer sugestão de verdade absoluta ou, como Lyotard disse, a rejeição de uma metanarrativa (uma verdade que transcende todos os povos e culturas). Esta guerra filosófica contra a verdade objetiva resultou no pós-modernismo sendo completamente avesso a qualquer reivindicação de absolutos. Tal mentalidade naturalmente rejeita qualquer coisa que declare ser a verdade infalível, como a Bíblia.

Perigos do Pós-Modernismo - # 2 - Perda de Discernimento

O grande teólogo Tomás de Aquino disse: "É a tarefa do filósofo fazer distinções." O que Aquino quis dizer é que a verdade depende da capacidade de discernir - da capacidade de diferenciar "isso" e "aquilo" no domínio do conhecimento . No entanto, se a verdade objetiva e absoluta não existe, então tudo se torna uma questão de interpretação pessoal. Para o pensador pós-moderno, o autor de um livro não possui a correta interpretação de sua obra; é o leitor quem realmente determina o que o livro significa - um processo chamado de desconstrução. Além disso, já que há vários leitores (ao invés de um só um autor), existem naturalmente diversas interpretações válidas.

Tal situação caótica torna impossível fazer distinções significativas ou duradouras entre interpretações diferentes porque não existe um padrão que possa ser usado. Isso se aplica especialmente a questões de fé e religião. Tentar fazer distinções adequadas e significativas na área da religião não é mais significativo do que discutir que o chocolate tem um sabor melhor do que baunilha. O pós-modernismo diz que é impossível julgar objetivamente entre reivindicações concorrentes sobre a verdade.

Perigos do Pós-Modernismo - # 3 – Pluralismo

Se a verdade absoluta não existe, e se não houver nenhuma maneira de fazer distinções significativas entre o certo e errado dos diferentes credos e religiões, então a conclusão natural é de que todas as crenças devem ser consideradas igualmente válidas. O termo apropriado para este comportamento do pós-modernismo é "pluralismo filosófico." Com o pluralismo, nenhuma religião tem o direito de pronunciar a si mesma verdadeira e as outras religiões concorrentes falsas ou até inferiores. Para aqueles que defendem o pluralismo religioso filosófico, não existe mais nenhuma heresia, exceto talvez a visão de que há heresias. D.A. Carson reforça as preocupações do evangelicalismo conservador sobre o que considera ser o perigo do pluralismo: "No meu humor mais sombrio, às vezes me pergunto se a cara feia do que chamo de pluralismo filosófico é a mais perigosa ameaça ao evangelho desde o surgimento da heresia gnóstica no segundo século".

Estes perigos progressistas do pós-modernismo - a verdade relativa, uma perda de discernimento e o pluralismo filosófico - representam ameaças ao Cristianismo porque coletivamente desprezam a Palavra de Deus como algo que não tem autoridade real sobre a humanidade e sem capacidade de mostrar-se verdadeira em um mundo de religiões concorrentes. Qual é a resposta do Cristianismo a esses desafios?

Resposta aos Perigos do Pós-modernismo

O Cristianismo afirma ser absolutamente verdadeiro, que existem diferenças significativas em questões de certo / errado (assim como a verdade e falsidade espiritual), e que para ser correto em suas afirmações sobre Deus, todas as reivindicações contrárias das religiões concorrentes devem estar incorretas. Tal postura provoca gritos de "arrogância" e "intolerância" do pós-modernismo. No entanto, a verdade não é uma questão de atitude ou preferência, e quando analisada de perto, as bases do pós-modernismo desmoronam rapidamente, revelando que as reivindicações do Cristianismo são plausíveis e convincentes.

Em primeiro lugar, o Cristianismo afirma que a verdade absoluta existe. Na verdade, Jesus diz especificamente que foi enviado para fazer uma coisa: "Dar testemunho da verdade" (João 18:37). O pós-modernismo diz que nenhuma verdade deve ser afirmada, mas a sua posição é auto-destrutiva - ele afirma pelo menos uma verdade absoluta: a de que nenhuma verdade deve ser afirmada. Isso significa que o pós-modernismo acredita na verdade absoluta. Os seus filósofos escrevem livros afirmando coisas que esperam que seus leitores abracem como verdade. Colocando em termos simples, um professor disse: "Quando alguém diz que não há tal coisa como verdade, eles estão pedindo-lhe para não acreditar neles, então não acredite."

Em segundo lugar, o Cristianismo afirma que existem diferenças significativas entre a fé cristã e todas as outras crenças. Deve ser entendido que os que afirmam que distinções significativas não existem estão, na verdade, fazendo uma distinção. Estão tentando mostrar uma diferença entre o que eles acreditam ser verdade e o que o cristão acredita. Autores pós-modernos esperam que os seus leitores cheguem às conclusões certas sobre o que escreveram e corrigirão aqueles que interpretam o seu trabalho de forma diferente. Mais uma vez, a sua posição e filosofia revelam que o pós-modernismo é auto-destrutivo porque ansiosamente fazem distinções entre o que acreditam ser correto e o que veem como sendo falso.

Finalmente, o Cristianismo afirma ser uma verdade universal no que diz respeito à condição perdida do homem diante de Deus, ao sacrifício de Cristo em favor da humanidade caída e à separação entre Deus e quem opta por não aceitar o que Deus diz sobre o pecado e a necessidade de arrependimento. Quando Paulo dirigiu-se aos filósofos estoicos e epicuristas na reunião do Areópago, ele disse: "Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam" (Atos 17:30). A declaração de Paulo não era "isto é verdade para mim, mas pode não ser verdade para você"; ao contrário, era um comando exclusivo e universal (ou seja, uma metanarrativa) de Deus para todos. Qualquer pós-modernista que diga que Paulo está errado está cometendo um erro contra a sua própria filosofia pluralista, a qual afirma que nenhuma fé ou religião está incorreta. Mais uma vez, o pós-modernista viola a sua própria visão de que toda religião é igualmente verdadeira.

Assim como não é arrogante quando um professor de matemática insiste que 2 +2 = 4 ou quando um serralheiro insiste que apenas uma chave se encaixará na porta trancada, não é arrogante que o cristão se erga contra o pensamento pós-moderno e insista que o Cristianismo é verdadeiro e qualquer coisa que se oponha a ele é falsa. A verdade absoluta existe, assim como existem consequências de estar errado. Embora o pluralismo seja até desejável em matéria de preferências alimentares, não é útil em questões sobre o certo e errado. O cristão deve apresentar a verdade de Deus em amor e simplesmente perguntar a qualquer pós-modernista irritado com as reivindicações exclusivistas do Cristianismo: "Tornei-me inimigo de vocês por lhes dizer a verdade?" (Gálatas 4:16).




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Fonte:http://www.gotquestions.org/Portugues/perigos-pos-modernismo.html

sábado, 7 de dezembro de 2013

É a fé em Deus uma muleta?

07.12.2013
Do portal GOT QUESTIONS


Pergunta: "É a fé em Deus uma muleta?"

Resposta: Jesse Ventura, ex-governador de Minnesota, disse uma vez: "A religião organizada é uma farsa e uma muleta para pessoas de mentes fracas que precisam de força em grupos." Concordando com ele, o pornógrafo Larry Flynt comentou: "Não há nada de bom que eu possa dizer sobre isso [a religião]. As pessoas a usam como uma muleta." Ted Turner uma vez simplesmente disse: "O Cristianismo é uma religião para perdedores!" Ventura, Flynt, Turner e outros que pensam como eles enxergam os cristãos como sendo emocionalmente frágeis e carentes de apoio imaginário para tocar a vida. Insinuam que eles próprios são fortes e não necessitam de um suposto Deus para ajudá-los com suas vidas.

Tais declarações trazem uma série de perguntas: Onde é que esse tipo de pensamento começou? Há alguma verdade nele? Como a Bíblia responde a tais afirmações?

É a fé em Deus uma muleta? - O Impacto de Freud

Sigmund Freud (1856-1939) foi um neurologista austríaco que fundou a prática da psicanálise, um sistema que defende a teoria de que motivos inconscientes ditam muito do comportamento humano. Apesar de defender o ateísmo, Freud admitiu que a verdade da religião não poderia ser refutada e que a fé religiosa tem proporcionado conforto para um número incontável de pessoas através da história. No entanto, Freud achava que o conceito de Deus era ilusório. Em uma de suas obras religiosas, O Futuro de uma Ilusão, ele escreveu: "Eles [os crentes] dão o nome de 'Deus' a uma vaga abstração que criaram para si mesmos."

Quanto à motivação para a criação de tais ilusões, Freud acreditava em duas coisas básicas: (1) as pessoas de fé creem em um deus por terem desejos fortes e esperanças dentro de si mesmas que atuam como conforto contra a dureza da vida; (2) a ideia de Deus vem da necessidade de uma figura paterna idílica que eclipsa ou um pai inexistente ou um pai imperfeito e real na vida de uma pessoa religiosa. Falando do suposto fator de realização de desejo na religião, Freud escreveu: "Elas [crenças religiosas] são ilusões, realizações dos mais antigos, mais fortes e mais urgentes desejos da humanidade. Chamamos a crença de uma ilusão quando uma realização de desejo é um fator proeminente em sua motivação e ao fazer isso, desconsideramos a sua relação com a realidade, assim como a própria ilusão não oferece verificação."

Para Freud, Deus não era nada mais do que uma projeção psicológica que servia para proteger um indivíduo de uma realidade que ele não queria enfrentar e com a qual não podia lidar sozinho. Depois de Freud, outros cientistas e filósofos vieram e afirmaram a mesma coisa - que a religião é apenas uma ilusão da mente. Robert Pirsig, um escritor e filósofo americano que tipifica os seguidores de Freud, disse: "Quando uma pessoa sofre de um delírio, isso é chamado de loucura. Quando muitas pessoas sofrem de um delírio, isso se chama de religião. "

O que dizer das acusações acima? Há alguma verdade nas afirmações feitas por Freud e outros?

Examinando as Reivindicações da "Multidão da Muleta"

Ao fazer um exame honesto destas reivindicações, a primeira coisa a reconhecer é o que aqueles que fazem tais afirmações estão reivindicando sobre si mesmos. Os zombadores de religião estão dizendo que os cristãos são propensos a fatores e desejos psicológicos aos quais eles, os céticos, não são. Mas como sabem disso? Por exemplo, Freud enxergava a necessidade de um Deus Pai como um sintoma de pessoas emocionalmente carentes que desejam uma figura paterna, mas será que o próprio Freud tinha uma necessidade emocional de que nenhuma figura paterna existisse? E talvez Freud tivesse o desejo de que um Deus Santo e julgamento após a morte não existissem; um desejo de que o inferno não fosse real. Demonstrando a plausibilidade de tal pensamento é a citação do próprio Freud, que uma vez disse: "A parte ruim disso, especialmente para mim, reside no fato de que a ciência, de todas as coisas, parece exigir a existência de um Deus."

Parece razoável concluir, como Freud e seus seguidores têm argumentado em sua posição, que a única maneira de uma pessoa superar "a exigência" de provas em preto-e-branco de alguma coisa é através da criação de uma esperança ilusória que domina as verificações da existência de Deus. Mesmo assim, ainda não consideram esta uma possibilidade para eles. Alguns ateus, no entanto, têm de forma honesta e aberta admitido essa probabilidade. Servindo como um exemplo, o ateu professor/filósofo Thomas Nagel disse uma vez: "Quero que o ateísmo seja verdade e fico inquieto pelo fato de que algumas das pessoas mais inteligentes e bem informadas que conheço são crentes religiosos. Não se trata apenas do fato de não acredito em Deus e, naturalmente, espero estar certo em minha crença. É que espero que Deus não exista! Não quero que haja um Deus; não quero que o universo seja assim."

Uma outra consideração a ter em mente é que nem todos os aspectos do Cristianismo são reconfortantes. Por exemplo, a doutrina do inferno, o reconhecimento da humanidade como pecadores incapazes de agradar a Deus por conta própria e outros ensinamentos semelhantes não são tão agradáveis. Como é que Freud explica a criação dessas doutrinas?

Um pensamento adicional que brota da pergunta acima é por que, se a humanidade simplesmente inventa o conceito de Deus para se sentir melhor, as pessoas fabricam um Deus que é santo? Tal Deus parece estar em desacordo com os seus desejos e práticas naturais. Na verdade, um Deus assim parece ser o último tipo de deus a ser inventado. Em vez disso, seria de se esperar que criassem um deus que concordasse com as coisas que querem fazer naturalmente, em vez de se opor às práticas que elas mesmas (por algum motivo ainda não explicado) rotulam como "pecaminosas".

Uma última questão é como é que as reivindicações de "muleta" explicam as pessoas que inicialmente eram hostis à religião e não queriam acreditar? Essas pessoas aparentemente não tinham nenhum desejo de que o Cristianismo fosse verdade, mas depois de um exame honesto da prova e um reconhecimento da sua "veracidade", elas se tornaram crentes. O estudioso inglês C. S. Lewis é uma dessas pessoas. Lewis é famoso por dizer que não havia convertido mais relutante em toda a Inglaterra do que ele, que foi literalmente arrastado chutando e gritando à fé – isso pouco é uma declaração de se esperar de uma pessoa envolvida em uma fantasia.

Esses problemas e perguntas parecem estar em desacordo com as reivindicações do grupo da "muleta" e são convenientemente ignorados por eles. Entretanto, o que a Bíblia tem a dizer sobre as suas reivindicações? Como ela responde às suas acusações?

É a Fé em Deus uma Muleta? - Como a Bíblia Responde?

Há três respostas fundamentais que a Bíblia dá à alegação de que as pessoas inventaram a ideia de Deus como uma muleta para si. Primeiro, a Bíblia diz que Deus criou a humanidade para si mesmo e para naturalmente desejar um relacionamento com Ele. Sobre este fato, Agostinho escreveu: "Tu nos fizeste para ti, Senhor, e o nosso coração permanece inquieto até encontrar o seu descanso em Ti." A Bíblia diz que o homem é feito à imagem de Deus (Gênesis 1:26). Sendo isto verdade, não é razoável acreditar que sentimos um desejo por Deus porque fomos criados com esse desejo? Não devem uma impressão digital divina e a possibilidade de relacionamento entre a criatura e o Criador existir?

Segundo, a Bíblia diz que as pessoas realmente agem da forma inversa à que Freud e seus seguidores afirmam. A Bíblia afirma que a humanidade está em rebelião contra Deus e, naturalmente, se afasta em vez de desejá-lo, e que tal rejeição é a razão pela qual a ira de Deus vem sobre eles. A realidade é que as pessoas naturalmente fazem tudo o que podem para suprimir a verdade sobre Deus, e Paulo escreveu sobre isso: "Pois do céu é revelada a ira de Deus contra toda a impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça. Porquanto, o que de Deus se pode conhecer, neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Pois os seus atributos invisíveis, o seu eterno poder e divindade, são claramente vistos desde a criação do mundo, sendo percebidos mediante as coisas criadas, de modo que eles são inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, contudo não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes nas suas especulações se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se estultos" (Romanos 1:18-22). O fato de que Deus é claramente evidente a todos através da criação, como indicado nas palavras de Paulo, é bem resumido por CS Lewis, que escreveu: "Podemos ignorar, mas de forma alguma escapar, a presença de Deus. O mundo está cheio dEle."

O próprio Freud admitiu que a religião era "o inimigo", e é exatamente assim que Deus descreve a humanidade antes de ser espiritualmente iluminada - como inimiga de Deus. Isso é algo que Paulo também reconheceu: "Porque se nós, quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida" (Romanos 5:10, ênfase adicionada) .

Terceiro, a própria Bíblia afirma que a vida é difícil, que tribulações são comuns e que um medo da morte é sentido por todos. Essas são verdades facilmente vistas no mundo ao nosso redor. A Bíblia também diz que Deus está presente para nos ajudar a superar os tempos difíceis e assegura-nos que Jesus venceu o medo da morte. Jesus mesmo disse: "No mundo tereis tribulações ", o que confirma o fato de que as dificuldades da vida existem, mas Ele também disse: "tende bom ânimo" e que os Seus seguidores devem se voltar a Ele para a vitória final (João 16:33).

A Bíblia diz que Deus cuida e ajuda o Seu povo e que Ele comanda os Seus seguidores a ajudar uns aos outros e levar as cargas uns dos outros (cf. Gálatas 6:2). Falando da preocupação de Deus com as pessoas, Pedro escreveu: "Humilhai-vos, pois, debaixo da potente mão de Deus, para que a seu tempo vos exalte; lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós" (1 Pedro 5:6 -7, ênfase adicionada). A famosa afirmação de Jesus também fala deste fato: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave, e o meu fardo é leve" (Mateus 11:28-30).

Além da ajuda diária, o medo da morte também foi superado por Cristo. Através de Sua ressurreição, Jesus provou que a morte não tem poder sobre Ele. A Palavra de Deus diz que a ressurreição de Cristo foi a prova da ressurreição e da vida eterna de todos os que confiam nEle (cf. 1 Coríntios 15:20). Ser livre do medo da morte é uma verdade proclamada pelo escritor de Hebreus, que disse: "Visto, pois, que os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também ele, igualmente, participou, para que, por sua morte, destruísse aquele que tem o poder da morte, a saber, o diabo, e livrasse todos que, pelo pavor da morte, estavam sujeitos à escravidão por toda a vida" (Hebreus 2:14-15, ênfase adicionada).

Então, de fato, a Bíblia fala sobre o cuidado, preocupação e ajuda de Deus para a Sua criação. Tal verdade realmente traz conforto, mas é um conforto baseado em realidade e não em um simples desejo.

É a fé em Deus de uma muleta? – Conclusão

Jesse Ventura estava errado quando disse que a religião é nada mais do que uma muleta. Tal declaração fala da natureza arrogante do homem e simboliza o tipo de pessoas repreendido por Jesus no livro de Apocalipse: "pois dizes: Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu" (Apocalipse 3:17).

As reivindicações de mero desejo por parte de Freud, Ventura e outros apenas agem como uma acusação contra si mesmos e mostram o seu desejo de rejeitar a Deus e Sua reivindicação de suas vidas, o que é exatamente o que a Bíblia diz que a humanidade caída faz. Entretanto, para essas mesmas pessoas, Deus pede que reconheçam os seus verdadeiros desejos e Se oferece no lugar da falsa esperança do humanismo à qual se agarram.

As declarações bíblicas quanto ao fato e evidências da ressurreição de Cristo trazem conforto e esperança verdadeira - esperança que não desilude - e instruem-nos a andar de uma forma que confia em Deus e reconhece a nossa verdadeira posição "fraca" diante dEle. Quando isso é feito, tornamo-nos fortes, assim como Paulo disse: "Pelo que sinto prazer nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias, por amor de Cristo. Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte" (2 Coríntios 12:10).

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Fonte:http://www.gotquestions.org/Portugues/fe-Deus-muleta.html

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

50 anos sem C. S. Lewis

28.11.2013
Do portal VERBO DA VIDA, 22.11.13
Por C.S.LEWIS


No mês em que “comemoramos” os cinquenta anos da morte de C.S. Lewis, eu não poderia deixar de homenageá-lo. Mas o que um irlandês, nascido dois anos antes da virada do século 19 para o 20, que viveu as duas Grandes Guerras, poderia dizer a nós, brasileiros, hoje?

É preciso considerar antes de tudo, que sua leitura não é fácil e exige habilidades de interpretação e avaliação crítica que poucos leitores brasileiros têm até hoje. É só olharmos para os resultados dos exames aplicados pelo governo em todo o sistema de ensino brasileiro. Tanto é assim que quando eu procurei uma editora em 1989 (ano em que festejávamos os cem anos do nascimento de Lewis), a resposta para a minha proposta de série de palestras comemorativas foi: “Quem é que vai ler C.S. Lewis no Brasil”? 

Não obstante, Deus colocou em meu coração a fé nesse projeto e hoje, principalmente após a produção de três filmes de cinema sobre as “Crônicas de Nárnia”, perdi a conta de conferências, semanas teológicas e eventos em igrejas, seminários, faculdades e universidades pelas quais já fui convidada até hoje para falar sobre o autor.

E o que é que me fez apostar nesse autor e até defender uma tese sobre “O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupas”, publicada como “Antropologia Filosófica de C.S. Lewis” (editora Mackenzie, para cuja republicação estou em busca de editora) e resumida em “A Pedagogia Cristã na Obra de C.S. Lewis” (Ed. Vida)?

Certamente mais as diferenças entre a sua cultura, seu tempo e o pensamento, do que as semelhanças. Os britânicos são conhecidos por serem pontuais, disciplinados, tradicionalistas, sistemáticos, racionalistas e quase “medievais” na sua cultura. Nós somos o inverso de tudo isso e, portanto, precisamos ouvir o nosso “outro” para com ele aprendermos. Essa seria a abordagem “negativa” da obra de Lewis, ou seja, daquela parte que completa aquilo que falta à nossa cultura e educação. Em outras palavras, esse seria o “não” do autor irlandês para com a cultura, educação e ética brasileiras.

Por outro lado, o autor também tinha uma mensagem desse tipo, negativa, para a sua própria cultura, que é a atenção não apenas para a razão, mas também para as emoções e a imaginação, ou criatividade, e isso, nós, brasileiros, temos de sobra. Assim, sua mensagem adquire também uma dimensão positiva, não falando apenas do que “não devemos” ser, fazer ou pensar, mas também do que estamos “convidados” a ser, fazer ou pensar.

Lewis costumava dizer que enquanto a razão é o “órgão” da verdade, a imaginação é o do sentido, ou seja, apenas na interação entre esses dois aparelhos de leitura da realidade é que podemos ter uma compreensão significativa do mundo. (E a aprendizagem significativa, envolvendo a criatividade está em moda nas teorias educacionais de hoje, que também estão presentes no Brasil, ainda que de forma “importada”, ponto esse que tenho explorado bastante nas discussões sobre a atualidade do autor para a educação).

Mas será que nós valorizamos essa qualidade - a da criatividade - em nossa educação, ética e cultura (exceto, quem sabe, relacionada ao carnaval)? E nos meios evangélicos, nos seminários e igrejas, que espaço tem sido dado à criatividade? Certamente muito pouco, a não ser, quem sabe, no campo da música com graus de intensidade e diversidade bastante diferentes de acordo com a vertente denominacional. Os produtos da criatividade e da imaginação são usualmente encarados com desconfiança, como objetos e instrumentos do mal numa verdadeira “demonização” da cultura que não seja propriamente “evangélica”.

Independentemente da denominação, entretanto, e do preconceito ou medo que se tem contra tudo o que é imaginativo, principalmente se isso envolve “seres” de “outro mundo” (os do imaginário mitológico ou da interioridade humana), todos os cristãos admitiriam que Deus é infinitamente criativo, o que ele expressou ao máximo por ocasião da criação do mundo. Aliás, todas as religiões, não apenas as cristãs, têm uma narrativa da criação, mais ou menos fantasiosa, “revelada” pela Graça Comum.

A diferença é que na narrativa cristã do gênese, há claramente uma colaboração entre a razão (“No princípio era o verbo", - ou logos - Jo 1.1) e a visão (... e “viu que era bom”...); entre a imaginação e o fato histórico, que se deu de forma especial na criação do homem “à imagem e semelhança de Deus”. Se somos imagem e semelhança de Deus, também abarcamos em nós esses dois lados ao mesmo tempo: o da razão e o da imaginação. E como Jesus deixa claro na “Parábola dos Talentos”, nós nos tornamos culpáveis quando resolvemos enterrar e não fazer florescer os “talentos” que Deus nos deu. Com isso, ele não estava se referindo certamente a posses, riqueza ou dinheiro - ou pelo menos, não só a isso -, mas àquilo que já nascemos propensos a desenvolver: todos os nossos dons e talentos, inclusive os artísticos e culturais.

Certamente esses são apenas alguns aspectos da atualidade de Lewis para a cultura e cristianismo brasileiro. Convido o leitor a ajudar a escavar essas verdadeiras pepitas em sua obra.

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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O RELATIVISMO PÓS-MODERNO

23.10.2013
Do portal da REVISTA ULTIMATO, 
Por  Gene Edward Jr., Editora Cultura Cristã*


Texto Básico: 1 Timóteo 3.14-15

Leitura Diária:

Domingo:  Sl 19 – O valor da verdade de Deus
Segunda:  Sl 119 – A lei e a verdade
Terça:  Rm 1.18-32 – O pecado e a verdade
Quarta:  Jo 14.1-14 – Jesus Cristo e a verdade
Quinta:  Jo 16.1-24 – O Espírito Santo e a verdade
Sexta:  1Jo 1.5–2.6 – O teste da verdade
Sábado:  2Jo – Santificação e verdade

Introdução

De maneira geral, é possível afirmar que a vida cristã possui características e objetivos comuns em todos os momentos da história. A ordem de “santificar a Cristo no coração” (1Pe 3.15), por exemplo, se aplica a todos os cristãos em todos os momentos históricos. No entanto, é possível afirmar que cada momento histórico apresenta desafios próprios para o cristianismo. Nóssomos chamados por Deus para viver a vida cristã num tempo específico. Por isso, no exercício de santificar a Cristo no coração, por exemplo, cristãos de diferentes épocas se deparam com diferentes dilemas e desafios.

Nesta lição procuraremos avaliar à luz da Bíblia, um desafio próprio para os cristãos contemporâneos, que vivem na chamada pósmodernidade.

I. O relativismo dos tempos pós-modernos

Estudiosos de nosso tempo têm o denominado de pós-modernidade. Esta nomenclatura revela que o momento histórico em que vivemos é um momento que segue o período moderno. No entanto, a relação entre um momento histórico (modernidade) e outro (pós-modernidade) não é apenas temporal ou histórica, mas também conceitual e cultural. Em outras palavras, a pósmodernidade não é apenas um período que segue a modernidade em termos temporais, mas um período que segue a modernidade conceitual e culturalmente, rompendo, de certa forma, com aspectos do modo de pensar, viver e se organizar, próprio da modernidade.

Uma das características mais marcantes da pós-modernidade é o rompimento com o que poderíamos chamar de universal ou geral, em prol do particular ou individual. Na modernidade se pensava na história humana de modo geral, em termos de uma história universal. Hoje em dia o que importa é a história individual, quando muito a de um grupo de pessoas, mas não se costuma falar mais em uma história da humanidade.Na modernidade se falava também em uma verdade universal e absoluta. Para nossos dias, no entanto, falar em uma verdade universal e absoluta é algo quase que inaceitável. Por fim, a modernidade podia falar de um modo de agir universal e norteado por valores absolutos, enquanto para a pós-modernidade este é um discurso ultrapassado. Isto não significa que a modernidade tenha sido necessariamente cristã, mas apenas que ela teve em comum com a visão de mundo cristã o fato de assumir o universal e absoluto.

Ao contrário da modernidade, nosso tempo tem como princípio o relativismo. Tendo valorizado o particular, em detrimento do universal, a pós-modernidade abandonou a ideia de absolutos e assumiu o relativismo. O relativismo é a teoria de que a base para os julgamentos sobre conhecimento, cultura ou ética difere de acordo com as pessoas, com os eventos e com as situações (Dicionário de Ética Cristã, Carl Henry, Editora Cultura Cristã).

Esse relativismo contemporâneo se aplica aos três elementos apresentados no parágrafo anterior: história, conhecimento e ética. A pós-modernidade questiona, primeiramente, a existência de uma história comum que possa, de alguma forma, identificar os homens de modo universal. Em segundo lugar, no âmbito do conhecimento, questiona a existência de uma verdade que seja universal e absoluta. Por consequência, questiona por fim a possibilidade de se estabelecer princípios morais que devam reger a conduta de todas as pessoas universalmente. Nosso tempo rejeitaqualquer critério universalmente aceito para se medir valores (Carl Henry).

Esta teoria consideravelmente complexa (o relativismo) pode ser vista nas palavras e ações do dia a dia das pessoas em nosso tempo. Provavelmente a maioria dos leitores já consegue perceber o quanto o homem contemporâneo se preocupa com a sua história individualmente, como se ela não estivesse relacionada à história de modo geral. Provavelmente, a maioria dos leitores deste texto já teve uma discussão encerrada com as seguintes palavras: “não vale a pena discutir, afinal, você tem a sua verdade e eu tenho a minha”. Ou, quem nunca foi perguntado de forma retórica, depois de ter emitido um juízo de valor sobre algo ou alguém: “quem é você para julgar?”. Essas palavras e ações revelam como o relativismo tomou conta de nossos dias.

A igreja, enquanto comunidade plantada e imersa em seu tempo histórico sofre as consequências deste relativismo. Uma das maiores evidências da influência do relativismo na igreja contemporânea é sua tendência ao ecumenismo. A defesa da aceitação indiscriminada de toda e qualquer crença revela o quanto o caráter exclusivista do evangelho soa mal aos ouvidos contemporâneos. Outra característica que tem se tornado cada vez mais comum no meio da igreja é o questionamento da necessidade e a ausência da disciplina eclesiástica. Esta prática revela que não apenas o relativismo quanto ao conhecimento tem adentrado a igreja, mas também o relativismo ético-moral.

II. O relativismo e a Bíblia

O relativismo é uma teoria coerente com os pressupostos que a definem. Mas seria coerente com a cosmovisão cristã? Uma rápida consideração das verdades bíblicas é suficiente para revelar que o relativismo não se sustenta diante de alguns elementos fundamentais da fé cristã.

A. A Bíblia e a história

Ao considerarmos a história à luz da Bíblia, concluímos que, embora seja possível falar em histórias individuais, existem elementos fundamentais que na história humana que identifica todos os indivíduos, universalmente.

Pense no tema bíblico básico: Criação, Queda, e Redenção. A narrativa bíblica afirma que Deus é o autor da realidade. Tudo aquilo que existe foi criado por Deus (Gn 1.1). O homem não é mero produto de uma evolução biológica, mas um ser criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26). A origem do homem, portanto, identifica-nos todos uns com os outros. Além da criação, somos identificados pela queda em pecado. A rebeldia não fora uma característica específica do primeiro casal, mas é algo que se perpetua nas gerações. A Bíblia é contundente em afirmar que “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3.23); ou ainda que “não há um justo sequer” (Rm 3.10). Deste modo, nossa história se identifica com a história de todos os demais homens, não apenas pela criação, mas também pela queda. Por fim, nossa história se identifica com a história de todos os demais pela redenção. É claro que a identificação, neste ponto, não se dá pelo fato de serem todos salvos, mas pelo fato de que nosso destino eterno se define pela nossa relação com Jesus Cristo e o plano redentor de Deus nele proposto. Mesmo distinguindo entre salvos e perdidos, a Bíblia identifica todos eles em termos finais, ao afirmar, por exemplo, que todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Jesus Cristo é Senhor, para a glória de Deus Pai (Fp 2.10-11).

A tríade Criação, Queda e Redenção é oelemento unificador da história humana. Embora existam particularidades na história dos indivíduos, existem aspectos em que a história é universal; a história do homem criado à imagem de Deus, que se rebelou contra ele, e foi alvo da graça de Deus em Cristo Jesus.

B. A Bíblia e a verdade

Segundo a Bíblia, Deus não apenas trouxe a realidade e o homem à existência, mas se revelou. Aliás, o próprio ato criador é revelação. Deus criou todas as coisas pela sua Palavra (E disse Deus… Jo 1.1-2). Esta é a razão pela qual a realidade criada revela quem Deus é; “os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras de suas mãos” (Sl19.1).

O Deus da Bíblia, portanto, não é imóvel, mudo, mas é um Deus que vai ao encontro do homem e fala com ele. Desde muito cedo somos informados pela Bíblia deste movimento de Deus em relação ao homem. De acordo com os capítulos iniciais do Gênesis, ouvir a voz de Deus, que andava no jardim pela viração do dia, parece ser algo com o qual Adão e Eva estavam acostumados (Gn 2.16; 3.8). Mesmo após a Queda, Deus fala com o homem (Gênesis 3.8). Durante toda a história, Deus continuou falando ao homem, e à medida que falava, Deus tomava providências para que suas palavras fossem preservadas para toda a posteridade (Êx 17.14; 34.27).

Até que ele falou de modo pessoal, pela pessoa de Cristo Jesus. Ele, a Palavra que se fez carne e habitou entre nós (Jo 1.14) é a revelação maior de Deus. Ele é a expressão exata do seu Ser (Hb 1.3), que se apresentou dizendo: “quem me vê, vê aquele que me enviou” (Jo 12.45). Este mesmo Jesus se define como o caminho, a verdade e a vida (João 14.6), aquele cujo conhecimento significa liberdade (Jo 8.32).

Deus é a verdade, e ele se revelou a nós por meio de sua Palavra. Por isso, a verdade não é uma questão meramente subjetiva ou de construto social. Ainda que o homem atribua significados à realidade, a verdade é objetiva. Nós nos aproximamos da verdade, todas as vezes que nos aproximamos do que Deus revelou por sua Palavra. O contrário também é verdadeiro. Sempre que nos distanciamos da revelação que Deus deu por intermédio de sua Palavra, nos distanciamos da verdade. A Palavra de Deus é a verdade (Jo 17.17).

C. A Bíblia e a moralidade

Assim como o relativismo ético é resultado do relativismo no âmbito do conhecimento, assim também a crença de que Deus se revela em sua Palavra tem como consequência a existência de valores morais universais e absolutos. Ao se revelar, Deus demonstrou sua vontade ao homem; o modo como Deus deseja que o homem viva neste mundo.

Desde o princípio o relacionamento de Deus com o homem é marcado pelo fato de que Deus é Senhor, e o homem é servo. Este fato de que Deus tem direitos sobre o homem para requerer dele obediência, é uma implicação natural da crença na verdade bíblica da criação. É possível dizer que, como criador do homem, Deus tem direitos autorais sobre o homem, e este direito se revela no fato de que Deus se relaciona com o homem na posição de seu Senhor.

A narrativa bíblica da criação apresenta Deus não apenas criando o homem, mas definindo, por meio de ordenanças, seu propósito e significado. Logo em Gênesis 1, encontramos o imperativo: “sede fecundos, multiplicai-vos”. Apenas um capítulo depois encontramos a ordem divina, que por ter sido desobedecida, deu origem a toda sorte de males que experimentamos ainda hoje; “de toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2.16-17). Quando, depois da Queda, o mal havia se alastrado sobre a terra, e Deus se apresentou a Noé, foi com imperativos que ele o fez: “Contigo, porém, estabelecerei a minha aliança; entrarás na arca, tu e teus filhos, e tua mulher, e as mulheres de teus filhos” (Gn 6.18). Posteriormente, Deus se apresentou a Abrão, e mais uma vez o fez de forma imperativa: “Ora, disse o Senhor a Abrão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai e vai para a terra que te mostrarei”(Gn 12.1). Todas estas passagens revelam que Deus se relaciona com o homem como Senhor, e o  tem como seu servo. E, na qualidade de Senhor, Deus estabelece os princípios por meio dos quais o homem deve viver neste mundo.

Os dez mandamentos são característicos desta vontade divina revelada em sua Palavra. Eles têm sido chamados de a lei moral de Deus, isto é, o conjunto de preceitos divinos absolutos e atemporais. A causa pela qual são atemporais e absolutos é o fato de que se fundamentam no caráter de Deus. E, sendo Deus imutável em seu ser, as perfeições de seu caráter, nas quais se baseiam os mandamentos, são imutáveis também. Essa é a razão pela qual se pode dizer que os dez mandamentos revelam a vontade atemporal e absoluta de Deus. “A tua justiça é justiça eterna, e a tua lei é a própria verdade” (Sl 119.142).

III. A igreja: coluna e baluarte da verdade

Como temos visto, uma visão cristã do mundo pressupõe a existência de absolutos. Deus se revelou e em sua Revelação apresenta a história universal, nos oferece a verdade e os padrões morais para a vida. 1Timóteo 3.14-15afirma que a igreja é coluna e baluarte da verdade. As duas palavras, “coluna” e “baluarte”, indicam algo que sustenta e dá firmeza. Se pensarmos na metáfora de um edifício, por exemplo, e considerarmos o papel das colunas, como parte das estruturas que mantém um prédio de pé, perceberemos bem o que a Escritura deseja ensinar nesta passagem.

Essa metáfora não ensina que a igreja seja a fonte originadora da verdade. Ao contrário do que pensa o romanismo, não é a igreja quem define e estabelece o que é a verdade. A fonte originadora da verdade é Deus mesmo. E a igreja é a guardiã, a protetora, a defensora da verdade revelada e estabelecida por Deus. Esta lição sobre a igreja chama a nossa atenção para a necessidade de avaliarmos nosso compromisso com a verdade em tempos em que ela é tão questionada. Um detalhe importante é que 1Timóteo 3.14-15não está falando sobre algo que a igreja deve se esforçar para ser, mas sim o que a igreja é. O texto está definindo a igreja. Isto significa que um dos maiores compromissos da igreja é seu compromisso com a verdade, de modo que, se uma comunidade não é uma coluna e fundamento da verdade, ela não é uma verdadeira igreja de Cristo.

Conclusão

Vivemos tempos de desconsideração para com a verdade. Cada um parece defender e viver de acordo com o que pensa ser mais correto. No entanto, a Bíblia nos ensina que temos uma história comum, uma Revelação absoluta e princípios éticos normativos. E Deus estabeleceu sua igreja como coluna e baluarte da verdade. Isto significa que uma caraterística fundamental da igreja de Cristo é seu apego à verdade e sua proclamação.

Aplicação

Lembre-sede seu papel enquanto membro da igreja do Senhor. Você é uma pedra desta coluna que deve sustentar a verdade de Deus. Para cumprir este ministério: conheça a verdade; estude a Escritura com afinco até que você domine a verdade de Deus e seja dominado por ela; viva a verdade; seja uma referência nesses tempos onde os valores éticos e morais estão se tornando cada vez mais vulneráveis.

Proclame a verdade com coragem e ousadia. Não tenha medo. Ainda que isto custe a você um alto preço, lembre-se de que Deus não tem nos dado espírito de covardia, mas de moderação.

Boa leitura!

Tempos pós-modernos, Gene Edward Jr., Editora Cultura Cristã.

Verdade, realidade, identidade individual, tudo foi implodido pelo pós-modernismo, como produtos da sociedade, prisões da linguagem, máscaras de poder. Essas ideias estão nas escolas, na televisão, nos filmes, jornais e revistas. Então passando para o cidadão comum. Desafiam e minam a fé cristã. Fomos chamados para testemunhar a esta época. Vamos conhecê-la.

*Estudo publicado originalmente pela Editora Cultura Cristã, na série Expressão, 2013. Usado com permissão.

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