Natural de São Luiz Gonzaga, município
da região dos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul, o Pastor
Jesuíno da Silva Lima foi um dos maiores líderes da Assembleia de Deus
(AD) no Rio Grande do Sul, tendo presidido a Convenção das Igrejas
Evangélicas e Pastores da Assembleia de Deus no Estado do Rio Grande do
Sul – CIEPADERGS, por diversas vezes.
Nascido
durante a República Velha em 1913, e no domicilio eleitoral de um
grande prócer das oligarquias da política nacional: o Senador Pinheiro
Machado, Lima tinha uma origem social muito diferente da maioria dos
membros das ADs da sua época. Vindo de uma família de estancieiros,
proprietários de terras e gado e com boa instrução, na juventude viu o
conterrâneo Getúlio Vargas chegar ao poder e por fim à República Velha
em 1930.
Cercado de referências
políticas, o jovem Lima conheceu o evangelho aos 20 anos de idade, em
1933. Após o casamento em 1944, começou a dirigir igrejas: Itacurubi e
Cacheira do Sul foram as primeiras congregações. Em 1950, o Pastor
Jesuíno assumiu a AD em Rio Grande, igreja que liderou até sua morte em
2001.
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Pastor Jesuíno: acusado de apoiar o governo deposto em 1964 |
Em
1954, Jesuíno, juntamente com Manoel Dorneles e Orvalino Lemos, foram
os nomes apontados para assumir a AD em Porto Alegre, após a crise
enfrentada pelo Missionário Gustavo Nordlund. Mas os três declinaram da
indicação e optaram por trazer o Missionário Nils Tarager de Bagé para
liderar a igreja da capital gaúcha.
Nesse
tempo, como pastor evangélico, Jesuíno desenvolveu laços de amizade com
um carismático político em ascensão no Rio Grande do Sul: Leonel de
Moura Brizola. Se não foi filiado ao partido de Brizola, com certeza era
seu eleitor e simpatizante de seu governo e a ele pediu verbas para as
igrejas que dirigia.
Na crise
política de 1961, quando o Presidente Jânio Quadros renunciou ao cargo e
os militares tentaram impedir a posse do gaúcho e cunhado de Brizola, o
vice-presidente João Goulart, Jesuíno esteve por alguns dias em Porto
Alegre visitando Brizola no Palácio Piratini, para prestar sua
solidariedade ao movimento legalista. É bom lembrar, que o Brasil estava
a um passo da guerra civil.
É provável, que o golpe de 1964, não tenha sido bem digerida pelo pastor. Nos documentos disponíveis no Arquivo Nacional,
há denúncias, de que Jesuíno teria como presidente da convenção gaúcha
manifestado apoio através dos jornais ao "governo deposto" de Goulart;
algo que segunda os familiares nunca confirmado.
Mas,
se realmente o Pastor Jesuíno lançou algum manifesto, esse documento
estaria em contraste a nota de apoio de Antônio Inácio de Freitas da AD
em Brasília ou do "silêncio legitimador" nas edições do Mensageiro da Paz,
no ano de 1964. E mais: a acusação o fez entrar na lista dos
assembleianos que ficaram sob o julgo da repressão, conforme o
historiador Josias Silva esclarece em sua dissertação de mestrado “Na guerra contra o mal [...] em marcha triunfal” de 2020, que ainda esse ano será transformada em livro.
Vigiado
pelos órgãos da censura e repressão, a família de Jesuíno foi detida em
Jaguarão, cidade gaúcha fronteiriça com o Uruguai, em 1976. Uma das
filhas do pastor estava para casar e o motivo da visita ao país vizinho
era comprar peças para o enxoval da moça. Detido e levado para a
delegacia, o Pastor Jesuíno teve que explicar várias acusações, além do
constrangimento e medo dos familiares pela detenção provisória do líder
das ADs gaúchas.
O perfil histórico
do Pastor Jesuíno da Sila Lima é prova de que nem todos os pastores
evangélicos foram a favor do golpe civil-militar de 1964. Entre os
líderes assembleianos houve apoio, mas vozes destoantes ao que o Brasil
vivia politicamente é perceptível no caso do obreiro gaúcho, ou seja,
nem todos acreditavam que os militares estavam salvando o país do
"comunismo".
Lições da história que não podemos esquecer...
Fontes:
Para
essa postagem foi de fundamental importância o depoimento da irmã Nilva
Lima. Era ela a filha do Pastor Jesuíno prestes a casar e estava com
seus pais quando foram detidos na fronteira com o Uruguai.
Acesse aqui o documento do Arquivo Nacional com os relatos da postagem:
https://drive.google.com/file/d/12j0lTX0Vg7BFvC85Ao7f7bXD7SxSX2c1/view?usp=sharing
SILVA,
Josias. “Na guerra contra o mal [...] em marcha triunfal”: as
Assembleias de Deus e a ditadura militar no Brasil (1964-1985). 2020.
176 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Religião) - Programa de
Estudos Pós-Graduados em Ciência da Religião, Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, São Paulo, 2020.
STEIN, Luciano. Nils Taranger, Um Coração Missionário no Sul do Brasil. Porto Alegre: CPAD, 2002.
TÉRCIO, Jason. Os Escolhidos - a saga dos evangélicos em Brasília. Brasília: Coronário, 1997.