10.06.2014
Do blog GOSPEL HOME BLOG, 09.06.14

Pois em nossa vida existe uma viúva negra que age de modo muito semelhante. Seu nome é solidão (ou, em outros dialetos, carência afetiva). Fato é que tenho visto tantos e tantos cristãos solitários e carentes! Tão desesperados por preencher com alguém as lacunas que existem em suas almas que acabam cometendo grandes erros, equívocos dos quais vão se arrepender pelo resto de suas vidas – exatamente como o aracnídeo macho.
Precisa de outro. “Não sei viver só”, diz. A falta de um ente amado lhe é tão ensurdecedora que, na ausência de um amor verdadeiro, acaba convidando para habitar em sua vida afetiva alguma pessoa por quem nutre algum tipo de sentimento benigno, seja uma amizade, um carinho, até mesmo atração física. Mas que não é AMOR. Eis o início do erro fatal.
A corte se inicia. Os dois se aproximam. A pessoa vê naquele outro a oportunidade de completar suas lacunas, seu vazio, sua solidão, sua carência. Até mesmo enxerga nele a possibilidade de ser o pai (ou a mãe) dos filhos que sonha ter. E o convida para entrar.
Então, motivada não pelo amor que “tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”, mas por um vazio de solidão e carência, começa um namoro. É até gostoso, no início. O outro te diz palavras bonitas, exalta suas qualidades, diz que seus defeitos não importam, te chama de apelidos carinhosos, faz você se sentir querido, acolhido, abraçado, acompanhado. De repente, a sensação de vazio some, o outro te faz companhia, serenatas, te chama de “meu amor”, preenche os espaços da sua carência.
O dia chegará
Mas um dia (e esse dia chegará, meu amigo, minha amiga, já vi isso incontáveis vezes, em especial entre evangélicos), deitada no travesseiro da sua teia, você vai se virar para o lado e deixar lágrimas escorrerem. Pois vai descobrir que aquele alguém muito legal que serviu para aplacar a sua solidão num certo momento da vida… não dá sentido humano a ela.
Simplesmente é incapaz de cumprir o papel de compleitude, pois o papel dele era provisório, tinha prazo de validade, funcionava por um tempo – e o que você acha que ele faria pelo resto de seus dias ele é incapaz de fazer: ser AMOR.
Para ser honesto e cruel, falando friamente não haveria razão lógica ou emocional para ele continuar ali. Mas você é um bom cristão, então divórcio está fora de cogitação. Fica então um oco. E para sua surpresa (hoje você não sabe disso, mas descobrirá) nem mesmo os filhos que ele te deu preenchem esse vácuo, pois o tipo de amor paterno/materno é absurdamente diferente do amor que precisamos dar e receber de um homem/uma mulher.
Você percebe que há um enorme rasgo e um incomensurável vazio em suas entranhas.
Elas foram devoradas e você nem percebeu. Você quis matar a solidão e de repente se vê imerso numa indissolúvel solidão a dois. Sim, Cazuza acertou nessa: solidão a dois existe. E muito. E nossas igrejas estão abarrotadas delas.
Isso é um fenômeno muito comum entre cristãos de diferentes faixas etárias. Somos adestrados a casar. Achamos que é no outro que encontraremos nossa felicidade, nossa compleitude. E, meu irmão, minha irmã… estamos errados. Pois se o que buscamos é fugir da solidão, qualquer coisa ou pessoa que acabe com nossa solidão serve. Se o objetivo é suprir carência, qualquer um que nos chame de “meu amor” recebe o nosso sim. Ou mesmo um filho que venha pelo meio do caminho achamos que suprirá nossa carência ou aplacará nossa solidão.
Ossos e carne
Deus criou homem e mulher para se completarem. Para serem, como diz Gn 2.23, “osso dos meus ossos e carne da minha carne”. Para não conseguirem viver um sem o outro. Se arrancarem os seus ossos veja se consegue seguir vivendo sem eles. Arranque-se sua carne e veja quanto tempo dura sem desfalecer. Deus criou homem e mulher que se unem em casamento para viverem como um e morrerem como um. Casamento é uma coisa muito séria.
Aliás, amor é uma coisa muito séria. Não é brincadeira. Não é coisinha de poeta. E muitos de nós, especialmente nas igrejas, temos vivido nossos amores como uma grande equação matemática. Algo frio: preciso casar, é o que esperam de mim, não sei viver só, é o que todos fazem, então pronto: subo ao cadafalso do altar, me entrego ao carrasco do pastor e deixo que me executem. Mas, querido, querida, amor é razão, mas também é emoção e ação. Amor é um milagre. Amor é uma força que derrubou impérios, motivou guerras, gerou as maiores obras de arte da história da humanidade. No amor há livros, no amor há pintura, há escultura, há beleza e lágrimas. O amor é tão fundamental que ele é a essência do Deus que é amor. Como tratar isso apenas matematicamente? Racionalmente? Tratar o amor somente pela lógica seria ilógico.
Existe amor verdadeiro. Existe amor que dura para sempre. É ou não é o que a Biblia diz em 1 Co 13.8: “O amor jamais acaba”? Existe um amor, além do de Cristo, que dá razão a um relacionamento. A uma vida. E esse amor não será jamais ocupado por rolhas postas para vedar lacunas de solidão e carência: só será preenchido por alguém que faça sua vida brilhar. Que faça sua vida ser.
A notícia não muito agradável é que pode demorar anos para você encontrar esse amor. Pode demorar muito tempo para chegar a pessoa que preencherá não só suas lacunas, mas que se fundirá 100% à sua alma. E esse é o problema. Não queremos esperar. Não suportamos a pressão. Não suportamos a carência. Seu peso nos esmaga. Ela é mais forte do que nós. A viúva negra tem um tamanho bem maior que o do macho. E muitos se sentem impotentes diante dela. Por isso, sucumbem. E, mais à frente, terão suas entranhas devoradas. Mas… naquele momento… Ah, que importa? A viúva negra lhe chama de “meu amor”, acaricia seu ego e seus cabelos, faz a solidão desaparecer. Lhe faz companhia. Manda flores. Ela te seduz, te atrai, te enreda em sua teia.
Mas a viúva negra traz morte.Meu irmão, minha irmã. Eu e você vivemos numa sociedade que nos empurra para a teia. Mas não importa quanto tempo demore para que você encontre o amor. Na verdade, isso é o que menos importa, em se tratando de amor. Veja o exemplo de Jacó, que sabia exatamente quem queria e esperou o tempo que fosse: “Jacó trabalhou sete anos por Raquel, mas lhe pareceram poucos dias, pelo tanto que a amava” (Gn 29.20). Isso é amor. Isso é verdade. Isso é tudo. Não troque o ouro puro do amor verdadeiro, aquele que em termos humanos dará sentido a tudo o que você viverá até chegar ao seu leito de morte, pelo latão enferrujado de uma solidão suprida. Pela pobreza de uma carência afetiva aparentemente resolvida. Por um nada travestido de alguma coisa.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Fonte: Genizah
Nota do Blog: o casamento não é adição; é multiplicação. Assim: 1x1=1. Essa é a fórmula perfeita. Os dois tornam-se uma só carne. Agora se cada um não está completo (0,5 por exemplo) e quer casar para "se completar" olha o que acontece: 0,5x0,5=0,25 (resultado menor do que o inicial). Ou seja, os problemas aumentam! Um relacionamento para dar certo tem que ser direcionado pelo Espírito Santo. Realmente, não sabemos se um namorado(a) na adolescência vai ser o marido(esposa) e homem(mulher) de nossas vidas.
Mas para isso é que existe o discernimento espiritual: devemos pedir a Deus para nos orientar, para sabermos se estamos "carentes" ou se a pessoa é àquela que nos acompanhará pelo resto de nossas vidas. O jovem deve ser desde cedo orientado para isso, e os pais devem orar a Deus, para que direcione seus filhos a terem boas escolhas, conforme a direção d'Ele.
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Fonte:http://gospelhomeblog.blogspot.com.br/2014/06/solitarios-carentes-e-infelizes.html