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sábado, 27 de abril de 2024

Uma Apreciação Crítica do livro de Rudolf Bultmann (Parte 2)," JESUS CRISTO E MITOLOGIA"

27.04.2024
Do blog de TIAGO ABDALA 27.06.09

O autor lida com a relação entre hermenêutica e filosofia, especialmente com a filosofia existencialista, no capítulo quatro (p. 36-47). Busca demonstrar como a filosofia influenciou certas escolas teológicas na interpretação bíblica, a fim de validar o argumento de que todo intérprete se dirige ao texto debaixo da influência de certas pressuposições. Há uma diferenciação entre pressuposições metodológicas na exegese, que Bultmann entende como legítimas, e pressuposições quanto ao resultado que determina o estudo hermenêutico, consideradas inadequadas e ilegítimas. Ele define o método como o sistema de indagação do texto, o qual varia conforme o interesse do leitor na abordagem de seu objeto de estudo. O autor desenvolve o conceito de “relação vital”, o qual envolve a compreensão prévia de determinado assunto para o estudo deste mesmo assunto dentro de um texto.

Bultmann reconhece a validade dos métodos de investigação histórica no estudo bíblico, todavia, entende que a Bíblia é mais do que uma fonte histórica e se deve escutá-la no que tem a dizer sobre a verdade acerca da vida e da alma do homem moderno. A relação vital traçada pelo livro como metodologia para a leitura da Bíblia se dá na indagação humana acerca de sua existência que, para o autor, é idêntica à indagação a respeito de Deus.

Deste modo, a filosofia existencialista é vista como a concepção metodológica mais adequada para a orientação da exegese bíblica, pois, mostra ao homem a sua necessidade de existir, sem determinar a maneira pela qual esta existência deve ocorrer. Para Bultmann, a análise existencialista auxilia na leitura das Escrituras como a Palavra que interpela cada homem de modo pessoal e o chama a uma decisão. O fato de que a análise existencial não leve em conta a relação do homem com Deus, isto não a torna inadequada para o estudo da Palavra, mas revela um âmbito em que apenas a fé é capaz de compreender e mostra que Deus está além do próprio ser humano.

As observações de Bultmann quanto à impossibilidade de se ler um texto sem quaisquer pressuposições são pertinentes e importantes. Os próprios exemplos apresentados por ele, mostram como as pressuposições influem fortemente na interpretação dos conceitos bíblicos. É muito positiva a distinção entre pressuposições que moldam a metodologia e aquelas que influem no resultado, pois, auxilia o intérprete a entender que, apesar de não se poder ler um texto sem concepções prévias, tais concepções não podem determinar a conclusão da leitura de um texto.

A percepção sobre a necessidade de se interpretar a Bíblia não apenas como uma fonte histórica que possibilita a reconstrução do passado, mas, especialmente, como a Palavra de Deus que interpela o homem acerca da verdade quanto à sua vida e alma é elogiável e salutar. Nesse sentido, o autor demonstra uma sensibilidade ao propósito dos escritores bíblicos, os quais escreveram seus livros e cartas com uma preocupação didática quanto à vida cristã. Conseqüentemente, Bultmann chega à importante conclusão de que “na Bíblia encontraremos palavras autoritativas”.[1]

O uso da filosofia existencialista defendida por Bultmann como método hermenêutico é questionável. Para isso, ele segue alguns passos argumentativos que requerem atenção. Primeiramente, o autor afirma, citando uma frase célebre de Agostinho,[2] que o homem estabelece uma relação com Deus, ao buscá-lo, e possui um certo conhecimento prévio da ação de Deus em Cristo.[3] Deve-se observar que a argumentação de Bultmann não se sustenta dentro da estrutura do pensamento de Agostinho, pois, apesar deste reconhecer a sede humana natural por Deus, tanto na frase citada quanto na continuidade do texto no Livro I, capítulo 1 de Confissões, o pai da Igreja declara que na busca do homem por Deus há o risco de se invocar outro em lugar dele,[4] e a invocação ao Deus verdadeiro se dá apenas mediante a fé na Palavra pregada, não de forma prévia e natural.[5]

Não é de se admirar que o autor busque uma justificativa para esta sua observação fora do NT. Pois, a teologia do NT é clara em revelar a tendência natural do homem em se afastar do conhecimento disponível na criação a respeito de Deus, adorando a criatura em lugar do Criador (Rm 1.18-25). Além disso, apesar de possuir a imagem divina desconfigurada dentro de si (cf. Rm 2.14-15; 3.23; Tg 3.9), o ser humano só experimenta real relacionamento com Deus por meio da fé na pessoa e obra de Cristo (Jo 14.6, 9; Ef 2.1-18). E esta fé na ação de Deus em Cristo não é inata ao homem, mas, se torna possível quando ele ouve a mensagem do evangelho (Rm 10.17; Ef 1.13).

Um segundo ponto questionável defendido por Bultmann é a afirmação de que a indagação orientadora da interpretação bíblica diz respeito à existência humana, pois esta se iguala à indagação acerca de Deus. Diante disso, ele propõe a análise existencial como a mais adequada desde que foca na necessidade primária do homem em existir, o que implica em conhecer a Deus por meio de encontros no seu “aqui” e “agora”.[6] O problema maior com esta proposta filosófico-hermenêutica é que sua metodologia de estudo parte de fundamentos externos à própria Bíblia, isto é, não levam em conta a proposta bíblica quanto à existência do homem e de sua maior necessidade. Ainda mais, a proposta filosófica existencialista de Bultmann peca em limitar Deus e sua revelação aos encontros existenciais experimentados pelo ser humano.

Logicamente, o questionamento do homem acerca de sua própria existência, dentro das Escrituras, o levará a Deus como seu Criador e Sustentador (At 4.24; 14.15-17; 17.24-28; Cl 3.10; Tg 3.9; Ap 10.6). Todavia, a teologia neotestamentária não foca a existência humana como sua preocupação maior, mas sim, a glória de Deus e Sua revelação por meio de Cristo. Em outras palavras, o centro hermenêutico do NT é teológico/cristológico, não antropológico. A pergunta orientadora para a exegese, apresentada pelo NT não é “De que modo devo existir?”, mas sim, “Como a revelação de Deus em Cristo reconcilia a humanidade com o seu Criador e lhe possibilita um viver para a glória dEle?” (cf. Jo 1.14-18; 14.6, 9; Rm 1.18ss; 3.9-26; 2 Co 5.15-20; Ef 1.3-14; 4.20-24; Fp 2.5-11; Cl 3.9-10; 1 Pe 2.9-10; 2 Pe 1.2-4; et al). Deus não se limita à existência pessoal humana, mas a existência do homem depende totalmente de Deus e de Seu ato redentor em Cristo.

No quinto e último capítulo (p. 49-67), Bultmann concentra seus esforços para refutar argumentos contrários ao programa hermenêutico da desmitologização e do entendimento de Deus como ato. O autor busca demonstrar que a fala a respeito de Deus como ato implica na compreensão de que ele age de modo oculto na história, a ponto de não se poder descrever esta ação de modo objetivo ou científico, distinguindo-se da fala mitológica que enxerga Deus intervindo de modo objetivo na história e rompendo com a ordem natural dos acontecimentos. Também, argumenta que a visão acerca da atuação oculta de Deus nos acontecimentos da história não significa panteísmo, pois, por ser oculta esta ação difere dos eventos naturais em si e só é perceptível de modo pessoal, não como um enunciado geral a respeito da imanência divina.

O autor trabalha, ainda, com a possibilidade de se falar de Deus, sem incorrer em linguagem mitológica e propõe a rejeição desta em prol da linguagem analógica existencial, isto é, uma linguagem que descreve o encontro com Deus, da mesma forma como se fala das relações existenciais humanas. Isto não implica a limitação da existência de Deus meramente às experiências subjetivas e psicológicas humanas, pois, assim como os fenômenos (e.g. amor, confiança) que ocorrem nas experiências humanas entre amigos, pais e filhos não podem ser captados totalmente por uma metodologia objetiva e isso não anula sua existência, assim, também, a existência real de Deus não pode ser anulada por ser vivenciada apenas no âmbito da fé.

Na segunda parte do último capítulo, o autor defende o fato de que a nova auto-compreensão do crente se acha em mudança e avaliação contínuas, conforme se processam os encontros existenciais da fé em resposta à Palavra de Deus proclamada no aqui e agora. Isto não nega a ação de Deus escatológica de “uma vez por todas” em Cristo, mas mostra a necessidade de se compreender o evento redentor e a demonstração da graça de Deus proclamados pela Palavra como um evento atuante e que interpela o homem em seu presente. Assim, o paradoxo se estriba no fato de que a Palavra que ocorre aqui e agora se constitui a mesma “coisa”[7] com a palavra proclamada pelos apóstolos e cristalizada no NT.

Por fim, Bultmann conclui que o empreendimento da desmitologização se equipara àquele desenvolvido por Paulo e Lutero na doutrina da justificação somente pela fé. Pois, assim como a fé chama ao abandono de qualquer seguridade nas obras, a desmitologização chama ao abandono da confiança no conhecimento objetivante.

A proposta do autor de que a ação de Deus na história não é suscetível à comprovação científica, de certa forma, faz jus à infinitude divina que não pode ser compreendida de forma exaustiva pela razão limitada humana. Todavia, no pensamento bíblico, a natureza e o curso da história revelam a existência e poder do Criador: “Os céus declaram a glória de Deus; o firmamento proclama a obra de suas mãos. Um dia fala disso a outro dia; uma noite o revela a outra noite” (Sl 19.1-2).

O discurso paulino em Atos 14 comprova a perspectiva do cristianismo primitivo de que Deus age na história por meio dos acontecimentos profanos, “... Estamos trazendo as boas novas para vocês, dizendo-lhes que se afastem dessas coisas vãs e se voltem para o Deus vivo que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há ... Deus não ficou sem testemunho: mostrou sua bondade, dando-lhes chuva do céu e colheitas no tempo certo, concedendo-lhes sustento com fartura... ” (At 14.15, 17). Bultmann erra ao polarizar o agir de Deus na história como totalmente oculto, algo contrário à afirmação bíblica, e por limitar a ação divina simplesmente ao interior dos acontecimentos seculares, não a enxergando como a causa deles.[8]

Apesar de sua defesa da compreensão existencialista de Deus e de que ela não nega a existência dele fora da fé, algumas afirmações do autor, no livro, parecem contradizer isso. Quando afirma a ilegitimidade de se falar de Deus como o Criador cósmico ou como o Ser onipotente, capaz de fazer todas as coisas, e defende que tal linguagem só pode ser usada de modo pessoal e existencial, a partir do momento que o homem compreende a si mesmo como criatura de Deus ou percebe o seu poder o angustiando, Bultmann nega a possibilidade do conhecimento ontológico de Deus.[9] É difícil compreender como Deus existe fora da fé, se não se pode falar dele como transcendente a ela, mas, apenas dentro da auto-compreensão existencial.

Além disso, mesmo que a revelação do caráter e atributos divinos ocorram dentro da história do povo de Deus, isso não significa que Seu ser se limita à fé humana, isto é, Deus permanece sendo quem é, independentemente do homem encontrá-lo pela fé ou rejeitá-lo. Mesmo diante da recusa do ser humano em conhecer e crer no Deus revelado pela criação, ele continua possuindo seus atributos invisíveis, natureza e poder eterno (Rm 1.19-25).

Ao falar sobre a Palavra viva de Deus que teve sua origem num acontecimento histórico, isto é, em Jesus Cristo, ele não explica de modo claro o que este evento histórico traduz[10] e questiona se “a pessoa e a obra de Jesus Cristo têm de ser entendidas por nós como a obra divina da redenção”.[11] Somado a isso, Bultmann alega serem ilegítimas as concepções bíblicas cultual, em que Deus oferece seu filho como vítima propiciatória, e jurídica, a não ser que sejam vistas como símbolos da fé.[12] Assim, surge a questão sobre o modo pelo qual o autor aplicaria a desmitologização às afirmações joaninas de Cristo como o sacrifício ou propiciação pelos pecados dos homens (Jo 1.29; 1 Jo 2.1-2; 4.10), ou ao conceito forense da justificação humana pela fé em Cristo, desenvolvido por Paulo (Rm 1 – 5).

A eloqüência de Bultmann na parte final do capítulo cinco, correlacionando o empreendimento da justificação pela fé com o da desmitologização, não legitima sua proposta hermenêutica cujas rachaduras são perceptíveis no livro. Certamente, há observações importantes e pertinentes que chamam a atenção para a necessidade de um método hermenêutico relevante e honesto. Todavia, as pressuposições da análise existencialista são estranhas ao pensamento bíblico e, portanto, não contribuem no desenvolvimento de uma exegese adequada ao texto sagrado.

Cabe salientar, por último, a necessidade de uma revisão da grafia das expressões gregas, na última edição em português, que traz erros graves para uma publicação direcionada, especialmente, à academia teológica. A página vinte e sete, por exemplo, contém vários erros nítidos de acentuação e de uso errado da aspiração.

[1] Idem. p. 43.

[2] “Tu nos fecisti ad te, et cornostrum inquietum est, donec requiescat in te” (“Fizeste-nos para ti, e o nosso coração só encontrará descanso quando repousar em ti”).

[3] BULTMANN, Rudolf. Op cit. p. 42.

[4] Ver AUGUSTINUS, Aurelius. Confissões. Série: Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 2000. p. 37.

[5] Cf. Idem. p. 37-38. Ver, também, Livro II, Capítulo 6.

[6] BULTMANN, Rudolf. Op cit. p. 42-45.

[7] Termo usado na tradução. Ver Idem. p. 65.

[8] Cf. Idem. p. 49-50.

[9] Cf. Idem. p. 51, 55-56.

[10] Ver Idem. p. 62-65.

[11] Idem. p. 63.

[12] Idem. p. 56.

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Fonte:http://tiagoabdalla.blogspot.com/2009/06/jesus-cristo-e-mitologia_27.html

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Uma Apreciação Crítica do livro de Rudolf Bultmann, "JESUS CRISTO E MITOLOGIA"

19.04.2024
Do blog de TIAGO ABDALA, 19.06.09
Por Tiago Abdala

O livro de Rudolf Bultmann "Jesus Cristo e Mitologia" é uma coletânea de palestras proferidas em diversas faculdades e universidades, muita delas situadas no continente norte-americano.[1] A obra é concisa, mas explica e defende importantes pontos da hermenêutica da desmitologização,[2] proposta por Bultmann, em sua abordagem do Novo Testamento. Dentro disso, questões como escatologia, mito e história, existencialismo filosófico e revelação são tratadas pelo autor.

No primeiro capítulo do livro (p. 11-18), procura-se mostrar a concepção, tanto de Jesus quanto da comunidade cristã primitiva, de que o reino de Deus se constituía num grande drama cósmico escatológico, que traria o julgamento sobre os injustos e inauguraria o novo tempo de felicidade para os justos. Tal perspectiva é entendida por Bultmann como mitológica e antiga, portanto, totalmente incompreensível para o homem moderno, o qual possui uma concepção de mundo científica e enxerga os eventos como uma relação de causa e efeito. Assim, ele propõe a necessidade e possibilidade de se interpretar o significado mais profundo por trás das concepções mitológicas da pregação neotestamentária, a fim de que esta continue a ser relevante para o homem moderno.

Sem dúvida, é importantíssima a percepção de Bultmann acerca da distinção entre a cosmovisão da época dos autores bíblicos e da era moderna. Qualquer método hermenêutico bíblico que se preze, precisa compreender o abismo histórico, científico e cultural interposto entre o leitor moderno e o autor bíblico. Além disso, o autor destaca com propriedade a necessidade de se perceber qual a relevância da mensagem do Novo Testamento para o mundo de hoje. Isto, certamente, é uma resposta à escola da “história das religiões”, a qual por meio do método histórico-crítico se preocupava em compreender o passado sem dar importância ao seu relacionamento com o presente.[3] Ele demonstra sensibilidade e perspicácia, ao questionar o uso meramente ético da mensagem de Jesus e, também, em reconhecer que há algo mais na pregação do reino de Deus além de sua redução ao evangelho social. Tais observações confrontam diretamente o liberalismo teológico, especialmente as propostas de Schleiermacher, Ritschl e Harnack que reduziram o cristianismo à ética do amor e justiça, e à preocupação com questões sociais.[4]

Em contraparte, a ligação direta que o autor faz do conceito de reino de Deus escatológico de Jesus com os círculos judaicos de sua época requer consideração. A única distinção que Bultmann faz entre as duas perspectivas escatológicas, diz respeito aos detalhes das descrições apocalípticas, presentes nos escritos judaicos, mas ausentes na mensagem de Jesus. Com exceção disto, para Bultmann, Jesus “não deixou de participar da expectação escatológica de seus companheiros”.[5] Porém, o autor falha em não observar que há diferenças profundas por trás das semelhanças superficiais.

Uma delas é a perspectiva exclusivista refletida nos escritos apocalípticos judaicos, pós-exílicos, a respeito do reino de Deus como pertencente a Israel e que promove sua soberania sobre as demais nações (Ver Assunção de Moisés 10.8-10; Jubileu 15.31; 31.7-17). Enquanto isso, o reino de Deus proclamado por Jesus requer o arrependimento e confiança nas boas novas do reino por parte de todos, sejam judeus ou gentios (Mc 1.15; 10.15; Lc 5.27-32). Os próprios filhos naturais do reino poderão ficar fora dele, ao passo que muitos gentios entrarão e participarão de seu banquete (Mt 8.11-12).

Outro exemplo que revela uma diferença marcante entre o judaísmo e a mensagem de Jesus é o conceito messiânico. Para o judaísmo, o Messias possui um caráter fortemente político (cf. Salmos de Salomão 17.21ss; 4 Edras 7.26ss; Apocalipse de Baruque 72ss), em nada se assemelhando ao Servo Sofredor, proclamado e vivenciado por Jesus, que dá a sua vida como resgate de muitos (Mt 20.28; Mc 8.29-31; 10.45).

O significado da mitologia desenvolvido por Bultmann, ainda no primeiro capítulo, requer avaliação e crítica. Especialmente, por igualar a visão mitológica antiga com a cosmovisão bíblica:

A mitologia ... Crê que o mundo e a vida humana têm seu fundamento e seus limites em um poder que está mais além de tudo aquilo que podemos calcular ou controlar. A mitologia fala deste poder de forma inadequada e insuficiente, porque o considera um poder humano. Fala de deuses, que representam o poder situado mais além do mundo visível e compreensível...
Tudo o que acontece é igualmente válido para as concepções mitológicas que se dão na Bíblia.

Os evangelistas, inclusive João, não parecem retratar a vida e obra de Jesus de Nazaré em termo míticos ou simbólicos. Sua preocupação é mostrar que são testemunhas reais ou pesquisadores de um evento que se deu no tempo e espaço, passível de constatação humana. Lucas, no início de seu evangelho, ressalta que sua obra é fruto de investigação cuidadosa acerca dos fatos ocorridos durante a vida, morte e ressurreição de Jesus (Lc 1.1-4). João mostra que a visão humana do primeiro século não era exclusivamente mitológica como Bultmann afirma, pois, diante do anúncio acerca da ressurreição de Jesus pelos discípulos, Tomé demonstra um ceticismo digno do homem moderno (Jo 20.24-25) e só crê quando se depara com o fato diante de seus olhos (20.26-29).

No Novo Testamento, a Primeira Carta de João tem como um dos focos principais refutar a perspectiva mitológica do gnosticismo incipiente e, para isso, o apóstolo descreve Jesus como um ser humano histórico, capaz de ser visto, ouvido e apalpado (1 Jo 1.1-4). Quando Paulo afirma a ressurreição física de Cristo, não deixa espaço para a idéia de mito, mas, fundamenta este fato no testemunho de várias pessoas que se encontraram com o Jesus ressurreto (1 Co 15.3-8). Igualar a perspectiva mítica de religiões antigas à cosmovisão do kerygma bíblico é um equívoco grotesco.

No segundo capítulo do livro (p. 19-28), o autor desenvolve o significado da escatologia neotestamentária, traçando paralelos e distinções entre o pensamento bíblico e o grego. Como resultado, Bultmann destaca que dentro do pensamento escatológico cristão se encontra a concepção de que este mundo carece de valor, por causa da maldade humana e devido ao juízo iminente de Deus. Assim, os homens são chamados ao arrependimento e ao cumprimento da vontade de Deus, na expectativa da felicidade futura e eterna, após a morte, que trará liberdade do pecado e comunhão serena com Deus. Para o autor do livro, tal perspectiva é entendida como mitológica, cujo sentido mais profundo significa estar aberto ao futuro de Deus para cada ser humano, o qual será de juízo para aqueles que se prendem a este mundo e não se abrem ao futuro divino.

A desmitologização da escatologia bíblica implica em ver o reino escatológico em seu início na vinda de Jesus e como um acontecimento presente. Assim, Bultmann entende que tanto Paulo, de modo parcial, e João, de maneira radical, iniciaram este processo hermenêutico em seus escritos. No capítulo seguinte (p. 29-35), de modo mais específico, propõe-se a demonstração da diferença entre a visão bíblica, que cria em milagres mediante a intervenção direta do sobrenatural sobre o mundo natural, e a perspectiva moderna que busca compreender os acontecimentos do mundo de forma racional, indagando a respeito de suas causas e recorrendo aos resultados das diversas ciências.

O autor chega à conclusão de que é necessário abandonar a visão de mundo mitológica bíblica, a fim de perceber a importância de seu sentido mais profundo, o qual consiste num chamado ao homem moderno para que abandone toda a segurança em suas próprias capacidades e recursos científicos e se disponha a encontrá-la somente em Deus. Assim, diante da invisibilidade e incompreensibilidade de Deus no âmbito do mundo e pela razão humana, a fé consiste em estar aberto para encontros existenciais e pessoais com Deus, o qual permanece um mistério.

As observações e propostas de Bultmann nestes dois capítulos, resumidos acima, mostram-se deficientes em alguns pontos. Primeiramente, não se pode dizer que Paulo e João iniciaram o processo de desmitologização da pregação escatológica de Jesus, pois, ainda que enxergassem certos acontecimentos ocorridos com Cristo e a partir de sua ressurreição como cumprimento das esperanças proféticas, isso não os levou a descartar a cosmovisão bíblica de milagres e da ação do sobrenatural neste mundo. É verdade que para Paulo a ressurreição de Cristo marcava o início da era escatológica (1 Co 15.20-23; 2 Tm 1.10), mas seu cumprimento pleno é visto, ainda, como futuro, na segunda vinda dele e na ressurreição/transformação dos que lhe pertencem (1 Co 15.23, 50-57; cf. 2 Tm 4.1; Tt 2.13). Já participamos dos últimos dias, mas ainda não completamente. Portanto, a citação de 1 Coríntios 15.54 pelo autor do livro,[6] como indicação de uma compreensão paulina do cumprimento presente das expectativas escatológicas, é totalmente inadequada e fora de contexto, já que Paulo faz este pronunciamento diante de algo que ainda está por se cumprir, não como uma realidade completamente presente (tóte genésetai ho lógos ho gegramménos, katepóthe ho thánatos eis nîkos).

Além disso, a suposta desmitologização radical de João, interpretando o julgamento e ressurreição escatológicos como ocorridos totalmente na ressurreição de Jesus (“Para João, a ressurreição de Jesus, Pentecostes e a parousia são um só e mesmo acontecimento”[7]), conforme defende Bultmann, não pode ser sustentada diante de um exame mais acurado da escatologia joanina. Por exemplo, no evangelho há a menção da ressurreição futura no “último dia” (Jo 6.39-40, 44, 54) e de um juízo ainda por se dar no “último dia” (Jo 12.48). Na primeira Epístola, a parousia é um acontecimento futuro que se aguarda com esperança, não um evento concretizado no passado (1 Jo 3.2-3).

Outro ponto baixo, dos dois últimos capítulos resumidos, se dá quando o autor busca explicar o significado de fé na proclamação neotestamentária. Sem dúvida, ele acerta em dizer que fé implica em deixar a confiança em si mesmo e depositá-la exclusivamente em Deus (cf. Gl 3.1-13). Todavia, a fé na pregação bíblica não se perfaz simplesmente num abandono abstrato da própria seguridade para se lançar num encontro existencial com o divino, mas, requer, também, atitudes específicas como a confissão de que os pecados pessoais ofendem a santidade de Deus e afastam o ser humano dele, além da confiança na salvação oferecida por Ele, em sua infinita graça, mediante seu Filho, que torna possível a reconciliação entre o homem e Deus (Rm 3.9-26; Ef 2.1-18).

Portanto, a fé não subentende o abandono da razão, como propõe Bultmann, mas o uso desta para entender a mensagem clara e inteligível do evangelho, depositando a confiança em tal mensagem. A mudança de vida mediante a fé em Cristo se caracteriza pela compreensão da verdade e uma transformação radical no modo de pensar, conforme o ensino paulino (Ef 4.17-24). Ainda que Deus seja incompreensível, Ele é cognoscível e sua ação redentora pode ser vista na história humana mediante a vida, morte e ressurreição de Jesus Cristo (Rm 5.8; Hb 1.1; 1 Jo 4.9-16).

[1] BULTMANN, Rudolf. Jesus Cristo e Mitologia. São Paulo: Novo Século, 2003. p. 7.
[2] Idem. p. 37
[3] HASEL, Gerhard. Teologia do Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Academia Cristã, 2007. p. 329-330.
[4] Ver síntese do pensamento destes teólogos em OLSON, Roger. História da Teologia Cristã. São Paulo: Vida, 2001. p. 557-568.
[5] BULTMANN, Rudolf. Op cit. p. 12.
[6] BULTMANN, Rudolf. Op cit. p. 26.
[7] BULTMANN, Rudolf. Op cit. p. 27.
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Fonte:http://tiagoabdalla.blogspot.com/2009/06/jesus-cristo-e-mitologia.html

quarta-feira, 17 de abril de 2024

O que é o Inferno e qual a Sua Duração?

17.04.2024
Do portal do INSTITUTO LOGOS


O conceito do inferno tem sido objeto de discussão e reflexão ao longo dos séculos, gerando debates entre teólogos, filósofos e cristãos em geral. Questões como o que é o inferno, sua realidade e a eternidade do fogo infernal têm ocupado a mente de muitos. Neste artigo, exploraremos essas questões a partir de uma perspectiva bíblica e teológica, levando em consideração opiniões de diversos pensadores.

O Inferno na Tradição Cristã

Ao longo da história do Cristianismo, diversos teólogos expressaram suas crenças sobre o inferno. Inácio de Antioquia alertou que aqueles que distorcem as verdades divinas e os que aceitam essas distorções enfrentarão um “inferno de fogo inextinguível”.

Por exemplo, Inácio de Antioquia, enquanto ia da Síria para Roma para ser martirizado, ele escreve uma carta aos efésios, na qual afirma que para o inferno irão os que distorcem as verdades divinas quanto os que aceitam tais distorções. E não é um inferno qualquer, é um inferno de fogo inextinguível. Veja o que ele diz:

“Não vos iludais, meus irmãos, os corruptores da família não herdarão o Reino de Deus. Pois, se pereceram os que praticavam tais coisas segundo a carne, quanto mais os que perverterem a fé em Deus, ensinando doutrina má, fé pela qual Jesus Cristo foi crucificado? Um tal, tornando-se impuro, marchará para o fogo inextinguível, como também marchará aquele que o escuta.”

Justino Mártir adverte que “deve-se saber que o inferno é o lugar onde serão castigados os que tiverem vivido iniquamente e não acreditaram que acontecerão essas coisas ensinadas por Deus, mediante Cristo.”

Irineu de Lião, discípulo de Policarpo, que por sua vez, fora discípulo do Apóstolo João, afirma que “deste modo também ampliou a punição daqueles que não acreditam na Palavra de Deus, que desprezam sua vinda e recusam, porque não vai ser mais temporária, mas eterna. Para tais pessoas, o Senhor dirá: ‘Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno’, e será para sempre condenado.”

Jerônimo, um dos quatro doutores originais da igreja latina e tradutor da Bíblia, afirma que “estas persuasões são laços fraudulentos, que infundem [nos pecadores] uma confiança que lhes conduz ao suplício eterno”.

João Crisóstomo fala da dupla penalidade do inferno quando ele diz que há uma “dupla pena do inferno: o fogo e a privação de Deus, pois o que é queimado é ao mesmo tempo, banido para sempre do reino de Deus. E este castigo é mais grave que o primeiro.”

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Fonte:https://institutodeteologialogos.com.br/o-inferno-e-sua-duracao/

quarta-feira, 13 de março de 2024

Panorama do Livro de Deuteronômio: Uma Jornada de Fé e Obediência

13.03.2024

O livro de Deuteronômio, o quinto livro da Bíblia e o último do Pentateuco, é uma obra rica em ensinamentos teológicos, históricos e práticos. Escrito por Moisés durante os últimos 40 anos da peregrinação no deserto, Deuteronômio apresenta uma série de discursos de despedida em que ele relembra a história do povo de Israel, as leis e os mandamentos de Deus, e os exorta à fidelidade e à obediência ao Senhor.

Tópicos Explicativos:

1. A Primeira Aliança (Deuteronômio 1:1-4:49):

  • Moisés relembra a história da libertação do Egito e da entrega da Lei no Monte Sinai.
  • Ele enfatiza a importância da obediência aos mandamentos de Deus como condição para a bênção e a prosperidade do povo.
  • A centralidade do Shemá Israel (Deuteronômio 6:4-9) como expressão da fé monoteísta e do amor a Deus.

2. As Leis e os Mandamentos (Deuteronômio 5:1-26:19):

  • Deuteronômio apresenta uma recapitulação das leis e dos mandamentos de Deus, incluindo os Dez Mandamentos, as leis sociais, as leis cultuais e as leis civis.
  • O objetivo das leis é promover a justiça, a ordem e a santidade no meio do povo de Israel.
  • As leis também servem como um símbolo da aliança entre Deus e seu povo.

3. Bênçãos e Maldições (Deuteronômio 27:1-28:69):

  • Moisés apresenta as bênçãos que o povo de Israel receberá se obedecer aos mandamentos de Deus e as maldições que sofrerá se desobedecer.
  • As bênçãos e maldições servem como um poderoso incentivo à obediência e como um aviso das consequências da desobediência.

4. Discursos de Despedida e Morte de Moisés (Deuteronômio 29:1-34:12):

  • Moisés abençoa as tribos de Israel e os exorta a permanecerem fiéis ao Senhor.
  • Ele faz um último apelo à obediência e à fidelidade à aliança.
  • Moisés sobe ao Monte Nebo e morre aos 120 anos.

Conclusão:

O livro de Deuteronômio é um marco fundamental na história do povo de Israel. Ele serve como um guia para a vida de fé e obediência a Deus, e seus ensinamentos continuam a ser relevantes para os cristãos de hoje.

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segunda-feira, 12 de junho de 2023

Esboço do Livro de Números -Antigo Testamento

12.06.2023

Editado por Pr Irineu  Messias

I. Introdução

A. Contexto histórico e cronologia
B. Propósito e tema do livro
C. Autoria e autoria divina

II. Preparação e Organização do Povo de Israel

A. Recenseamento e organização das tribos
B. Funções e responsabilidades dos levitas
C. Estabelecimento da ordem de marcha e acampamento

III. Registro dos Eventos no Deserto

A. Saída do Monte Sinai e primeiras etapas
B. Rebeliões e consequências
C. Viagens, desafios e milagres no deserto
D. Instruções sobre a adoração e o sacerdócio
E. Consequências da incredulidade e murmuração

IV. Transição de Geração e Preparação para a Terra Prometida

A. Conclusão do período de peregrinação
B. Envio dos espias e consequências da incredulidade
C. Castigo e morte da primeira geração
D. Nomeação de Josué como líder e sucessor de Moisés

V. Leis e Regulamentos para o Povo de Israel

A. Leis sobre sacrifícios, ofertas e adoração
B. Leis civis e sociais
C. Leis sobre a pureza ritual e a santidade

VI. Segunda Contagem do Povo e Distribuição da Terra Prometida

A. Recenseamento da nova geração
B. Divisão da terra entre as tribos de Israel
C. Designação de cidades de refúgio e terras dos levitas

VII. Preparação Final para a Entrada na Terra Prometida

A. Leis adicionais sobre herança e casamento
B. Instruções sobre a guerra e relacionamento com outras nações
C. Renovação da aliança e compromisso com Deus

VIII. Conclusão e Revisão dos Eventos
A. Últimas palavras de Moisés e sua morte
B. Comentário sobre a fidelidade de Deus
C. Visão geral dos eventos desde a saída do Egito

IX. Significado e Lições Espirituais

A. A fidelidade de Deus, apesar da incredulidade do povo
B. O papel do líder e a importância da obediência
C. A graça e o perdão divinos mesmo em face da rebelião

IX. Significado e Lições Espirituais

D. A provisão e o cuidado de Deus no deserto - Ao longo do livro de Números, vemos o constante cuidado e provisão de Deus para o povo de Israel no deserto. Mesmo em meio às dificuldades e desafios, Deus demonstra Sua fidelidade ao fornecer comida, água e proteção. Isso nos ensina sobre a importância de confiar em Deus em todas as circunstâncias e reconhecer Sua provisão em nossas vidas.

E. A importância da santidade e obediência - O livro de Números destaca repetidamente a importância da santidade e obediência ao seguir as leis e os mandamentos de Deus. Aqueles que agiram com desobediência enfrentaram consequências graves, enquanto aqueles que se mantiveram fiéis foram abençoados. Isso nos lembra da necessidade de buscar uma vida de obediência e santidade diante de Deus.

F. A importância da liderança piedosa - O papel de Moisés como líder e mediador entre Deus e o povo é um tema proeminente no livro de Números. Sua liderança exemplar, apesar das provações e reclamações do povo, nos ensina sobre a importância de líderes piedosos que buscam a vontade de Deus e orientam o povo com sabedoria e compaixão.

G. A fidelidade de Deus apesar da infidelidade humana - Ao longo do livro de Números, vemos o povo de Israel constantemente caindo em incredulidade, murmuração e rebelião contra Deus. No entanto, mesmo diante disso, Deus permanece fiel às Suas promessas e continua a conduzi-los em direção à Terra Prometida. Isso nos lembra do caráter misericordioso e gracioso de Deus, que nos ama apesar de nossas falhas e está sempre disposto a nos perdoar e nos restaurar.

H. Preparação para a jornada da fé - O livro de Números serve como um lembrete de que a vida cristã é uma jornada de fé. Assim como o povo de Israel foi chamado a confiar em Deus e a obedecer às Suas instruções, nós também somos chamados a seguir a Deus, confiando em Sua liderança, mesmo quando enfrentamos incertezas e desafios.

Conclusão:

O livro de Números, do Antigo Testamento, oferece uma rica tapeçaria de história, leis e ensinamentos espirituais. Ao explorar a jornada do povo de Israel no deserto, somos desafiados a refletir sobre nossa própria caminhada de fé, aprendendo lições valiosas sobre a fidelidade de Deus, a importância da obediência e a necessidade de líderes piedosos. Ao estudarmos o livro de Números, somos convidados a fortalecer nossa confiança em Deus e a buscar uma vida de santidade e obediência, enquanto nos preparamos para a jornada da fé.

Este esboço do Livro de Números oferece uma estrutura geral para entender a narrativa e os temas abordados.

É sempre recomendado o estudo adicional das passagens bíblicas e a consulta a outras fontes teológicas para uma compreensão mais aprofundada e abrangente do livro.

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terça-feira, 16 de maio de 2023

Esboço do Livro de Gênesis

16.05.2023
Editado por Irineu Messias


I. Prólogo (Gênesis 1:1-2) A. O Criador e Sua obra B. A Terra sem forma e vazia

II. Criação do Universo e da Terra (Gênesis 1:3-2:3) A. Os dias da Criação 1. Dia 1: Luz e trevas 2. Dia 2: Firmamento 3. Dia 3: Terra, mares e plantas 4. Dia 4 : Sol, lua e estrelas 5. Dia 5: Peixes e aves 6. Dia 6: Animais terrestres e homem B. O descanso de Deus no sétimo dia

III. A criação do homem e da mulher (Gênesis 2:4-25) A. O Jardim do Éden B. A criação do homem C. A formação da mulher D. O obrigatório para cuidar do Jardim

4. A queda da humanidade (Gênesis 3) A. A tentação da serpente B. A desobediência de Adão e Eva C. As consequências da queda D. Expulsão do Éden e o querubim guardião

V. A história de Caim e Abel (Gênesis 4) A. O nascimento de Caim e Abel B. A oferta de delícias C. O assassinato de Abel e a maldição de Caim D. A descendência de Caim

VI. A linhagem de Sete e Noé (Gênesis 5-9) A. A genealogia desde Adão até Noé B. A história de Noé e o Dilúvio C. A arca e as espécies preservadas D. O pacto de Deus com Noé

VII. As gerações de Noé e a Torre de Babel (Gênesis 10-11) A. As nações descendentes de Noé B. A construção da Torre de Babel e a confusão das línguas

VIII. A chamada de Abraão (Gênesis 12-25) A. A chamada de Abraão e a promessa de uma grande nação B. Abraão e Ló C. A aliança de Deus com Abraão e a circuncisão D. A promessa do nascimento de Isaque E. O benefício de isaque

IX. As histórias de Isaque, Esaú e Jacó (Gênesis 25-36) A. Os filhos de Isaque: Esaú e Jacó B. Jacó e a bênção da primogenitura C. A jornada de Jacó para Harã D. O retorno de Jacó à terra de Canaã

X. José e seus irmãos (Gênesis 37-50) A. O sonho de José e a venda como escravo B. José no Egito e sua ascensão ao poder

C. O encontro de José com seus irmãos e a reconciliação D. A mudança da família de Jacó para o Egito E. A morte de Jacó e de José

Conclusão: O Livro de Gênesis, na versão Revista e Corrigida (2009), é o primeiro livro da Bíblia Sagrada e oferece uma narrativa rica e profunda sobre a criação do mundo, a origem da humanidade, a queda do homem e as histórias dos patriarcas como Abraão, Isaque, Jacó e José. É um livro que estabelece as bases para compreendermos a história redentora de Deus e a formação do povo de Israel. Ele nos convida a refletir sobre a criação, a queda, a fé, a obediência, a providência divina e os propósitos de Deus na vida dos indivíduos e da humanidade como um todo.

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segunda-feira, 24 de abril de 2023

A contribuição da Teologia Bíblica na formação social e moral da sociedade moderna

24.04.2023
Editado por Irineu Messias

A teologia bíblica é um ramo da teologia que estuda a Bíblia e a evolução da revelação de Deus à humanidade. Ela busca e interpreta as Escrituras com a finalidade de entender a história progressiva da revelação de Deus e suas motivadas para a sociedade. A teologia bíblica é uma disciplina importante, pois fornece uma base sólida para a compreensão da Bíblia e sua sagrada para a vida moderna.

Ao longo dos séculos, a teologia bíblica tem desempenhado um papel fundamental na moldagem da sociedade e na formação da moral e dos valores humanos. Ela tem influenciado a arte, a literatura, a filosofia e a ética, e tem sido uma fonte de inspiração para muitos líderes religiosos e sociais. A teologia bíblica tem sido usada para defender a justiça social, os direitos humanos e a igualdade, e tem sido uma força motriz para a mudança social e política em muitas partes do mundo.

Neste artigo, vamos explorar a contribuição da teologia bíblica para a moldagem social e moral da sociedade moderna. Vamos analisar como a teologia bíblica tem sido usada para influenciar a cultura e a moralidade, e como ela tem sido aplicada em questões contemporâneas, como a justiça social, a igualdade de gênero, a ecologia e a ética empresarial. Vamos examinar os principais temas e conceitos da teologia bíblica e sua religião para a vida moderna, e vamos destacar algumas das principais figuras e movimentos que contribuíram para o desenvolvimento dessa disciplina ao longo dos séculos.

A importância da Teologia Bíblica na sociedade moderna

A teologia bíblica tem uma grande importância na sociedade moderna, pois ela contribui para a moldagem social e moral das pessoas. Através do estudo das Escrituras Sagradas, é possível refletir sobre questões que resultaram a sociedade e o mundo em que vivem, como a ética, a moral, a justiça, a paz, a liberdade, a igualdade, entre outras.

Moldando a moralidade individual

A teologia bíblica ajuda a moldar a moralidade individual, pois ela ensina os valores e princípios cristãos que devem ser seguidos pelos fiéis. Através da leitura da Bíblia, é possível aprender sobre o amor ao próximo, a humildade, a paciência, a arrogância, a honestidade, a fidelidade, entre outras virtudes que são importantes para a formação do caráter de cada pessoa.

Além disso, a teologia bíblica também ensina sobre a importância da oração, da meditação e do cultivo da espiritualidade, que são fundamentais para o fortalecimento da fé e da confiança em Deus.

Moldando a moralidade coletiva

A teologia bíblica também contribui para a moldagem da moralidade coletiva, pois ela ensina sobre a importância do amor ao próximo e da solidariedade. Através do estudo das Escrituras Sagradas, é possível aprender sobre a justiça social, a igualdade, a fraternidade, a paz e a harmonia entre os povos.

Além disso, a teologia bíblica também ensina sobre a importância da responsabilidade social, do cuidado com o meio ambiente e da promoção da dignidade humana. Ela nos lembra que somos todos irmãos e que devemos agir com amor e compaixão para com o próximo.
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quarta-feira, 13 de julho de 2022

O ensino teológico para nativos digitais

13.07.2022
Do portal da REVISTA ULTIMATO ON LINE, 17.06.22
Por Kaiky Fernandez e Pedro Dulci
 
Estudo de caso do Invisible College
 
As verdades do evangelho são imutáveis e eternas. Isso significa não apenas que são as mesmas de sempre, mas também que precisam ser aplicadas nos mais diversos períodos da história e contextos culturais. O nosso papel como cristãos é compreender como tais verdades se aplicam aqui e agora, nas questões do mundo contemporâneo. Além de ter um profundo conhecimento da Bíblia, também precisamos entender o ambiente e as pessoas com as quais estamos compartilhando o evangelho, por exemplo, recorrendo a pesquisas culturais e sociológicas.
 
Por meio de um estudo de caso do Invisible College — um instituto educacional do Brasil que oferece cursos de teologia e filosofia — analisamos as questões acima, com foco nos nativos digitais.
 
Quem são os nativos digitais?

Uma geração pode ser definida como um recorte da população que experimentou eventos sociais, culturais e tecnológicos semelhantes1. Mesmo que haja especificidades de contextos locais, isso é útil para compreendermos as características gerais de determinado grupo — suas preferências, gostos, estilos de vidas, preocupações, dilemas e anseios.
 
Quanto mais compreendermos a respeito de uma determinada geração, maior será a nossa possibilidade de comunicar efetivamente com as pessoas desta geração e contextualizar o evangelho, aplicando verdades bíblicas aos desafios contemporâneos.2
 
A geração dos nativos digitais, composta por pessoas nascidas entre 1996 e 2012 (também conhecida como ‘Geração Z’), e que recebe esse título devido a uma característica fundamental: é a primeira geração a nascer e crescer em um contexto no qual as tecnologias digitais já estavam massivamente disponíveis para a população em geral.
 
Tais tecnologias são indispensáveis para o cotidiano dessa geração3, sendo usadas para uma ampla gama de atividades diárias: comunicar-se com amigos, enviar curriculum vitae para vagas de empregos, pedir comida, realizar estudos, procurar lojas e restaurantes, e monitorar atividades físicas. Em suma, esta é uma geração moldada pela distância de um clique a qualquer necessidade básica. Tudo está acessível e disponível através de um smartphone.
 
Por que uma escola teológica para nativos digitais?

Em 2019, nos perguntamos: quais eram as alternativas para pessoas que desejam estudar teologia, mas que não têm a possibilidade de ir para um seminário tradicional, seja devido ao alto custo, falta de tempo ou restrições geográficas; que preferem conteúdos de estudos que reflitam a ortodoxia bíblica; e que são de uma geração mais nova? Conhecemos pouquíssimas opções disponíveis. Então pensamos em uma forma de contribuir com essas pessoas.
 
Nossa proposta inicial era apenas disponibilizar, gratuitamente, um guia de estudos teológicos, para que cada interessado pudesse usá-lo na condução dos seus estudos individuais. Posteriormente, quando percebemos que havia um potencial e sentimos a necessidade de ir além dessa ferramenta, criamos formalmente o Invisible College, uma escola de teologia e filosofia para nativos digitais — um segmento que, até 2025, será a maior parte da força de trabalho ativa4.
 
Nossos números desde a criação da escola mostram claramente que as pessoas estão interessadas em aprendizagem teológica de alta qualidade. Querem opções que não renunciam ao rigor, mas que também sejam contextualizadas e adaptáveis a diferentes rotinas e realidades. O que nós fazemos aqui no Invisible College é apenas uma pequena contribuição para isso. Há ainda muito trabalho a ser feito!
 
O quê e como fazemos?

Quando criamos a escola e ao longo do seu desenvolvimento até hoje, sempre tentamos responder a estas perguntas: como propor uma metodologia de ensino que seja flexível, mas sem perder a qualidade? Como comunicar a essa geração de nativos digitais a importância e a relevância do estudo teológico? Como oferecer um ambiente relacional mesmo em uma instituição que funciona de forma totalmente digital, sem ao menos ter um espaço físico?
 
As respostas que oferecemos formam a espinha dorsal do Invisible College. Cada uma busca a adequação à geração que temos como público de interesse: os nativos digitais.
 
1. Curadoria

A primeira característica marcante da nossa escola é oferecer curadoria. A benção de ter acesso a tudo, a qualquer momento e em qualquer lugar, pode se tornar uma maldição se não houver o direcionamento adequado. Vivemos em uma época na qual um estudante do Brasil pode ter acesso a livros, palestras ou aulas de qualquer pessoa ao redor do mundo de forma praticamente instantânea. No entanto, como escolher o que acessar? Quais livros ler ou por onde começar? Para suprir essa necessidade, um dos nossos principais trabalhos é fornecer orientação em relação ao conteúdo, organizando-o de forma didática e disponibilizando gratuitamente, para qualquer pessoa, em formato de guias de estudos.
 
2. Tutoria

A segunda característica é a nossa metodologia didática. A geração Z tem como marca ser multiconectada. Isso implica na participação quase simultânea em diferentes grupos sociais — trabalho, estudos, amigos, igreja, projetos sociais —, além de, em muitos casos, não haver uma rotina fixa e rígida, devido às novas configurações de empregos remotos ou no formato híbrido5. Também é uma geração que busca protagonismo nas suas atividades e iniciativas. Assim, resgatamos uma metodologia antiga — o sistema tutorial, usado pelas universidades de Oxford e Cambridge —, mas adaptada ao contexto digital.
 
Essa metodologia pressupõe uma baixa quantidade de aulas expositivas, ao contrário dos cursos tradicionais. Além das aulas, os estudantes têm contato com os colegas e os tutores em encontros regulares para discussão dos conteúdos, onde a aprendizagem acontece de forma relacional e coletiva.
 
3. Comunicação

A terceira característica é nossa forma de comunicação. Discernir as especificidades comunicacionais das pessoas que queremos alcançar é fundamental para que aquilo que estamos propondo seja assimilado e se torne pertinente para elas. Dessa forma, sem abrir mão do rigor no conteúdo, temos uma abordagem estética tanto na linguagem visual, quanto na verbal, para desvincular a ideia de que os estudos teológicos são arcaicos, chatos e sem relevância para as pessoas que não ocupam cargos na igreja. Os títulos dos cursos e seus módulos, as escolhas de imagens e cores usadas nas peças publicitárias são sempre pensados de uma forma contextualizada e adequada para nosso público de interesse, quebrando alguns estereótipos quanto à visão que muitas vezes há em relação à teologia.
 
Quais são os desafios que temos pela frente?
Embora alguns progressos significativos tenham sido feitos ao lidar com nativos digitais, é evidente que muitos desafios estão por vir e que precisaremos lidar com eles. Tais desafios são intrínsecos a essa geração e também estão presentes na igreja local, na evangelização e no discipulado.
 
No dia a dia da nossa escola, percebemos que os estudantes estão cada vez mais desatentos e ansiosos. Existem vários fatores quanto às causas. Aqui estão alguns de acordo com as pesquisas e estudos que realizamos:
 
Em relação à sua desatenção, provavelmente boa parte disso seja fruto da relação alternada, para não dizer simultânea, entre os diversos ambientes sociais digitais. De forma geral, uma pessoa está ao mesmo tempo conectada em um aplicativo de mensagens (com os seus vários grupos e conversas individuais), em uma plataforma para a equipe do trabalho, em um sistema de emails e pelo menos mais duas ou três redes sociais. As notificações chegam a todo momento.
 
Em relação à ansiedade, provavelmente a conectividade também foi algo que a impulsionou, tanto quantitativamente, quanto qualitativamente. Isso porque o contexto das redes é propício para o compartilhamento de informações, sentimentos e opiniões, e a Geração Z se sente confortável com isso.
 
As mídias sociais moldam expectativas e comportamentos, além de gerarem impactos negativos em relação ao amor-próprio, à autoestima e à confiança6. Por outro lado, em virtude da conexão e a necessidade de relevância, os nativos digitais mostram preocupação com transformações sociais e com a sustentabilidade ambiental, bem como se esforçam para fazer a diferença em algo por meio do voluntariado.
 
E agora?

Tudo que fizemos até agora foi só o começo. Há outras perguntas e questões práticas que ainda precisam ser respondidas para auxiliarmos essa importante geração a não apenas conhecer o evangelho, mas também viver o evangelho em suas vidas diárias.
 
Precisamos da sabedoria bíblica para fazer o uso correto das mídias sociais, entendendo sua relevância e importância, ao invés de apenas demonizá-las. Por outro lado, também rejeitamos o uso irrestrito que tem gerado problemas evidentes, sobretudo na saúde mental. A grande pergunta é: como propor um uso equilibrado e saudável, reconhecendo os benefícios dos avanços tecnológicos, mas sem idolatrá-los?
 
Também precisamos buscar biblicamente respostas para essa geração ansiosa e insegura, com desajustes afetivos e uma identidade fragmentada. A solução para isso não é uma espécie de fé superficial que faz as pessoas se sentirem bem, mas sim uma fé biblicamente genuína que compreende a realidade da condição humana e segue o caminho de Jesus.
 
Por fim, que toda a vitalidade e disposição de pessoas inconformadas com o status quo sejam canalizadas para o bem comum, para promover a dignidade humana e a justiça, e fazendo tudo para a glória de Deus em um caminho de discipulado junto com as suas comunidades locais7.
 
Kaiky Fernandez é brasileiro, membro da Igreja Cristã Farol Esperança, graduado em design gráfico pela Universidade Federal de Goiás, com especialização em gestão de marketing pela ESPM Rio. É coordenador estratégico do Invisible College e estudante de teologia.
Pedro Dulci é brasileiro, doutor em Filosofia pela Universidade Federal de Goiás e cofundador e coordenador pedagógico do Invisible College, além de pastor em tempo integral da Igreja Presbiteriana Bereia, em Goiânia.
 
Notas
1 - Jason Dorsey, Denise Villa, Zconomy: como a geração z vai mudar o futuro dos negócios. Translated by Bruno Fiuzza and Roberta Clapp, 45. Rio de Janeiro: Agir, 2021.
2 - Kevin Jon Vanhoozer, O drama da doutrina: uma abordagem canônico-linguística da teologia cristã. Translated by Daniel de Oliveira, 276. São Paulo: Vida Nova, 2016.
3 - Philip Kotler, Hermawan Kartajaya and Iwan Setiawan, Marketing 5.0: tecnologia para a humanidade, trans. André Fontenelle (Rio de Janeiro: Sextante, 2021), 40.
4 - Philip Kotler, Hermawan Kartajaya and Iwan Setiawan, Marketing 5.0: tecnologia para a humanidade, trans. André Fontenelle (Rio de Janeiro: Sextante, 2021), 41.
5 - Empregos que alternam entre o trabalho presencial no escritório da empresa e o trabalho remoto.
6 - Jason Dorsey and Denise Villa, Zconomy: como a geração z vai mudar o futuro dos negócios, trans. Bruno Fiuzza and Roberta Clapp (Rio de Janeiro: Agir, 2021), 75-76.
7 - Nota da Editora: Leia o artigo de Steve Moon, intitulado “O evangelho e a Geração Z”, na edição de março/2021 da Análise Global de Lausanne https://lausanne.org/pt-br/recursos-multimidia-pt-br/agl-pt-br/2021-03-pt-br/o-evangelho-e-a-geracao-z.

Artigo originalmente publicado por Movimento de Lausanne. Reproduzido com permissão.

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Fonte:https://www.ultimato.com.br/conteudo/o-ensino-teologico-para-nativos-digitais