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sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

O Fantasma de John Brown no Brasil: Quando o Zelo pela "Causa" Atropela o Genuíno Evangelho de Cristo

19.12.2025

Postado por pastor Irineu Messias(Artigo atualizado em 22.12.2025)

Introdução: A Justiça que se Torna Ídolo

O Brasil vive um tempo de paixões extremas. No centro desse turbilhão, muitos cristãos evangélicos têm abandonado a mansidão de Cristo em favor de uma retórica de confronto. O personagem histórico John Brown (1800-1859) serve como um espelho de advertência: ele era um homem que amava a justiça, mas que permitiu que esse amor se transformasse em um ídolo violento.

Hoje, ao ouvirmos frases como "bandido bom é bandido morto" ou ao vermos o apoio a atos de vandalismo e golpes em nome de Deus, percebemos que o erro de Brown — o de achar que a causa justifica o pecado — continua vivo em nossos púlpitos e redes sociais.

1. "Bandido bom é bandido morto" vs. O Coração do Pai

John Brown acreditava que a morte dos escravagistas era o único caminho para a justiça. No Brasil atual, a teologia do extermínio substituiu a teologia da regeneração. Suas ações em muito se parecem, se adaptado com o bordão atual: " escravista bom é escravista morto".

Biblicamente, porém, o veredito de Deus é outro: “Desejaria eu, de qualquer modo, a morte do ímpio? diz o Senhor Deus; Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva?” (Ezequiel 18:23). Quando um cristão clama pela morte de alguém, ele está usurpando o lugar do Juiz Eterno e negando o poder transformador do Evangelho. Se acreditamos que "bandido bom é morto", estamos admitindo que o sacrifício de Jesus não é suficiente para salvar o "pior dos pecadores".

2. O Erro da Invasão e da Depredação: O Reino não é deste Mundo

Assim como John Brown tentou assaltar um Forte Militar (Harpers Ferry) para forçar uma mudança social através das armas, vimos recentemente cristãos evangélicos brasileiros invadindo e depredando prédios públicos sob o pretexto de "salvar a nação".

O apóstolo Paulo, escrevendo sob o domínio do terrível Império Romano, instruiu: “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores” (Romanos 13:1). A desordem, o caos e o vandalismo não são frutos do Espírito, mas obras da carne (Gálatas 5:19-21). Defender golpes de Estado ou depredar o patrimônio público em nome de uma ideologia é uma afronta direta ao princípio bíblico de submissão e ordem. Deus não é autor de confusão, mas de paz (1 Coríntios 14:33).

3. A Língua que Amaldiçoa: Um Veneno no Corpo de Cristo

Brown amaldiçoava seus oponentes antes de executá-los. No cenário brasileiro, o hábito de amaldiçoar autoridades, opositores políticos e "inimigos da fé" tornou-se comum.

Tiago 3:9-10 nos confronta severamente: “Com ela [a língua] bendizemos ao Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus... Meus irmãos, não convém que isto se faça assim”. Um cristão que usa o nome de Deus para proferir maldições e ódio político está com a fonte de sua espiritualidade contaminada. O mandamento de Cristo é claro: “Abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis” (Romanos 12:14).

4. Ideologia vs. Evangelho: A Mistura Mortal

O maior erro de John Brown foi fundir sua fé com uma militância armada radical. Hoje, o risco é a "ideologização" da fé, onde a Bíblia é lida através das lentes de um partido, de uma ideologia ou de um líder político.

Ademais, ideologias (qualquer que seja ela), partidos ou líderes não têm compromisso com os valores do Reino de Deus. O foco destes sempre foi, é, e sempre será a busca pelo poder; e se puder usar a religião (qualquer seja ela, inclusive a cristã, evangélica, católica, etc.), dela fará uso até quando lhes for conveniente. Ainda que, se for preciso, "converte-se" a algumas delas para alcançar seus objetivos.

Tradução: "Eu, John Brown, estou bem certo de que os crimes desta terra culpada nunca serão expiados senão com sangue." John Brown, 1859

Cristãos que adotam tal postura estão apregoando um "outro evangelho", cujos ensinos apenas "parecem" com os do verdadeiro Evangelho de Cristo. É por esta razão que a Palavra de Deus severamente adverte:

"Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema." Gálatas 1:8,9

Neste sentido, tem sido usado sem muito alarde e subrepticiamente um conceito pouco conhecido, a agnotologia, que segundo o seu formulador, o professor da Universidade de Stanford, Califórnia, professor Robert N. Proctor, em 1995, pode ser compreendida assim: refere-se ao estudo cultural da ignorância, isto é, às formas pelas quais o desconhecimento é criado, mantido ou explorado intencionalmente por indivíduos, grupos ou instituições. 

No contexto religioso, isso ocorre quando ideologias, ou movimentos políticos utilizam narrativas simplistas, ou distorcidas para reinterpretar textos sagrados, promovendo uma leitura que serve aos seus próprios interesses. Tal prática cria uma "ignorância programada", onde o verdadeiro significado do Evangelho é obscurecido por agendas externas, levando muitos cristãos a abraçarem causas que contradizem os valores do Reino de Deus.

Quando um crime é cometido — seja ele de ódio, de invasão, de traição ou ao incitamento à convulsão social — e se tenta justificá-lo "em nome de Deus", estamos cometendo o pecado de tomar o Seu santo nome em vão. Jesus recusou o caminho do poder político romano e o caminho da espada dos zelotes. Seu Reino é de justiça, paz e alegria no Espírito Santo, não de bombas, invasões ou discursos de ódio.

Conclusão: De Volta ao Caminho Estreito

John Brown foi enforcado por seus crimes, mas acreditando ser um mártir, no entanto, a história o recorda como um homem que, embora tivesse uma causa nobre, escolheu o caminho errado para defendê-la. O Brasil cristão precisa decidir se seguirá o exemplo de Brown — o da força carnal e do "sangue pelo sangue" — ou o exemplo de Jesus — o do amor sacrificial e da obediência à  Sua Palavra.

Não podemos "salvar a família" destruindo o próximo. Não podemos "defender a liberdade" atacando as instituições, responsáveis por defendê-la. E, definitivamente, não podemos chamar Jesus de Senhor se nos recusamos a amar nossos inimigos. Que a igreja brasileira se arrependa de seu zelo sem entendimento e retorne à simplicidade e à mansidão do Evangelho.

Fonte Histórica sobre John Brown:

Carton, Evan. "Patriarch: John Brown and the American Civil War". University of Nebraska Press, 2006. (Análise sobre a radicalização religiosa e política de Brown).

John Brown (abolicionista)




Proctor, Robert N;SCHIEBINGER, Londa(orgs). The Making and Unmaking of Ignorance

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Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Brown_(abolicionista)

quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Nem Todo Evangélico Segue a Mentira: Um Chamado à Verdade Bíblica e à Responsabilidade Digital

04.11.2025
postado por pastor Irineu Messias

Introdução: Um Pastor Preocupado com a Verdade


Como pastor evangélico, formado em Teologia Sistemática e Aconselhamento Pastoral, vejo com dor no coração a epidemia de fake news que se alastra entre nós. Não é exagero: em 2025, Tiago Cavaco, pastor batista português, em artigo na Folha de S.Paulo, revela que os evangélicos são os que mais compartilham fake news.(Folha de S.Paulo, 3 de abril de 2025)

Mas nem todo evangélico abraçou a mentira.
Este texto é um grito de alerta triplo:

À sociedade: “Nós não somos isso.”

À igreja: “Voltemos à Palavra.”

A todos: “Não troquem a verdade por ideologia.”

1. À Sociedade: “Nós Não Somos o Rótulo que Nos Deram”

A mídia secular pinta o evangélico como fanático, conspiracionista, anti-ciência.
Mas a Bíblia nos chama a ser sal e luz (Mt 5:13-16), não vetores de desinformação.


Nós somos milhões que oram, estudam a Bíblia e servem ao próximo – não robôs de WhatsApp.

Não nos julguem pelo pior. Conheçam o melhor.

2. À Igreja: “Voltemos aos Princípios Bíblicos – A Verdade Vos Libertará”

A fake news é pecado porque viola pelo menos 3 mandamentos:

9º Mandamento – “Não darás falso testemunho” (Êx 20:16).

Efésios 4:25 – “Deixai a mentira, falai a verdade.”

Provérbios 12:22 – “Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor.”

Desvios Doutrinários Comuns



Púlpito não é palanque de WhatsApp.

Pregue a Palavra, não o print.

3. A Todos: “Não Troquem a Verdade por Ideologia”

A fake news não tem lado.

Ela é ferramenta de poder – usada por esquerda, direita, centro, religião ou ateísmo.


Princípio Bíblico Universal:

“Examinai tudo. Retende o bem.” (1Ts 5:21)

Checklist Prático para o Cristão Digital:

  • Fonte confiável? (Agência Lupa, Aos Fatos, IBGE)
  • Versículo fora do contexto? (Leia o capítulo todo)
  • Emoção > Fato? (Ore antes de compartilhar)
  • Glória a Deus ou a mim? (Se for vaidade, delete)
  • Edifica? Consola? Exorta?(Se não atende a essas três condições, não compartilhe)

Conclusão: Um Chamado à Ação Triplo

À Sociedade:

Olhem para nós com justiça.

Conheçam igrejas que:
  • Doam cestas básicas
  • Acolhem dependentes químicos
  • Ensinam ética e cidadania
  • Ensinam somente a verdade da Palavra de Deus
Nós existimos. Somos a maioria silenciosa.

À Igreja:

Arrependei-vos da mentira.
  • Crie grupos de checagem bíblica na igreja.
  • Pregue séries sobre verdade (Jo 8:32).
  • Use o púlpito para desmentir, não disseminar.

A Todos:

Seja evangélico ou não, a verdade é de Cristo.

Não seja cúmplice da mentira por conveniência ideológica ou partidária.

Oração Final: 

“Senhor, perdoa-nos por compartilhar o que não examinamos.

Dá-nos discernimento para separar trigo do joio digital.

Que a Tua verdade prevaleça em nossos lábios e telas.

Em nome de Jesus, amém.”


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Leia mais: 




sexta-feira, 7 de março de 2025

Resenha : "O PAPEL DAS MÍDIAS SOCIAIS NO COMPORTAMENTO DOS EVANGÉLICOS BRASILEIROS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA”

 07.03.2024

Postado por pastor Irineu Messias


A seguir, apresenta-se uma resenha acerca do documento O PAPEL DAS MÍDIAS SOCIAIS NO COMPORTAMENTO DOS EVANGÉLICOS BRASILEIROS: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA”, que se propõe a analisar a interseção entre as tecnologias digitais e as práticas religiosas no contexto evangélico brasileiro.

Contextualização e Objetivos

O estudo parte do reconhecimento do crescente impacto das mídias sociais na sociedade contemporânea e, especificamente, na forma como a religião é vivenciada e comunicada. O principal objetivo do trabalho é investigar de que forma as plataformas digitais transformam a prática dos evangélicos, contribuindo para a construção ou fragmentação da identidade religiosa e alterando as dinâmicas de comunicação entre líderes e fiéis. Ao abordar estes temas, o artigo se mostra atual e relevante, considerando os desafios da era digital, como a disseminação de fake news e a superficialização dos discursos religiosos.

Metodologia e Abordagem

A metodologia adotada consiste em uma revisão bibliográfica sistemática, na qual os autores selecionaram fontes recentes e relevantes para compor um panorama crítico sobre as transformações na prática religiosa mediada pelas mídias sociais. Essa abordagem qualitativa permite identificar padrões, tendências e lacunas na literatura, ressaltando, por exemplo, tanto os benefícios proporcionados pelo acesso facilitado à informação quanto os riscos associados à desinformação e à fragmentação comunitária.

1. Relevância do Tema: 

O documento aborda um assunto de extrema importância no contexto atual, pois as mídias sociais modificam a forma como a fé é praticada, ampliando o acesso à mensagem religiosa, mas também introduzindo desafios relacionados à autenticidade e à coesão comunitária. A discussão acerca da disseminação de fake news, em particular, é um alerta imprescindível para que líderes e teólogos repensem as estratégias de comunicação digital.

2. Análise Crítica e Reflexiva: 

A revisão bibliográfica apresenta uma análise reflexiva sobre a dualidade das mídias sociais – por um lado, possibilitam a democratização do acesso à informação e a formação de comunidades virtuais; por outro, podem gerar uma “religiosidade performática” e facilitar a propagação de conteúdos imprecisos que atentam contra os valores bíblicos e a tradicional autoridade religiosa.

3. Contribuição para o Debate Interno:  

O trabalho funciona como uma ferramenta que pode estimular uma reavaliação entre líderes evangélicos e teólogos, incentivando-os a adotar práticas digitais mais críticas e a implementar mecanismos de verificação de informações. Esse debate é fundamental para resguardar os valores religiosos e garantir uma prática de fé mais autêntica e conectada com os princípios éticos e doutrinários do evangelho.

A resenha evidencia que o documento “O PAPEL DAS MÍDIAS SOCIAIS NO COMPORTAMENTO DOS EVANGÉLICOS BRASILEIROS” é uma contribuição valiosa para o debate sobre a relação entre tecnologia e religiosidade no Brasil. Ao identificar tanto os benefícios quanto os desafios inerentes ao uso das mídias sociais – com ênfase especial na problemática das fake news e na redefinição da autoridade religiosa – o estudo serve como um chamado à conscientização e à reflexão crítica entre os líderes evangélicos. Assim, ele pode funcionar como um ponto de partida para a reformulação de estratégias de comunicação e o fortalecimento dos valores bíblicos em um ambiente cada vez mais digitalizado.

*Este artigo científico, “O PAPEL DAS MÍDIAS SOCIAIS NO COMPORTAMENTO DOS EVANGÉLICOS BRASILEIROS” foi elaborado pelo pastor Irineu Messias, como um Trabalho de Conclusão do curso de Pós-Graduação em Filosofia, Sociologia e Ciências Sociais, pela Faculdade Prisma. O autor também é formado em Filosofia(Licenciatura), pela Faculdade IBRA e Bacharel em Teologia.

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sexta-feira, 27 de dezembro de 2024

"Abreu e Lima: Uma Cidade de Joelhos". Documentário

27.12.2024
Postado por Pr Irineu Messias

Documentário "Abreu e Lima: Uma cidade de Joelhos", foi exibido nesta segunda-feira (23). Foto: Cortesia
O documentário "Abreu e Lima: Uma Cidade de Joelhos", contemplado pela Lei Paulo Gustavo, foi exibido ao público no dia 23 de dezembro de 2024, a partir das 19h, no auditório do Cineteatro da Secretaria de Cultura, localizado no bairro da Boa Esperança, na Região Metropolitana do Grande Recife. A exibição foi gratuita, permitindo que todos pudessem participar desse momento especial.

Um Olhar Sobre a Fé em Abreu e Lima

Este curta-metragem, com duração de 24 minutos, apresenta entrevistas realizadas nas comunidades religiosas locais, buscando entender as razões por trás da intensa busca pela fé entre os moradores de Abreu e Lima. É uma oportunidade valiosa para refletirmos sobre a espiritualidade que permeia a vida de tantas pessoas.

Contexto Religioso

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Abreu e Lima abriga uma porcentagem de evangélicos que supera a média nacional, indicando uma transformação significativa no cenário religioso do município. Com uma rica diversidade de crenças, cerca de 35% da população se declara protestante, enquanto a média nacional é de 32%.

O Que Esperar do Documentário

As filmagens, realizadas ao longo deste ano, incluem depoimentos de pastores que compartilham sobre a espiritualidade dos membros de suas igrejas e a busca incessante pela palavra de Deus. O documentário retrata momentos de consagração através dos louvores e o profundo arrependimento dos pecadores, oferecendo um retrato sincero do universo da fé.

Produção

A direção, produção e roteiro do documentário são de responsabilidade do jornalista Gamal Nasser, que traz à luz a riqueza da experiência religiosa em Abreu e Lima.
8
Nota: Matéria elaborada a partir do texto escrito no jornal FOLHA DE PERNAMBUCO. Clique aqui e leia a matéria original.
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Fonte:https://www.folhape.com.br/cultura/documentario-abreu-e-lima-uma-cidade-de-joelhos-sera-exibido-nesta/380358/

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

Sua alegria obstinada derrubou a escravidão (William Wilberforce)

18.12.2024
Do blog VOLTEMOS AO EVANGELHO, 20.06.19
Por John Piper

Sua-alegria-obstinada-derrubou-a-escravidão-(William-Wilberforce)

Contra grandes obstáculos, William Wilberforce, um membro evangélico do Parlamento, lutou pela abolição do comércio de escravos africanos e contra a escravidão em si até que ambos fossem ilegais no Império Britânico.
A batalha consumiu quase quarenta e seis anos de sua vida (de 1787 a 1833). As derrotas e retrocessos ao longo do caminho teriam levado um político comum a abraçar uma causa mais popular. Embora nunca tenha perdido uma eleição parlamentar dos vinte e um aos setenta e quatro anos, a causa da abolição do tráfico de escravos foi derrotada onze vezes antes de sua aprovação em 1807. E a batalha pela abolição da escravidão não obteve a vitória decisiva até três dias antes dele morrer em 1833. Quais eram as raízes da perseverança deste homem na causa da justiça pública?

Político amante de Festas

Wilberforce nasceu em 24 de agosto de 1759, em Hull, na Inglaterra. Quando criança ele admirava George Whitefield, John Wesley e John Newton. Mas logo ele deixou toda a influência dos evangélicos para trás. A respeito de seus últimos anos de escola, ele disse: “Eu não realizei nada”. Esse estilo de vida continuou ao longo de seus anos no St. John’s College, em Cambridge. Ele pode viver da riqueza de seus pais e sobreviver com pouco trabalho. Perdeu qualquer interesse pela religião bíblica e amava circular entre a elite social.
Por diversão, Wilberforce disputou um assento na Câmara dos Comuns de sua cidade natal, Hull, em 1780, quando ele tinha vinte e um anos. Ele gastou £ 8.000 (mais ou menos 38 mil reais) na eleição. O dinheiro e seu incrível talento para falar triunfaram sobre seus oponentes. Wilberforce começou sua carreira política de cinquenta anos como um incrédulo de classe alta que amava festas que iam até tarde da noite.

“A grande mudança”

Nas longas férias em que o Parlamento não estava em sessão, Wilberforce às vezes viajava com amigos ou familiares. No inverno de 1784, aos vinte e cinco anos, por impulso, convidou Isaac Milner, ex-professor, e amigo da escola de gramática – que agora era professor particular no Queens College, em Cambridge – para ir com ele, sua mãe e irmã à Riviera Francesa. Para sua surpresa, Milner havia se tornado um cristão convicto, sem nenhum dos estereótipos que Wilberforce concebera contra os evangélicos. Eles conversaram por horas sobre a fé cristã.
No verão seguinte, Wilberforce viajou novamente com Milner e eles discutiram o Novo Testamento grego por horas. Lentamente, seu “assentimento intelectual tornou-se uma profunda convicção” (William Wilberforce, p. 37). Uma das primeiras manifestações do que ele chamou de “a grande mudança” – a conversão – foi o desprezo que sentia por sua riqueza e pelo luxo em que vivia, especialmente nessas viagens entre as sessões parlamentares. Ao que parece, sementes foram plantadas, quase imediatamente, no início de sua vida cristã, do que viria a ser sua paixão posterior em ajudar os pobres e transformar todas as suas riquezas herdadas e sua posição naturalmente alta em um meio de abençoar os oprimidos.

Escravidão e Costumes

Um ano após sua conversão, o aparente chamado de Deus em sua vida tornou-se claro para ele. Em 28 de outubro de 1787, ele escreveu em seu diário: “O Deus Todo-Poderoso colocou diante de mim dois grandes objetivos, a supressão do tráfico de escravos e a reforma dos costumes [a moral]” (The Life of William Wilberforce, p. 69).
Logo depois do Natal de 1787, alguns dias antes do recesso parlamentar, Wilberforce notificou na Câmara dos Comuns que no início da nova sessão ele apresentaria uma moção para a abolição do tráfico de escravos. Levaria vinte anos até que ele pudesse levar a Câmara dos Comuns e a Câmara dos Lordes a colocar a abolição como lei. Mas quanto mais ele estudava o assunto e quanto mais ele ouvia falar das atrocidades, mais decidido ele se tornava.
Em maio de 1789, ele falou à Câmara sobre como ele chegou à sua convicção: “Confesso a vocês, tão enorme, tão terrível, tão irremediável é a maldade desse comércio que minha mente ficou inteiramente tomada em favor da abolição….sem importar as consequências, a partir desse momento estou determinado a não descansar até efetivar essa abolição”.  (The Life of William Wilberforce, p. 56).

283 Ayes

Claro, a oposição que durou vinte anos foi por causa dos benefícios financeiros da escravidão para os comerciantes e para a economia britânica. Eles não podiam conceber qualquer outra forma de produzir sem trabalho escravo. Isso significa que a vida de Wilberforce foi ameaçada mais de uma vez. Mesmo não sofrendo dano físico, houve a dolorosa perda de amigos. Alguns simplesmente não discutiam mais com ele e se mantinham alienados. Depois houve a enorme pressão política para recuar por causa dos desdobramentos políticos internacionais. Esses tipos de argumentos financeiros e políticos mantiveram o Parlamento cativo por décadas.
Mas a vitória veio em 1807. A visão moral e o impulso político para a abolição finalmente se tornaram irresistíveis. A certa altura, “praticamente toda a casa levantou-se e virou-se para Wilberforce em uma explosão de aplausos parlamentares. De repente, acima do rugido de “ouçam, ouçam” e completamente fora de ordem, três “hurras” ecoaram enquanto ele permanecia sentado, a cabeça baixa, lágrimas escorrendo pelo rosto” (The Life of William Wilberforce, p. 211).
Às quatro horas da manhã de 24 de fevereiro de 1807, a casa se dividiu – 283 Ayes (sim), 16 Noes (não). Maioria de 267 votos pela abolição do tráfico. E em 25 de março de 1807, o assentimento real foi declarado. Um dos amigos de Wilberforce escreveu: “[Wilberforce] atribui isso à interposição imediata da Providência. Naquela hora da madrugada, Wilberforce procurou seu melhor amigo e colega, Henry Thornton, e disse: “Bem, Henry, o que aboliremos em seguida”? (The Life of William Wilberforce, p. 212).

Nunca em silêncio

Claro que a batalha não acabou. E Wilberforce lutou até a sua morte vinte e seis anos depois, em 1833. A implementação da lei da abolição não somente era controversa e difícil, como tudo o que ela fez foi abolir o tráfico de escravos, não a escravidão em si. E essa se tornou a próxima grande causa.
Em 1821 Wilberforce recrutou Thomas Fowell Buxton para continuar a luta, mas mesmo à margem, envelhecido e frágil, ele o apoiava. Três meses antes de sua morte, em 1833, Wilberforce foi persuadido a propor uma última petição contra a escravidão. “Eu nunca pensei em vir a público novamente, mas nunca se dirá que William Wilberforce se manteve em silêncio enquanto os escravos precisavam de sua ajuda” (William Wilberforce, p. 90).
O voto decisivo da vitória veio em 26 de julho de 1833, apenas três dias antes de Wilberforce falecer. A escravidão em si foi proibida nas colônias britânicas. “É um fato singular”, disse Buxton, “que na mesma noite em que fomos bem-sucedidos na Câmara dos Comuns, aprovando a cláusula do Ato de Emancipação – uma das cláusulas mais importantes já promulgadas. . . o espírito do nosso amigo deixou o mundo. O dia do encerramento de seus trabalhos foi o dia do término de sua vida”. (William Wilberforce,p.  91).

Feliz como uma criança

O que fez Wilberforce agir? O que o fez perseverar na causa da justiça pública através de décadas de fracasso, difamação e ameaças?
É claro que devemos prestar o devido respeito ao poder do companheirismo na causa da justiça. Muitas pessoas associam o nome de Wilberforce ao termo “Clapham Sect”. O grupo a que esse termo se refere foi “rotulado” como ‘os santos’ por seus contemporâneos no Parlamento – proferido por alguns com desprezo, enquanto por outros com profunda admiração” (Character Counts, p. 72). Juntos, eles realizaram mais do que qualquer um poderia ter feito por conta própria. “William Wilberforce é a prova de que um homem pode mudar seus tempos, embora não possa fazê-lo sozinho”. (William Wilberforce, p. 88).
Mas há uma raiz mais profunda da resistência de Wilberforce do que apenas companheirismo. É a raiz da alegria da abnegação em Cristo. Os testemunhos e evidências disso na vida de abnegação de Wilberforce são muitos. Uma certa srta. Sullivan escreveu a um amigo sobre Wilberforce por volta de 1815: “Pelo tom de sua voz e expressão de seu semblante, ele mostrou que a alegria era a característica predominante de sua própria mente, alegria vinda da integridade da confiança nos méritos do Salvador e amor a Deus e ao homem. . .. Sua alegria era bastante penetrante”. (William Wilberforce, p. 87).
Outro de seus contemporâneos, James Stephen, relembrou após a morte de Wilberforce: “Era divertido e interessado por tudo, tudo o que ele dizia se tornava divertido ou interessante. . .. Sua presença era tão fatal para a estupidez quanto para a imoralidade. Sua alegria era tão irresistível quanto o primeiro riso da infância”. (William Wilberforce, p. 185).
Aqui está uma grande chave para sua perseverança e eficácia. Sua presença era “fatal para o torpor. . . [e] imoralidade”. Em outras palavras, sua alegria indomável levou outros a serem felizes e bons. Ele observou em seu livro A Practical View of Christianity: “O caminho da virtude é também de real interesse e de sólido prazer” (p. 12). Em outras palavras, “é mais abençoado dar do que receber” (At 20. 35). Ele sustentou-se e influenciou outros pela sua alegria. Se um homem pode roubar sua alegria, ele pode roubar sua utilidade. A alegria de Wilberforce era indomável e, portanto, ele foi um cristão e político convincente durante toda a sua vida. Essa foi a forte raiz de sua resistência.

Doutrinas peculiares, verdades gigantescas

Se a sua alegria quase infantil, indomável e abnegada era a raiz vital para a sua persistência na luta pela abolição ao longo da vida, o que, poderíamos perguntar, seria a raiz da raiz? Ou qual era a terra firme onde essa raiz estava plantada?
O principal foco do livro de Wilberforce, A Practical View of Christianity, é mostrar que o verdadeiro cristianismo, que consiste em novas e indomáveis ​​afeições espirituais por Cristo, está enraizado nas grandes doutrinas da Bíblia sobre pecado, Cristo e fé. “Portanto, aquele que quer crescer e abundar nesses princípios cristãos, esteja muito familiarizado com as grandes doutrinas do Evangelho” (p. 170).“Da negligência dessas doutrinas peculiares surgem os principais erros práticos da maioria dos professos cristãos. Essas verdades gigantescas mantidas em vista envergonhariam a pequenez de sua moralidade anã. . .. Toda a superestrutura da moral cristã é fundamentada em suas bases profundas e amplas”. (p. 166-167).
Há uma “perfeita harmonia entre as principais doutrinas e os preceitos práticos do cristianismo”. E, portanto, é um “hábito fatal” – tão comum naqueles dias quanto nos nossos – “considerar a moral cristã distinta das doutrinas cristãs” (p. 198).

Cristo nossa justiça

Mais especificamente, é a conquista de Deus através da morte de Cristo que está no centro dessas “verdades gigantescas”, levando à reforma pessoal e política da moral. A alegria indomável que leva à vitória nos tempos de tentação e provação está enraizada na cruz de Cristo. Se quisermos lutar pela alegria e perseverar até o fim em nossa luta contra o pecado, devemos conhecer e abraçar o pleno significado da cruz.
Desde o início de sua vida cristã, em 1785, até sua morte, em 1833, Wilberforce viveu “das grandes doutrinas do evangelho”, especialmente a doutrina da justificação pela fé somente baseada no sangue e na justiça de Jesus Cristo. Esse é o lugar onde ele alimentou sua alegria. Por causa dessas verdades, “quando tudo à sua volta era escuro e tempestuoso, ele pode levantar os olhos para o Céu, radiante de esperança e com gratidão” (Uma Visão Prática do Cristianismo, p. 173). A alegria do Senhor se tornou sua força (Neemias 8.10). E nessa força ele insistiu na causa da abolição do tráfico de escravos até que ele tivesse a vitória.
Portanto, em todo o nosso zelo hoje pela harmonia racial, ou pela santidade da vida humana, ou pela construção de uma cultura moral, não nos esqueçamos destas lições: Nunca minimize o lugar central da doutrina alicerçada em Deus e exaltadora de Cristo. Trabalhar para ser indomavelmente alegre em tudo o que Deus é para nós em Cristo, confiando em sua grande obra consumada. E nunca seja ocioso em fazer o bem – para que os homens possam ver nossas boas ações e dar glória ao nosso Pai que está no céu (Mateus 5.16).
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quarta-feira, 10 de julho de 2024

MINISTRO DA AGU ABRE PORTAS PARA ACORDO DE COOPERAÇÃO TÉCNICA DOS PROGRAMAS SOCIAIS PARA ATENDER EVANGÉLICOS DA COMADEPLAN-DF

 09.07.2024

Do blog da CONVENÇÃO DE MINISTROS EVANGÉLICOS DAS ASSEMBLEIAS DE DEUS NO PLANALTO CENTRAL - COMADEPLAN-DF

Por Tânia Passos Araujo

A Convenção dos Ministros das Assembleias de Deus do Planalto Central (COMADEPLAN-DF), entidade com cerca de mil pastores e 500 igrejas, é a primeira convenção religiosa do país a buscar parceria para um acordo de cooperação técnica por meio da Advocacia Geral da União (AGU). A proposta é fornecer informações e orientar o acesso de pastores, obreiros e membros a ingressar em programas sociais da União já disponíveis nas diversas áreas, seja habitação, educação, saúde e também na questão financeira, a exemplo do programa Desenrola.

O ministro da AGU, Jorge Messias e sua equipe receberam o pastor-presidente da COMADEPLAN-DF, Rinaldo Alves, que foi acompanhado do pastor Irineu Messias, da missionária e secretária Quézia Barbosa Alves e da missionária e jornalista Tânia Passos Araujo. A audiência com o ministro foi solicitada pela entidade religiosa. Também estiveram presentes, Fábio Lima, representando o procurador-geral do INSS, Virgílio Oliveira e João Henrique De Marco, representando o presidente do INSS, Alexandre Stefanutto.

Missionária e jornalista Tânia Passos Araujo; pastor Irineu Messias; ministro Jorge Messias; pastor Rinaldo Alves dos Santos e Missionária Quézia Barbosa Alves, secretária-adjunta da COMADEPLAN

Para o ministro da AGU, Jorge Messias, o acordo de cooperação técnica é um passo importante para que os fiéis que ainda não conhecem os programas sociais possam ter acesso. “A Bíblia ensina que o povo perece por falta de conhecimento. A igreja é um local de acolhimento e de informação. As pessoas precisam de cuidado a longo prazo e a igreja pode orientar no acesso aos programas sociais”, afirmou o ministro Jorge Messias.

A Comadeplan-DF pretende levar aos irmãos de fé, que moram em regiões carentes, o acesso aos programas sociais. A entidade religiosa poderá servir de projeto-piloto para outras convenções religiosas. “Ficamos muito felizes pela maneira como fomos recebidos e também pela forma como o ministro e a equipe dele se colocaram solidários quanto às questões sociais da nossa igreja e de todo o Brasil. E o ministro prometeu nos ajudar nessa marcha”, destacou o pastor Rinaldo Alves.

Ministro-Chefe da Advocacia Geral da União, Dr. Jorge Messias e o pastor Rinaldo Alves dos Santos, presidente da COMADEPLAN - DF

O primeiro passo para buscar melhorias sociais para os irmãos evangélicos teve como ponto de partida uma preocupação antiga dos pastores: a aposentadoria. Na 39ª AGO, ocorrida nos dias 14,15 e 16 de junho, em Brasília, o presidente do INSS, Alexandre Stefanutto foi pessoalmente com sua equipe, explicar as regras disponíveis de aposentadoria para pastores, membros e missionários que atuam em outros países.

“Tivemos a presença do presidente do INSS na nossa convenção e está sendo assim uma forma muito maravilhosa como estamos avançando na situação social do Brasil e conseqüentemente da nossa igreja porque existem muitos pastores que não sabem os direitos que têm”, revelou o pastor Rinaldo Alves.

 

Pastor Irineu Messias, Ministro Jorge Messias e o pastor Rinaldo Alves dos Santos

O INSS já disponibilizou uma cartilha com informações e orientações para ser distribuída na igreja. Outro passo será capacitar um dos ministros da igreja sobre a documentação necessária para dar entrada na aposentadoria. “Foi uma reunião muito proveitosa para discutirmos sobre as contribuições previdenciárias de líderes pastorais, que possuem uma extensa jornada de trabalho em apoio à comunidade e aos seus membros de suas igrejas”, ressaltou a secretária adjunta da Comadeplan, Quezia Barbosa Alves.

Para o ministro da AGU, a iniciativa do INSS pode ser copiada pelos outros ministérios.  “Essa ação do INSS é muito importante e nós podemos oferecer uma prateleira de cartilhas voltadas para esse público e cada ministério pode escolher um programa que possa ser trabalhado dentro das igrejas”, afirmou o ministro Jorge Messias.

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terça-feira, 9 de julho de 2024

William Wilberforce: Sua alegria obstinada derrubou a escravidão

9.7.2024

Do blog VOLTEMOS AO EVANGELHO, 20.06.19

Por John Piper

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Contra grandes obstáculos, William Wilberforce, um membro evangélico do Parlamento, lutou pela abolição do comércio de escravos africanos e contra a escravidão em si até que ambos fossem ilegais no Império Britânico.
A batalha consumiu quase quarenta e seis anos de sua vida (de 1787 a 1833). As derrotas e retrocessos ao longo do caminho teriam levado um político comum a abraçar uma causa mais popular. Embora nunca tenha perdido uma eleição parlamentar dos vinte e um aos setenta e quatro anos, a causa da abolição do tráfico de escravos foi derrotada onze vezes antes de sua aprovação em 1807. E a batalha pela abolição da escravidão não obteve a vitória decisiva até três dias antes dele morrer em 1833. Quais eram as raízes da perseverança deste homem na causa da justiça pública?

Político amante de Festas

Wilberforce nasceu em 24 de agosto de 1759, em Hull, na Inglaterra. Quando criança ele admirava George Whitefield, John Wesley e John Newton. Mas logo ele deixou toda a influência dos evangélicos para trás. A respeito de seus últimos anos de escola, ele disse: “Eu não realizei nada”. Esse estilo de vida continuou ao longo de seus anos no St. John’s College, em Cambridge. Ele pode viver da riqueza de seus pais e sobreviver com pouco trabalho. Perdeu qualquer interesse pela religião bíblica e amava circular entre a elite social.
Por diversão, Wilberforce disputou um assento na Câmara dos Comuns de sua cidade natal, Hull, em 1780, quando ele tinha vinte e um anos. Ele gastou £ 8.000 (mais ou menos 38 mil reais) na eleição. O dinheiro e seu incrível talento para falar triunfaram sobre seus oponentes. Wilberforce começou sua carreira política de cinquenta anos como um incrédulo de classe alta que amava festas que iam até tarde da noite.

“A grande mudança”

Nas longas férias em que o Parlamento não estava em sessão, Wilberforce às vezes viajava com amigos ou familiares. No inverno de 1784, aos vinte e cinco anos, por impulso, convidou Isaac Milner, ex-professor, e amigo da escola de gramática – que agora era professor particular no Queens College, em Cambridge – para ir com ele, sua mãe e irmã à Riviera Francesa. Para sua surpresa, Milner havia se tornado um cristão convicto, sem nenhum dos estereótipos que Wilberforce concebera contra os evangélicos. Eles conversaram por horas sobre a fé cristã.
No verão seguinte, Wilberforce viajou novamente com Milner e eles discutiram o Novo Testamento grego por horas. Lentamente, seu “assentimento intelectual tornou-se uma profunda convicção” (William Wilberforce, p. 37). Uma das primeiras manifestações do que ele chamou de “a grande mudança” – a conversão – foi o desprezo que sentia por sua riqueza e pelo luxo em que vivia, especialmente nessas viagens entre as sessões parlamentares. Ao que parece, sementes foram plantadas, quase imediatamente, no início de sua vida cristã, do que viria a ser sua paixão posterior em ajudar os pobres e transformar todas as suas riquezas herdadas e sua posição naturalmente alta em um meio de abençoar os oprimidos.

Escravidão e Costumes

Um ano após sua conversão, o aparente chamado de Deus em sua vida tornou-se claro para ele. Em 28 de outubro de 1787, ele escreveu em seu diário: “O Deus Todo-Poderoso colocou diante de mim dois grandes objetivos, a supressão do tráfico de escravos e a reforma dos costumes [a moral]” (The Life of William Wilberforce, p. 69).
Logo depois do Natal de 1787, alguns dias antes do recesso parlamentar, Wilberforce notificou na Câmara dos Comuns que no início da nova sessão ele apresentaria uma moção para a abolição do tráfico de escravos. Levaria vinte anos até que ele pudesse levar a Câmara dos Comuns e a Câmara dos Lordes a colocar a abolição como lei. Mas quanto mais ele estudava o assunto e quanto mais ele ouvia falar das atrocidades, mais decidido ele se tornava.
Em maio de 1789, ele falou à Câmara sobre como ele chegou à sua convicção: “Confesso a vocês, tão enorme, tão terrível, tão irremediável é a maldade desse comércio que minha mente ficou inteiramente tomada em favor da abolição….sem importar as consequências, a partir desse momento estou determinado a não descansar até efetivar essa abolição”.  (The Life of William Wilberforce, p. 56).

283 Ayes

Claro, a oposição que durou vinte anos foi por causa dos benefícios financeiros da escravidão para os comerciantes e para a economia britânica. Eles não podiam conceber qualquer outra forma de produzir sem trabalho escravo. Isso significa que a vida de Wilberforce foi ameaçada mais de uma vez. Mesmo não sofrendo dano físico, houve a dolorosa perda de amigos. Alguns simplesmente não discutiam mais com ele e se mantinham alienados. Depois houve a enorme pressão política para recuar por causa dos desdobramentos políticos internacionais. Esses tipos de argumentos financeiros e políticos mantiveram o Parlamento cativo por décadas.
Mas a vitória veio em 1807. A visão moral e o impulso político para a abolição finalmente se tornaram irresistíveis. A certa altura, “praticamente toda a casa levantou-se e virou-se para Wilberforce em uma explosão de aplausos parlamentares. De repente, acima do rugido de “ouçam, ouçam” e completamente fora de ordem, três “hurras” ecoaram enquanto ele permanecia sentado, a cabeça baixa, lágrimas escorrendo pelo rosto” (The Life of William Wilberforce, p. 211).
Às quatro horas da manhã de 24 de fevereiro de 1807, a casa se dividiu – 283 Ayes (sim), 16 Noes (não). Maioria de 267 votos pela abolição do tráfico. E em 25 de março de 1807, o assentimento real foi declarado. Um dos amigos de Wilberforce escreveu: “[Wilberforce] atribui isso à interposição imediata da Providência. Naquela hora da madrugada, Wilberforce procurou seu melhor amigo e colega, Henry Thornton, e disse: “Bem, Henry, o que aboliremos em seguida”? (The Life of William Wilberforce, p. 212).

Nunca em silêncio

Claro que a batalha não acabou. E Wilberforce lutou até a sua morte vinte e seis anos depois, em 1833. A implementação da lei da abolição não somente era controversa e difícil, como tudo o que ela fez foi abolir o tráfico de escravos, não a escravidão em si. E essa se tornou a próxima grande causa.
Em 1821 Wilberforce recrutou Thomas Fowell Buxton para continuar a luta, mas mesmo à margem, envelhecido e frágil, ele o apoiava. Três meses antes de sua morte, em 1833, Wilberforce foi persuadido a propor uma última petição contra a escravidão. “Eu nunca pensei em vir a público novamente, mas nunca se dirá que William Wilberforce se manteve em silêncio enquanto os escravos precisavam de sua ajuda” (William Wilberforce, p. 90).
O voto decisivo da vitória veio em 26 de julho de 1833, apenas três dias antes de Wilberforce falecer. A escravidão em si foi proibida nas colônias britânicas. “É um fato singular”, disse Buxton, “que na mesma noite em que fomos bem-sucedidos na Câmara dos Comuns, aprovando a cláusula do Ato de Emancipação – uma das cláusulas mais importantes já promulgadas. . . o espírito do nosso amigo deixou o mundo. O dia do encerramento de seus trabalhos foi o dia do término de sua vida”. (William Wilberforce,p.  91).

Feliz como uma criança

O que fez Wilberforce agir? O que o fez perseverar na causa da justiça pública através de décadas de fracasso, difamação e ameaças?
É claro que devemos prestar o devido respeito ao poder do companheirismo na causa da justiça. Muitas pessoas associam o nome de Wilberforce ao termo “Clapham Sect”. O grupo a que esse termo se refere foi “rotulado” como ‘os santos’ por seus contemporâneos no Parlamento – proferido por alguns com desprezo, enquanto por outros com profunda admiração” (Character Counts, p. 72). Juntos, eles realizaram mais do que qualquer um poderia ter feito por conta própria. “William Wilberforce é a prova de que um homem pode mudar seus tempos, embora não possa fazê-lo sozinho”. (William Wilberforce, p. 88).
Mas há uma raiz mais profunda da resistência de Wilberforce do que apenas companheirismo. É a raiz da alegria da abnegação em Cristo. Os testemunhos e evidências disso na vida de abnegação de Wilberforce são muitos. Uma certa srta. Sullivan escreveu a um amigo sobre Wilberforce por volta de 1815: “Pelo tom de sua voz e expressão de seu semblante, ele mostrou que a alegria era a característica predominante de sua própria mente, alegria vinda da integridade da confiança nos méritos do Salvador e amor a Deus e ao homem. . .. Sua alegria era bastante penetrante”. (William Wilberforce, p. 87).
Outro de seus contemporâneos, James Stephen, relembrou após a morte de Wilberforce: “Era divertido e interessado por tudo, tudo o que ele dizia se tornava divertido ou interessante. . .. Sua presença era tão fatal para a estupidez quanto para a imoralidade. Sua alegria era tão irresistível quanto o primeiro riso da infância”. (William Wilberforce, p. 185).
Aqui está uma grande chave para sua perseverança e eficácia. Sua presença era “fatal para o torpor. . . [e] imoralidade”. Em outras palavras, sua alegria indomável levou outros a serem felizes e bons. Ele observou em seu livro A Practical View of Christianity: “O caminho da virtude é também de real interesse e de sólido prazer” (p. 12). Em outras palavras, “é mais abençoado dar do que receber” (At 20. 35). Ele sustentou-se e influenciou outros pela sua alegria. Se um homem pode roubar sua alegria, ele pode roubar sua utilidade. A alegria de Wilberforce era indomável e, portanto, ele foi um cristão e político convincente durante toda a sua vida. Essa foi a forte raiz de sua resistência.

Doutrinas peculiares, verdades gigantescas

Se a sua alegria quase infantil, indomável e abnegada era a raiz vital para a sua persistência na luta pela abolição ao longo da vida, o que, poderíamos perguntar, seria a raiz da raiz? Ou qual era a terra firme onde essa raiz estava plantada?
O principal foco do livro de Wilberforce, A Practical View of Christianity, é mostrar que o verdadeiro cristianismo, que consiste em novas e indomáveis ​​afeições espirituais por Cristo, está enraizado nas grandes doutrinas da Bíblia sobre pecado, Cristo e fé. “Portanto, aquele que quer crescer e abundar nesses princípios cristãos, esteja muito familiarizado com as grandes doutrinas do Evangelho” (p. 170).“Da negligência dessas doutrinas peculiares surgem os principais erros práticos da maioria dos professos cristãos. Essas verdades gigantescas mantidas em vista envergonhariam a pequenez de sua moralidade anã. . .. Toda a superestrutura da moral cristã é fundamentada em suas bases profundas e amplas”. (p. 166-167).
Há uma “perfeita harmonia entre as principais doutrinas e os preceitos práticos do cristianismo”. E, portanto, é um “hábito fatal” – tão comum naqueles dias quanto nos nossos – “considerar a moral cristã distinta das doutrinas cristãs” (p. 198).

Cristo nossa justiça

Mais especificamente, é a conquista de Deus através da morte de Cristo que está no centro dessas “verdades gigantescas”, levando à reforma pessoal e política da moral. A alegria indomável que leva à vitória nos tempos de tentação e provação está enraizada na cruz de Cristo. Se quisermos lutar pela alegria e perseverar até o fim em nossa luta contra o pecado, devemos conhecer e abraçar o pleno significado da cruz.
Desde o início de sua vida cristã, em 1785, até sua morte, em 1833, Wilberforce viveu “das grandes doutrinas do evangelho”, especialmente a doutrina da justificação pela fé somente baseada no sangue e na justiça de Jesus Cristo. Esse é o lugar onde ele alimentou sua alegria. Por causa dessas verdades, “quando tudo à sua volta era escuro e tempestuoso, ele pode levantar os olhos para o Céu, radiante de esperança e com gratidão” (Uma Visão Prática do Cristianismo, p. 173). A alegria do Senhor se tornou sua força (Neemias 8.10). E nessa força ele insistiu na causa da abolição do tráfico de escravos até que ele tivesse a vitória.
Portanto, em todo o nosso zelo hoje pela harmonia racial, ou pela santidade da vida humana, ou pela construção de uma cultura moral, não nos esqueçamos destas lições: Nunca minimize o lugar central da doutrina alicerçada em Deus e exaltadora de Cristo. Trabalhar para ser indomavelmente alegre em tudo o que Deus é para nós em Cristo, confiando em sua grande obra consumada. E nunca seja ocioso em fazer o bem – para que os homens possam ver nossas boas ações e dar glória ao nosso Pai que está no céu (Mateus 5.16).
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