19.12.2025
Postado por pastor Irineu Messias(Artigo atualizado em 22.12.2025)
Introdução: A Justiça que se Torna Ídolo
Hoje, ao ouvirmos frases como "bandido bom é bandido morto" ou ao vermos o apoio a atos de vandalismo e golpes em nome de Deus, percebemos que o erro de Brown — o de achar que a causa justifica o pecado — continua vivo em nossos púlpitos e redes sociais.
1. "Bandido bom é bandido morto" vs. O Coração do Pai
John Brown acreditava que a morte dos escravagistas era o único caminho para a justiça. No Brasil atual, a teologia do extermínio substituiu a teologia da regeneração. Suas ações em muito se parecem, se adaptado com o bordão atual: " escravista bom é escravista morto".
Biblicamente, porém, o veredito de Deus é outro: “Desejaria eu, de qualquer modo, a morte do ímpio? diz o Senhor Deus; Não desejo antes que se converta dos seus caminhos, e viva?” (Ezequiel 18:23). Quando um cristão clama pela morte de alguém, ele está usurpando o lugar do Juiz Eterno e negando o poder transformador do Evangelho. Se acreditamos que "bandido bom é morto", estamos admitindo que o sacrifício de Jesus não é suficiente para salvar o "pior dos pecadores".
2. O Erro da Invasão e da Depredação: O Reino não é deste Mundo
Assim como John Brown tentou assaltar um Forte Militar (Harpers Ferry) para forçar uma mudança social através das armas, vimos recentemente cristãos evangélicos brasileiros invadindo e depredando prédios públicos sob o pretexto de "salvar a nação".
O apóstolo Paulo, escrevendo sob o domínio do terrível Império Romano, instruiu: “Toda alma esteja sujeita às autoridades superiores” (Romanos 13:1). A desordem, o caos e o vandalismo não são frutos do Espírito, mas obras da carne (Gálatas 5:19-21). Defender golpes de Estado ou depredar o patrimônio público em nome de uma ideologia é uma afronta direta ao princípio bíblico de submissão e ordem. Deus não é autor de confusão, mas de paz (1 Coríntios 14:33).
3. A Língua que Amaldiçoa: Um Veneno no Corpo de Cristo
Brown amaldiçoava seus oponentes antes de executá-los. No cenário brasileiro, o hábito de amaldiçoar autoridades, opositores políticos e "inimigos da fé" tornou-se comum.
Tiago 3:9-10 nos confronta severamente: “Com ela [a língua] bendizemos ao Senhor e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus... Meus irmãos, não convém que isto se faça assim”. Um cristão que usa o nome de Deus para proferir maldições e ódio político está com a fonte de sua espiritualidade contaminada. O mandamento de Cristo é claro: “Abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis” (Romanos 12:14).
4. Ideologia vs. Evangelho: A Mistura Mortal
O maior erro de John Brown foi fundir sua fé com uma militância armada radical. Hoje, o risco é a "ideologização" da fé, onde a Bíblia é lida através das lentes de um partido, de uma ideologia ou de um líder político.
Ademais, ideologias (qualquer que seja ela), partidos ou líderes não têm compromisso com os valores do Reino de Deus. O foco destes sempre foi, é, e sempre será a busca pelo poder; e se puder usar a religião (qualquer seja ela, inclusive a cristã, evangélica, católica, etc.), dela fará uso até quando lhes for conveniente. Ainda que, se for preciso, "converte-se" a algumas delas para alcançar seus objetivos.

Tradução: "Eu, John Brown, estou bem certo de que os crimes desta terra culpada nunca serão expiados senão com sangue." John Brown, 1859
Cristãos que adotam tal postura estão apregoando um "outro evangelho", cujos ensinos apenas "parecem" com os do verdadeiro Evangelho de Cristo. É por esta razão que a Palavra de Deus severamente adverte:
"Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. Assim, como já vo-lo dissemos, agora de novo também vo-lo digo. Se alguém vos anunciar outro evangelho além do que já recebestes, seja anátema." Gálatas 1:8,9
Neste sentido, tem sido usado sem muito alarde e subrepticiamente um conceito pouco conhecido, a agnotologia, que segundo o seu formulador, o professor da Universidade de Stanford, Califórnia, professor Robert N. Proctor, em 1995, pode ser compreendida assim: refere-se ao estudo cultural da ignorância, isto é, às formas pelas quais o desconhecimento é criado, mantido ou explorado intencionalmente por indivíduos, grupos ou instituições.
No contexto religioso, isso ocorre quando ideologias, ou movimentos políticos utilizam narrativas simplistas, ou distorcidas para reinterpretar textos sagrados, promovendo uma leitura que serve aos seus próprios interesses. Tal prática cria uma "ignorância programada", onde o verdadeiro significado do Evangelho é obscurecido por agendas externas, levando muitos cristãos a abraçarem causas que contradizem os valores do Reino de Deus.
Quando um crime é cometido — seja ele de ódio, de invasão, de traição ou ao incitamento à convulsão social — e se tenta justificá-lo "em nome de Deus", estamos cometendo o pecado de tomar o Seu santo nome em vão. Jesus recusou o caminho do poder político romano e o caminho da espada dos zelotes. Seu Reino é de justiça, paz e alegria no Espírito Santo, não de bombas, invasões ou discursos de ódio.
Conclusão: De Volta ao Caminho Estreito
John Brown foi enforcado por seus crimes, mas acreditando ser um mártir, no entanto, a história o recorda como um homem que, embora tivesse uma causa nobre, escolheu o caminho errado para defendê-la. O Brasil cristão precisa decidir se seguirá o exemplo de Brown — o da força carnal e do "sangue pelo sangue" — ou o exemplo de Jesus — o do amor sacrificial e da obediência à Sua Palavra.
Não podemos "salvar a família" destruindo o próximo. Não podemos "defender a liberdade" atacando as instituições, responsáveis por defendê-la. E, definitivamente, não podemos chamar Jesus de Senhor se nos recusamos a amar nossos inimigos. Que a igreja brasileira se arrependa de seu zelo sem entendimento e retorne à simplicidade e à mansidão do Evangelho.
Fonte Histórica sobre John Brown:
Carton, Evan. "Patriarch: John Brown and the American Civil War". University of Nebraska Press, 2006. (Análise sobre a radicalização religiosa e política de Brown).
John Brown (abolicionista)
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Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Brown_(abolicionista)