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quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Profissionais de saúde discutem testemunho cristão

24.10.2013
Do portal da REVISTA ULTIMATO
Por Soraya Dias*
 
Os Médicos de Cristo, organização filiada a RENAS (Rede Evangélica Nacional de Ação Social) e ao ICMDA (International Christian and Dental Association), realizou nos dias 7 a 12 de outubro uma experiência inédita: promoveu um Seminário Internacional Itinerante nas cidades do Rio de Janeiro, Campinas, São Paulo e Belo Horizonte. Somando os eventos, obtivemos a participação de quase 200 profissionais de saúde.

Além dos preletores locais, o médico indiano Vinod Shah, CEO do ICMDA, e a médica holandesa Josephine Maat, membro da coordenação do Congresso Mundial do ICMDA que acontecerá em 2014, em Rotterdam, Holanda, trouxeram relevantes contribuições para capacitação dos presentes.

A temática “Desafios do profissional de saúde cristão no mundo pós-moderno” possibilitou a discussão e a tomada de posição dos profissionais de saúde presentes em torno da importância de mantermos a integridade em ambientes de corrupção. É digno de nota o fato que quanto o acesso e a qualidade dos serviços de saúde são prejudicados com o desvio de verbas destinadas à saúde.

Dilemas éticos, integralidade da missão e proclamação do evangelho no atendimento à saúde foram debatidos na perspectiva da expansão do reino de Deus, entendendo o campo de trabalho como campo missionário.

Frente a frente com os determinantes sociais da saúde (condições sociais nas quais as pessoas nascem, vivem, trabalham e envelhecem que influenciam na ocorrência de problemas de saúde e fatores de risco para a população) e iniquidades em saúde – evitáveis, injustas e desnecessárias – compreendeu-se porque os mais vulneráveis adoecem mais e morrem mais cedo. As discussões nos conduziram a uma reflexão profunda sobre a estrutura do sistema de saúde brasileiro, que requer participação ativa dos profissionais na defesa do direito constitucional à saúde.

Esse simpósio possibilitou também uma análise das clínicas de curto prazo realizadas sem planejamento e sem parceria com a comunidade local, com um cunho puramente assistencialista, sem ações que promovam uma participação ativa da população. A metodologia consistiu na análise de cartas de missionários relatando sua experiência e o retorno da liderança local. Essa atividade proporcionou um aprendizado fundamental no sentido de qualificar as clínicas de curta duração, uma das principais contribuições dos profissionais de saúde.

Todos foram conscientizados da relevância da incidência em políticas públicas, controle social e defesa de direitos. Ressaltou-se que os conselhos de direito podem ser importantes espaços de testemunho, serviço e exercício de nossa fé numa perspectiva cidadã e podem contribuir para o bem comum, especialmente no que tange ao acesso à saúde e ao fortalecimento do SUS (Sistema Único de Saúde).

Nosso próximo encontro será em Campinas (SP) por ocasião do V CENPS – Congresso Evangélico Nacional de Profissionais de Saúde, no Lar Luterano Belém, que ocorrerá de 17 a 19 de outubro de 2014.

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*Soraya Dias é presidente dos Médicos de Cristo e integra o Grupo Coordenador da RENAS (Rede Evangélica Nacional de Ação Social).
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Fonte:http://www.ultimato.com.br/conteudo/profissionais-de-saude-discutem-testemunho-cristao

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

MARCO DE OLIVEIRA: Diversidade Racial e Identidade Negra

09.10.2013
Do blog  NOVOS DIÁLOGOS, 17.11.2006
Por  Marco Davi de Oliveira

Diversidade Racial e Identidade NegraDurante muitos anos tenho ouvido um dogma existente nas religiões de matrizes africanas que, de forma quase fundamentalista, enfatiza que de matrizes africanas são as conhecidas como candomblé, umbanda, quimbanda etc. Mas, quando vejo a história de uma diáspora negra no mundo, percebo o erro que os pensadores envolvidos no Movimento Negro incorrem. Porque nesta “diáspora” podemos ver o que aconteceu em Los Angeles, em 1900, quando um jovem negro, filho direto de escravos, começou a pregar sobre o batismo do Espírito Santo. Com a criação da Missão Apostólica da Fé, que se juntou à Igreja de Deus em Cristo e, depois, por questões racistas, se dividiu entre a Igreja de Deus em Cristo e as Assembleias de Deus. De acordo com o pensamento vigente, posso afirmar que os pentecostais também são de matriz africana. E deve ser por esta razão que vemos grande parte dos negros religiosos nas igrejas pentecostais. É obvio que a questão social influenciou essa escolha, mas notamos uma “africanidade” marcante na liturgia pentecostal. 

Mas em todas as religiões se faz necessário revermos a questão básica para a igualdade racial no Brasil, porque quando os brasileiros entenderem o processo histórico do surgimento desta nação poderão reivindicar que haja igualdade de direitos neste caldeirão de diversidade racial brasileiro. Mas, para que isto ocorra, é necessária a compreensão de quem fomos, somos e queremos ser como grupo étnico. 


Identidade Racial no Brasil 

Creio que a questão central para a análise da diversidade racial é a identidade. Não há como refletirmos sobre diversidade sem abordarmos essa questão tão séria e pertinente. O livro Enciclopédia Brasileira da Diáspora Negra de Ney Costa define identidade como sendo “a consciência que um indivíduo tem de pertencer a um determinado grupo social (1)”. Se identidade é isto, podemos começar fazendo algumas perguntas que são essenciais para a discussão sobre igualdade racial, políticas de ações afirmativas e muito mais. A identidade racial se torna fundamental no âmbito de novas discussões sobre o racismo e a igualdade de raças no Brasil. 

Qual a Necessidade da Identidade Racial? 

O primeiro aspecto para se obter uma identidade racial é verificar a necessidade de se ter uma identidade. O grupo que busca uma identidade é o grupo que está se percebendo esquecido, quando uma raça luta para não ser esquecida, quando uma raça luta pelo resgate de sua história, seus costumes, suas origens. Logo, este grupo começa por identificar a sua identidade. Os negros, ao contrário dos brancos no Brasil, reivindicam a identidade de um povo que não se pode esquecer. Utilizamos aqui o termo raça, não porque achamos existirem várias raças, mas porque analisando os grupos sociais no Brasil não sei se podemos fugir desta categoria. 

Identidade e Especificidade 

Pensar em identidade racial se torna abrangente numa realidade de segregação social, econômica e política, onde muitos negros e brancos vivem à margem da sociedade. É claro que não podemos ver negros e brancos como iguais porque isso seria negar os anos de sofrimentos desde a escravidão até aos dias atuais. É importante pensar numa identidade. Mas, qual identidade? A brasileira? Como chegar nessa identidade em meio a tantas misturas raciais? Alguns podem objetar ressaltando que a inter- racialidade é a identidade brasileira. Mas, de fato não explica já que não há igualdade nessa mistura. Para chegarmos a esta identificação como brasileiros, precisamos ver total igualdade, social, econômica e política. 

Neste contexto, devemos pensar em duas expressões que quero chamar de emblemáticas: a racialidade e a especificidade. A racialidade, que perpassa as questões biológicas e denota características emocionais e culturais que faz com que membros de um grupo racial específico compartilhem entre si traços e tendências que não são compartilhadas por membros de outras raças, mesmo que haja, como no Brasil, extensa diversidade racial. Quando se pensa em identidade racial deve-se levar em conta a racialidade e não a nacionalidade, porque não se descobre participante ativo de um grupo, com todos direitos e deveres como cidadão, simplesmente por causa da nacionalidade. Não se pode esquecer, simplesmente, o conceito de raças porque elas são “construtos sociais, formas de identidade baseadas numa ideia biológica errônea, mas socialmente eficaz para construir, manter e reproduzir diferenças e privilégios, se não são fato no mundo físico, elas existem, de modo pleno, no mundo social”(2). 

A questão da identidade deve passar por aquilo que quero chamar de especificidade. Por especificidadedenomino a qualidade de ser específico no que concerne às coisas externas ao grupo. Que vai além da pigmentação da pele, da estrutura óssea, do modo de ver as coisas, da cultura adquirida, da história etc. A identidade com tudo aquilo que é especifico numa raça ou etnia. 

Daí, podemos propor que no Brasil há uma variedade de especificidade racial e que a raça negra, embora sobrepuje as outras raças neste quesito, é a raça que é marginalizada por ser tão específica. 

Identidade Étnica? 

Talvez devêssemos pensar em identidade étnica. Para isto, precisamos levar em conta a abrangência também desta palavra. A pergunta é: O que estamos querendo dizer quanto pronunciamos esta palavra? 

A expressão identifica um povo, mesmo que por razões ideológicas este povo esteja perdido na história da sociedade; mesmo que haja uma grande confusão quanto ao que é ser negro no Brasil. Talvez, a expressão “identidade negra” seja mais plausível que se possa imaginar porque mexe com a consciência de quem se encontra consigo mesmo enquanto identidade racial e não se envergonha de suas origens. No Brasil, somos fruto da junção de raças que se entrelaçaram. Quando pensamos em negritude no Brasil, talvez devamos chamar a atenção para um Brasil negro-mestiço ou um Brasil de negros. Quem sabe, poderemos afirmar que somos uma nação de negros? Mas, será que a expressão mestiço não pode também estar submetida à ideologia que tem como objetivo apagar e aniquilar algum grupo, antes majoritário? Como disse Kabengele Munanga, “a mestiçagem não pode ser concebida apenas como um fenômeno estritamente biológico, isto é, um fluxo de genes entre populações originariamente diferentes [...] a noção de mestiçagem, está saturada de ideologia (3)” 

Identidade: coisa dada?

Alguns acreditam ter chegado à identidade quando atropelados por ações racistas. É claro que o confronto com valores racistas podem trazer à luz as coisas que foram esquecidas ou ideologicamente manipuladas. Mas, pensar assim é crer que não há possibilidade de se obter uma identidade a não ser por uma ação externa que subjuga os negros e exalta os brancos. Esse pensamento mostra que os negros só se compreendem como raça quando são objeto das ações racistas de alguns brancos que, assim, ajudam os coitados negros sem consciência. Será que nós, negros, precisamos da ajuda paternalista de brancos para compreendermos a nossa história, nossa cultura singular, nossa situação como grupo relegado a segundo plano na estrutura política, econômica e social do país? Embora possamos, sem radicalismo, admitir que muitas mudanças estejam acontecendo, ainda acreditamos ser um processo muito lento. 


Identidade Adquirida 

Pensar em identidade dos negros no Brasil como coisa legítima deve nos conduzir àquele momento crucial quando nos percebemos como membros de um grupo racial específico dentro de um contexto de exclusão. 

Quando reconhecemos, não só na pigmentação da pele ou nas informações recebidas pelas pesquisas governamentais, que somos membros de um grupo racial desprestigiado e, por isso, não podemos pensar somente em nossa situação individual. Quando chegamos a estas conclusões, somos invadidos por uma consciência de quem somos como povo e porque não estamos em melhor situação no que concerne à nossa cidadania. 


A Diversidade Religiosa entre os Negros como Ponto de Partida para a Luta por Igualdade Racial no Brasil 

Alguns dos mais radicais e retrógrados teimam em determinar que os negros de religiões diferentes daquelas comumente caracterizadas como de matrizes africanas não são negros de verdade ou são negros embranquecidos. Esse absurdo tem perseguido o Movimento Negro que até hoje tem dificuldade de aceitar os negros de outras religiões, em particular, os evangélicos. É interessante notar que, quanto mais intolerância entre nós, mais nos enfraquecemos diante dos graves problemas que atingem negros independentemente do credo escolhido. 

Creio que a religiosidade é pessoal e intransferível, pois é uma experiência única e particular. Todos têm o direito de escolher e mudar de religião quando quiserem. Portanto, a religião não deveria ser instrumento de segregação entre nós negros, mas sim de unificação e religação para lutarmos, cada um em seus limites, por ações que venham favorecer todos os negros brasileiros. 

Os negros evangélicos precisam aprender com os negros de outras religiões a terem coragem de lutar por igualdade racial nas igrejas. Mas os evangélicos precisam também aprender a não demonizar os ritmos, a cultura e o jeito de ser negro. Sim, porque a cultura nem sempre é diabólica como acreditam muitos evangélicos. Por outro lado, os de matrizes africanas devem aprender que a história dos negros no Brasil está em transformação e muitos negros evangélicos têm somado forças com suas lutas e militâncias pela igualdade racial. 

Notas 

(1) LOPES, Nei. Enciclopédia Brasileira da Diáspora Negra. São Paulo: Selo Negro edições, 2004. 
(2) GUIMARÃES, Antonio Sergio Alfredo. Racismo e Anti- racismo no Brasil. São Paulo: Editora 34, 1999. 
(3) MUNANGA, Kabengele. Rediscutindo a mestiçagem no Brasil: identidade nacional versus Identidade negra. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

Marco Davi de Oliveira*Marco Davi de Oliveira é coordenador da ANNEB – Aliança de Negras e Negros Evangélicos do Brasil, mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo, escritor, articulista e pastor batista. Publicou A Religião Mais Negra do Brasil (Editora Mundo Cristão) e foi co-autor dos livros O Melhor da Espiritualidade Brasileira(Editora Mundo Cristão) e Missão Integral (Editora Ultimato, no prelo).

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